·•· Data: Sábado, 11 de Maio ·•·
·•· Local: Casa ·•·
·•· Interacção: -- ·•·
Acordei com o toque da campainha. Sentia-me atordoada, entre o sonho e a realidade. E depois a verdade atingiu-me: eu tinha sido seleccionada. Oh, céus! Deveria ser alguém relacionado com a Selecção que estava a tocar...nós nunca recebíamos visitas! Levantei-me o mais rapidamente que consegui, despi o pijama velho que a minha irmã me tinha oferecido e vesti uma das minhas melhores roupas, mas que não deixariam transparecer que eu gostava de viver acima das minhas possibilidades. Teria de manter um ar doce, jovial e feliz.
Look
Desci as escadas e deparei-me com a minha irmã, John e dois homens vestidos com um uniforme, que deveriam ser guardas reais. Coloquei um sorriso no rosto e dirigi-me a Dulce. Dei-lhe um ligeiro beijo na bochecha e disse alegremente:
— Bom dia querida irmã, como estás? – Voltei-me para John e cumprimentei-o com um acenar da cabeça. Pelo canto do olho vi o choque da minha irmã após a ter cumprimentado. Havia anos que não tinha qualquer gesto de carinho para com ela.
Abri ainda mais o meu sorriso e olhei então fixamente para os dois bonitos guardas.
— Bom dia! Espero que tenham feito uma boa viagem. Vocês são guardas reais não é verdade? Estão aqui por causa da Seleção? – O meu tom era tão doce que quase parecia mel.
— Bom dia menina. – Respondeu o mais alto, meio atrapalhado com toda a minha ternura.
— A viagem correu bem, muito obrigada. Nós estamos aqui a mandado do Rei e da Rainha, para garantir a sua segurança, e da sua família também. Não se preocupe que nós não iremos atrapalhar a sua vida, apenas estaremos aqui caso precisem de alguma coisa. – Ele deu-me uma pequena piscadela com o olho e eu sabia que já tinha ganho ali mais dois fãs. Isto iria ser tão fácil!
Os guardas foram então para o exterior da casa, marcando a sua posição à porta da minha casa. Aproveitei então para comer qualquer coisa rapidamente e voltar para o meu quarto, antes que a minha irmã me fizesse mais alguma pergunta.
Uma vez que agora era uma das seleccionadas já não iria precisar de trabalhar, no entanto eu queria dar uma boa impressão a todos e uma vez que eu nunca tinha faltado com o meu trabalho (mesmo que tenha utilizado as roupas das clientes), não era agora que isso iria acontecer. As boas aparências eram tudo para mim! E por isso eu teria de manter uma boa relação com todas as minhas clientes.
Assim que terminei as duas peças em que estava a trabalhar para uma das minhas melhores clientes, coloquei-as num saco e decidi ir entregá-las. Desci as escadas e novamente alguém tocou à campainha. Ainda pensei que fosse um dos guardas que precisava de alguma coisa, mas assim que Dulce abriu a porta, uma senhora baixa e magra, com uma cara de poucos amigos, entrou de rompante em casa.
— Boa Tarde, o meu nome é Anne e venho falar com a senhorita Cristina Ambers. – Ela parecia estar com alguma pressa, já que nem se sentou quando a minha irmã lhe indicou a única cadeira que tínhamos na sala.
Terminei de descer as escadas e num tom alegre e doce apresentei-me.
— Boa Tarde Lady Anne, é um prazer conhecê-la. – Cheguei ao pé dela, estendi os meus braços, agarrei numa das suas mãos e apertei-a de forma gentil.
— Estamos encantados pela sua presença. Lamentamos não ter nada para lhe oferecer, mas não estávamos à espera de tão notável visita. Anne pareceu ficar estupefacta com tudo aquilo. Ela nem devia ser Lady, mas ali estava eu, uma das seleccionadas, a trata-la como uma princesa. Poderia até nunca admitir, mas ela estava a adorar o tratamento. Finalmente, sentou-se na cadeira e deu-me um enorme sorriso.
— Oh! Não tem problema querida! Eu peço desculpa por estar tão mal humorada, mas tenho de percorrer 20 casas em apenas alguns dias e isto torna-se muito esgotante. Agradeço o carinho demonstrado. A partir daí a conversa foi muito tranquila e o tom de Anne foi bem mais sensível. Ela explicou todas as regras que teríamos de seguir, e todas as questões relacionadas com subidas de casta. Fiquei encantada por poder ser tratada de “Lady”. Ser da casta 3 não era o meu objectivo. Eu queria ser a princesa, por isso tudo o que ela referiu acerca disso não me importou. No entanto, quando ela referiu que a minha família iria ser da casta 2 caso eu ganhasse, o ódio apoderou-se de mim. Dulce tinha feito com que nós fossemos da casta mais baixa e agora eu poderia conseguir alcançar o que eu merecia, e ela iria também ganhar com isso. Não era justo. Diverti-me com as regras sobre brigas entre seleccionadas. Eu seria bem capaz disso, mas não iria fazê-lo porque não iria nunca demonstrar a minha verdadeira personalidade.
No final, Anne deu-me um conjunto de roupas que deveria usar no dia da viagem para o Palácio e depois ofereceu-me um cheque com dinheiro. Os olhos da minha irmã arregalaram-se naquele momento. Era muito dinheiro, equivalente a quase 6 meses de trabalho.
Despedi-me docemente de Anne e depois dela sair peguei na minha bolsa e dirigi-me também para a porta de casa. Dulce agarrou-me no braço gentilmente.
— Cristina, eu sei o que vais fazer. E sei o que pretendes fazer durante a competição. Mas por favor, pensa na pessoa que já foste. Eu sei que no fundo tu tens um bom coração. Olhei friamente para ela e da forma mais insensível que consegui afirmei:
— Lamento Dulce, mas o dinheiro foi-me dado a mim. E por isso, eu vou às compras. E com isto, deixei a minha irmã em lágrimas. No entanto eu não senti qualquer pena dela. A verdade é que eu não precisava de comprar nada, já que as roupas seriam oferecidas no palácio. Mas havia realmente uma coisa que eu queria comprar. E nem ela, nem ninguém... sabia o que era. Talvez a surpreendesse, mas eu não queria saber. De qualquer das formas, se eu tivesse uma palavra a dizer, o dinheiro que iria receber nunca iria parar às mãos da minha irmã nem do seu ridículo marido.
Última modificação feita por sangel (19-08-2015, às 08h17)