♥ Olá, sejam bem vindos à Fanfic proposta por SaaChan ♥
Olá Princesas e Príncipes, pedimos que esperem o autor ou autora postar!
Todas as mensagens que vierem antes serão apagadas e o usuário devidamente punido.
Ajude-nos a manter um fórum mais limpo!
Caso tenha alguma dúvida, procure a moderação.
Boa leitura para todos vocês e não se esqueçam de comentar!
Divirtam-se ★
Medora & sangel
Forum- Princesa Pop, jogo de moda! Jogo de meninas e jogo para meninas
Tópico fechado
Páginas : 1 2
- Início
- » Leitura e Arquivo
- » [Fechado] [Fanfic][BL] Animal Instinct (por SaaChan)
#1 08-05-2015, às 10h36
Offline
#2 08-05-2015, às 13h43
AVISO!
A fanfic que está prestes a ler contém cenas de amor entre homens. Se esse estilo de gênero (Boys Love) te ofende de alguma maneira, não leia!
Classificação: +16
Tema: Romance, Ação, Suspense, Drama
LEMBRETE DE REGRAS IMPORTANTES:
★ Escolha o tópico correto (não são permitidas mensagens sem relação ao tema do tópico)
★ Sem assuntos "sensíveis"
★ Sem flood ou propaganda (mensagens seguidas da mesma jogadora não são permitidas!)
★ Nas RPG's utilize a tag quote para #off topic
★ Nas Fan Fic's faça comentários construtivos (2 a 5 linhas por mensagem).
★ Imagens no tópico: altura máxima 200 pixeis (ou devem estar em "spoiler")
★ Comporte-se! Sem conflito nos tópicos. Utilize a mensagem privada para resolver problemas.
★ Preste atenção e respeite os avisos dos moderadores!
★ Por favor, leia com atenção as regras gerais do fórum e as regras da seção para mais detalhes.
Daniell Sullivan se vê em uma situação que nunca imaginaria acontecer com ele quando seu irmão adotivo, Jack Hansen, o torna cúmplice de um roubo à banco, na parceria de traficantes extremamente perigosos. Para piorar a situação, Alice Sullivan, sua esposa, está grávida e sem assistência por não possuir emprego. Mas o que inicialmente para Daniell poderia ser considerado um inferno, ele descobrirá sentimentos que nunca imaginara ter, novos conceitos sobre a vida e o lado escuro de sua família.
.....................................................................................................................................................
Protagonistas
Daniell Sullivan
Jack Hansen
Alice Sullivan
Personagens Secundários
Hommer Sullivan
John Scott
Miss Chelsea
Christian Green
Gabe Muffay
Ron Coffey
David Days
“Uma amizade pode ser mais pura e verdadeira do que uma relação de laços de sangue, até mais o que uma relação amorosa. Pode ser mais forte do que o aço mais resistente do mundo, mais querida que a verdadeira felicidade.” Quem disse isso merece morrer com uma bala na testa.
Chamo-me Daniell Sullivan, tenho 29 anos e, infelizmente, estou sendo caçado pela polícia dos Estados Unidos por um crime que eu não cometi. Sou taxado, em rede nacional, na TV, no rádio, nos jornais e nas revistas como ladrão de bancos – às vezes até de assassino e traficante – ao lado a foto de Jack Hansen, meu irmão caçula – que havia me posto nessa situação. E o pior, era saber que, em casa, eu tinha uma esposa grávida que precisava de mim, e eu não podia estar lá para ela.
Seguindo esse raciocínio, ainda tinha o louco, bipolar e incrivelmente inteligente Jack Hansen – aquele filho da mãe – para me usar de piloto de fuga particular, na parceria de homens perigosos pra ferrar com a minha vida.
Sim, com certeza, era pra ferrar com a minha vida.
Última modificação feita por SaaChan (19-05-2015, às 23h49)
Offline
#3 08-05-2015, às 13h47
Capítulo 1 - Um Pequeno Favor
Alice colocou o teste na pia e depois abaixou a tampa do vaso para poder se sentar. Eu me recostei na batente da porta. Ansioso, eu roia o que me restava das unhas e mordia meus dedos, um terrível mau costume que desenvolvi na infância. Olhei de relance para Alice, sua situação não estava muito diferente da minha. Suas pernas tremiam enquanto ela olhava compulsivamente para aquela espécie de espátula super inteligente e depois para o celular checando as horas. Segundo a embalagem, demoraria entre cinco e quinze minutos para aparecer o resultado. Quantos minutos haviam se passado? Um minuto? Vinte? Para mim, cada segundo parecia uma eternidade, e Alice parecia pensar o mesmo.
Depois de quase dez demorados minutos, a espátula finalmente havia mudado de cor. Dois riscos azuis surgiram em uma das extremidades. Minha boca ficou seca e meu coração falhou uma batida. Alice pegou a caixinha com uma das mãos e o teste com a outra, leu o que estava na caixa e depois sorriu para mim.
- Eu estou grávida! - Ela me mostrou o teste. Eu não precisava ler a embalagem para acreditar nela.
Ela se jogou nos meus braços e enroscou suas pernas em minha cintura. Nós giramos pelo corredor, nos beijando. Depois de muito tentar, finalmente havíamos conseguido. Iríamos ter um filho, um bebê lindo e saudável, iríamos ser uma família agora.
Narrei toda a história para os meus colegas de trabalho. Estávamos, nós cinco, na sala dos professores no horário do almoço, aproveitando para reclamar dos nossos alunos mais terríveis e falar do que acontecia em casa. Eles me deram os parabéns, alguns até arriscaram a dar alguns tapinhas nas minhas costas.
- Então, você finalmente vai entrar para o time dos pais! - Disse Ron Coffey, professor de geografia, era um dos poucos colegas que eu poderia chamar de amigo de verdade.
- Assim espero, cara! Só a gente sabe o quanto queríamos esse bebê. - Disse sorrindo com sinceridade. Depois de tantas tentativas falhas, finalmente havíamos conseguido.
- A gente podia dar uma festa pra comemorar, não acham? - Christian Green disse, ele era um professor substituto que havia entrado há pouco tempo na escola. Pelo que sabia, dava aulas de espanhol e francês, e era um pouco mais novo que o resto de nós. Com seu jeito molecão, era o mais hiperativo. - Pena que você escolheu uma data muito inconveniente pra fazer um bebê, não é?
Eu balancei a cabeça. "Inconveniente é você..." Disse mentalmente. Mas levei seu comentário com muito bom humor. Apesar do comentário, eu sabia que ele tinha uma língua solta, mas era um rapaz muito legal.
- Mas a ideia de dar uma festa foi boa. - Disse Ron, no mesmo momento, Letícia, a moça que cuidava da refeição na cantina, entrou no cômodo com o carrinho cheio de marmitas. Ela distribuiu a todas as marmitas entre os professores, e saiu da sala.
- O que quer dizer? - Perguntei, não entendendo.
- Bom, você sabe, homens como nós não temos muita diversão. - Ele apontou para Gabe Muffay, David Days e a si mesmo. - E logo você também não terá, acredite. - Ele disse isso se referindo ao fato de que ter filhos e um trabalho estável te dá pouco tempo pro lazer. - Então, por que não uma festinha de despedida da vida de homem sem filhos?
- Tipo uma despedida de solteiro? - Ergui uma sobrancelha.
- Exatamente. - Ele apontou um dedo para mim, o sorriso de um apresentador de programa de prêmios. - Vai ser legal, um dia pra fugir das nossas... "Responsabilidades". - Ele quis dizer fugir da vida de pai de família. Seria uma festa mais para eles do que para mim.
Balancei a cabeça negativamente. Eu imaginava o tipo de festa que eles queriam fazer, e isso, com toda a certeza, não combinava comigo. Apesar de acabar de entrar na casa dos trinta, eu não era festeiro e gostava de ficar em casa na companhia da minha esposa, e a época em que era rebelde era um dos períodos da minha vida que eu sempre quis esquecer.
Mas essa é uma estória que eu só vou contar mais tarde.
- Eu não gosto de festas extravagantes, talvez uma pequena social seja melhor para mim. - Levantei as mãos com um sorriso.
- Temos aqui um centenário de trinta anos, o maior espetáculo que o nosso circo poderia proporcionar. - Christian brincou. Era somente cinco anos mais jovem que eu, o mais novo do nosso grupo, mas parecia ter bem menos idade mental do que aparentava.
Revirei os olhos. Eles tentaram me convencer, mas mesmo assim mantive meu desejo de uma festa menos espalhafatosa de pé. Seria como uma reunião, talvez pudéssemos fazer um jantar para várias pessoas, mas não uma festança. O sinal tocou antes que as maiorias de nós terminassem os almoços. Despedimo-nos e cada um foi para seu ofício, o meu era um espaço externo dentro dos limites da escola. Eu dava aulas de direção automobilísticas. Depois de um exaustivo dia, fui para casa.
- Bem vindo! - A casa tinha um cheiro agradável de carne assada e batatas, sorri com a alegria de Alice. Ela girava e dançava pela casa enquanto fazia faxina, ao som de Barry White. - Que bom que chegou, eu estava querendo planejar um jantar, o que acha?
- Sabe que eu tive a mesma ideia? - Sorri para ela. Ela sorriu para mim também e se aninhou em meus braços. Baixei meu rosto para lhe beijar os lábios.
- Sério é? - Ela levantou uma sobrancelha, desconfiada.
- Estou falando sério. - Fiz como se me sentisse ofendido. Ela sorriu ainda mais abertamente, e me deu um selinho. - Os caras do trabalho queriam fazer uma despedida de "homem sem filhos" para mim, mas eu não quis. - Disse, caminhamos pela sala até nos sentarmos no sofá. - Eu prefiro estar perto de você, é muito mais vantagem.
Ela me olhou de lado, um sorriso torto de quem sabia que estava mentindo.
- Vantagem? Sei... - Ela fez um som engraçado, como uma mistura de risada e bufada. - Eu deixo você ir a uma boate de strip-tease desde que não fique com nenhuma outra mulher.
- E pra quê eu vou ficar vendo uma mulher qualquer tirar a roupa na minha frente quando eu tenho uma mulher linda como você?
Ela ficou calada, sorrindo para um ponto qualquer no horizonte. Eu não fazia a mínima ideia do que ela estava pensando, mas eu sabia que tipo de sentimento minha frase havia causado nela.
Alice se sentou no meu colo, sorrindo para mim.
- Sabe... - Suas mãos deslizaram sobre meu peito por cima do uniforme da escola. - Até que a ideia de despedida não foi ruim. - Ela levantou as sobrancelhas para mim, sugerindo algo. - Mas, ao invés de uma despedida de "homem sem filhos", que tal uma despedida de "namorar antes da barriga aparecer"?
- Você sabe que a gente vai acabar namorando depois que aparecer, não é? - Sorri para ela.
- O que vale é a intenção. - Ela respondeu, antes de tomar minha boca.
.
.
.
- Eu estava pensando... - Disse Alice, ela estava com uma prancheta na mão. - Que tal nós chamarmos a tia Penélope? Não a vejo desde a notícia do seu divórcio, ela ainda deve estar deprimida por causa disso.
- Por mim, tudo bem. - Dei de ombros. Eu não me importava em chamá-la, ela era uma pessoa muito agradável, mas de vez em quando exagerava na bebida e a gente não tinha coragem de mandá-la embora sozinha.
- E o seu pai? - Suspirei.
Eu a olhei com o rosto sério, eu esperava que ela estivesse brincando. No mínimo, fazendo uma piada de mau gosto. Ela colocou a pasta em frente ao rosto, abaixando um pouco para poder me olhar com certo humor.
- Lembre-se: Eu estou grávida. - Ela brincou.
- Alice, sabe o que eu penso sobre isso...
- Mas amor! - Ela implorou - Ele é seu pai, sua família. E, quem sabe, com a notícia do nosso bebê, talvez vocês possam se entender.
- Eu duvido que isso aconteça, mas foi boa a tentativa. - Meu tom de voz saiu um pouco rude, mas eu estava começando a ficar irritado.
Meu pai e eu nunca tivemos um bom relacionamento. Eu era como um fardo para ele, e eu, de fato, acabei me tornando um. Depois da morte da minha mãe, as coisas pareciam ter ficado piores, eu era um ser insuportável para ele. E quem parecia sofrer mais com isso era Jack, meu irmão adotivo.
- Amor. - Alice segurou meu braço. Ela fez com que eu olhasse em seus olhos, o tom brincalhão havia sumido de sua voz. - Você nem ao menos quer tentar.
Ela me olhava com intensidade. Suspirei, cedendo. Porém, eu não concordaria tão fácil.
- Só o convido se Jack for convidado também. - Declarei. Ela revirou os olhos e aceitou. Demos aquele assunto por encerrado.
- Eu vou chamar a Grace e a Hilary, e com elas dá... Doze convidados. - Ela declarou, finalizando a lista. - Você liga para eles por mim?
Suspirei, já cansado só de imaginar. "Claro", eu disse. Tomei o telefone e comecei a discar para a lista de números preso na prancheta.
.
.
.
A semana seguinte foi corrida. Com o final do semestre e o recesso das aulas se aproximando, a escola estava uma bagunça para fechar as notas e o preparo da recuperação. Para mim não era tão complicado quanto os outros professores. Minhas avaliações saiam na hora e a eu computava as notas logo depois da aula. Assim, meus alunos podiam tirar rapidamente suas certeiras de motorista e eu não tinha muita dor de cabeça.
Porém, com o decorrer da semana, parecia que Alice passava mal com mais freqüência a cada dia que se passava. Eu estava bastante preocupado, mas sabia que era por causa da gravidez. E, por mais que estivesse se sentindo bastante mal, ela estava bastante ansiosa com o jantar.
- Você comprou as velas número cinco? – Ela perguntou, assim que me viu entrar.
Afirmei com a cabeça, colocando as compras sobre a bancada. Ela se movia rapidamente pela cozinha, mexia uma panela, picava cebolas, regulava a temperatura no forno, colocava alguma coisa na geladeira, batia alguma coisa na batedeira... Só naquele momento eu percebi o quanto ela era ágil... E incrível.
Contornei a bancada, me unindo a ela no serviço. Ela me repreendeu de cara feia, dizendo “Eu quero que esse jantar seja perfeito!”. Tentei não me sentir ofendido por ela questionar minhas habilidades culinárias, mas apenas dei de ombros. Saí trotando da cozinha e tomei o rumo do chuveiro, onde pude relaxar um pouco. Quando saí, ela passou por mim correndo, lamentando o atraso. Não demorou muito, logo a campainha tocara. Já bem arrumado, liguei o rádio e coloquei uma melodia branda antes de atender a porta.
- Que tal um vinho? – Tia Penélope levantou uma garrafa de um vinho barato perto do próprio rosto, atrás dela estavam os colegas do trabalho. Provavelmente haviam se encontrado nas escadas.
- É claro. – Disse temeroso, tomando a garrafa de sua mão. Eu não bebia, e Alice muito menos, e eu esperava conseguir manter tia Penélope longe de álcool pelo resto da noite.
Os rapazes entraram logo depois dela, cumprimentando-me. Alice já estava ao meu lado, vestindo um vestido azul marinho solto e aparentemente confortável, estava bastante elegante com seus cabelos negros presos em um coque formal e uma maquiagem leve que destacava seus lábios um pouco cheios. Ela não gostava tanto de seus olhos, queria que tivessem cores mais claras, azuis ou verdes, mas eu sempre gostei de seus olhos castanhos.
Ela me deu um selinho e depois cumprimentou os convidados. Eu cuidei de servi-los com vinho, dando uma desculpa esfarrapada à tia Penélope de que me esqueci de sua taça. Ela deu de ombros, aparentemente frustrada, mas conversava animadamente.
Não tardou para que o resto das pessoas chegassem, apenas Jack estava atrasado, mas ele avisara antecipadamente. Eu evitava trocar palavras com meu pai. Ele também não parecia estar interessado em mim, então pude suspirar aliviado. Mas Alice queria que nos déssemos bem, e sempre tentava, sem sucesso, manter uma conversa saudável entre nós. No fim, ela levantou bandeira branca, mas sabia que não seria por muito tempo.
O apitar dos relógios de pulso indicavam oito em ponto quando ouvi batidas na porta. Como só faltava um convidado, foi fácil adivinhar quem estava atrás da porta. Jack tinha uma garrafa de vinho em uma mão, um buque de flores da outra e seu habitual sorriso maroto nos lábios. “Lírios”, pensei, “Ela é alergia a lírios”. Jack tinha feito o dever de casa, como sempre, mas não me prendi a detalhes.
- Diga que sentiu saudades do seu irmãozinho caçula... – Ele abriu os braços rapidamente, algumas pétalas caindo pelo chão.
- Você merece um cascudo! – Eu o abracei. Só Deus sabe como eu estava com saudades daquele cara. – Você tem que aprender a ser pontual.
Ele riu, e eu o convidei a entrar. Alice se aproximou relutante, ela não gostava de Jack, e eu sabia que o sentimento era recíproco. Ele estendeu o buque em direção a Alice, e antes que sua atenção se prendesse aos lírios, uma crise de espirros ecoou pela casa.
- Obrigada, Jack. – Ela falou com a voz fanha, logo depois foi ouvido outro espirro. – Mas eu sou alérgica, como você já deveria saber.
- Oh, desculpe! – Ele disse com uma falsa voz arrependida. – Eu devo ter me esquecido.
- É claro. – Outro espirro, e ela tomou o rumo do banheiro para tomar um antialérgico.
Eu a olhei virar o corredor e sumir do meu campo de visão, ouvindo a porta bater alguns segundos depois e os espirros ficarem abafados. Olhei-o, repreendendo-o, ele apenas deu um sorrisinho maroto e falsamente constrangido.
- Você não presta.
- Isso não é novidade.
Todos já estavam sentados à mesa, servidos de comida e bebida. A cabeceira foi deixada para mim. À minha esquerda estava Alice e à direita estava Jack. Ao lado dele, estava meu pai. Eu não queria que estivéssemos tão próximos, mas era melhor do que encará-lo frente a frente na outra ponta da mesa. A conversa continuou intensa até que pedi um pouco de atenção. Os convidados me encararam, Alice segurava minha mão por debaixo da mesa de madeira rústica.
Eu me levantei, a cadeira soltou um som arrastado pela tábua corrida.
- Obrigado por virem essa noite até aqui. – Comecei, sendo sincero. – O motivo de promover esse jantar é que Alice e eu temos um grande anúncio a fazer.
Eu estendi a mão para Alice, que aceitou e se levantou também. Eu olhei para todos, evitando olhar por muito tempo para meu pai. Respirei fundo, o olhar que Alice me lançava me dava coragem para continuar.
- Eu queria reunir aqui as pessoas mais importantes das nossas vidas para falar que... – Um som de música soou alta pela sala.
Jack retirou seu celular rapidamente do bolso, pedindo licença e se afastando ligeiramente. Eu o observei, ouvindo-o falar com a voz irritada com quem quer que seja do outro lado do telefone. Eu olhei para Alice, como se dissesse em voz muda que iria cuidar disso. Abandonei a mesa, pedindo licença também, e me aproximei de Jack, ouvindo-o praguejar um palavrão antes de desligar.
- Algum problema? – Perguntei, preocupado.
- Sim, um problema enorme, para ser sincero. – Ele bufou, frustrado, enquanto guardava o celular no bolso. – Eu vou precisar ir agora, me desculpe por isso.
- Tudo bem, eu entendo. – Falei com sinceridade. – Cuide dos seus problemas, depois a gente se fala.
- Valeu. – Ele me abraçou, despedindo-se, e abriu a porta, mas antes de sair, ele voltou sua atenção para mim. – Posso te pedir um pequeno favor?
- Claro. – Disse, curioso. – O que é?
- Eu ainda vou estar na cidade essa manhã e preciso resolver uns assuntos urgentes no banco, você me leva? – Estranhei aquele pedido, ele tinha carro, eu sabia disso, mas talvez esse pudesse ser um momento que pudéssemos conversar de irmão para irmão.
- Claro, tudo bem. – Ele me passou o horário e o local, e depois se despediu, saindo apressado.
Assim que voltei para a mesa, avisando aos outros o motivo da partida de Jack. Os convidados pareceram entender, mas meu pai mantinha uma expressão insatisfeita no rosto, apesar de não dizer nada.
- Mas e então, Daniell, qual a novidade? - Disse Tia Penélope, aparentemente curiosa enquanto roubava um pouco de vinho da garrafa no centro da mesa.
- Ah, claro! – Eu havia me esquecido. Pigarreei, retomando de onde havia parado. – Alice e eu vamos ter um bebê!
Todos exclamaram, surpresos com a notícia, e nos deram parabéns. Grace e Hilary que eram as mais recatadas deram gritinhos de animação e se levantaram de seus lugares para abraçar Alice. Ron, assim como Christian, Gabe e David, já sabia da notícia, então não se surpreenderam nenhum um pouco, mas me parabenizaram novamente. As esposas deles, com quem nem eu, nem Alice tínhamos lá muita intimidade, apenas batiam palmas e conversavam entre si. Tia Penélope sugeriu bebermos uma dose de vinho para comemorar, ideia que foi aceita por praticamente todos na mesa. Meu pai, eu o espiava pelo canto dos olhos, apenas se preocupava em beber o vinho que Jack havia trago junto com as flores.
O jantar terminou bem, a não ser por uma Tia Penélope sem um sapato e totalmente torta apagada no sofá.
- Eu vou dormir... – Alice avisou, enquanto secava alguns pratos para colocar no armário.
- Tudo bem. – Eu terminava de lavar alguns copos.
Senti o olhar de Alice sobre mim e automaticamente olhei para ela.
- Foi uma má ideia ter chamado seu pai. – Ela falou. – Desculpe.
- Você só estava tentando criar uma boa relação entre nós, eu não te culpo. – Confessei.
Ela sorriu, parecia feliz em olhar pra mim.
- Eu te amo. – Ela me deu um selinho antes de sair.
- Eu amo você também. – Porém, minha resposta havia sido atrasada, ela já havia entrado no quarto.
Assim que a louça estava limpa e a cozinha impecável, apaguei as luzes e ajeitei os cobertores sobre a Tia Penélope antes de me deitar também.
.
.
.
Apesar de ser contra as regras da escola usar o carro da auto-escola para fins não educativos, eu o usei para pegar Jack no hotel onde ele estava hospedado temporariamente no horário marcado e o levei ao Banco Central de Michigan. Jack olhava frenética e ansiosamente o relógio a cada dois minutos e parecia bastante preocupado. Eu não possui nenhum entendimento sobre negócios, mas sabia que era algo instável. Dependendo da Bolsa de Valores, alguém poderia ficar rico bem rápido ou falir bem rápido.
- Me espere aqui e mantenha o carro ligado, não vou demorar. – Ele disse finalmente, depois de olhar no relógio uma última vez.
Ele saiu do carro, uma maleta prateada na mão esquerda. Parecia tirar algo do paletó com a mão direita, mas ele sumiu de vista quando passou pelas portas duplas de vidro escuro. Não muito tempo depois de ter entrado, menos de um minuto, algumas pessoas saíram correndo pela porta da frente. Preocupei-me. O que estaria acontecendo? Então, assim que pensei em abandonar o carro para averiguar se meu irmão estava bem, ele saiu com uma maleta em mãos e uma sacola preta grande. O mais estranho, porém, foi vê-lo jogar a sacola em uma lixeira próxima e então entrar no carro correndo.
Minha curiosidade havia sido atiçada.
- O que aconteceu? – Perguntei.
- Dirige o mais rápido que essa banheira conseguir. – Ele mandou com a voz hiperativa.
- O que? – Eu perguntei por reflexo, surpreso com aquela atitude de meu irmão caçula.
- Dirige! – Ele mandou, desta vez, sacando um revólver e o apontando em minha direção. – Agora!
Capítulo 2 - O Passado Vem à Tona
- Jack, abaixa essa arma! - Tentei convencê-lo.
Ele mirou em um ponto do outro lado da rua e disparou. A caixa de correios balançou um pouco, mas permaneceu de pé, o buraco de uma bala bem no centro da tampa.
- Dirige! - Ele mandou mais uma vez, e desta vez ele parecia não aceitar objeções.
Mudei a marcha, arrancando com velocidade na pista. Os pneus cantaram e o carro tomou velocidade, alcançando rapidamente a casa dos 150 km/h. As sirenes começaram a soar alto, tomando a atenção dos pedestres na rua.
- Continua dirigindo! – Jack mandou.
Ele se virou no banco, colocou um dos braços para fora e começou a atirar freneticamente.
- Jack, para com isso! – Pedi, ansioso.
Olhei para o retrovisor a tempo de ver uma viatura perder o controle após ser atingida por uma bala da pistola de Jack. A viatura bateu na mureta de proteção que separava os carros da pista contrária. Mais outras duas viaturas puderam ser vistas.
Quando Jack voltou ao carro, ele ordenou que eu virasse na rua principal. Pisei no freio e no acelerador ao mesmo tempo, mudando a marcha e girei o volante, guiando o carro com maestria e acelerei, atravessando a contramão e desviando de dois carros. O som de batida logo atrás de nós anunciava que uma viatura havia colidido contra um dos carros que havia desviado. Enquanto Jack comemorava com um palavrão, eu me sentia culpado por provocar um acidente.
- Você é um tremendo filho da mãe! – Ele disse com um sorriso no rosto, como se aquele fosse um grande elogio.
- Jack, pra quê você está fazendo isso? – Perguntei, apreensivo, virando à esquerda e finalmente pegando a avenida principal.
Ele não respondeu, o som das sirenes não cessaram e mais viaturas saíram das ruas transversais, atrapalhando qualquer ideia de tomar outra rua. O som de um helicóptero tomou minha atenção. Senti quando meus músculos se tornaram tensos, Jack novamente atirava contra as viaturas que, agora, revidavam sem nenhum remorso.
Uma viatura conseguiu se aproximar pelo lado esquerdo, jogando seu veículo contra o nosso na tentativa de nos fazer capotar. Eu mantive a direção, jogando o nosso veículo contra o dele também, tomando as duas pistas. Quando Jack voltou ao carro pronto para atirar contra os policiais da viatura, eu tomei a frente.
- Dá espaço pra eu atirar! – Ele mandou.
- Não! – Respondi com a voz hiperativa.
A viatura tomou um pequeno espaço entre os carros para então jogar-se novamente contra nós. Eu virei o volante para a direita antes que a viatura batesse em nós. O carro ficou para trás depois de bater na mureta de proteção que dividia as duas pistas da avenida principal.
- Impressionante! – Jack me elogiou mais uma vez.
Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a visão de várias viaturas paradas à nossa frente tomou nossa atenção. Jack se reiterou na cadeira, agarrando a alça do teto. Eram seis viaturas uma do lado outra, os policiais estavam posicionados com as armas em punho. Apenas um deles, com um megafone na mão, mandava pararmos o carro.
- Passa por cima! – Jack ordenou.
- Não! – Respondi, pasmo com aquela ideia.
- Faz o que eu mandei, Daniell! – Ele gritou reforçando a ordem anterior.
- Não! – Gritei em resposta.
Girei o volante para a esquerda, pisando no acelerado e no freio. Tomei a marcha errada e o carro girou desgovernado pela rua, acertando a calçada e parando antes que batesse em um prédio. Eu bati com a cabeça no volante. O golpe não havia sido forte o suficiente para que me deixasse inconsciente, mas foi o bastante para que eu visse estrelas por alguns minutos. As pessoas em volta se assustaram com o acidente, e se afastaram rapidamente ao ver a polícia se aproximar.
Eu olhei para o lado, mas Jack não estava mais lá. Eu o procurei com os olhos antes de ser puxado para fora do carro e deitado no chão com brutalidade. Os policiais cuspiram os meus direitos como se eu fosse um criminoso e me algemaram. Eu tentei reagir, falar o que realmente aconteceu, mas em resposta somente esmagaram minha cabeça contra o concreto e me mandaram calar a boca.
Eu fui colocado em uma viatura, os curiosos gravavam em seus celulares o bom trabalho da polícia.
No caminho para a delegacia, eu insistia em contar a verdade, toda a história maluca que havia realmente acontecido há poucos minutos atrás. Eu era inocente, mas os policiais não acreditavam nisso.
.
.
.
- Eu sou inocente, fui obrigado a isso! – Insisti.
- Claro que foi. – Um dos policiais debochou. – E eu canto tão bem quanto a Rihanna.
Eu estava em uma sala de interrogação no Departamento de Polícia de Michigan. Dois policiais, uma mulher de cabelos castanhos, que havia se apresentado como Lace, e um cara loiro, chamado Howard, ambos baixinhos e nada intimidadores, faziam aquele jogo de “policial bom e policial mal”.
- Diz logo onde seu irmão se meteu! – A policial Lace bateu com as mãos na mesa com força, tomando o papel de “policial mal”.
- Eu já disse que não sei! – Insisti mais uma vez. – Eu não sabia o que ele planejava! Ele me pediu para levá-lo ao banco e eu o levei, mas quando ele saiu de lá, ele apontou uma arma pra minha cabeça e me mandou dirigir! O que queriam que eu fizesse?
- Essa é a desculpa mais esfarrapada que eu já ouvi! – Ela jogou alguns papéis sobre a mesa, apontando acusatoriamente para mim. – Você é cúmplice dele! Ele te abandonou, como pode ser tão burro de continuar protegendo ele, hein?
- Eu não estou protegendo ninguém! – Revidei. – Eu sou vítima nisso!
Quando a policial Lace ameaçou avançar em mim, o outro policial se colocou na frente, impedindo-a de fazer qualquer coisa contra mim. Ele pediu um pouco de tempo para conversar comigo, e ela saiu marchando da sala – mas eu sabia que provavelmente ela estaria nos vigiando através do vidro fumê.
- Agora que estamos sozinhos, talvez você se sinta mais à vontade para falar, não é? – O policial Howard falou com a voz calma, como se falasse com uma criança.
De fato, era muito melhor conversar com aquele cara do que com a policial histérica que havia acabado de sair, mas eu não me sentia à vontade com nenhum dos dois. Ele se sentou do outro lado da mesa, juntando os papéis que a policial Lace havia espalhado pela mesa em um dos seus ataques de histeria. Tirou alguns papéis que julgou serem importantes do envelope pardo antes de começar.
- Você disse que era inocente nessa história, não é? – Ele perguntou retoricamente, mas mesmo assim eu assenti com a cabeça. – Mas sabe, fica difícil acreditar em você com uma ficha como essa.
Ele colocou alguns papéis na mesa, o que identifiquei como uma ficha criminal. Nela continha informações sobre mim, alguns delitos de quando era menor de idade e dois crimes marcados logo abaixo.
- Roubo de carro... Homicídio. – Ele leu minha ficha, uma voz falsamente decepcionada enquanto meus olhos se arregalavam diante dele. – Uma ficha realmente lamentável, e você só tinha dezessete anos quando cometeu todos esses crimes.
- Foi um acidente! – Eu me manifestei. – O que aconteceu foi um acidente!
Eu participava de rachas.
Sabia que era errado, mas eu o fazia. Eu me sentia bem em correr, pilotar carros, derrapar nas pistas em alta velocidade, sentir a adrenalina de estar atrás de um volante... Era algo que me fazia sentir completo. O primeiro carro que pilotei havia sido o de um amigo meu. Ele se chamava Patrick, e apesar da aparência um tanto delicada, ele era o tipo de cara que arranjava confusão por qualquer coisa, mas também era o tipo que facilitava a vida dos parceiros... Mesmo que da forma errada.
Ele me ensinou manobras e macetes, o que fazer na pista, como despistar os inimigos, ganhar vantagem dos adversários na pista, como fazer o público ir à loucura. Eu absorvi todos os seus ensinamentos e passei a freqüentar rachas com quinze anos. Era o corredor mais jovem e o mais habilidoso, eu ganhava corridas sem nem ao menos me preocupar, e dirigia carros roubados – não por mim, mas roubados por Patrick – e dirigia freneticamente pelas pistas. Nós tínhamos uma amizade agradável, mas também vantajosa. Ele me arrumava carros e ele conseguia grana apostando em mim.
- Hey, Dani! – Patrick chamou-me pelo apelido que me dera. Ele havia evitado usar o “irmãozinho” por não pegar bem para ele. – Eu te arranjei uma corrida com uma lenda essa noite.
- Uma lenda? – Eu perguntei, no alto de meus quinze anos, eu era grande demais para minha idade, e tinha mais massa muscular que a maioria dos garotos da minha idade tinha.
- Sim, sim. – Ele respondeu como se a pergunta não fosse importante. - O Derek decidiu que iria correr contra você, tirar logo a dúvida de quem era o melhor.
- O Derek? – Arregalei os olhos, surpreso com aquele fato. – Ele quer correr contra mim?
- Eu apostei alto em você hoje, Dani, não me decepcione! – Ele apenas afagou minha cabeça como se falasse com uma criança e abandonou o porão de sua casa.
Naquela noite, Patrick havia me arranjado um carro incrível, incrementado de nitro, um motor V6, suspensões de primeira classe... Tudo o que um piloto de corrida profissional desejaria ter em seu carro. O público se animou ao ver os dois competidores entrarem em seus carros, duas garotas atraentes nos bancos do passageiro.
- Oi. – A loira disse para mim. – Eu sou a Mandy.
- Daniell. – Eu respondi. Ela deu um sorriso e se voltou para frente.
Os cabelos tingidos de vermelho da garota da bandeira, Cheryl, a quem todos conheciam por Cherry, chamavam bastante atenção. Ela levantou os braços. Eu liguei meu motor, aquecendo-o, e assim que ela deu a partida, eu saí arrancando em disparada.
Era fato que Derek era um excepcional piloto. Eu precisei de muita técnica e sorte para conseguir igualar a disputa. E ele era o tipo de cara que jogava sujo. Ele jogava seu carro contra o meu seguidas vezes, tentando me jogar para fora da pista e eu tinha trabalho para conseguir manter meu carro sob meu controle.
- Acaba com esse cretino, Daniell! – Mandy gritou ao meu lado.
O carro dele era maior, eu não tinha chances contra ele, então fiz uma jogada inteligente. Eu desacelerei, ouvindo os protestos da loira ao meu lado, e desliguei os faróis. Meu carro se camuflou na pista escura, e quando Derek achou que tinha me deixado para trás, ele baixou a guarda e desacelerou, assim como achei que faria. Liguei o nitro e acelerei o máximo que podia, ultrapassando-o pelo o outro lado de seu carro, mas com os faróis apagados, eu não vi o carro solitário que passava por aquela pista.
Meu carro colidiu violentamente com o outro, eu capotei e caí de cabeça para baixo. Apesar de estar usando o cinto, eu sentia que deveria ter quebrado alguns ossos, a clavícula talvez. Eu entrei em desespero, pedindo por ajuda. A loira ao meu lado tinha sangue nas roupas, no rosto, estava inconsciente. Eu senti minha cabeça girar, o sangue abandonar meu corpo rapidamente, minha visão ficar turva e escurecer logo em seguida.
Acordei em um quarto de hospital horas depois do acidente. Eu havia escapado da morte com alguns ossos quebrados, mas a família no carro e a loira ao meu lado morreram no local.
Eu não recebi nenhuma visita de Patrick, nem do meu pai.
Eu disse tudo ao policial que me olhava com uma expressão tediosa.
- Eu não quero saber o que você fez no passado, só quero saber onde está o dinheiro do roubo. – Ele repetiu, agora se irritando também.
- Eu já disse que eu não sei! – Repeti mais uma vez.
Antes que ele fizesse outras perguntas, alguns gritos histéricos foram ouvidos do lado de fora. Ele abandonou a sala por um segundo para saber o que estava acontecendo, e depois de alguns minutos do lado de fora, ele voltou com um semblante insatisfeito.
- Teve sorte, garoto. – Ele falou, arqueando uma sobrancelha. – Se o FBI não estivesse aqui, eu já teria arrancado tudo o que precisava de você.
Ele não entendia que já tinha arrancado toda as informações que eu tinha. Ele soltou minhas algemas da mesa ao mesmo tempo em que uma mulher de cabelos negros adentrava a sala. O policial olhou-a atravessado e depois saiu.
- Eu sou a Agente Harris, vou levá-lo até o departamento do FBI. – Ela disse simplesmente.
Eu fui colocado em outra viatura, algemado. Mas ao contrário da primeira vez em que me colocaram em uma viatura, eu havia ficado calado. A policial, vez ou outra me olhava pelo retrovisor, o policial que a acompanhava mal falava uma palavra. E a viagem parecia que seria assim até o final, mas no caminho para lá, um furgão preto e suspeito se aproximou. Os policiais suspeitaram de um possível ataque, mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, o furgão preto colidiu com tudo na lateral da viatura. O carro capotou uma vez e caiu em pé.
Eu tentei ver o que estava acontecendo à nossa volta, me mexer, mas eu estava algemado e impossibilitado. Minha cabeça girava com o golpe e eu suspeitava que perderia a consciência em breve. Tentei falar algo para os policiais, mas eles estavam inconscientes no banco da frente. De repente, a porta de trás da viatura fora arrancado em um puxão por uma corda presa em outro carro e a primeira visão que tive foi a do meio sorriso travesso de Jack.
- Sentiu saudades, irmãozão? – Ele disse, poucos segundos antes que eu perdesse a consciência.
Capítulo 3 - Más Amizades
Acordei sobre a cama macia do meu quarto, tentei abrir os olhos, mas a claridade do abajur sobre minha cabeça fez com que eu permanecesse com os olhos fechados. Uma série de imagens vinha à minha cabeça, em flashes. Respirei aliviado, havia sido somente um sonho estranho em que eu havia sido ameaçado pelo meu irmão, participado de uma fuga alucinante em quatro rodas, sido preso e depois resgatado pelo mesmo cara que havia me ameaçado da primeira vez.
Porém, ao constatar que as paredes com um papel de parede esverdeado não pertenciam ao meu quarto, eu percebi que tudo o que havia acontecido não era um sonho. Eu estava em um quarto de hotel, provavelmente bem longe do centro da cidade a julgar pelo estado do lugar. Havia duas camas de solteiro, uma cômoda aos pedaços e um corredor estreito que dava para a saída, além das duas portas de madeira barata – uma dava para a saída, a outra para o banheiro.
Eu me levantei lentamente, desligando o abajur no processo. Meu corpo doía – provavelmente por causa do acidente. Olhei em volta, a única janela do quarto estava fechada, as persianas impedia que a os últimos raios de sol daquele fim de tarde entrassem no cômodo. E sobre a cama que sobrava no quarto, estava Jack. Ele olhava diretamente para mim, seu meio sorriso característico nos lábios.
- Boa noite, Dani. – Ele falou, usando aquele antigo apelido para se referir a mim.
- O que você fez, Jack? – Foi a única coisa que saiu pelos meus lábios.
Eu não sabia como reagir, o que fazer naquela situação. Eu sentia raiva por ele ter me colocado naquela encrenca, decepção por ele ter se tornado um criminoso, preocupado com Alice... Havia tanta coisa... Eu me sentia ansioso e inseguro, acima de tudo, e tinha uma vontade irresistível de avançar no pescoço daquele cretino.
Ele não respondeu minha pergunta. Na realidade, ele somente se levantou e se aproximou de mim, retirando um maço de cigarros do bolso. Ele fumava cigarros da marca Blend, a mesma marca que um dia eu já coloquei nos lábios.
- Foi difícil te resgatar, sabia? – Ele sorriu, descontraído, enquanto mudava de assunto. – Você é bem pesado. Devia malhar de vez em quando.
Foi a gota d’água para mim. Eu me levantei, minhas mãos tremiam por conta do nervosismo. Jack deu dois passos para trás e evitou que um soco meu o atingisse. Ele levantou as mãos, como se pedisse para que eu tivesse calma, o que me irritou ainda mais. Eu avancei e o agarrei pela gola da camisa social que usava, nós tropeçamos na cama extra e fomos ao chão. Aproveitei para, então, conseguir acertar um soco em seu rosto, bem sucedido.
Eu me senti melhor depois de socá-lo, mas em seguida veio a culpa por estar apelando para a agressão física.
Eu o olhei, o cenho franzido enquanto decidia se voltaria a bater nele ou me afastaria. Jack olhava para mim também, ele parecia tão indeciso quanto eu, porém parecia travar uma batalha interna. Eu senti suas mãos deslizarem vagarosamente pelos meus braços e agarrarem minha camisa de mangas compridas. Em um momento eu achei que ele tentaria revidar o soco, mas sua expressão me era diferente. Ele se apoiou em seus cotovelos e selou seus lábios nos meus.
Eu me afastei imediatamente, limpando a boca com as costas das mãos. Eu o olhei enojado. Como ele pôde fazer algo assim? Nós somos homens! É errado! Vai contra as leis de Deus! Eu estava mais confuso do que nunca enquanto o olhava se levantar com a expressão indiferente, como se o fato dele ter me beijado de repente nunca tivesse acontecido.
- Você ficou louco? - Elevei minha voz. Ele apenas ergueu uma sobrancelha, divertido.
Eu estava confuso, milhões de pensamentos vinham à minha cabeça, eu queria que aquele pesadelo acabasse logo.
- Onde você está indo? - Jack se manifestou. Eu o olhei, enojado.
- Não venha atrás de mim! - Eu gritei enquanto tomava o rumo da saída.
- Acho melhor você não sair. - Ele alertou, despreocupado.
Eu deveria tê-lo ouvido.
Eu fui parar em uma lanchonete de beira estrada do outro lado do hotel. Eu não conhecia o local e só precisava ficar em algum lugar em que não precisasse encarar Jack. Todas as coisas que haviam acontecido nas últimas nove horas voltavam com força à minha mente: O roubo, a fuga, aqueles policiais... Aquele beijo... Jack só podia ter ficado louco! Ele era, até onde me lembro, o cara mais mulherengo e cara de pau que eu conhecia.
Olhei para fora da janela, observando os últimos raios de sol desaparecem por detrás dos prédios antigos daquela rua.
- Posso anotar o seu pedido? - Perguntou uma garçonete.
Eu a olhei, surpreso com a sua aproximação repentina. Limpei a garganta, procurando uma resposta rápida.
- Eu não vou querer nada, por enquanto. - Falei. Ela pareceu insatisfeita com a resposta.
- Olha, o meu chefe tem uma política desagradável sobre clientes que ficam aqui e não pedem nada. - Ela deixou subtendido que se eu não pedisse, eu teria que ir embora.
Eu cedi. Não havia outro lugar para onde eu pudesse ir.
- Então me traz uma xícara de café. - Dei de ombros.
Ela foi ao balcão e pegou uma xícara de café e uma garrafa térmica. Colocou a xícara na mesa e despejou o café fumegante dentro do recipiente.
- Leite? - Ela ofereceu, mas eu apenas neguei e levantei a mão em um claro sinal de que não iria pedir mais nada.
Ouvi a música de abertura do jornal das seis na televisão antiga da lanchonete, a mesma estava pendurada em um daqueles apoios de parede que eu não via desde que era criança. Os poucos clientes que havia no estabelecimento - um casal de idosos e dois policiais acima do peso - dedicaram suas atenções ao noticiário, assim como a única garçonete no local.
- "Ainda continua desaparecido o dinheiro do Banco Nacional de Michigan, roubado por dois homens nesta manhã. Um dos suspeitos identificado como Daniell Sullivan foi apreendido, mas fugiu após a viatura em que estava sofreu um acidente." - Disse o jornalista. Naquele momento, uma foto minha apareceu na tela ao lado de Jack. - "Os policiais que estavam levando o suspeito para a sede do FBI suspeitam que o acidente não havia sido acidental, e que o seu principal objetivo era libertar o suspeito Daniell Sullivan. Foi mencionado também que, possivelmente, o suspeito que ajudou na fuga de Daniell Sullivan seja seu irmão adotivo Jack Hansen, que vemos nas imagens rendendo os reféns no banco." - Logo, imagens de um Jack armado, rendendo várias pessoas e apontando a arma para as caixas enquanto elas recolhiam o dinheiro do cofre.
Praguejei um palavrão alto demais, chamando a atenção de todos. O casal de idosos e os policiais olharam para mim, assim como a garçonete que agora portava um bule de chá. Todos voltaram a atenção para a televisão, depois para mim novamente, comparando o rosto na foto do noticiário com o meu.
- Não se mexe! - Um dos policiais disse, se levantando de seu banco. Ele pegou uma arma laranja da cintura (provavelmente uma arma de choque) e apontou para mim enquanto seu parceiro, um pouco mais lento, se levantava e pegava sua arma também.
- Esperem ai, vamos conversar… - Eu tentei negociar, mas o primeiro repetiu para que eu não me mexesse.
Ele estava nervoso, dava para ver isso, principalmente por que a arma de choque tremia em suas mãos. O outro policial não estava num estado muito diferente. Ele ainda tinha açúcar dos donuts na boca e demorara para conseguir acertar o dedo no gatilho. Talvez aquela fosse a primeira prisão que efetuariam. Levantei as mãos lentamente, me rendendo. Levantei da cadeira em que me encontrava devagar, deixando o café ainda quente para trás.
Um som de sino e a porta da lanchonete se abriu devagar, a garçonete deixou o bule cair no chão, que se espatifou em vários pedaços. A mulher idosa soltou um suspiro longo de surpresa e terror e o som de um disparo ecoou no recinto. A arma do primeiro policial voou para perto de meus pés por causa da bala certeira que Jack disparou. Outro disparo, desta vez, acertando a perna esquerda do outro policial que não conseguiu reagir à tempo de disparar sua inútil arma de choque contra Jack.
Ele foi ao chão, segurando a perna baleada enquanto gritava feito uma criança. O outro policial não sabia se ajudava seu parceiro ou se levantava os braços. Ele estava amedrontado, as pernas tremiam tanto que parecia que estavam prestes a ceder.
- Jack, não atire! - Eu pedi.
- Hã? - Sua atenção se voltou para mim, o olhar interrogativo. - Mas eu não vou atirar em ninguém. - Ele arqueou uma de suas sobrancelhas, como se isso fosse claro.
O policial pareceu relaxar um pouco depois disso.
- Não vou atirar se não for necessário, é claro. - Ele completou logo depois.
Ele remexeu o bolso dentro do blazer preto que usava. Por um segundo eu fiquei tenso que fosse algo hostil, mas me senti aliviado por ser apenas a carteira o que ele procurava. Ele caçou umas notas de dinheiro e colocou no balcão, perto da garçonete.
- Acho que isso deve dar para pagar o que meu irmão pegou, não é? - Ele falou para a garçonete que tremia atrás do balcão. Depois de alguns segundos, ela confirmou com a cabeça.
- Dá e sobra. - A voz da garota demonstrava todo o medo que sentia.
- Então pode ficar com o troco. - Jack se voltou para os policiais. - Bom, me desculpem por todo o problema que meu irmão causou, mas eu vou pedir que peguem suas armas somente depois que nós sairmos. - Ele falou, na cara de pau, enquanto me chamava com uma mão para me aproximar.
Eu peguei a pistola elétrica que havia caído próximo à mim e me desviei dos policiais no espaço estreito da lanchonete para tomar o lugar ao lado de Jack. Apesar de estar com uma raiva de tamanho descomunal dele, eu estava aliviado por aquele cretino estar ali agora.
- Mas sabe, vocês não precisam ficar preocupados com a reputação de vocês. - Ele continuou em tom descontraído enquanto andava calmamente em direção à saída da lanchonete. - Vocês serão tidos como heróis. Dois policiais que somente não conseguiram render dois criminosos por que o governo os despreza tanto que nem lhes deram armas de verdade. - Por um momento eu achei que ele estava os ridicularizando, mas percebi que ele falava sério, apesar do tom de brincadeira. - Provavelmente, até ganharão uma promoção, então não esqueçam de me agradecer depois de tudo isso.
Ele terminou todo aquele discurso bizarro e saiu, eu logo atrás dele. Os outros clientes, a garçonete e até o cozinheiro que até aquele momento não havia aparecido na frente da lanchonete se agruparam em frente as janelas de vidro, nos observando correr até a caminhonete que Jack havia “pego emprestada”, segundo ele, e partir em alta velocidade pela rua.
- Que discurso estranho foi aquele? - Eu franzi o cenho, olhando-o de relance enquanto dirigia o carro em alta velocidade.
- Discurso? - Ele repetiu. - Eu só disse a verdade. Em pouco tempo aqueles dois estarão no noticiário como os dois policiais que enfrentaram dois criminosos perigosíssimos.
Eu parei o carro em um sinal vermelho, olhando para ele com mais atenção. Jack tinha um meio sorriso irritante nos lábios.
- Você é patético. - Eu falei.
- Eu fiz um favor àqueles caras. - Ele falou, fazendo-se de desentendido.
- Por que você me colocou nessa roubada com você? – Eu gritei, ignorando o sinal verde. – Eu tenho uma esposa, um trabalho estável e um fi... – Eu fui interrompido pela voz estridente de Jack.
- Você é a única pessoa em que eu confio! – Ele falou ainda mais alto do que eu.
Eu demorei alguns segundos para assimilar aquela resposta.
- Isso não é motivo... – Eu falei, minha voz se tornou um pouco mais serena.
- Se apenas isso não é motivo, então saiba que você estava me devendo isso. – Ele respondeu com segurança.
- Te devendo? – Arqueei as sobrancelhas, agora falando com ironia, mas antes que eu pudesse acabar de falar, ele se pronunciou.
- É, você está me devendo! – Ele reforçou o que disse. – Está me devendo por ter me abandonado na casa do nosso pai.
- Eu não te abandonei! – Eu me defendi.
- Então por que não me levou com você?
- Eu não podia! – Ouvi buzinas atrás de nós, irritados por não nos movermos. Eu apenas ignorei e Jack fez o mesmo. – Eu tive que ir embora depois do que ele fez! Se eu ficasse, ele ia acabar me matando!
Minha raiva sobre meu pai aumentou ainda mais. Eu soquei a buzina, que fez um barulho alto, a fim de descontar em alguma coisa.
- Ele nunca te tratou mal, Jack, por que você queria ir embora?
Ele se calou, e pela primeira vez desde que toda aquela loucura havia começado, o meio sorriso arteiro que ele tinha nos lábios o tempo inteiro havia desaparecido. Eu não soube identificar o que ele sentia... Ele apenas apoiou o cotovelo na janela do carro e passou a mirar um ponto qualquer da paisagem. Depois de alguns segundos, os carros contornando nossa caminhonete enquanto motoristas irritados nos xingavam, Jack voltou a se manifestar.
- As coisas também não foram fáceis para mim. – Ele falou simplesmente.
Meu pai me batia.
O tempo todo por todos os motivos e razões. Se ele achava que eu o desrespeitava, ele me batia; se eu tinha uma nota abaixo de dez, ele me batia; se eu não completava alguma tarefa à tempo, ele me batia; se eu não rezava, ele me batia; se ele achava que eu mentia, ele me batia... Eu acreditava que talvez fosse por sermos uma família católica – meu pai era pastor da igreja local de nossa cidadezinha natal – que nossa educação era diferente. Eu tinha que me confessar todos os dias, mesmo que não tivesse cometido pecado algum. Eu deveria ser o garoto exemplar, evitar os pecados da carne e as tentações do Diabo, como ele dizia.
Eu deveria ser o tipo de garoto que ficava em casa, ajudava em todos os afazeres, se dedicava aos estudos e à igreja e cumpria o voto de castidade.
Mas eu não era assim.
Eu amava carros, eu era popular entre as garotas e arranjava brigas por todos os lugares que ia naturalmente. Eu tinha nove anos quando vi meu vizinho entrar pela primeira vez em minha casa com uma mochila nas costas e uma mala de rodinhas na mão. Seu nome era Jack Hansen, tinha sete anos e era filho do senhor e senhora Hansen. Era o único filho do casal e eu não o conhecia bem.
- Ele vai morar com a gente, mãe? – Eu perguntei à minha mãe.
Ela se chamava Helena, os cabelos eram loiros tão claros que pareciam brancos. Era bonita, no auge da minha infância eu a comparava às outras mães e ficava insatisfeito. Freqüentemente eu perguntava à ela, por ser tão inocente, o porquê de minha mãe ser magra, ter uma pele bonita, cabelos longos e bem cuidados, ao contrário das outras mães. Ela sempre parecia satisfeita em ouvir minhas perguntas, mas evitava me dar respostas.
- Sim, ele vai morar conosco, Daniell. – Ela sorriu ternamente. – Ele vai ser seu irmão de agora em diante.
Eu o encarei, desconfiado, mas desde aquela época, quando vi que o único sorriso que ele conseguiu proferir depois de descobrir que seus pais haviam morrido no mesmo acidente que o deixou hospitalizado por cerca de dois meses foi para mim, eu soube que iríamos ser como irmãos de sangue.
O tempo passou correndo. Eu tinha quatorze anos quando minha mãe faleceu de depressão, Jack possuía doze anos. Eu nunca entendi como a depressão funcionava. Ela não estava doente fisicamente, mas havia se sentido tão triste nos últimos anos que se negava à comer, à tomar banho, à se cuidar... Em pouco tempo, a mulher que era bonita, gentil e cheia de alegria tornou-se um ser mal cuidado, mal tratado e envolto de tristeza.
Meu pai me culpou por isso, e eu apanhava constantemente pela depressão dela, mas ela ainda tinha forças o suficiente para me dizer que eu não tinha culpa de nada. A morte dela fez com que a família se dividisse. Enquanto meu pai se isolava na igreja, eu me refugiava na companhia Jack, que me servia de porto seguro quando a dor da perda dela me atingia à noite.
Com o tempo, eu me distanciei de Jack e comecei a tomar gosto por corridas. Conheci Patrick em uma festa que havia ido às escondidas em uma noite, e ele me apresentou o mundo automobilístico, ensinou tudo o que eu sabia e aconteceu aquele acidente. Eu passei um mês hospitalizado antes de voltar para casa. Meu pai me lançou um olhar recheado de cólera e decepção. Ele não falou nada quando coloquei os pés em casa, mas eu sabia para onde deveria ir.
Ele jogou milho no chão da área dos fundos da casa, como sempre fazia ao me castigar, e mandou que eu ajoelhasse, o que depois de alguns segundos de relutância, acatei sua ordem. Ele mandou que eu tirasse a camisa, e eu tirei, e depois de alguns minutos, eu senti a primeira cintada nas minhas costas. Eu não sabia quanto tempo eu havia ficado ajoelhado e recebendo todos aqueles golpes nas costas, mas eu sabia que estávamos sós até ouvir um grito de desespero vir da boca de Jack ao chegar da escola e ver seu irmão sendo chicoteado.
Ele se pôs entre mim e a última cintada que estalou em suas costas. Meu pai parou imediatamente o castigo, e depois de alguns minutos ouvindo os gritos de misericórdia de Jack, eu o ouvi largar o cinto e sumir da área dos fundos da casa. Eu desmaiei de exaustão, e eu sabia que deveria me mudar daquela o mais rápido possível.
Eu fiz dezoito anos naquele mesmo mês e vi ali a oportunidade de fugir daquele homem. Apesar de todos as suplicas para que eu o levasse junto, eu disse ao Jack que não havia uma maneira de levá-lo junto comigo. Entre mim e meu pai, a guarda de Jack com certeza ficaria com meu pai, mas quando ele fizesse dezoito, eu prometi que o levaria junto comigo. E eu não deixaria Jack para trás se não tivesse certeza de que meu pai o maltratava, eu não tinha nenhuma prova de que ele o fazia, além de saber que meu pai não levantava a mão para ele. Eu era visto como o filho rebelde do pastor, qualquer surra que eu levasse dele era por um motivo justo, eu devia ser educado de forma rígida.
- Pegue aquela rua. – Jack falou, apontando para a esquerda, tirando-me de meus devaneios.
Eu virei o carro na rua tal e depois de mais algumas instruções, nós chegamos à um prédio pichado, com vários vidros quebrados em um bairro violento da cidade. Eu estacionei a caminhonete perto do portão de entrada do prédio, alguns homens, a maioria portava correntes de ouro e prata, guardavam o porão de entrada.
- O que a gente veio fazer aqui, Jack? – Eu olhei para ele, o cenho franzido.
- Conversar com uma amiga. – Ele respondeu simplesmente.
Jack desceu do carro e fez um sinal para que eu descesse também. Ele entrou no prédio comigo em sua cola, os homens do lado de fora apenas olharam para nós, desconfiados, mas não fizeram nada. “Com que tipo de gente você se meteu, Jack?”, eu pensei, olhando as paredes pichadas e quebradas. Subimos dois lances de escadas antes de parar em uma porta. Ele deu dois toques, se afastando um pouco. A porta se abriu o suficiente para que quem quer que estivesse dentro pudesse olhar para nós, e depois se fechou. Ouvi o barulho do trinco de corrente e depois a porta se abriu totalmente.
O cheiro forte de droga quase fez com que eu tampasse o nariz. Havia mais homens, porém, ao contrário dos que estavam do lado de fora, estavam fortemente armados. Havia dinheiro sobre a mesa de centro do local, provavelmente roubado, e armas variadas encostadas nas paredes. Alguns contavam as notas de dinheiro que tinham perto deles, outros, cheiravam um pó suspeito e enrolavam carretinhas de drogas em cigarros. Havia mulheres também, algumas agarradas a alguns caras, uma delas brincava com uma arma.
Dois homens se aproximaram de nós, eu pensei em protestar quando um deles me tocou, mas estava apenas verificando se eu estava armado. Eu o olhei, dos dentes da frente eram de ouro e tatuagens estavam espalhadas pelo seu corpo.
- Espere aqui. – Jack falou. Ele se aproximou de uma porta que dava para uma sala com parede de vidro.
Eu podia ver o que estava acontecendo do lado de dentro e quem quer que estivesse dentro também podia nos ver, eu tive certeza disso ao ver a única pessoa do lado de dentro, uma mulher de cabelos castanhos curtinhos e algumas tatuagens espalhadas pelo ombro e colo exposto no decote exagerado, abrir a porta assim que colocou os olhos em meu irmão. Ela abriu passagem para ele e um outro homem armado entrarem no cômodo e fechou a porta.
Eu não consegui ouvir sobre o que falavam, mas em todo o tempo em que os três estavam na sala – menos de vinte minutos, pelo menos, era o que eu achava -, uma única vez Jack olhou para mim, e apesar do meio sorriso travesso que tinha nos lábios, os seus olhos demonstravam um estranho sentimento confortador e protetor para mim. Apenas alguns segundos e ele voltou a conversar com a garota na sala. Ela deu a ele um pacote pardo e, antes de abrir a porta para ele, um beijo rápido, mas quente.
- O que ela te deu? – Perguntei, assim que estávamos novamente no carro.
Ele me olhou, as sobrancelhas erguidas.
- Como?
- Aquele pacote, eu vi. – Falei.
- Ah, sim! Esse pacote? – Desviei os olhos da rua para olhar o pacote gordo que ele tinha em mãos. – É minha a parte do roubo. – Ele brincou com pacote antes de colocá-lo dentro do porta-luvas do carro. – Sinceramente, eu não estou muito satisfeito em receber uma pequena parte depois de ter feito todo esse trabalho, mas eu vou dar um jeitinho nisso depois.
- Você precisa devolver esse dinheiro. – Eu falei enquanto mudava a marcha do carro. – Isso é errado!
Ele me olhou, um sorriso travesso no rosto.
- Tudo o que é errado é mais divertido. – Ele falou com tom descontraído.
Nós ficamos em silêncio depois disso. Eu o olhava de relance enquanto conduzia o carro até o provável lugar onde ficaríamos escondidos por hora. Ele tinha uma expressão serena no rosto, mas exalava uma aura negativa... Depressiva. Naquele momento, imagens de minha mãe me vieram à cabeça, depois meu pai e o que gerou aquela discussão mais cedo. Sacudi a cabeça, dispersando aqueles pensamentos.
- Aquela garota... – Eu comecei, alguns minutos depois, chamando a atenção de Jack.
- Que garota? – Ele estranhou. Eu parei com o carro em um sinal vermelho e o olhei como se a resposta fosse obvia. – A Chelsea?
- Se for a garota da gangue, sim. – Eu falei. – O que foi aquele beijo?
- Não foi nada demais. – Ele deu de ombros. – A Chelsea é uma ótima amante, mas é o tipo de pessoa que você não quer como sócio. – Ele falou enquanto ligava o radio e escolhia uma estação. – Também não é o tipo de pessoa que você deveria irritar, afinal, não foi sorte ela ter se tornado líder de uma gangue tão perigosa.
Ela era a líder daquela gangue? Eu estava surpreso em como uma mulher podia liderar todos aqueles homens tão facilmente. Jack pegou um cigarro do casaco que usava sobre o blazer escuro e o acendeu assim que o pôs na boca. Eu observei a fumaça subir fantasmagoricamente e sumir no ar. O cheiro da fumaça tóxica me estimulava a fumar um também, mas apenas sacudi a cabeça, tentando me livrar daquele desejo maléfico. As cenas do beijo no quarto de hotel viram à minha cabeça logo depois de constatar que meu irmão caçula havia desenvolvido o mesmo vício que eu havia abandonado à anos.
- E aquele beijo no quarto? – Eu perguntei depois de um tempo.
Os olhos de Jack se arregalaram levemente, surpreso por eu ter tocado naquele assunto. Eu mesmo estava surpreso com isso, provavelmente, eu deixaria aquele assunto morrer naturalmente e isso seria apenas um infortúnio que aconteceu no passado. Um dia, provavelmente ele deve ter achado isso, eu o perdoaria, mas aquilo era algo inadmissível para mim. Eu tinha uma esposa, um filho à caminho, e os únicos lábios que eu deixaria tocar os meus eram os dela.
- Bom... – Ele não soube o que responder, e eu me surpreendi, pois pela primeira vez desde que nos conhecemos, eu o deixei sem palavras. – Eu sou gay.
Eu achava que talvez ele estivesse fazendo uma piada, mas quando eu olhei em seu rosto, eu percebi que dizia a verdade.
- Você não pode estar falando sério.
- Eu estou. – Ele afirmou, o rosto sério. – E eu estou apaixonado por você.
Capítulo 4 - Sentimentos Inesperados
Eu mirei sua face, os olhos arregalados. Eu sei que tinha um sorriso no rosto, mas não refletia alegria e nem ao menos satisfação com aquela confissão. Desviei o olhar para a rua deserta, o sinal havia ficado verde. Coloquei o pé no acelerador, nos tirando daquele lugar.
- Eu não estou te obrigando a aceitar isso. – Ele falou, sentia o peso de seus olhos sobre mim.
- Eu sei. – Apesar de me negar a acreditar que tudo era verdade, eu sabia que era. Ele não mentiria assim para mim.
Ele me deu a direção de onde deveríamos ir e chegamos a um hotel meia-boca mais próximo do centro da cidade. Desliguei a caminhonete, tirando o cinto em seguida. Senti a mão de Jack sobre meu braço. Eu o olhei, ele tinha uma expressão que eu raramente via em seu rosto: Insegurança.
- Daniell, eu...
Eu abri a porta do carro, evitando ouvir qualquer coisa que saísse de sua boca, e saí, entrando no hotel. Ouvi a porta dele abrir também, e em poucos segundos ele estava ao meu lado com uma mochila que até o momento eu não havia percebido. Eu o olhei pelo canto dos olhos assim que ficamos frente a frente com dono do hotel, ele pagou em dinheiro o suficiente para que ficássemos uma semana e pegou uma chave. Nós pegamos o elevador em silêncio. A pose descontraída que ele adotara contrastava com o que sentia, eu podia ver pelo reflexo das portas do elevador.
Assim que entramos no carro, ele deixou o pacote de dinheiro que havia pegado da morena no prédio depredado e uma pistola sobre uma cômoda que havia no quarto. Ele se jogou em uma das duas camas de casal que tinha no quarto, deixando sua mochila ao seu lado, e tirou os sapatos.
- Tem roupas dentro da mochila. – Ele falou. – Comprei tamanho grande, deve dar em você.
Eu me aproximei somente para pegar a mochila, mas ela a jogou no chão antes que eu a tocasse. O olhei interrogativamente, irritado com aquele ato. Ele me agarrou pela gola, o olhar fulminante e magoado na face.
- Não me ignore! – Ele mandou, a voz hiperativa.
Maybe it was all too much
Talvez tudo isso seja demais
Too much for a man to take
Demais para um homem aguentar
Everything's bound to break
Tudo está sujeito a acabar
Sooner or later, sooner or later
Cedo ou tarde, cedo ou tarde
Eu segurei suas mãos com brusquidão, fazendo-o soltar minha camisa. Todas as coisas que eu queria dizer desde que tudo isso havia começado vieram à minha boca sem censura. Eu tinha que desabafar, explodir de alguma maneira.
- Você é desprezível. – Eu falei, a voz desgostosa. - Você é um homem de sangue ruim! Um homem que arrasta outras pessoas para a cova que ele mesmo criou! Por que você me colocou nessa, Jack? Por que tem que acabar com a vida dos outros enquanto acaba com a sua também?
- Fique quieto! – Ele gritou.
- Você não queria atenção, Jack? – Eu ironizei. – Um pecador como você merece os castigos de Deus!
- Deus não é mau, Daniell! – Ele gritou mais alto. – Deus ama a todos igual! Isso foi o que nós aprendemos!
- Deus não perdoa aquele que fere teu próximo! Não perdoa aquele que inveja a vida do outro! Que deseja outro homem!
- Que droga, Daniell! – Ele gritou e me empurrou. Eu caí sentado na segunda cama enquanto ele se afastava. Eu o segui.
- Você sabe que é um pecador, Daniell! – Eu falei. – Um grande pecador!
- Pare com isso! – Ele pediu.
- Não! Você sabe que é verdade! – Eu insisti. – Você tem que se redimir!
- Cala a droga da boca! – Ele pegou a arma sobre a cômoda e a apontou para mim.
Eu senti meu coração acelerar. Não estávamos calmos, mas isso não me impediu de insistir em minhas palavras. Estufei o peito, olhando-o com o expressão séria. Em seu rosto havia desespero, angustia, dor...
- Atire. – Eu falei. – Atire e será condenado por Deus.
Pela primeira vez desde que o vi portar uma arma, eu vi a insegurança que ele sentia na tremedeira de suas mãos. Eu estava pronto para receber a bala da arma em meu peito, mas ele me surpreendeu, apontando a arma para a própria cabeça. Naquele momento, eu senti o instinto de irmão mais velho reascender. Meu coração falhou uma batida, a respiração foi interrompida enquanto eu levantava as mãos, os olhos arregalados.
- Jack, abaixa essa arma. – Eu pedi.
- Por que, Daniell? – Ele perguntou, o sarcasmo na voz contrastava com a sua expressão de angustia. – Pecadores como eu deveriam ir para o inferno, não é isso o que você ia dizer depois?
- Não, eu não ia dizer isso!
- Mentir também é pecado. – Ele insistiu.
- Então eu não sou um pecador! – Eu falei mais alto. – Abaixe essa arma agora!
As mãos dele tremeram por um segundo e ele jogou a arma em cima da cama. Ele praguejou alguma coisa, agarrando sua própria cabeça. Eu temia que ele voltasse a pegar em sua arma e finalizasse aquilo que tinha em mente. Ele estava em um conflito interno, e parecia que eu havia começado tudo aquilo. Eu não soube o que fazer, por mais irado que estivesse por estar naquela situação, era difícil largar mão do meu irmão, ainda mais quando eu me sentia responsável por ele ter se tornado assim, então eu somente o abracei.
You're all that I can trust
Você é tudo que eu posso confiar
Facing the darkest days
Enfrentando os dias mais sombrios
I know you're scared tonight
Sei que está com medo essa noite
I'll never leave your side
Nunca vou sair do seu lado
Senti as mãos de Jack agarrarem-se ao meu casaco, seu rosto estava escondido em meu peito. Eu sentia como se consolasse uma criança que estava com medo, apavorada. Era fato, eu me culpava por não ter trago Jack comigo na noite em que saí de casa, mas eu não sabia que isso havia o afetado tanto. Eu fechei os olhos, pensando no que fazer para resolver aquilo. Jack permanecia imóvel. Ele não havia gritado, chorado, me batido ou se afastado, sequer um suspiro discreto, mas depois de algum tempo, ele se afastou, jogando os cabelos escuros com a mão para trás.
- Amanhã nós temos outro compromisso parecido com o de hoje mais cedo, então se prepare. – Ele avisou, deitando-se em sua cama. – Você vai dirigir para mim.
Eu pensei em protestar, mas as palavras não saíram pela minha boca.
- E antes que fale qualquer coisa. – Ele continuou, dessa vez olhando para mim. – Eu não vou abrir mão de você.
Apesar de todo aquele absurdo, eu senti que estava disposto a ajudá-lo naquele crime.
Eu pensei em tudo o que havia acontecido em baixo do chuveiro, desde o início daquela aventura insana até o aquele momento. Parecia louca – e era loucura – tudo o que havia acontecido. Aquele roubo, os policiais nos perseguindo, aquela gangue, todas as memórias ruins do passado que haviam sido revividas... E mais um roubo em mente. Eu deixei que a água do chuveiro despencasse sobre meu rosto, lavando todos aqueles pensamentos. Jack precisava de mim, não para aquele roubo, mas para ajudá-lo a colocar em um bom caminho.
When it all falls, when it all falls down
Quando tudo cair, quando tudo desmoronar
I'll be your fire when the lights go out
Eu vou ser a chama quando as luzes se apagarem
When there's no one, no one else around
Quando não houver ninguém, ninguém por perto
We'll be two souls in a ghost town
Vamos ser duas almas em uma cidade fantasma
Desliguei o chuveiro, enrolando uma toalha na cintura e secando os cabelos com outras. Apaguei as luzes, abandonando o cômodo em seguida. Jack dormia, a expressão pesada, como se um pesadelo o incomodasse. Eu me sentei ao lado dele, observando-o dormir. Sentia-me culpado por ter dito tantas coisas ruins para ele, coisas que provavelmente o feriram, ao invés de ajudá-lo.
When the world gets cold
Quando o mundo ficar frio
I'll be your cover
Vou ser o seu cobertor
Deixei que minha mão fizesse um breve cafuné em sua cabeça, pensando no que faria. No fim, apenas dei um suspiro, levantei da cama e ajeitei os cobertores sobre seu corpo. Um pedaço de metal preto escapava por debaixo do travesseiro. Mordi os lábios, aquele instrumento maligno que ele havia usado para ferir um policial estava sob seu travesseiro. Eu tirei a arma dali com cuidado para não o acordar e o deixei sobre a cômoda ao lado.
I know we're alright
Eu sei que vamos ficar bem
Cause we'll never be alone
Pois nunca estaremos sozinhos
In this mad mad, in this mad mad world
Nesse louco, louco mundo
Even with no light
Mesmo quando não há luz
We're gonna shine like gold
Vamos brilhar como ouro
In this mad mad, in this mad mad world
Nesse louco, louco mundo
- Eu vou cuidar de você. – Eu falei mais para mim mesmo do que para ele.
When it all falls, when it all falls down
Quando tudo cair, quando tudo desmoronar
I'll be your fire when the lights go out
Eu vou ser a chama quando as luzes se apagarem
When there's no one, no one else around
Quando não houver ninguém, ninguém por perto
We'll be two souls in a ghost town
Vamos ser duas almas em uma cidade fantasma
Eu me afastei, indo até a outra cama onde tinha separado as roupas que precisaria e as vesti, me deitando em seguida. Eu adormeci rapidamente, pensando em como resolveria aquela situação.
.
.
.
No dia seguinte, nós estávamos em uma rua próxima ao banco. Eu escutava todas as instruções que Jack me passava, o que eu deveria fazer e o tempo certo de cada ação. Ele me lembrava a todo o momento que um passo em falso nos faria passar um bom tempo na cadeia por tempo indeterminado. Eu assentia sempre, insistindo que havia entendido tudo, e retrucava, pedia para que ele parasse com aquela loucura, se rendesse e devolvesse o dinheiro.
- Mesmo que eu quisesse, agora eu não posso, o dinheiro não está mais comigo. – Ele falou em determinado momento. – Mas eu vou dar um jeito de recuperá-lo, então não se preocupe.
Aquilo atiçou minha curiosidade. Apesar de a última frase ter sido pronunciada de modo descontraído, eu aprendera a dar atenção a cada palavra que Jack proferia. Ele havia dito com clareza que iria dar um jeito de recuperar o dinheiro, e ele era tão louco que eu sabia que iria acabar realmente o fazendo. Antes que eu perguntasse como, ele me mandou dirigir.
Eu parei em frente ao banco e o observei saltar do carro ligeiro, uma maleta em uma mão e a arma em outra. Ele entrou no banco e desapareceu de vista, eu mantive o carro ligado, as janelas de vidro fechadas e a porta do carona aberta. Em minutos, como da primeira vez, algumas pessoas saíram do banco correndo e gritando. Eu esperei que Jack voltasse, mas comecei a me preocupar ainda mais do que já estava. Ele estava demorando e não tardaria para que a polícia fosse acionada.
- Cadê você, Jack? – Falei para mim mesmo.
Poucos segundos depois, vi Jack sair do banco com uma sacola preta em uma das mãos e a maleta na outra. Ele jogou a sacola preta na lixeira que havia em frente ao banco – algo que reparei bem, naquela hora – e se jogou dentro do carro, fechando a porta com força. A maleta branca havia sido jogada no banco de trás no processo.
- Dirige! – Ele mandou.
- Não precisa falar. – Eu respondi simplesmente.
Engatei a primeira marcha, cantando pneu na avenida principal, e acelerei, alcançando altas velocidades em poucos segundos, transformando uma caminhonete velha em um carro de corrida profissional. Assim como suspeitei, em poucos segundos, haviam policiais na nossa cola.
Jack ameaçou se sentar no banco e disparar contra os policiais, mas uma virada brusca, tomando a contramão o fez continuar no banco. Pensei que somente aquilo resolveria o problema – que ingênuo fui –, mas Jack atirou por sobre meus braços e acertou com precisão o ombro do motorista de uma das viaturas. O carro ficou desgovernado e girou na pista. Ouvi o som de pneus cantando e algumas batidas, já distantes. Eu virei o carro novamente, voltando para a mesma pista de onde havia saído. As viaturas que corriam apressadas na pista contrária desaceleraram, mas me desviei delas com maestria, como se dirigisse um automóvel menor que um carro por entre as viaturas.
- Nossa! – Jack se pronunciou. – Até eu me surpreendi depois dessa!
- Não era pra ter atirado, Jack! – Eu falei. – Eu estava os despistando!
- Atrasou eles, não atrasou? Então você não tem do que reclamar.
Eu não respondi. Virei em um beco estreito, o retrovisor do carro batia repetidamente nas paredes estreitas e o carro balançava o tempo inteiro. Jack me olhou insatisfeito.
- Você fez de propósito!
- Acidente é que não foi. – Falei ironicamente.
No entanto, um meio sorriso se formou no rosto de Jack.
O céu se tornou escuro rapidamente, e isso se tornou um fator positivo para mim. Eu tinha truques infinitos na manga, e seria fácil para mim nos livrar daquelas viaturas – além de um helicóptero que nos iluminava com um holofote potente, assim que voltamos para as ruas. O tráfego estava fluindo bem, e era fácil nos locomovermos entre os carros alheios à perseguição. Assim que peguei a avenida principal que nos ligava à interestadual, eu acelerei com tudo, ouvindo as viaturas manterem o ritmo, o som das sirenes bem próximo.
Jack ameaçou sair do carro novamente.
- Fica quieto aí! – Eu mandei. Ele me olhou com os olhos levemente arregalados pela minha atitude e permaneceu no banco.
Desliguei as lanternas traseiras e fronteiras sob a luz do holofote quando duas viaturas se aproximaram, uma de cada lado. Certifiquei-me que não havia nenhuma outra viatura atrás de nós e a distância da próxima saída e depois pisei no freio. O helicóptero nos perdeu de vista e as viaturas passaram por nós em alta velocidade. Eu peguei a saída mais próxima de nós e saímos em uma rua mais movimentada.
Jack exclamou um “uau”, um sorriso aberto no rosto. Eu sentia que estava traindo à Deus quando o ajudei naquilo tudo, mas inesperadamente, um sentimento que não soube identificar, parecido com contentamento, tomou conta de mim. Eu sempre amei correr, e voltar à pilotar um carro em alta velocidade me fazia relembrar momentos bons que fizeram parte da minha adolescência, bem longe da minha casa, quando eu dominava as pistas.
Um sorriso se apossou de meu rosto, coisa que não passou despercebida por Jack.
- Eu sabia! – Ele falou, um grande sorriso nos lábios, como uma criança animada. – Eu sabia que você ia amar voltar a correr!
- O que? – Eu o olhei, franzindo o cenho.
- Por que você acha que eu o queria como meu piloto de fuga? – Ele lançou a pergunta.
- Você disse que era por que você confiava em mim. – Eu o respondi, certo de que ele havia dito isso.
- Sim, por isso também. – Ele confirmou, assentindo com a cabeça. – Mas era por que você ama correr, Daniell, e por que você é um piloto incrível!
Meus olhos se arregalaram por um segundo. Eu freei quando o carro da frente parou.
- Está me dizendo que só me colocou nessa situação por que queria que eu voltasse a correr? – Eu perguntei abismado.
- Nunca te passou pela cabeça que eu podia ter pedido à qualquer um daqueles caras naquela gangue para ser meu piloto? – Ele perguntou retoricamente. – É lógico que nenhum deles tem o seu talento, mas você feito pras pistas, e não é apenas por causa de um acidente que aconteceu à anos que você deve abandonar isso. Seu sonho não era ser um piloto profissional?
Eu fechei os olhos por um segundo, jogando a cabeça para trás. Na cabeça dele, ele havia feito aquilo por mim, era um favor. Eu sentia por um lado que o estava devendo, realmente, voltar à correr havia me dado um gosto dos tempos bons em que eu participava de rachas, mas aquilo era perigoso demais.
- Se queria que eu voltasse à correr, deveria ter pagado algumas semanas para mim em pistas de corrida. – Aquela frase soou como uma piada.
Ele deu um meio sorriso, recostando-se no banco e mirando a estrada. Assim que o sinal abriu, eu acelerei o carro e peguei uma rua menos movimentada. Depois de alguns segundos, ele olhou para mim novamente.
- Você acha que aceitaria? – Aquela perguntou vagou no ar. Ele aceitou meu silêncio como um sim e voltou à olhar a estrada.
Say your goodbyes
Diga os seus adeus
Off we go
Livres nós vamos
Some conversation
Alguma conversa
No contemplation
Sem nenhuma contemplação
Hit the road
Pegamos a estrada
Eu o olhei pelo canto dos olhos. Havia um meio sorriso nos lábios, os cabelos escuros estavam bagunçados, os olhos azuis miravam a estrada, a blusa social que usava tinha os primeiros botões abertos. Naquele momento, eu havia percebido o quão se... Repreendi aqueles pensamentos. “Não!”, pensei comigo mesmo, “Pare com esse tipo de pensamento!”. Eu era um homem, e eu me relembrava desse fato todo o tempo. Desde quando eu olhava para meu irmão dessa maneira?
Car overheats
Carro superaquecido
Jump out of my seat
Pule do meu banco
On the side of the highway, baby
Para o lado da rodovia, baby
Our road is long
Nossa estrada é longa
Please don't ever let go, oh, no
Por favor, nunca desista, oh não
- Entre naquela rua. – A voz de Jack me tirou de meus pensamentos.
Eu girei o volante, virando à esquerda. Não demorou muitos minutos para que chegássemos ao hotel em que havíamos nos hospedado. Saltamo-nos da caminhonete, passamos pela recepção e pegamos o elevador. Admirei o reflexo de Jack no lado de dentro.
- O que foi? – Ele perguntou, olhando-me através do reflexo.
- Nada. – Eu desviei o olhar.
Ele não insistiu na pergunta. Entramos no quarto logo depois. Ele deixou a arma sob a cômoda do quarto, tirou o casaco que usava sobre a camisa de botões preta e a jogou sobre a cama, logo depois tirando a camisa preta também. Ele pegou o controle da televisão pequena que havia no quarto e colocou em um canal qualquer, sem muito interesse, depois jogou o aparelho ao meu lado na minha cama.
- Eu vou tomar um banho, temos que comemorar! – Ele falou animado, entrando no banheiro.
Eu me joguei na cama, deitado de barriga para cima. O que estava acontecendo? Eu havia visto Jack da mesma maneira como via minha mulher: Com desejo. De repente, talvez fosse apenas por que eu me sentia responsável pelo o que havia acontecido no passado, o que Jack havia se tornado, o fato dele ter se declarado gay e afirmar que havia se apaixonado por mim... Mas mesmo que eu tentasse me convencer de minhas desculpas, menos elas eram válidas. Sacudi a cabeça, tentando me livrar de tais pensamentos, mas eles sempre voltavam à minha cabeça.
I want you so bad
Te quero muito
Everyone has a secret locked
Todo mundo tem um segredo guardado
But can they keep it?
Mas eles conseguem mantê-lo?
Oh, no, they can't
Oh não, eles não conseguem
Decidi assistir à televisão a fim de me distrair. Não havia nada de interessante e que me prendesse a atenção enquanto trocava os canais no controle remoto, mas assim que vi a silhueta feminina conhecida, eu voltei à certo canal, intrigado. Minha respiração falhou ao ver a imagem de Alice entrar no prédio do nosso apartamento cercado de jornalistas. Ela entrava acompanhada de Grace, que tentava afastar os jornalistas a fim de um furo.
Eu arregalei os olhos, aumentando o volume para ouvir o que dizia uma repórter quando sua imagem apareceu na tela.
- “A esposa de Alice Sullivan, prestou um comentário hoje sobre seu envolvimento com Daniell Sullivan, mas não quis prestar comentários à imprensa acerca dos crimes que seu marido cometeu, inclusive o do roubo feito esta tarde por seu irmão Jack Sullivan.” – Ela falou. – “Os criminosos desapareceram na altura da Avenida Harlan...” – Eu desliguei a televisão.
Eu me levantei, preocupado com Alice. Ela estava praticamente sozinha – naquele momento, eu agradeci a amizade verdadeira de Grace – e eu não me deixava esquecer que ela estava grávida. Ela precisava de mim, precisava de um local calmo para ficar... Precisava de grana.
Eu pensei em bater na porta do banheiro, mas antes que o fizesse, Jack saiu com uma toalha enrolada na cintura.
- O que foi? – Ele perguntou, alheio à minha apreensão.
- A Alice, ela precisa de mim. – Eu falei.
- Ela tem os amigos dela, os pais dela, ela pode se virar. – Ele deu de ombros, indo até a sua mochila e escolhendo uma roupa.
- Jack, eu preciso vê-la! – Insisti.
- Não, Daniell! – Ele falou mais alto. – A casa de vocês deve estar sendo vigiada agora, é perigoso demais pra gente e eu não vou arriscar que a sua vontade de ver ela estrague tudo.
Ele pegou uma blusa azul na bolsa e a vestiu rapidamente, voltando a caçar outra peça de roupa na mesma.
- Você não entende! – Eu insisti, tocando-lhe o braço. – A Alice está grávida!
Ele cessou os movimentos e olhou para mim, a expressão de pura surpresa no rosto.
- O que você falou?
Capítulo 5 - Novas Emoções
Quando os olhos arregalados de Jack se voltaram para os meus e a frase abismada escapou de sua boca, eu percebi que em todo o tempo em que estivemos juntos desde que toda aquela loucura havia começado, eu não havia dito a ele a condição de Alice. E o mais irônico nisso era que sempre que eu cooperava para a prática de todos aqueles crimes, minha mente se focava nela para me manter são.
- A Alice está grávida, Jack. – Eu repeti a frase. – É por isso que eu tenho que vê-la.
Ele levou as mãos à cabeça, caminhando de um lado para o outro no quarto, os olhos fechados enquanto praguejava baixo. Aquela notícia não estava nos planos dele, e eu esperava que aquele fato o fizesse repensar no que faria em seguida.
- Você devia ter me dito antes! – Ele gritou, voltando sua atenção para mim,
- Eu ia te dizer no jantar, mas você teve que ir, então eu pensei que seria uma boa ideia nos falarmos no dia seguinte. – Me expliquei.
Ele chutou a cômoda do quarto e praguejou mais um palavrão antes de pegar sua mochila e sumir dentro do banheiro. Eu me joguei na cama, apreensivo, levando minhas mãos ao meu rosto. Eu não sabia o que esperar dele, mas podia ouvir, vez ou outra, a voz elevada de Jack dentro do banheiro, praguejando inúmeros palavrões, o som de objetos caindo no chão, se quebrando. Ele saiu do banheiro algum tempo depois, devidamente vestido e com a mochila no ombro, deixando o cômodo acabado para trás.
- Se mexa, nós vamos ir agora. – Ele falou, jogando meu casaco em cima de mim.
Ele pegou sua pistola e escondeu no casaco. Eu temi que ele pudesse usar aquela arma para machucar Alice, mas eu sentia que ele não faria. Ele não destruiria algo importante para mim.
Nós pegamos um novo carro – Jack havia se mostrado um excelente ladrão de carros – e arrancamos em direção ao meu apartamento.
Senti meu coração palpitar mais e mais conforme o marcador ia aumentando os números de quilômetros rodados, eu estaria vendo Alice depois do que parecia séculos, poderia abraçá-la, beijá-la, ter o conforto de estar com ela novamente. Só de imaginar isso, eu ficava cada vez mais ansioso.
Alice foi a primeira mulher por quem eu me apaixonei, e a única que viu em mim uma pessoa com potencial para ser mais do que um delinquente, quando ninguém mais viu, nem mesmo eu.
Depois de sair da casa do meu pai, eu arranjei um emprego de meio período em uma loja e fiz um supletivo no colégio na tentativa de evitar abandonar os estudos, o que havia sido uma boa ideia no fim. Eu havia conseguido alugar um apartamento por alguns meses com uma pensão que minha mãe havia me deixado depois de falecer, o que veio a calhar, pois só pude ter acesso à ela depois de me tornar maior de idade. Eu desenvolvi o vício dos cigarros por conta da dificuldade que passei nesse tempo e eu não consegui abandonar as pistas.
Como se não pudesse piorar, eu perdi o direito à pensão meses depois quando meu pai reclamou na justiça, e eu fui jogado na rua. A minha sorte é que eu tinha alguns “amigos”. Eles deixavam que eu morasse em seu apartamento e, em troca, eu arrumava uma grana fácil, seja com dinheiro de apostas de corridas que eu vencia ou vendendo coisas roubadas. Eu não gostava daquela vida, mas foi a única maneira que consegui para me sustentar, e mesmo me sentindo o maior cretino por fazer todas aquelas coisas, eu continuei a frequentar a igreja, mas evitava confessar meus pecados afim de evitar confusões com a polícia.
Foi lá que eu conheci a Alice.
Eu me lembro bem, ela frequentava aquela igreja, distante de onde meu pai pregava seus sermões. Ela se sentava sempre na frente, a bíblia nas mãos, a voz cantada enquanto orava. Ela era cristã, uma garota que se dedicava à igreja e aos estudos, o tipo de mulher que minha mãe desejava que estivesse em meu futuro, e a única que atraiu minha atenção, a única que nunca torceu o nariz quando olhava em minha direção.
Eu dei meu jeito de falar com ela, com timidez, e vi nela o futuro que era melhor para mim. Nós enfrentamos dificuldades, ela era apenas uma garota, tinha dezesseis, assim como Jack, e seus pais não queriam que alguém como eu, alguém que atraia problemas naturalmente, estivesse com sua filha. Mas eu não desisti dela, e por ela, eu me esforcei mais ainda para ser alguém melhor.
Sem desculpas, sem reclamações.
Eu troquei as más amizades pelos livros, os carros por um emprego digno, aluguei um porão para viver em uma casa de família e, compensando todo o esforço, eu me tornei um instrutor em uma escola, consegui um apartamento confortável em um condomínio fechado e o prazer de chamar Alice de minha mulher.
Enquanto você dormia
Eu levantava e saía pra trabalhar
Escrevia um bilhete de bom dia pra te deixar
Vestia a primeira roupa que eu encontrasse por lá
Engolia um pão com manteiga e um suco de maracujá
Tomava meu banho sem ter você lá pra bagunçar
Deitava mais um minuto pra saudade amenizar
Te dava um beijo no rosto de leve pra não acordar
E dizia te amo sem você poder escutar
Com o tempo, nós criamos uma cumplicidade e um carinho mútuo, o que fortaleceu ainda mais meus sentimentos por ela. Ela se tornou o motivo que encontrei para ser um homem melhor, mesmo que não fosse o mais inteligente ou o mais rico que havia lhe pedido em casamento. Vê-la, tão natural ao meu lado, me dava o incentivo de todos os dias deixar os meus vícios para trás e focar em uma vida honesta.
Então eu te olhava pra ver se você dormia bem
Pode sonhar, por que eu sei que sonhar faz bem
Vou te dar uma razão pra sonhar também
Então eu te olhava pra ver se você dormia bem
Desliguei o carro logo que o estacionei em frente ao prédio. As luzes dos apartamentos – inclusive o meu – estavam apagadas, apenas a luz do hall estava acesa. Eu podia ver as escadas e a porta do primeiro apartamento – do Sr. Cunnin, o porteiro – de dentro do carro. Logo estávamos subindo as escadas em total silêncio. Tateei a soleira da porta atrás da chave extra. Assim que a achei, procurei o buraco da fechadura, colocando-a e girando. A porta fez um rangido baixo quando a abri e eu percebi um vulto vindo em direção ao meu rosto. Por instinto, pus o braço fronte ao meu rosto. O taco bateu forte contra meu antebraço, e eu senti o choque percorrer todo meu o braço até o meu ombro e depois a dor. Jack avançou, logo atrás de mim, no escuro absoluto. Um grito abafado foi ouvido antes que eu batesse a porta.
Tateei a parede, procurando o interruptor para acender a luz. Jack prensava Alice contra a parede, que se debatia, o som do grito era abafado pela mão de Jack.
- Solta ela! – Exclamei, o tom de voz o mais baixo possível.
- Ela vai gritar! – Ele respondeu, no mesmo tom.
- Ela não vai!
E no meio daquela discussão, ouvindo os gritos abafados de Alice, eu o puxei com rudeza. Ele a soltou, e bateu contra a parede oposta. Ela começou a gritar, falava que iria chamar a polícia, que não queria que a machucasse e começou a me xingar. Jack ameaçou segurá-la novamente.
- Me ouve! – Pedi. – Eu vim aqui por você, não vou te fazer mal.
Ela ficou em silêncio por um segundo.
- Por que você fez isso? – A pergunta escapou de seus lábios, num sussurro.
Então imagens passaram pela minha cabeça, imagens que me mostravam como eu tinha me metido naquela situação.
- Eu não fiz por que quis. – Foi a única coisa que saiu da minha boca.
- Ninguém rouba um banco por que não quer! – Ela disse à minha resposta.
- Não se alguém apontar uma arma pra sua cabeça. – Pela primeira vez, desde que aquela confusão havia começado, ele havia se pronunciado em minha defesa. Tirou um cigarro do bolso, preste a acendê-lo.
Então, ela pareceu entender a situação em que eu me encontrava. Ela olhou de mim para Jack, e novamente para mim, os olhos arregalados e a boca meio aberta expressando sua incredulidade.
- Você o obrigou? – Ela perguntou a Jack.
Ele não se preocupou em respondê-la. Tomou o caminho do sofá, se jogando sobre ele. O cigarro acabava de ser aceso e a fumaça começou a subir fantasmagoricamente.
- O que quer que você queira falar com ela, fale rápido. – Ele declarou. – Não temos tempo sobrando pra ficar aqui.
Do I imagine it, or do I see your stare?
Eu imagino ou eu vejo seu olhar?
Is there still longing there?
Ainda existe saudade?
Oh I hate myself, and I feel crazy
Ah, eu me odeio, e me sinto louco
Such a classic tale
É um clássico conto
Am I being paranoid, am I seeing things?
Eu estou sendo paranóico, estou vendo coisas?
Am I just insecure?
Sou apenas inseguro?
Suspirei, cansado. Os lábios de Alice tremelicaram, anunciando o choro que viria em seguida. Ela me abraçou forte, matando toda a saudade que sentia, toda a angustia desaparecendo. Envolvi-a em meus braços, afagando seus cabelos negros, sentindo o perfume de pêssego que se desprendia deles. Ela levantou a cabeça, e seus lábios se colaram com os meus num beijo álgido.
I want to believe
Eu quero acreditar
It's just you and me
É só você e eu
Sometimes it feels like there's three
Às vezes parece que são três
Of us in here, baby
De nós aqui, baby
Eu não havia sentido nada. Nenhum sentimento, nenhuma sensação, nada. Era tão estranho pra mim. Quando nossos lábios se separaram, eu a puxei de volta para um novo beijo. Um beijo cheio de desespero. Mas não havia nada. Meu coração não havia acelerado, minha respiração não havia ficado pesada, minhas bochechas não esquentaram como sempre acontecia quando nos beijávamos. Eu não sentia mais nada por ela, nem um pingo de amor.
So I, wait for you to call
Então, eu espero por você chamar
And I try to act natural
E eu tento agir com naturalidade
Have you been thinking 'bout her or about me?
Você vem pensando nela ou em mim?
A primeira coisa que mirei quando me afastei de Alice, foi Jack. Ele tinha um olhar distante... Vulnerável. Vê-lo daquela maneira me fazia sentir estranho, eu julgaria culpado. Seus olhos se encontraram com os meus, mas ele desviou rapidamente para a janela. Alice apoiou a cabeça sobre o meu peito, me abraçando mais forte.
And while I wait
E enquanto eu espero
I put on my perfume
Coloco meu perfume
Yeah I want it all over you
Sim, eu quero isso em você
I gotta mark my territory
Eu tenho que marcar o meu território
- A gente tem que ir! – A voz de Jack soou urgente. Ele se afastou da janela. – Tem uns caras armados subindo, devem ser policiais. – Ele fez um sinal – Eles deviam estar vigiando o prédio.
Alice me soltou depressa, indo até a janela. Peguei minha mochila que havia ficado perto da porta e tirei um pacote embrulhado dela. Atravessei a sala para chegar até ela, sua expressão demonstrava desespero. Coloquei o pacote em suas mãos.
- É dinheiro. – Disse. – Você vai precisar disso enquanto eu não estiver aqui. Depois eu dou jeito de devolver.
Beijei sua testa, saindo pela janela até a escada de incêndio. Jack vinha logo atrás de mim. Ele ia descer, mas eu o impedi.
- Por cima. – Apenas disse.
Ele me seguiu um lance de escadas acima, e invadimos o apartamento acima a tempo de ver a cabeça de um dos policiais nos procurando. A porta estava aberta, e descemos o lance de escadas, tentando fazer o mínimo de barulho possível – era possível ouvir Alice falando com os policiais, alegando não saber de nada – e saímos pelo portão dos fundos, pelo caminho onde os moradores se livravam do lixo.
Pulamos duas cercas até chegar ao carro. Girei a chave, passei a primeira marcha e arrancamos com o carro em alta velocidade até a avenida principal. Jack gritava qualquer coisa que eu não processava no momento, tamanha a adrenalina que eu sentia.
- Cala a boca! – Me irritei.
Não demorou muito tempo até que as sirenes soassem próximas, as viaturas apareciam no retrovisor correndo em alta velocidade atrás de nós, a luz forte do holofote do helicóptero sobre o carro. Então a voz que vinha do rádio da viatura mandava a gente parar. Desviei dos carros na pista. Uma viatura estava nos alcançando, estava praticamente lado a lado conosco. Mais uma ordem para parar, que foi previamente ignorada.
And while I wait
E enquanto eu espero
I put on my perfume
Coloco meu perfume
Yeah I want it all over you
Sim, eu quero isso em você
I gotta mark my territory
Eu tenho que marcar o meu território
Freei o carro, girando o volante para a esquerda. A frente do nosso carro empurrou a traseira da viatura, fazendo-a girar na pista antes de capotar. Rapidamente, troquei a marcha e acelerei, ultrapassando o carro. A viatura atingiu outra que já quase nos alcançava logo atrás. Jack se sentou na janela, se expondo, a arma na mão atirando freneticamente contra os policiais. Eles responderam na mesma intensidade.
- O que você está fazendo? – Perguntei, os músculos rígidos diante da tensão.
- Tentando nos livrar deles! – Ele respondeu num grito, atirando freneticamente.
Ele atingiu o pneu de uma das viaturas. Ela capotou para frente, levando duas viaturas atrás dela.
Ele não estava pensando direito. Por melhor que ele atirasse, fazer aquilo era igual a querer cometer suicídio. Parecia que ele havia deixado de usar a sua mente brilhante e perversa e se tornado um lesado. Ele deixou a arma cair, então tive que ajudá-lo. Usei minha mão que trocava a marcha para puxá-lo de volta para o carro. Ele agarrou o ombro, a expressão de pura dor. O sangue começou a manchar a camisa rapidamente.
Meu coração se agitou ainda mais com aquela visão. Senti o sangue ferver nas veias.
- Se segura. – Mandei.
Troquei para a marcha ré e pisei no acelerado e no freio ao mesmo tempo, girando o volante mais uma vez. O carro atravessou a mureta de proteção e rodou na pista contrária. Passei a marcha, acelerando com tudo até a saída mais próxima. As viaturas ficaram para trás, o helicóptero nos perdeu de vista. Eu só parei o carro quando chegamos em uma rua deserta, estacionando-o entre dois outros carros. Os vidros subiram quando apertei o botão, e me permiti respirar aliviado.
- Eu tenho que te levar pro hospital. – Disse a ele, um tempo depois.
- Não. – Ele declarou – Foi superficial. A só fez um corte pequeno.
Ficamos em silêncio. Duas viaturas passaram por nós, correndo.
- Eu vou arranjar uma maneira de te tirar disso. – Aquela frase ficou suspensa no ar.
- Como? – Eu não havia entendido.
- Você vai poder voltar pra Alice e pro seu filho, sem problemas. – Ele mirou a janela do carro. Eu não pude ver seu rosto, tentar adivinhar o que ele sentia.
Então ele saiu do carro, eu logo atrás.
- O que você está dizendo? – Perguntei. – Eu não quero voltar.
- Você ama a Alice, e ela está grávida de você! – Ele gritou.
I'll never tell, tell on myself
Eu nunca vou dizer, dizer sobre mim
But I hope she smells my perfume
Mas eu espero que ela sinta meu perfume
I hide it well, hope you can't tell
Eu escondo bem, espero que você não possa dizer
But I hope she smells my perfume
Mas eu espero que ela sinta meu perfume
- Não! – Gritei ainda mais alto. Então eu dei a volta no carro, parando em frente a ele. Ele encostou no carro, e levantou a cabeça pra me encarar – Eu não amo a Alice, não mais! – Confessei. Meu coração bateu forte naquele momento, me senti ofegante e sem chão. – Eu amo você!
Última modificação feita por SaaChan (06-06-2015, às 01h21)
Offline
#4 08-05-2015, às 13h56
Última modificação feita por SaaChan (09-05-2015, às 17h40)
Offline
#5 08-05-2015, às 21h12
Quando vi outra Fic da SaaChan corri pra ver rs...
Confesso que esse tipo de tema não me interessa muito mais achei muito bem escrita e interessante e vou acompanhar com certeza rs... Parabéns Saa
Offline
#6 09-05-2015, às 08h44
Uhull! Primeira leitora!
Obrigada, Ella, já estava pensando que ninguém iria se interessar pela fanfic (será que essa é a primeira fanfic BL do fórum? '-'). Eu queria trazer umas ideias novas para cá, então estou torcendo para mais alguém se interessar.
Beijos
Offline
#7 09-05-2015, às 09h08
eu irei fazer uma fanfic Bl, saah!
concordo com você deve ter alguém para Dar Novas Ideias,
E Parabéns, Amei(apesar de não ser fã de BL, prefiro Yaoi)
Offline
#8 09-05-2015, às 09h25
Mais uma nova leitora? Que massa!
Eu também sou muito mais fã de Yaoi - e Lemon - mas como o gênero aqui é proibido, a gente se vira com o que pode, certo, Rinka?
Offline
#11 11-05-2015, às 21h03
Halls! Quanto tempo, muié! xD
Vou continuar sim, se Deus quiser!
Obrigada pelo comentário.
Offline
#12 11-05-2015, às 21h30
Só não vim aqui antes,por que já tinha lido o primeiro capítulo,ainda na proposta XD
Então?Quando saí o proximo?
Offline
#13 12-05-2015, às 13h59
Eu também Fionna, mais quando vi que já tinha saido fui logo ver.
Offline
#14 12-05-2015, às 21h54
Demorou um pouquinho pra ser aceita, mas tá ai. haha
Bom, acho que vocês devem ficar felizes, pois o próximo capítulo sai hoje mesmo. Só vou trocar o nome dos personagens aqui e já vai estar tudo certo pra postar aqui.
Offline
#16 12-05-2015, às 22h09
Que isso, gente! o-o haha, brincadeira, é que eu atualizei a página só pra poder ver se a playlist entrou e vejo um comentário desses. Amei!
Offline
#17 13-05-2015, às 11h41
#18 13-05-2015, às 13h59
Esperp que venha o próximo capitulo! Amei o segundo,vou ficar dando F5 agora hahaha!
Offline
#19 15-05-2015, às 11h34
Yupi! Mais uma leitora!
Suemi - Bom, eu também estou ansiosa para o próximo capítulo. Vou escrevê-lo imediatamente! O7
Halls - Você vai ficar igual a mim, então haha, toda hora dando F5 pra ver se chegou algum comentário <3
Bom, não sei se eu já disse isso antes, mas obrigada por lerem minha fanfic. Significa muito, de verdade. Vejo vocês no próximo capítulo.
Offline
#20 15-05-2015, às 15h08
Santa batatinha! *o*
O que você faz para conseguir prender a gente desse jeito quando escreve? ♥
Tenho certeza que essa fic promete.
Ain, Team Jack aqui. ♥
Ansiosa pro próximo capítulo! *--*
Offline
#21 15-05-2015, às 15h58
Liyarah! \o/ Pensei que você não vinha, muié!
Eu sei lá, agora eu me sinto uma sequestradora. kkk
Tomara que prometa mesmo, eu tenho ela totalmente planejada na minha cuca aqui haha.
Nossa... team Jack... Nós temos que criar um FC pra ele kkk Esse homem é demais! <3 Acho que vou até resolver isso. Vou criar uma enquete \o até eu vou votar (na verdade, já votei.)
Offline
#23 17-05-2015, às 16h50
Haha, isso é só o começo do começo.
Offline
#24 17-05-2015, às 22h01
OMFG! *OOOOO* Finalmente!!! *-* Agora sim a parada vai ficar interessante, hihihi <3
Eu rindo igual uma doida ao ver a última parte do capítulo... \õ/
Offline
#25 19-05-2015, às 18h40
Ui, deu câimbra aqui xO
Valeu, Liyara, eu não me senti muito satisfeita com esse capítulo, mas ele é só uma ponte para o que vem depois.
Offline
- Início
- » Leitura e Arquivo
- » [Fechado] [Fanfic][BL] Animal Instinct (por SaaChan)
Tópico fechado
Páginas : 1 2