Celine Belcourt || Casta 03 || 18 anos || Team Andrew
Eu estava no avião havia alguns poucos minutos, mas estava me entendiando com muita facilidade. Os passageiros estavam quietos, dormindo, lendo ou escutando música para passar o tempo. As aeromoças iam de um lado a outro, oferecendo sorrisos educados, perguntando se todos estavam confortáveis em seus assentos e se necessitavam de água. Tudo estava tão metódico, calmo. Não estava sendo tão empolgante quanto eu havia imaginado.
Sendo vencida pelo tédio, retirei um livro de bolso da minha mochila, um romance água com açucar, mas que me manteria distraída durante o resto do percurso. Estava prestes a iniciar o primeiro capítulo quando notei com o canto dos olhos uma silhueta se movendo na direção em que eu me acomodava. Voltei minha atenção para a pessoa, um pouco curiosa, e senti um sorriso se formando no meu rosto. Era uma garota trajando a mesma roupa que eu. Uma selecionada, finalmente!
- Olá! Chamo-me Joana! – ela pisca o olho, sentando-se na poltrona de couro e ajeitando a mochila ao seu lado. – Parece que temos uma longa viagem pela frente... Nunca andei antes de avião, espero bem que seja seguro!
- Olá, Joana. Sou Celine, muito prazer. Também nunca andei de avião, essa é a minha primeira vez. Eu estava empolgada com a viagem, mas não está sendo o que eu imaginei.
Faço um gesto com a mão livre para poder indicar o ambiente pacífico ao nosso redor. A única coisa que faz barulho é o som de nossas vozes. Me sinto subitamente animada com a presença dela, ao mesmo tempo que também sinto um certo receio. Até agora, Joana parece ser simpática e amigável, o que me reconforta, de certo modo. Tenho a sensação de que ela é alguém com quem irei dar-me muito bem durante a Seleção. Paro para pensar se as outras também serão assim, mesmo as Dois, a casta da ‘riqueza’ e que vivem com os privilégios, ou se seremos inimigas, com expressões agradáveis no rosto e prontas para atacar quando virmos uma oportunidade. Decido parar de pensar nisso.
Conversamos por um bom tempo, nem notando que já estavamos perto de conhecer o palácio real. A conversa havia sido agradável e divertida, com algumas gargalhadas e piadinhas. De fato, ter conhecido Joana um pouco mais me dava um pouco mais de coragem para poder encarar as outras garotas. Não podia ser tão ruim assim.
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Após o avião aterrisar, fomos encaminhadas pelos guardas para o carro que nos levaria até o palácio, nossa nova moradia. Eu estava ficando cada vez mais nervosa, ao ponto de as minhas mãos começarem a suar frio. Para poder ficar ocupada, comecei a trançar e destrançar os meus cabelos. Não era suficiente, então resolvi ficar apenas observando a paisagem, com a testa encostada no vidro.
Pouco a pouco, o palácio surgia. Arregalei os olhos, impressionada com a beleza e imponência dele. Uma coisa era você vê-lo pela TV. Outra era realmente conhecê-lo. Senti, sem nem precisar ver, que eu não era a única que estava admirada. Joana e a outra selecionada, a qual eu não sabia o nome, devaim estar do mesmo modo.
O carro parou próximo ao portão. Fui a primeira a sair, respirando fundo, maravilhada. Não perdi tempo, atravessei os enormes portões e fui quase imediatamente recebida por duas criadas. Grace tem a pele morena, os cabelos castanho claros e olhos escuros, com um ar reservado. Theresa é o contrário; a pele é clara, os olhos azuis e cabelous louríssimos, a personificação do entusiasmo e da alegria. Optei por chama-la de Tessa, pois eu achava o nome dela sério demais para sua personalidade.
Ambas me receberam com reverência, tratando-me por Lady, mas exigi meio brincando que me tratassem pelo meu primeiro nome, e que as formalidades seriam para quando fosse necessário.
Se o exterior do palácio era impressionante, o interior era de tirar o fôlego. Analisei toda a decoração, deslumbrada com todo aquele luxo.
- Não é lindo, senhorita Celine? – Tessa perguntou, soltando alguns risinhos. Fiquei satisfeita, ela, ao menos, tratava-me com mais informalidade.
- É, sim. Eu nunca sequer teria imaginado tudo isso! – suspirei.
- Há ainda mais coisas para se ver no palácio, todas incríveis, posso afirmar. Mas, antes, precisamos leva-la a outro local.
Assenti com a cabeça e deixei que elas me guiassem. Dobramos um corredor à direita, até nos depararmos com uma porta que continha uma placa com “Salão das Mulheres” na lateral. Grace se apressa e empurra as portas, dando-me a visão do mais belo salão.
Há cadeiras, mesas, pessoas, câmeras, vestidos e acessórios. É tudo tão incrível que sinto que estou em um conto de fadas. Esse palácio contém tanta beleza que não me vejo parando de admirar cada uma de suas surpresas.
Tessa coloca uma mão em minhas costas e me empurra gentilmente para a frente. Ao me avistar, uma elegante mulher abre o melhor de seus sorrisos e vem ao meu encontro, cumprimentando-me com um beijo em cada uma das bochechas.
- Bom dia Lady Celine, espero que tenha feito uma óptima viagem! – me sinto um pouco desconfortável com sua animação exagerada e o tom de voz muito alegre, como se o que fosse me dizer houvesse sido ensaiado várias vezes. - O meu nome é Susan e eu irei ser a sua professora, tutora, ou guia, como quiser chamar!
- É um prazer conhecê-la. – digo, mais por educação.
Susan faz um gesto para que eu a siga e pede para que eu me sente em uma cadeira em frente a um espelho. Ela estala os dedos e em um piscar de olhos vários profissionais estão ao meu redor, me analisando e tentando visualizar de que modo eu poderia melhor. Cabeleireiros começaram a estudar meu cabelo, falando rapidamente ao outro o que deveria ser feito. Os maquiadores me observavam com os olhos estreitos, provavelmente reprovando o estado da minha pele.
— Esta é a altura para você fazer uma mudança de visual. – Susan disse sem me olhar, anotando algo em um bloquinho de notas. — Você pode falar com os cabeleireiros e maquilhadores sobre o que quer fazer, tenho a certeza que eles também lhes poderão dar bons conselhos!
Me ajeitei na cadeira, segura de que ela falaria algo a mais.
— A vossa transformação irá seguir uma ordem. Primeiro irá pintar as unhas das mãos e dos pés. Depois irá tratar do cabelo, pode pintar de outra cor, cortar, alongar, alisar ou encaracolar. Também pode manter na mesma se preferir. Por último, irá tratar da maquilhagem e escolher o vestido que quiser utilizar. Vocês podem encontra-los ali naquela mesa. – ela apontou e eu segui o olhar. Reprimi uma careta. Os vestidos eram magníficos, no entanto, era algo que eu usava uma vez na vida e outra na morte. Começar a vestir esse tipo de roupa me incomodava. - As suas criadas devem ter conseguido costurar uns cinco vestidos, por isso pode escolher aquele que gostar mais. Verifique os vestidos que têm o seu nome na etiqueta, são esses que têm as suas medidas e que irão servir em você. São todos vestidos curtos e leves, uma vez que serão apenas para utilizar agora durante o dia. Mais logo serão oferecidas outras opções para a noite. Escusado será dizer que terá à sua disposição a ajuda de várias criadas para quando precisar se vestir. E não se esqueça de escolher uns sapatos!
Eu estava quase pedindo para que Susan pudesse ficar em silêncio por alguns instantes. Era tanta informação que eu quase não conseguia acompanhar, mas antes que eu pudesse ter a oportunidade de abrir a minha boca, ela continuou:
— Bom, no final de tudo isso você deve dirigir-se aquele sofá. E deve tirar uma foto do seu novo visual. Por fim a Georgia, a nossa repórter mais conhecida, irá fazer uma ou duas perguntas, sobre o que você está a achar da Seleção e das outras seleccionadas e poderá finalmente aguardar sentada naquela zona, até que eu vá ter contigo e dê novas informações. Entretanto irão chegar também as outras seleccionadas e poderá conhecê-las à medida que vão chegando.
Ela termina o que tem a dizer e afasta-se. É o início do processo de transformação. Resolvo pintar as unhas de lilás e enfeita-las com algumas pedrinhas brilhantes. Enquanto as unhas do pé estão sendo terminadas, percebo a aproximação de um cabeleireiro.
- Olá, cherrie. – ele arrasta a última palavra com seu forte sotaque. – Sou Jean-Paul. Vim turbinar seu lindo cabelo. Quer deixa-lo curto, pintar, alongar ou cachear?
Penso por alguns longos segundos. Embora esta seja a oportunidade para que eu possa me transformar, não me agrada conhecer o príncipe Andrew diferente do que eu era antes da Seleção. Opto por deixa-lo natural e informo minha decisão a Jean-Paul, que deixa escapar um muxoxo, mas concorda.
- Seria mesmo uma pena desperdiçar um cabelo tão bonito. Bem, vamos trabalhar. Iremos deixa-la um arraso! – ele promete e eu rio. Jean-Paul conta com a ajuda de mais dois cabeleireiros.
Noto que eu poderia me acostumar com tudo isso tão facilmente. É tão relaxante ser cuidada e mimada, deixando que outras pessoas façam o trabalho para mim. Sei que poderia ser eliminada a qualquer momento e que voltaria a vida que sempre tive, a quilômetros de todo este luxo, mas decido aproveitar enquanto posso.
Jean-Paul e sua equipe terminam meu cabelo, olhando com aprovação para seu trabalho. Ele me dá alguns tapinhas nas costas e sussurra que estou invejável. Não consigo evitar um sorriso. Jean-Paul é adorável.
Entretanto, ao contrário do que eu desejava, leva ainda mais algum tempo até que eu esteja pronta. Quando me vejo no espelho, levo um susto. Meus cabelos estão sedosos e brilhando, com leves ondas. Minha pele está perfeita. As bochechas estão mais coradas. Meus olhos estão marcados por uma sombra com um tom mais leve da mesma cor que uso nas unhas, e o azul deles é realçado, parecendo mais intenso. Meus lábios estão rosados de um modo natural, o mais leve vestígio de gloss neles. Estou mais bonita do que já estive em toda a minha vida.
- I-isso é… Tão… Vocês são incríveis. – exclamo para o restante dos profissionais que estão dando uma ohada para mim. Alguns agradecem o elogio e logo retornam ao trabalho.
Caminho até a mesa, observando os vestidos. São lindos, como tudo é neste palácio, mas prefiro um vestido branco rendado, simples, prático e confortável. Peço ajuda a Tessa com o zíper e escolho os saltos mais baixos que vejo. No final, o look me agrada. Dou uma sorriso para a imagem refletida no espelho.
Já vestida e maquiada, fui conduzida a uma área cheia de fotográfos para ter a conversa com a repórter, Georgia. Admito que estava um pouco nervosa, mas tratei de tentar ficar mais calma, porque não queria cometer nenhum erro.
- O que está achando do palácio? – ela me encara, fitando-me bem no olhos. Minha postura relaxa um pouco, felizmente era uma pergunta a que eu não teria dificuldade alguma de responder.
- O palácio é maravilhoso! – exclamo. – Apesar de já tê-lo visto pela televisão, não é a mesma coisa ao vivo. Nunca poderia ter imaginado tanta beleza.
- Realmente. – sinto uma resposta capciosa logo em seguida. – Já conheceu alguma selecionada do team Andrew? Acha que existe alguém que… Seja uma concorrente?
Ajeito minhas costas antes de responder e faço o meu melhor para parecer neutra enquanto falo.
- Conheci somente uma selecionada. Ela é do team do Príncipe Aspan, um doce de pessoa. E, bom, estamos em uma competição, claro que haverá concorrentes, afinal, estamos todas aqui para tentarmos conquistar o coração do Príncipe. – respondo com sinceridade – Mas também creio que é possível sermos amigas e companheiras. Espero que eu possa fazer boas amizades aqui.
A entrevista é encerrada. Me despeço cordialmente da repórter e me dirijo a um sofá vago, sentando-me um pouco desajeitada e começando a sentir algumas dores nos pés.