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- » [Fanfic] Where To Stay In Seoul (por SaaChan)
#1 16-01-2021, às 18h35
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#2 17-01-2021, às 03h08
AVISO
Essa fanfic contém menções à relações homoafetivas entre alguns personagens secundários. Se você não concorda ou é sensível a este tipo de enredo, recomendo que não leia.
Gêneros: Ficção, Romance, Drama, Comédia Dramática, Slice of Life
Classificação: 14 anos
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Park Ga Yeong se encontrava em uma situação inusitada. Há um minuto, estava pendurada na janela do apartamento luxuoso de seu ex-namorado, lutando para se segurar o máximo de tempo possível e evitar uma morte dolorosa e angustiante; no momento seguinte, estava há centenas de quilômetros de distância e analisava seu corpo (ou pelo menos o que deveria ser o seu corpo) sem entender o que a atingiu e a arremessou tão longe ao ponto de transformá-la completamente em um ser irreconhecível. Era fato que havia morrido por alguns breves minutos, mas era irreal como havia sido trazida de volta ao mundo dos vivos. Agora, Park Ga Yeong (ou melhor, Cha Se Young) pondera sobre como deve seguir sua vida: se vingando de seu ex-namorado ou tentando reconquistá-lo com sua nova aparência.
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Park Ga Yeong
Filha de Park Min Young, Park Ga Yeong cresceu como a filha da empregada de uma família nobre. Apesar de nunca ter conhecido seu pai, sua mãe sempre compensou a falta paterna e a criou para ser uma mulher independente e bastante centrada em seus estudos. Constantemente ajudava sua mãe com o trabalho doméstico, uma vez que moravam em um pequeno quartinho nos fundos da mansão de seus patrões.
Tendo se mudado do interior para a cidade grande para tentar a vida, a mãe de Ga Yeong aceitou o emprego de doméstica para poder sobreviver e se sustentar. Tão logo conseguiu o emprego, se apaixonou por um homem e teve sua filha, Ga Yeong. Dez anos depois, teve sua filha Ga In, a qual deixou aos cuidados de sua melhor amiga e comadre, madrinha de Ga Yeong, Kim So Ah, enquanto ganhava a vida. Ga Yeong continuou vivendo com sua mãe em Seul.
Sua relação com os patrões de sua mãe sempre fora muito boa. Costumavam incluí-la em algumas festividades mais íntimas e a ajudavam com as despesas de sua escola, porém não costumavam tratá-la com o mesmo afeto na frente de outras pessoas da mesma classe. Após o falecimento de sua mãe, vítima de um infarto fulminante, Ga Yeong continuou servindo a família Hwa e sua forma de lidar com a responsabilidade de ser a nova provedora da família foi através da compulsão alimentar, ganhando bastante peso.
Sua convivência com Hwa Kyung Soo, o único filho de seus patrões, sempre teve bastante altos e baixos. Tendo convivido desde a infância até a vida adulta com o rapaz, Ga Yeong sempre foi bastante afetada por sua personalidade forte. Ainda assim, sempre foi apaixonada pelo rapaz que sempre a desprezou, principalmente por conta de sua aparência, por estar acima do peso. No entanto, em uma ocasião um tanto inesperada, o rapaz confessou seus sentimentos e disse que gostaria de namorar a mesma com a condição de que não contasse sobre isso para outras pessoas. Poucas semanas após o falecimento dos pais de Hwa Kyung Soo em um acidente de carro, o rapaz terminou com a mesma e a expulsou de sua casa sem piedade, sequer explicando a mesma sobre o motivo repentino do término.
Hwa Kyung Soo
Filho de Hwa An Na e Hwa Hae Myung. Hwa Kyung Soo sempre foi muito rebelde e inconsequente durante a juventude, pouco se importando sobre as responsabilidades de ser um adulto e sobre o bem-estar de outras pessoas. Por tal motivo, sempre teve uma relação conflituosa com o pai, Hwa Hae Myung, sendo o principal motivo das discussões entre os pais por sua mãe sempre ficar ao seu lado.
Desde sempre se mostrava muito egoísta e egocêntrico, constantemente se importando apenas com o seu próprio benefício, passando por cima de outras pessoas para atingir seus objetivos. Ainda assim, mesmo tendo a ajuda financeira de sua mãe inicialmente, Hwa Kyung Soo demonstra ser uma pessoa bastante competente e independente como um homem de negócios, tendo criado sua própria empresa de marketing digital.
Por conta de sua personalidade bastante egocêntrica, o rapaz sempre possuiu uma relação conflituosa com a empregada de sua casa, Cha Se Yeong. Suas motivações para ter decidido se relacionar amorosamente com a mesma sempre foram um mistério para a garota, assim como a motivação para terminar o namoro.
Lee Seung Ri
Apesar de possuir muitas riquezas, Lee Seung Ri sempre foi muito humilde, uma das virtudes que aprendeu com seu falecido pai, de quem herdou sua empresa focada no ramo da tecnologia. Esteve por dentro de toda a construção desse império, trabalhando e aprendendo junto aos funcionários como funciona toda a corporação, se tornando um homem de negócios firme e benevolente, que ouve e acolhe seus subordinados como família, agindo com bastante esforço e dedicação.
É muito ligado com sua família, principalmente com sua mãe Lee Doo Na, que agora insiste em querer desposá-lo. Sua irmã mais velha trabalha, Lee Seung Ja como diretora executiva na empresa, tendo escolhido esse cargo por vontade própria. Os dois possuem uma relação bastante saudável e frequentemente ele é quem apazigua os ânimos entre as duas mulheres de sua casa, por serem bastante geniosas.Alguns Personagens Secundários
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Park Ga Yeong se lembrava claramente de um dia ter ouvido alguém dizer que a vida é nada mais, nada menos do que uma sequência de desgraças e que nunca se deve subestimar a capacidade dos deuses de piorar o que já está ruim. Na época, ela havia apenas imaginado que a pessoa que tinha dito isso estava apenas passando por uma fase ruim, mas agora se martirizava por não ter dado atenção àquele aviso incomum que alguma entidade sobrenatural provavelmente estava lhe dando. Condenava sua bendita língua por questionar como tudo poderia ficar pior. Como se um pé na bunda e a falta de um teto sobre sua cabeça já não fosse uma tragédia grande o suficiente, agora ela lutava pela sua miserável vida enquanto tentava puxar seus noventa e cinco quilos de banha de volta para o apartamento do seu ex-namorado, cujo qual jurava que iria se casar desde a infância e ter uma dúzia de filhos de cabelos escuros e cheios iguais ao do pai.
Àquela altura do campeonato, as juntas de seus dedos já começavam a fraquejar e o pouco fôlego que tinha não a ajudava a gritar por ajuda. Se estivesse no interior, Ga Yeong pensou consigo mesma, na pequena ilha de Jeju onde sua mãe nascera, provavelmente já a teriam visto – não por conta de seu tamanho, mas porque aparentemente a única forma de entretenimento das cidades do interior é tomar conta da vida dos outros. Imediatamente, sua irmã mais nova veio em seus pensamentos. Imaginou como Ga In ficaria arrasada por sua única família partir desta para melhor. Imaginava se conseguiria viver bem, mesmo que tivesse certeza que sua madrinha, Kim So Ah, cuidaria bem dela. Orou a todos os deuses possíveis e pediu por um milagre, qualquer coisa que pudesse salvá-la naquele momento.
E a salvação veio igual um cometa... Literalmente igual a um cometa...
Sequer teve tempo de entender que foi arremessada para longe igual uma bola de futebol americano. Apenas ocorreu de um segundo apagar e depois voltar à consciência se sentindo mais leve... Literalmente mais leve, e também bem mais disposta. Era como se a pancada tivesse dado um jeito em suas dores de coluna, bem mais eficaz do que ir a um quiroprata. Até então não tinha percebido que o “cometa” tinha dado um jeito bem mais do que apenas em sua coluna.
– De novo... – Ouviu uma voz masculina soar frustrada ao seu lado. – Porque a alma desses humanos nunca é igual ao corpo?
– Porque você sempre tem que voar baixo? – Uma voz feminina acompanhou a frustração do outro. – Deve gostar mesmo de trabalhar aqui pra sempre ganhar uma punição no último dia. – Ouviu um som estalado e um gemido por parte do rapaz. Provavelmente ele tinha apanhado, concluiu. – Da última vez foi exatamente assim que você causou aquele acidente e teve que dar o outro abyss para o aquele cara. Quantos abyss você pretende perder por aí?
Ele pareceu dar uma risada constrangida e mudou de assunto, parecendo bem mais interessado na única pessoa que deveria estar morta e não estava. Ga Yeong não havia aberto os olhos até então, estava com medo do que pudesse ver. Talvez os donos das vozes fossem apenas ossos e carregassem uma foice por aí. Não sabia onde estava exatamente, mas pelo tanto de grama debaixo de seus dedos, duvidava muito que tivesse caído perto do edifício onde estivera pendurava na janela minutos atrás. Será que estava no céu? Bom, não imaginava que o céu pudesse ter um cheiro de esterco tão forte, mas também não acreditava que o inferno pudesse ter uma brisa tão fresquinha... Certo? Reunindo um pouco de coragem, abriu um dos olhos primeiro, olhando ao redor e encontrando um céu limpo e escuro, com alguns pontos de luz e um grande aglomerado de absolutamente nada. Nenhum edifício, nenhum carro, uma casinha de palha que fosse. Na realidade, tinha uma vaquinha ou outra pastando. Os imponentes edifícios de Seul pareciam uma miniatura há centenas de quilômetros de onde estava. A mulher e o homem que discutiam há poucos segundos atrás pareciam normais, dois cidadãos coreanos comuns – até um pouco atraentes, se olhasse com mais interesse – vestidos com sobretudos pretos em uma noite calorosa de verão.
– Eu morri? – Foi a única coisa que conseguiu verbalizar.
Os dois se entreolharam como se tivessem um script pronto para seguir e então explicaram tudo, desde a morte acidental, consequência de um voo baixo de um comissário da morte até a ressureição através do tal “abyss”, uma esfera mágica capaz de trazer uma pessoa de volta à vida. Entretanto, o que mais deixava Ga Yeong abismada em toda aquela bagunça mística era não ser mais a mesma (ou talvez eu fosse a pessoa que eu realmente era). No momento em que foi ressuscitada, seu rosto passou a ter a aparência de sua alma...
E a sua alma era belíssima...
Yae, meu povo e minha pova! Suave?
Talvez muitas de vocês não me conheçam ou se conhecem, talvez nem se lembrem mais de mim. Eu dei uma sumida por uns tempos e resolvi voltar e dar o ar da minha graça novamente. Venho trazendo aqui uma fanfic nova que está sendo pra mim uma realização pessoal. É uma história que eu venho fermentando na minha cabeça há uns bons 7 anos, desde que estava no ensino médio e sempre quis escrever, mas nunca tive muita coragem.
Eu acabei começando a escrever porque fui incentivada por vários fatores. Tive muitas perdas nesses últimos anos, tanto em bens materiais quanto imateriais, perdi pessoas da família, perdi oportunidades de ascender profissionalmente por conta da pandemia, me vi em situações em que eu tive que pensar muito sobre mim mesma e o que eu estou deixando para trás. Através disso, eu acabei refletindo muito e percebi que estava deixando de lado algumas das minhas vontades que eu queria realizar, mas acabava me detendo pela falta de coragem. Por isso estou trazendo aqui essa fanfic que é uma das coisas que eu sempre quis escrever, mas nunca colocava no papel.
Espero que vocês aproveitem a leitura, estou me dedicando de corpo e alma para que vocês possam se divertir, se entreter, amar e sofrer com cada capítulo que estarei postando aqui. Eu planejava escrever apenas 10 capítulos dessa fanfic, mas quando comecei a escrever, percebi que a história é bem maior do que eu planejava. Já tenho alguns capítulos prontos apenas esperando para serem lançados, então tenho uma ideia de que talvez essa fanfic terá cerca de 25 a 30 capítulos e mais o epílogo.
Pretendo lançar cada capítulo aos domingos, se eu tiver com internet. Pode ser que eu poste até no meio da semana ou em outros dias também, mas inicialmente esse é o meu plano. Pretendo avisar também as leitoras que acompanharem por MP dos novos capítulos, então os comentários de vocês serão bastante bem vindos, pois assim terei o feedback de vocês sobre o que vocês acharam da fanfic e também para poder enviar a vocês os avisos de novos capítulos.
Sobre outras fanfics que podem vir a surgir, estou planejando reescrever Destinos futuramente e continuar a fanfic que acabei abandonando na época que dei uma sumida do fórum. As fanfics estão neste link aqui. Ainda não sei qual eu irei começar a escrever primeiro, mas as duas já estão totalmente completas na minha cabeça, eu só preciso mesmo escrevê-la.
Dito isso, espero que aproveitem a leitura.
SaaChan, menor que treix.
Última modificação feita por SaaChan (17-02-2021, às 16h27)
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#3 17-01-2021, às 03h09
Capítulo I
Ga Yeong estava sentada na poltrona mais próxima da porta, há uma distância segura entre a vassoura que sua amiga de infância, Lee So Ra, há minutos atrás tentava lhe acertar assim que entrou em seu apartamento e da porta de entrada, pensando em uma fuga estratégica. Não julgava sua amiga, afinal, era inacreditável até mesmo para ela que agora tinha pelo menos metade de seu peso original e um rosto bem mais harmônico e bonito do que tinha até algumas horas mais cedo. Nem um bom cirurgião plástico poderia fazer um trabalho tão bem feito, ainda mais considerando que essa repentina mudança de aparência tinha acontecido com tempo muito curto para mostrar tal resultado. Suas roupas estavam sujas de terra, grama e sangue, além de estarem muito grandes em seu corpo. Seu próprio estado era lastimável, se estivesse na pele de So Ra, também lhe expulsaria à vassouradas.
So Ra olhava para Ga Yeong com um misto de desconfiança e incredulidade, portando sua vassoura como se fosse uma espada samurai. Qualquer movimento em falso e estaria pronta pra voltar a tentar expulsar a intrusa que alegava ser sua amiga de infância, gordinha e baixinha, além de ser desprovida de certa beleza – como teve que admitir –, que havia sorrateiramente se esgueirado para o seu pequeno apartamento. Seu celular estava em mãos, pronta para discar 119 e chamar alguma ambulância para levar aquela estranha para algum sanatório. Ainda assim, depois de ouvir algumas informações sobre sua pessoa que julgava serem confidenciais e de conhecimento apenas de pessoas mais íntimas, So Ra teve que admitir que talvez a ideia de que a pessoa à sua frente fosse realmente Ga Yeong não fosse tão estranha. Apalpou a têmpora, sentindo uma leve dor de cabeça.
– Então, recapitulando... Você está dizendo que você é a Ga Yeong? Digo, a Ga Yeong, minha amiga de infância, gordinha, baixinha, com dentes de coelho e que sofre de labirintite? – So Ra repetiu ao mesmo tempo em que a estranha a sua frente confirmava freneticamente com a cabeça todas essas informações. – E que você ficou assim porque um comissário da morte acidentalmente te atropelou enquanto você tentava não cair da janela do apartamento do Hwa Kyung Soo e ele te trouxe à vida com uma “esfera do dragão”?
– Não é uma “esfera do dragão”... Mas é realmente parecida... – Ga Yeong parecia brincar com algum item imaginário aos olhos de So Ra. Na realidade, a amiga não conseguia ver a esfera brilhante e de cor amarelada que a mulher segurava. Uma das regras do abyss era que apenas as pessoas ressuscitadas por ele poderiam vê-lo.
So Ra suspirou, a estranha ter entendido a referência em animes era um ponto positivo para confiar que aquela ali fosse realmente a Ga Yeong. Sua amiga desde a infância sempre fora mais viciada em animes de luta e doramas de terror do que a maioria das garotas. So Ra sempre compartilhou do mesmo gosto, mas sempre teve uma personalidade mais extrovertida e sociável, em contraste com sua amiga. Mesmo que todas as provas apontassem para o óbvio, ainda assim estava com um pé atrás sobre a mulher a sua frente, que agora desfiava um pedacinho de papel que havia voado por ai no meio da confusão de minutos atrás, bem como Ga Yeong fazia quando ficava ansiosa.
– Não, não, isso não faz sentido... Não espera mesmo que eu acredite que você foi atropelada por um comissário da morte, certo? Eu até acreditaria sobre cair da janela, mas todo o restante já é demais...
– Ei! – Ga Yeong resmungou. – Porque você não duvidaria sobre eu cair da janela?
– Porque a minha amiga não é exatamente a pessoa mais normal do mundo. – So Ra respondeu como se fosse óbvio, deixando Ga Yeong pensativa por um segundo, mas se rendendo logo em seguida. Para acabar caindo acidentalmente de uma janela de um edifício de trinta andares, realmente não tem como ser normal. – Olha... Eu não estou convencida, essa história... Parece louca demais pra ser verdade, então é melhor você sair da minha casa antes que eu chame a polícia!
A outra mordeu o lábio inferior, pensando desesperadamente como convencer a amiga. Sabia que So Ra era bastante cabeça dura, mas precisava de algo que fosse convencê-la imediatamente ou então teria que encontrar um cantinho para passar a noite na rua. Antes que a amiga discasse os números, Ga Yeong se levantou como se uma luz pairasse sobre sua cabeça. Era sua última chance e sabia que aquilo sua amiga havia compartilhado apenas consigo – ou pelo menos esperava que tivesse. Segurou as mãos de So Ra para impedi-la de ligar para o 119, se preparando previamente para outra sessão de vassouradas.
– Não! Espera! – Ga Yeong pediu, lutando contra a morena para impedir que a mesma lhe batesse novamente – Olha, eu tenho como provar que sou eu com algo que só nós duas sabemos! – Disse com um sorriso confiante. – No ensino médio, você dormiu com o seu professor pra ele não te reprovar em matemática e ele te passou clamídia. Você disse pra sua mãe que estava com infecção urinária pra ela pensar que você ainda era virgem.
A boca de So Ra se abriu por completo. Com o olhar catatônico, ela soltou o celular e a vassoura, se afastando de Ga Yeong como se tivesse crescido dois chifres em sua cabeça – o que, para ela, seria mais aceitável do que sua amiga ter simplesmente se transformado em uma mulher magérrima e ter ficado indubitavelmente mais sexy. Sussurrou algo inaudível, talvez um “Meu Deus” ou alguma espécie de palavrão, Ga Yeong não soube responder, mas havia ficado bem claro que agora So Ra não tinha como duvidar de sua palavra, se ela não houvesse contado sobre isso para mais ninguém, Ga Yeong com certeza não teria contado, ela levaria aquilo para o túmulo com ela.
– Ga Yeong? – A amiga fez uma careta de quem iria se acabar em lágrimas. Batendo em seu ombro, a mesma a respondeu.
– Eu estou tentando te convencer faz meia hora que sou eu, como pode não acreditar em mim? – A voz trêmula de Ga Yeong denunciava que iria acabar chorando.
– Oh, céus... Coitada de você! Ou talvez nem tanto, eu sei lá... Isso... – So Ra se perdeu em seus pensamentos. – Nem sei o que dizer... É só... Inacreditável...
– Eu sei... Nem eu acredito que isso aconteceu... – Ga Yeong se solidarizou com a confusão de sua amiga, apontando para seu novo corpo. Permitiu-se tombar ao seu lado no sofá e seu estômago roncou como uma trombeta.
– Está com fome?
– Estou faminta... Eu posso comer um búfalo inteiro... – Ga Yeong se reavaliou, provavelmente agora seu estômago teria metade do tamanho que tinha antes. – Ou talvez não...
– Eu... Vou fazer alguma coisa pra gente comer e você aproveita e tira esses trapos. – So Ra pinçou com os dedos a roupa encardida que Ga Yeong usava, fazendo uma leve careta. – Acho que um banho cairia bem agora... Porque você está cheirando a esterco?
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Ga Yeong se olhava na frente de um espelho, analisava cada curva que tinha em seu corpo, cada detalhe em seu rosto agora inúmeras vezes mais bonito. Nunca havia se considerado bonita, nem mesmo antes de ganhar peso. Antes, apesar de ter um bom peso, seu rosto nunca havia sido atraente, pelo contrário, seu rosto era um dos motivos de nunca ter sido boa em socializar e estabelecer uma relação forte o suficiente com seus colegas de escola. So Ra fora sua única amiga desde o início da sua juventude, foi a única que se aproximou sem a intenção de zombar de sua aparência, como a maioria das crianças faziam. Sua paixão por animes japoneses e webtoons haviam atraído a atenção da menina, que então passou a fazer parte desse mesmo universo. Ainda que So Ra tivesse tentado por diversas vezes incluir Ga Yeong em seu meio, a garota nunca se sentiu realmente aceita por conta de sua aparência. Sua habilidade social era bastante deficitária, o que também não ajudava, mas So Ra sempre que podia a protegia. Era como se a amiga fosse uma espécie de super-heroína sem capa. Sempre que Ga Yeong lhe dizia isso, So Ra apenas ria com divertimento, como se fosse apenas uma piada, mas para Ga Yeong isso significava bastante coisa.
O fato de não conhecer seu pai biológico também era algo que a atrapalhava bastante. Park Min Young, sua mãe, sempre contava como havia sido sua jornada ao tentar se aventurar pela cidade grande. Sonhava em se tornar uma bailarina, mas acabou desistindo de seu sonho por falta de recursos. Durante sua juventude, trabalhou em vários trabalhos de meio período até se estabelecer na casa dos Hwa como empregada. Seus patrões, Hwa Hae Myung e Hwa An Na eram muito amigáveis e solidários. Min Young nunca deixou de se sentir grata pelo casal acolhê-la quando descobriu que estava grávida de sua primogênita. Criou Ga Yeong com muito amor e carinho, muitas vezes suprindo a presença paterna que lhe faltava. Ainda assim, mesmo que um pai presente não fizesse diferença na boa educação que sua mãe lhe dava, muitas pessoas questionavam isso, principalmente professores e outros alunos. Num país tão machista e patriarcal, isso era praticamente um crime. Sempre que acontecia qualquer coisa em sua escola, para os outros a culpa era sempre de sua mãe, que não a criava com um pai. Park Min Young, no entanto, nunca pareceu se dobrar a tais opiniões sobre sua vida, isso fazia com que Ga Yeong sentisse uma admiração por sua mãe além de sua compreensão. Desejava que um dia pudesse ser tão resiliente como ela, mas sempre pensou em fazer melhores escolhas.
Ga Yeong vestiu um conjunto de pijamas em azul marinho que sua amiga havia lhe emprestado. A blusinha justa de alças finas lhe caiu como uma luva, o short estava um pouco folgado na cintura fina. Admirou-se mais uma vez no espelho, aquele tipo de roupa nunca entraria em seu corpo se tivesse o mesmo peso de antes. Sofria para encontrar roupas para o seu tamanho e frequentemente precisava comprar em alguma sessão masculina por isso. Antes que furasse seu próprio reflexo com os olhos, So Ra a chamou para jantar. Vestiu um casaquinho preto e tomou rumo da sala, secando os cabelos com uma toalha de rosto. So Ra ainda parecia não acreditar que estava na presença de sua amiga, como se a ficha ainda não tivesse caído. Não a julgava, afinal, era realmente difícil entender que estava diferente, ela mesma ainda duvidava que talvez fosse tudo um sonho, uma produção de uma mente fértil em imaginação. Sentou-se de frente para a sua amiga, catando os talheres de sua mesa. Em sua frente estava uma grande e saborosa panela de ramyun e algum punhado de kimchi em uma tigela à parte. Não soube por que esperou que o jantar fosse algo mais abastado já que sabia bem que as habilidades culinárias de So Ra se limitavam a macarrão instantâneo e ovo cozido. Mesmo assim, não reclamou da refeição, pelo contrário, se sentia até imensamente grata por ter o que comer naquela noite.
– Sobre essa mudança toda... – So Ra começou, interrompendo o silêncio estranho que havia se instalado entre as duas. – O que você pretende fazer?
– Não faço ideia... – Ga Yeong pareceu dar de ombros enquanto engolia seu ramyun. – Eu nem sei se vou poder usar meus documentos. Como vou provar que eu sou eu mesma com essa cara? – Roubou um pouco de kimchi da tigela, misturando-o ao caldo e o levando à boca. – Provavelmente irão pensar que eu sou algum tipo de estelionatária.
So Ra não pôde deixar de concordar. Talvez tirar novos documentos fosse mais fácil do que tentar usar os próprios documentos novamente, o que precisaria, com certeza, é de alguém que soubesse falsificar um.
– E sobre o Kyung Soo? – Como se houvesse tocado na ferida, Ga Yeong se afundou em sua tigela de ramyun, fingindo que não ouvira a pergunta. – Você foi para o apartamento dele por que queria reatar? – Ga Yeong apenas afirmou com a cabeça, como se tivesse sido pega aprontando. So Ra logo se irritou, largando seus talheres sobre a mesa. – Yah! Eu falei pra você não ir. Por que foi gastar o pouco de dignidade que ainda te sobrava rastejando atrás de um cretino que te largou com uma mão na frente e a outra atrás?
Ga Yeong não se lembrava de ter tido uma casa própria algum dia, ou se teve, era muito nova para se lembrar. Crescera sob o teto dos patrões de sua mãe, que viviam em uma mansão com direito a piscina, hidromassagem e uma extensa área de lazer. A família Hwa possuía um grande império de lojas de departamento, dessas que vendem de tudo um pouco. Logo, era difícil contabilizar com exatidão toda a fortuna que possuíam. Apesar de Hwa Hae Myung e Hwa An Na, os patrões de sua mãe, serem muito amigáveis e solidários, o único filho do casal não demonstrava ser tão benevolente quanto seus progenitores. Hwa Kyung Soo sempre se mostrou ser bastante egocêntrico e inconsequente, pelo menos durante a juventude. Era fato que era um brilhante empreendedor, tendo começado uma agência do zero e a tornado em tão pouco tempo um excelente negócio, mesmo que houvesse tido ajuda financeira de sua mãe para isso. Era fato que apenas dinheiro não sustentava um bom negócio, era preciso ter visão e uma mente afiada para os negócios, além de uma boa rede de contatos, e isso era algo que Kyung Soo mostrava que dominava.
Mesmo assim, sua inteligência e habilidade não o isentavam de ser um completo babaca, pelo menos aos olhos de So Ra. O herdeiro do grande conglomerado de lojas de departamento da família Hwa sempre aparecia em sites de fofocas por conta de suas escapadas noturnas em boates e por rumores de ser uma pessoa extremamente abusiva. Mesmo tendo apenas conhecido o rapaz por um momento, já havia tomado desprezo por ele, ainda mais por todas as situações que havia ouvido sua amiga Ga Yeong narrar sobre a forma cruel que a tratava. Quando a amiga revelou que o rapaz havia um dia se declarado e a pedido em namoro, sempre desconfiou que houvesse alguma segunda intenção por detrás disso, ainda mais sobre a condição de nunca dizer para ninguém que estavam em um relacionamento. Porém, tão rápido quanto haviam começado o namoro, o mesmo rompeu o compromisso poucos meses depois de forma bastante cruel. Expulsara Ga Yeong da casa onde crescera e vivera até os seus vinte e quatro anos meses depois de seus pais falecerem em um acidente de carro.
– Eu não sei... Acho que ele pode estar confuso e sofrendo... O senhor e a senhora Hwa faleceram há pouco tempo, é muito recente...
– O luto não causa esse tipo de confusão. Quando você perdeu a sua mãe, a única despirocada que você deu foi se empanturrar de comida.
A mãe de Ga Yeong havia falecido alguns anos antes, quando a mesma estava entrando no ensino médio. Em um momento, sua mãe estava compenetrada em lavar a louça do almoço de seus patrões, no segundo seguinte, tempo o suficiente para piscar os olhos, ela se agarrou ao seu peito e tombou no chão. Foi rápido e mortal, um infarto fulminante, sequer havia tido tempo de pedir ajuda ou esperar pela ambulância. No início de seus dezesseis anos, Ga Yeong passou a ser a responsável de sua família e os patrões de sua mãe passaram a ser os seus. A garota sempre teve a impressão de que tinha uma família grande e feliz junto aos Hwa, mas sua mãe sempre a alertava para não confundir a generosidade deles com amor fraterno. O motivo de ainda a aceitarem como sua empregada sabendo que a mesma não tinha como trabalhar em qualquer outro local que a possibilitasse estudar ao mesmo tempo não era porque a consideravam parte da família, isso ficava claro por tratarem-na como parte “da mobília” quando davam grandes festas em sua casa. Ga Yeong seria sempre a empregada, e os empregados não fazem parte da família.
Pensou consigo mesma que deveria ter acreditado no conselho de sua mãe, isso a pouparia da decepção que estava sofrendo agora...
A maneira que encontrou para aguentar todo o peso da responsabilidade e o luto foi através da compulsão alimentar. Em meio ano, seu peso passou de cinquenta para noventa quilos, afastando-a ainda mais do padrão de beleza coreano, onde corpos magérrimos e feições angelicais eram considerados ideais. Ga Yeong nunca teve nenhum dos dois e Hwa Kyung Soo, com que convivera durante boa parte de sua vida, nunca teve dó de relembrá-la inúmeras vezes sobre isso através de piadas depreciativas. Para a garota que sempre nutrira um amor platônico pelo rapaz era como uma facada bem dolorida. O rapaz era alguns anos mais velho, enquanto Ga Yeong frequentava o Ensino Médio, Kyung Soo vivia a vida universitária cursando administração. Estava sempre cercado de mulheres e pessoas de sua classe: filhos ricos de gente rica que desconheciam a palavra “limites”, que viviam em boates e festas regadas a bebida e o melhor da diversão noturna.
Como faziam parte de mundos tão diferentes, Ga Yeong sabia muito bem que não teria a menor chance de ser algo mais além de uma simples empregada para Kyung Soo, então não pode estar menos surpresa quando o rapaz confessou seus sentimentos sobre a mesma e a pediu em namoro. Apesar de se sentir um tanto magoada pela condição de seu relacionamento ser mantido em segredo, ainda assim pode se sentir a pessoa mais feliz e realizada do mundo, por isso queria tentar reatar com o mesmo. Não conseguia acreditar que o rompimento e a forma tão cruel com a qual havia sido tratada fossem de fato uma decisão consciente de Kyung Soo, mesmo que isso fosse mais condizente com a realidade do que o rapaz simplesmente ter caído de amores por ela. Ga Yeong mordeu o lábio, se ajeitando na cadeira sob o olhar frustrado de sua amiga.
– Olha, Ga Yeong... Eu sei que você realmente o amava, eu sempre ouvi você falar de como o maravilhoso Kyung Soo era desde que nos demos por gente, mas você precisa esquecer ele. Nem cachorro é abandonado de forma tão cruel quanto ele te chutou. – So Ra suspirou – Só estou dizendo que precisa trabalhar o seu amor próprio e esse cara... É o que te impede de fazer isso.
Ainda assim, Ga Yeong não conseguia aceitar o fim. Havia nutrido aquele sentimento por tempo demais para descarta-lo tão facilmente e So Ra sabia bem que sua amiga poderia ser mais teimosa que um touro. Suspirou, desistindo temporariamente de tentar convencê-la. Ainda assim, queria saber o que a amiga faria dali para frente. Com aquele novo rosto, Ga Yeong poderia simplesmente ter uma nova vida e recomeçar do zero.
– E o que você pensa em fazer agora? – So Ra questionou.
Ga Yeong ficou pensativa antes de pegar seu celular e desbloqueá-lo com a sua digital. Procurou uma página na internet que conhecia bem e mostrou para So Ra. A logo bem desenhada da CS Publicity surgiu na tela, o que fez a mulher arregalar os olhos com tamanha a audácia de sua amiga. A agência de publicidade tinha como CEO ninguém mais, ninguém menos que Hwa Kyung Soo, o homem que havia chutado Ga Yeong para fora de sua vida. Agora a garota parecia determinada a se reaproximar do rapaz de qualquer forma, mesmo que para isso precisasse se inscrever para o processo seletivo para estagiários em sua empresa que aconteceria no começo do próximo ano, como dizia o site.
– Ga Yeong... Não me diga que está pensando nisso? – So Ra esperava que uma luz de consciência surgisse na cabeça de sua amiga, mas a garota estava determinada a seguir com seu plano. Ga Yeong apenas afirmou com a cabeça antes de segurar as mãos da amiga com um sorriso confiante.
– Eu vou reconquistar o Kyung Soo.
Capítulo II
So Ra observava orgulhosa a sua obra prima. Quem diria que aquele “intensivão” sobre relacionamentos e sedução poderiam transformar sua doce e tímida Ga Yeong em uma femme fatale em tempo recorde? Não esperava que Ga Yeong pudesse aprender tão rápido a como se comportar como uma mulher sedutora. É claro que sua amiga ainda dava alguns deslizes sobre o que falar e como agir na hora certa, mas era bem claro que agora sua amiga sabia uns bons truques que deixavam os homens irem à loucura. So Ra fez um gesto com o dedo indicador, girando-o no ar como se dissesse para sua amiga dar uma voltinha. Assim Ga Yeong fez, exibindo a saia lápis em tom pastel que acentuava sua cintura fina sob o blazer preto. A blusa social branca era simples e compunha o look profissional que usava. Nos pés, um scarpin preto e sóbrio, além dos acessórios discretos, um relógio simples e prateado, assim como o cordão com um singelo pingente de pérola branca combinando com os brincos. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo baixo, exibindo o pescoço longo e o rosto fino e atraente.
– Perfect! Just Perfect! – So Ra bateu leves palminhas de empolgação, se levantando da cama e se aproximando de Ga Yeong. – Estou tão orgulhosa da minha obra prima... Minha lagartinha finalmente virou uma linda e sexy borboletinha que consegue falar mais que um oi para humanos do sexo masculino.
– Desse jeito você me faz parecer miserável... – Ga Yeong corou. Mesmo que soubesse que sua amiga não dizia nenhuma mentira, ainda assim era um pouco constrangedor para ela admitir a verdade. Olhou-se no espelho, se admirando por parecer tão elegante e bonita nas roupas que usava. A maquiagem leve apenas ressaltava a beleza que já tinha e os cabelos presos evidenciavam mais sua face.
– Apenas estou sendo sincera e você sabe disso. – So Ra não poupou a amiga do comentário venenoso, mas estava satisfeita por vê-la mais confiante quanto à sua aparência. – Está preparada para o primeiro passo do plano “Chora aos Meus Pés”?
– Você sabe que eu não concordei com esse nome...
– O nome do plano é a parte menos importante da questão. – So Ra deu de ombros, pegando a bolsa preta tiracolo e entregou para a amiga.
Para Ga Yeong foi mais fácil do que pensava provar que era ela mesma, até mais rápido do que esperava também. Suas digitais, a assinatura e seu DNA continuavam os mesmos, a única coisa que teve que fazer foi assinar uma penca de papéis e alegar que sua mudança de aparência nada mais era do que o resultado de uma cirurgia plástica... Ou várias delas. A parte mais complicada, no entanto, foi entrar com um pedido para mudar seu nome e sobrenome. Sem um bom motivo e uma boa quantia em dinheiro, seria impossível que pudesse trocar o nome em sua identidade. Por sorte ou talvez por destino, Ga Yeong tinha os dois. O motivo foi a parte mais irrelevante, So Ra conhecia uma pessoa que era funcionário público em um cartório qualquer que podia ajuda-la nessa parte. Na realidade, o rapaz era uma espécie de affair de sua amiga, mas conhecendo So Ra como conhecia, sabia que ela apenas estava “enrolando” o pretendente. A quantia em dinheiro foi usada de uma conta-poupança que sua mãe havia guardado para ela desde seu nascimento. Era o suficiente para que pudesse pagar o restante de sua faculdade de publicidade, da faculdade de sua irmã mais nova, fosse qualquer uma que escolhesse, e ainda viver bem por um longo tempo.
– Me pergunto como sua mãe conseguiu juntar tanto dinheiro trabalhando como empregada. – So Ra pensou alto. Até mesmo Ga Yeong se perguntava isso, mas pensava que talvez seus patrões a tivessem ajudado com um aumento de salário. Até onde se lembrava, sua mãe só havia trabalhado para eles depois que havia sido contratada para cuidar de sua casa. Passou de ser empregada para ser governanta com o tempo e organizava as tarefas de todos os outros empregados.
Ga Yeong colocou sua bolsa checando as horas. Eram 08:19 da manhã e a entrevista aconteceria às 10:30. Teria que pegar duas conduções e se quisesse chegar num bom horário, pelo menos meia hora adiantada, teria que sair naquele horário. Respirou fundo e contou de dez à zero mentalmente, focando em bons pensamentos e bons resultados.
– Me deseje sorte. – Ga Yeong sorriu para sua amiga. Era uma boa aluna e possuía um bom currículo, esperava que fosse passar naquela entrevista porque dominava aquela área, mas sabia que tinha que passar porque o único diferencial naquela vaga era que o seu chefe não seria ninguém mais, ninguém menos do que Hwa Kyung Soo, seu ex-namorado.
Direcionou-se para a porta, abrindo-a, mas antes de passar pela mesma, ouviu sua amiga responder ao seu pedido com um sorriso de ponta a ponta.
– Boa sorte, Cha Se Young!
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Hwa Kyung Soo era um homem de negócios e, como um bom empreendedor, sabia bem que a propaganda era a alma do negócio. Mesmo que um processo seletivo no ramo organizacional não fosse nenhuma novidade, Kyung Soo sabia como transformar isso em uma propaganda positiva para a sua agência. Um processo seletivo para estagiários de diversas áreas que daria uma bolsa de estudos e oportunidade de crescimento dentro da empresa não era algo que aparecia todos os dias. Mesmo que as vagas fossem bem escassas, havia muita competição e a mídia queria saber mais sobre o assunto. É claro que, por ser o herdeiro de uma das empresas mais poderosas da Coréia, a mídia queria saber até mais do que apenas sobre o processo seletivo.
– A nossa missão com esse processo é dar oportunidade para que estudantes e formandos dessas áreas possam mostrar seu potencial e que também possam desenvolver suas habilidades na prática. Construir uma forma de pensar e interagir com o meio social através do exercício da profissão... – Kyung Soo sorriu e cruzou os dedos, relaxado em sua cadeira elegante. Um fotógrafo tirava fotos suas enquanto a entrevistadora gravava suas palavras com seu celular e escolhia algumas perguntas em sua agenda.
– É realmente incrível o que está fazendo, senhor Hwa, abrindo essa oportunidade para estudantes universitários. – A entrevistadora folheou sua agenda – Mas mudando um pouco de assunto, se me permitir... Temos muitos leitores em nossa revista e muitas são mulheres. Existem alguns rumores de que você possa estar em um relacionamento... – Kyung Soo coçou a têmpora com um leve sorriso. Tão previsíveis.
Era claro que a intenção de Kyung Soo era divulgar que iria se casar em breve. A notícia de que era um homem comprometido muito provavelmente iria apagar a imagem de rebelde inconsequente que havia construído durante anos, melhoraria a imagem de sua empresa e atrairia mais investidores. Ouviu algumas batidas na porta e logo uma mulher bonita e esbelta entrou na sala trazendo algumas xícaras de café. Os dois trocaram um olhar de cumplicidade enquanto a mesma deixava as xícaras na frente dos convidados e do chefe antes de sair. Voltando sua atenção à entrevistadora, Kyung Soo tomou a xícara em mão e bebericou um pouco de seu conteúdo.
– Bom, um homem não pode viver sozinho para sempre, não é mesmo?
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Tão logo os jornalistas foram embora, Ahn Han Na mergulhou novamente para dentro do escritório em seus saltos carmim. Os cabelos soltos batiam abaixo de seus ombros e estavam perfeitamente penteados, o vestido justo azul marinho que usava evidenciavam suas tentadoras curvas. Han Na poderia ser considerada de longe o tipo ideal de qualquer homem, um corpo cheio de curvas, busto farto e uma personalidade instigante, um pacote completo. Permitiu-se sentar no colo do CEO com tamanha intimidade, brincando com sua gravata enquanto o olhava diretamente.
– Contou sobre mim para eles? – Ela perguntou, curiosa sobre o conteúdo da entrevista.
Um meio sorriso preguiçoso tomou o rosto de Kyung Soo que acariciava sua coxa sob a barra do vestido que usava.
– Contei o suficiente. – A resposta não havia agradado a mulher. Era como se tivesse respondido de forma bastante evasiva sobre seu relacionamento. Han Na se levantou, insatisfeita, o que fez Kyung Soo revirar os olhos e explicar suas motivações por isso. – Se eu for muito direto sobre nós dois, vai parecer que eu quero te expor por fama. Uma imagem de homem apaixonado vende bem mais do que de um cafajeste.
– E enquanto isso, eu tenho que continuar sendo a sua amante secreta? – A mulher cruzou os braços, frustrada. – Eu quero poder contar às pessoas que estamos juntos. Não é como se eu fosse algo digno de vergonha pra ser escondida.
– E não é... Mas as coisas precisam ser feitas para parecerem naturais. – Kyung Soo se levantou de sua cadeira acolchoada, pegando seu sobretudo. O outono havia se instalado e a temperatura começava a esfriar, logo dando sinais de que o inverno poderia ser bastante rigoroso. – Como, por exemplo, sairmos para um almoço romântico no intervalo do trabalho...
O convite havia feito com que Han Na amolecesse. A mulher deu um leve sorriso e se aproximou do homem, roubando-lhe um beijo rápido, mas ardente. Entrelaçou seus braços ao redor do pescoço do outro ao mesmo tempo em que Kyung Soo enlaçava sua cintura com propriedade.
– Vou pegar minha bolsa... – E assim se afastou do mesmo, saindo de sua sala logo em seguida.
Kyung Soo se viu sozinho em seu escritório. Não precisava levar muita coisa, apenas catou as chaves de seu Porsche e saiu. Os funcionários o cumprimentavam enquanto trilhava o caminho para os elevadores. Antes que chegassem, a mulher se juntou ao mesmo, enlaçando sua mão ao do outro de maneira discreta. Assim que a grande caixa de metal parou no andar em que estavam, embarcaram e selecionaram o botão do térreo. Além dos dois, havia apenas um pequeno grupo de funcionários que aparentemente iriam para outro andar. Cumprimentaram o CEO assim que o mesmo entrou no elevador, mas antes que as portas se fechassem, ouviram uma voz feminina e esbaforida pedir para que segurassem as portas. Kyung Soo segurou as portas, impedindo que o elevador partisse.
– Ah, obriga... – A mulher interrompeu a fala, fitando-o com os olhos arregalados, expressando sua total surpresa. Rapidamente desviou o olhar, parecendo acanhada por algum motivo.
A face angelical e o corpo estonteante da mulher eram marcantes demais para que Kyung Soo não se lembrasse de vê-la pelos corredores de sua agência. Pensou que talvez fosse uma das candidatas para o processo seletivo. Tinha em mãos um envelope pardo onde provavelmente tinha todas as fichas de candidatura que precisava levar. A surpresa em seu rosto provavelmente era porque havia o reconhecido como o CEO da CS Publicity, pensou Kyung Soo. Não sabia se ria com divertimento ou se fingia que não havia reparado. Como a mulher não demonstrava intenção de entrar no elevador, acabou se pronunciando.
– Ainda vai entrar? – Saindo de seu torpor, a mulher fez um aceno com a cabeça e se desculpou, entrando no elevador e se encaixando no fundo com a intenção de se camuflar entre os demais funcionários. Assim que as portas se fecharam, Han Na voltou a enlaçar sua mão ao de Kyung Soo, buscando em seu celular alguns restaurantes mais próximos.
– Queria comer algo picante... – Han Na suspirou, pensativa. – Podíamos almoçar naquele restaurante onde fomos semana passada.
– Pode ser. – Kyung Soo confirmou preguiçosamente. Han Na ofereceu-lhe o celular para que pudesse ver melhor o que estivera pesquisando, se aproximando de maneira bem íntima.
A intenção de Han Na era bem clara para Kyung Soo, ela queria que seu relacionamento fosse de conhecimento de todos e nada melhor para começar um rumor com seu nome do que conversar com intimidade com o chefe. O sorriso que lhe lançava volta e meia e os olhares que trocavam no elevador chamavam bastante a atenção dos funcionários. Não duvidaria que logo toda a empresa estaria por dentro da fofoca. Assim que as portas se abriram, o grupo de funcionário saltou deixando apenas o casal e a mulher que havia pedido para segurar as portas ali. O elevador voltou a se movimentar e então abriu no térreo, permitindo que os passageiros pudessem sair. A mulher saiu como na velocidade de um raio, trombando acidentalmente com Kyung Soo no percurso. Com um manear de cabeça, se desculpou e desapareceu entre as portas giratórias da saída.
– Que sem noção... – Ahn Han Na desdenhou.
Kyung Soo, no entanto, parecia mais curioso do que irritado pelo esbarrão. Enquanto caminhava ao lado de Han Na pelo extenso saguão, pensou se em algum momento no futuro esbarraria novamente com a garota misteriosa que havia evitado o seu olhar.
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Ga Yeong atravessou a porta como um trovão. Havia sido pegar de surpresa pela chuva repentina, mas as roupas e o cabelo molhado eram a última coisa que chamaram a atenção de So Ra. A amiga tinha uma expressão chorosa e parecia precisar de um pote de sorvete extra grande. A primeira coisa que pensou foi que a primeira etapa do plano “Chora aos Meus Pés” tinha falhado. Desligou a televisão, se aproximando da amiga enquanto a envolvia num abraço reconfortante. Ga Yeong se colocou a chorar nos braços de So Ra, resmungando alguma coisa sobre ser burra e como foi uma perda de tempo pensar que o plano daria certo.
– Calma, você ainda não sabe o resultado da entrevista, não deve ter se saído tão mal assim... – So Ra tentou soar positiva, mas não sabia se a amiga conseguiria realmente o estágio.
Ga Yeong tinha bastante pontos positivos em seu currículo, havia feito vários trabalhos comunitários, além de ter participado de grupos de estudos e ter uma nota global invejável. Ainda assim, ela estava concorrendo contra muitos candidatos, boa parte sendo homens, o que por si só já dificultava bastante coisa. Mulheres sempre tinham desvantagem por conta da presunção de que mulheres engravidam e homens não. Quando a amiga se afastou de seu abraço, So Ra nunca pareceu tão confusa. Ga Yeong apenas abanou com a mão demonstrando que o problema não era aquele.
– Eu fui bem na entrevista, esse não é o problema... – Ga Yeong disse, fungando. – É que... O Kyung Soo tem outra... Ele está com outra mulher...
So Ra parecia surpresa, mas nem tanto. Kyung Soo não parecia ser realmente o tipo que se sujeitaria a um voto de castidade e se privaria dos prazeres carnais, muito menos que esperaria sentadinho que sua amiga executasse seu plano para reconquistá-lo. Além disso, já haviam se passado quase quatro meses desde que houvera terminado com Ga Yeong, era mais do que certo que ele havia partido para outra nesse meio tempo ou, na pior das hipóteses, porém nem tão absurda assim, que ele já houvesse partido para outra enquanto ainda estava com sua amiga. A ideia de uma traição deixava So Ra tão irritada que quase podia se ver uma chama saindo do topo de sua cabeça, igual um daqueles bonequinhos do Divertidamente. Assim como ela, Ga Yeong já havia pensado na mesma coisa. “Será que ele me deixou por causa dela?”, era o questionamento que rondava os pensamentos de Ga Yeong. Entretanto, para So Ra, ver sua amiga tão abalada lhe quebrava o coração. Não queria ver Ga Yeong se machucando novamente por um homem que não valia a pena e se culpava por ajuda-la a tentar concretizar o seu plano. Estava bem óbvio que tentar reatar com Kyung Soo não traria nada de positivo para Ga Yeong, apenas mais uma cicatriz para lidar.
Ouviu Ga Yeong narrar todo o ocorrido de como descobriu sobre o relacionamento de Kyung Soo, desde o momento em que havia saído da entrevista de estágio e ele houvera segurado as portas do elevador para ela até a conversa e os toques mais íntimos que havia trocado com a mulher sedutora e esbelta sem se importar com a plateia que os observava. So Ra ouvia tudo como se estivesse consumindo a última fofoca do momento – o que não deixava de ser verdade. Segurando as mãos da garota à sua frente, pensou seriamente em recomendar que deixassem o plano de reconquistá-lo de lado.
– Ga Yeong... Você não acha que deveríamos deixar esse plano pra lá? – So Ra sugeriu, preocupada sobre o rumo que sua ideia poderia tomar. – Não vale a pena, você pode acabar mais machucada do que já está.
Ao contrário do que esperava, no entanto, Ga Yeong pareceu mais determinada do que antes. Agora, ao invés de querer apenas reconquistá-lo, a mesma queria pagar de fato na mesma moeda.
– Não, amiga... Agora eu quero é vingança.
Capítulo III
“Irmãzona,
Primeiramente, gostaria de avisar que estou chateada por não ter passado o final de ano conosco esse ano. Eu entendo que você esteja ocupada com a faculdade e o seu trabalho novo aí em Seul, mas faz parte da tradição familiar estar presente nesses eventos aqui em casa, então peço para que não falte novamente no ano que vem.
Estou ansiosa para começar o Ensino Médio. Muitos colegas da minha antiga escola estão agora no mesmo colégio que eu, mas soube que tem bastante gente da cidade vizinha vindo estudar na aqui também. Como você não veio passar o natal e o ano novo com a gente, eu não pude te mostrar o meu uniforme. A tia So Ah comprou de segunda mão, mas é bem novinho, nem parece que foi usado. O seu presente eu enviei pelos correios. Não sei se você já recebeu, então não vou dizer o que é pra não estragar a surpresa... Só que não é de comer, é de vestir.
Enfim, sinto saudades suas. Mande notícias com mais frequências e arranje um tempo pra falar com a gente.
Beijos,
Sua irmãzinha, Park Ga In.”
Ga Yeong leu a carta com um misto de saudade e divertimento. De fato, fazia um bom tempo que não entrava em contato com sua família. Parte do motivo era porque já não possuía o mesmo rosto de antes e explicar isso para sua irmã e sua tia lhe traria mais dor de cabeça do que desejava no momento, outra era porque, de fato, estava mais atarefada do que esperava. Desde que conseguira passar pelo processo seletivo da CS Publicity e se tornar uma estagiária, toda a parte de organização havia ficado por sua conta. Se alguém precisava de papéis, chamavam por Cha Se Young (o nome que tinha adotado em sua nova identidade), se precisavam de Xerox, era com Cha Se Young, um café? Por que não? Pede para Cha Se Young comprar. Basicamente, estava fazendo o papel de auxiliar e não de uma publicitária, de fato. Seus superiores, no entanto, não pareciam nem um pouco entusiasmados para ensinar alguma coisa prática que realmente fosse integrar positivamente em sua formação e para complementar, o mais próximo que havia conseguido chegar perto de Kyung Soo era quando o mesmo havia passado pelos corredores e todos abriam alas para que o mesmo passasse, como um rei passando entre os súditos.
Ainda assim, lendo novamente a carta, Ga Yeong pensou que seria mais prático se sua irmã apenas lhe escrevesse uma mensagem de texto. Devia estar chateada por não ter comparecido à festa de natal que era praticamente algo sagrado em sua família. A carta datava meados de fevereiro e só havia chegado até a mesma quase dois meses depois porque havia sido extraditada. Como seu endereço e seu nome não eram mais os mesmos, teve que provar novamente que era a destinatária da carta para que pudesse finalmente ler seu conteúdo. A essa altura do campeonato, sua irmã já devia ter começado o ensino médio há pelo menos um mês e meio. Perguntava-se como estava indo com os estudos e com o relacionamento com sua turma. Ga In sempre teve um talento natural para as ciências exatas, sempre foi amante de matemática e se mostrava excepcional nesse campo. Não duvidava que não teria problemas quanto a isso, mas se preocupava se estava sendo bem tratada por seus colegas. Ga Yeong sofrera bastante durante o Ensino Médio e sempre fora bastante isolada por seus colegas. Sabia que Ga In tinha suas amizades, mas se preocupava que a realidade da irmã pudesse ser tão parecida com a dela quando tinha sua idade.
Um bloco de papéis exaustivamente grande pousou sobre sua mesa, pegando-a de surpresa. Kang Min Ji, uma das funcionárias, que desde que havia sido contratada pela agência não havia ido com a sua cara, “pediu gentilmente” que entregasse a papelada para seus respectivos departamentos. Suspirou, cansada e acenou positivamente antes de se levantar e carregar a papelada para o elevador. Definitivamente, não reclamaria mais sobre ser a menina do café, era bem melhor do que ser o burro de carga da equipe.
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– Você vai realmente abrir mão do seu horário livre pra ficar ensinando matemática pros outros? – Kim Ji Nah parecia incrédula e decepcionada. Era raro estudantes do ensino médio terem algum tempo livre nos dias de aula e a turma de sua amiga havia sido presenteada com aquele presente dos deuses. Ainda assim, sua amiga Ga In parecia louca o suficiente para desperdiçar esse presente para se afundar em mais trabalho.
– Sim, eu vou... – Ga In sorriu divertidamente enquanto pregava o folheto sobre as aulas de matemática no quadro de avisos.
Sendo da turma avançada, mesmo tendo entrado há pouco tempo no colégio, já estava por dentro de boa parte da matéria do primeiro e segundo ano. Ensinar alguém de seu próprio ano ou do ano seguinte não seria um grande desafio. Ga In era a irmã mais nova de Ga Yeong e vivia na ilha de Jeju com sua tia, Kim So Ah. Sua tia a criava como uma filha. Tendo se tornado viúva cedo, nunca teve filhos e nunca se casou novamente. Tinha uma vendinha de frutos do mar e era bastante conhecida por ser bastante simpática e sociável entre os habitantes da pequena ilha.
– Vai ser bom pro meu currículo, eu posso ter mais chances de ganhar uma bolsa de estudos se fizer trabalhos voluntários.
– Mas precisa mesmo gastar sua folguinha por isso? – Ji Nah fez uma careta, puxando o braço de sua amiga para ganhar sua atenção.
– Não é como se eu fosse fazer outra coisa além de estudar no meu tempo livre, de qualquer forma. – Ga In respondeu. Sua amiga balançou a cabeça como se estivesse decepcionada.
– A vida não é feita apenas de estudos, Ga In... Você deveria pôr uma minissaia e ir pra alguma festa comigo. É assim que adolescente vive... – Tentou convencê-la. Percebendo-a tão intransigente, acabou desistindo. – Um dia eu juro que a sua cabeça vai inflar igual um balão de tanto conhecimento.
Ga In não pôde deixar de rir e respondeu divertidamente a amiga.
– Isso seria biologicamente impossível por determinadas questões...
– É uma expressão, amiga. Apenas uma expressão. – Ji Nah deu dois tapinhas leves em seu ombro, tendo em vista que a amiga não havia entendido a piada.
Uma movimentação repentina nos corredores chamou a atenção das duas. Os burburinhos se tornaram mais alto e como em uma cena de filme, as pessoas abriam passagem para que os rapazes passassem. Boa parte dos gritinhos empolgados e do agitação vinha por parte das meninas, empolgadas com os rapazes do time de baseball da escola. Na realidade, provavelmente estavam mais empolgadas com a aparição do capitão do time. Son Oh Joon era como o sonho inalcançável de toda garota do Ensino Médio. Era o seu segundo ano no time e já havia se mostrado um calouro com potencial desde seu primeiro ano, se tornando o capitão mais jovem da história do time, além de ter se tornado titular tão rapidamente que havia ajudado seu time a ganhar a taça das intermunicipais em seu primeiro jogo. Obviamente esses detalhes somente complementavam o quão maravilhoso poderia ser Son Oh Joon. Sua aparência era, no entanto, o que fazia qualquer menina cair de amores por si.
Alto, forte, levemente bronzeado e com um sorriso cativante, Son Oh Joon poderia ser de longe considerado o rapaz mais bonito de sua escola. Essa combinação o tornavam a pessoa mais popular daquela instituição, era impossível que até mesmo os cães de rua não soubessem quem ele era. Seguindo o comportamento do restante, Ji Nah e Ga In se afastaram para que os mesmos passassem. Assim que o time sumiu dos corredores, Ji Nah agarrou os ombros de Ga In em uma súbita empolgação, como se a passagem dos rapazes houvessem feito com que tomasse um choque de adrenalina.
– Ai, Son Oh Joon é tão perfeito... – Ji Nah suspirou. – Não entendo como a Lee U Jin pôde desfazer de um homem tão... – E suspirou novamente. Ga In lhe lançou um olhar interrogativo, tão confusa quanto um cão perdido.
– Quem? – Ji Nah olhou-a com incredulidade.
– Amiga, Son Oh Joon! Capitão do time de baseball! Todo mundo conhece ele! – Percebendo a indiferença nos olhos de sua amiga, Ji Nah suspirou em desistência. Concluiu, enfim, que a solução para a falta de atualização das fofocas de sua amiga fosse apenas uma: – Céus, você precisa esquecer um pouco os seus estudos!
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Os braços de Ga Yeong, àquela altura do campeonato, já estavam bastante doloridos. O pior, no entanto, é que ainda faltavam muitas horas para o final do expediente. As quartas eram especialmente mais longas, já que eram o único dia que precisava trabalhar integralmente para compensar a folga que tinha às sextas. Desde que havia entrado na agência, já havia despachado uma boa quantidade de documentos, movido alguns outros para o armazenamento, enviado alguns por correio e agora estava encarregada de comprar o café de todos os funcionários, o que significava que não teria muito tempo para almoçar pelo tempo perdido se deslocando da agência para a cafeteria preferida dos seus superiores e ter que fazer o caminho inverso novamente. Decidiu parar em uma lanchonete para pedir um sanduíche simples antes de ir comprar o café de seus colegas e assim que teve seu pedidos em mãos, rumou para a cafeteria, comendo seu sanduíche enquanto esperava aprontarem o café de seus colegas. Tão logo terminou seu almoço, o pedido ficou pronto. Ga Yeong tomou o pedido em mãos e rumou de volta para a agência.
O prédio onde ficava situada a CS Publicity ficava no centro da cidade, mas não era inteira da agência. Mesmo com o grande crescimento da corporação, ainda não tinham um prédio independente, mas em si já era um grande feito terem recursos o suficiente para se alocarem no prédio mais caro da cidade, com a melhor localização entre tanto outros. Ga Yeong cumprimentou com um aceno o porteiro antes de passar pelas portas giratórias. Apalpou o bolso à procura de seu celular quando percebeu que o mesmo não estava ali. Teria esquecido o mesmo na lanchonete? Na cafeteria? Todos os seus contatos e cópias de documentos importantes estavam armazenados nele. Deu a volta em seus calcanhares, pretendendo voltar pelo mesmo caminho que havia passado sem se dar conta que alguém estava no espaço anterior a ela nas portas giratórias. O vidro foi de encontro ao rosto do rapaz que instantaneamente pousou uma de suas mãos na testa dolorida.
– Oh, céus! Desculpe-me! – Ga Yeong se afastou da porta, abrindo passagem para que o rapaz pudesse finalmente entrar. Atrás dele, uma algumas pessoas entraram logo em seguida.
– Senhor Lee, você está bem? – Uma mulher que parecia ser sua assistente logo se adiantou. O homem acenou positivamente e respondeu de maneira suave.
– Sim, foi apenas um acidente, não foi nada demais. – Ele tranquilizou sua equipe.
– Mil desculpas novamente, eu estava com pressa. Deveria ter prestado atenção para onde ia. – Ga Yeong fez uma pequena mesura. Como se suas desculpas formais não fossem suficientes, decidiu caçar o café que havia escolhido para si e dar ao homem. – É para compensar meu erro. Desculpe novamente e tenha um bom dia.
Antes que o rapaz pudesse aceitar ou recusar a bebida, a garota fez uma mesura novamente e rumou para as portas giratórias, alcançando a fachada em segundos. Esperava que alguma alma caridosa houvesse encontrado seu celular e o guardado ou então poderia dar adeus à todos os arquivos salvos em seu celular. Apenas a ideia de ter que arranjar um modo de recuperar tudo a deixavam cansada. No entanto, antes mesmo de voltar seu caminho para a cafeteria, o porteiro a cortou, se aproximando com o objeto que já lhe causava ansiedade.
– Senhorita! – O porteiro lhe estendeu o celular com um sorriso simpático. – Um rapaz deixou isso aqui agora pouco, disse que viu cair de seu bolso quando estava atravessando a rua.
– Muito obrigada, eu estava procurando exatamente por isso. Achei que pudesse ter perdido de vez. – O peso do desespero de segundos atrás haviam desaparecido como num toque de mágica. Jurou para si mesma que faria sincronização de tudo para a nuvem assim que tivesse tempo. – Minha vida está toda aqui dentro.
A mulher agradeceu mais um vez antes de pegar o elevador. A agência parecia estar em caos quando Ga Yeong chegou ao andar de seu departamento. Seus colegas pareciam estar mais aflitos que o normal, organizando alguns documentos para o que parecia uma reunião de emergência. Assim que Kang Min Ji a avisou, logo tratou de empurrar mais algum serviço para a mesma – como se fosse realmente deixar de torturá-la um minuto por seu bel prazer.
– Yah, estagiária! Porque demorou tanto? – Min Ji estalou a língua ao olhar para Ga Yeong. – Esqueça, apenas traga água para a sala de reuniões e faça dez cópias dessa apresentação, rápido!
Min Ji apenas entregou o documento para a garota e sumiu entre as portas de madeira que levavam à sala de reuniões da empresa. Percebendo que ninguém mais tinha interesse nas bebidas, se adiantou, deixando o café de lado e levou os papéis, uma pilha simples com menos de dez folhas para a sala de cópias. Enquanto esperava que a máquina terminasse seu serviço, deixou-se vencer pela curiosidade e folheou o documento que lhe foi confiado. Tratava-se de um planejamento simples, porém bem elaborado de um comercial sobre um notebook dois em um. Estava bem explícito o que seria feito, quem seria cotado para determinados papéis, o orçamento e tudo o que se tinha direito. Enquanto analisava o material, Ga Yeong podia visualizar em sua mente a execução da propaganda, entretanto, parecia que faltava algo que pudesse complementar e atrair de fato a atenção das pessoas.
– Sabia que a curiosidade matou o gato? – Ga Yeong quase soltou um grito pela surpresa de ter sigo pega fuxicando o que não era de sua conta. Virou-se dando de cara com Yoo Na.
– Oh, céus... Por um minuto eu achei que fosse a senhorita Kang. – Sentiu seu coração acelerado ao tempo em que sua colega dava uma risada discreta.
Shin Yoo Na fazia parte do departamento de imagens. Normalmente fazia edições e criava personagens animados para comerciais de jogos. Assim que Ga Yeong havia sido contratada como estagiária, Yoo Na havia sido efetivada como funcionária em tempo integral. Conheceram-se quando Ga Yeong levava alguns documentos para seu departamento. O amor de Ga Yeong por animes e HQ’s logo fizeram com que as duas se aproximassem, o que acabou sendo algo realmente vantajoso para ambas. Yoo Na costumava ser muito fechada e dificilmente conseguia desenvolver um bom relacionamento com seus colegas por sua timidez, enquanto Ga Yeong, que quase era invisível aos olhos de seus superiores, precisava de uma aliada com quem contar dentro da empresa.
– Eu não entendo o que fiz para merecer tamanha ofensa. – As duas riram. Assim que a máquina apitou, Ga Yeong recolheu as cópias e as duas abandonaram a sala. – Soube que o Lee Seung Ri veio de surpresa para saber sobre o comercial.
– Quem? – Ga Yeong pareceu confusa por um minuto. O nome em si não lhe era estranho, mas não se recordava de onde pudesse tê-lo ouvido.
– Lee Seung Ri... – Yoo Na fez um maneio com a cabeça, apontando para os papéis que segurava. – CEO da IT Tecnology, uma das maiores empresas de tecnologia do país. – Ga Yeong encarou os papéis, pensando que talvez houvesse lido o nome em algum documento por aí. – Ele está levando o departamento de publicidade à loucura. Já é a terceira vez em dois meses que ele rejeita uma proposta de comercial. – Disse Yoo Na, isso explicava o alvoroço de mais cedo. – E ele é quem está participando pessoalmente desse projeto, então está sendo especificamente exigente sobre isso.
Ga Yeong pensou se poderia haver algum motivo especial por detrás disso. Era muito raro que um presidente de alguma corporação participasse de algum projeto pessoalmente quando tem tantas pessoas abaixo de si que pudessem fazer a mesma função. Ao chegar à cozinha da empresa, pegou algumas garrafas de água e as colocou em um carrinho de bar, junto com alguns copos. Uma música suave soou do celular de Yoo Na que logo o atendeu. Ela trocou algumas rápidas palavras com alguém e então se despediu, roubando um biscoito do pote de doces no caminho. Ga Yeong conduziu o carrinho para a sala de reuniões, onde a equipe de publicidade ajeitava o projetor para começar a reunião. A sala era simples e continha apenas uma grande mesa retangular com espaço suficiente para dez pessoas.
Enquanto seus superiores ocupavam as quatro cadeiras nas extremidades mais próximas à tela do lado direito, a figura de um homem charmoso, com um ar de leve indecência logo capturou a atenção de Ga Yeong. Estava ali Kyung Soo, em carne, osso e canalhice. Ocupava a segunda cadeira do lado direito enquanto na ponta da mesa, no ponto mais privilegiado estava o cliente exigente que deixava seu departamento com os pêlos eriçados. Qual foi a surpresa de Ga Yeong ao constatar que aquele homem era ninguém além do estranho que havia acidentalmente acertado com a porta giratória minutos mais cedo? Com o tanto de gente ao seu redor, deveria ao menos ter imaginado que aquele homem era alguém importante. Parecia que seus dois neurônios não tinham forças nem pra fazer um raciocínio simples.
“De tanta gente para esbarrar, tinha que ser logo com o cliente exigente?”, Ga Yeong se martirizou enquanto distribuía as apostilas entre as pessoas sentadas na mesa. Enquanto Min Ji começava a sua apresentação sobre o conceito do comercial, Ga Yeong distribuía os copos e as garrafas de água. Postou-se por um segundo ao lado do cliente, abrindo a garrafa para despejar seu conteúdo no copo, como demandava as boas maneiras, mas foi interrompida quando o rapaz colocou uma mão sobre o recipiente. O mesmo levantou um copo descartável de café onde reconheceu seu nome, o novo nome, escrito do lado de fora.
– Alguém me já deu algo para beber mais cedo. – A voz do rapaz soou gentil e simples, o que fez com que Ga Yeong corasse. Havia sido ela a pessoa a dar seu café para o mesmo, para compensar sua conduta desastrada.
Apenas assentiu timidamente com a cabeça, se direcionando para Kyung Soo. Os olhares dos dois se encontraram enquanto a mesma abria uma garrafa para encher seu copo e acabou se sustentando por mais tempo do que podia aguentar. Mesmo desviando os olhos, sentia o olhar de Kyung Soo queimar sobre si. “Será que ele me reconheceu? Impossível, eu não me pareço mais com a Ga Yeong que ele conhecia...”, mas ainda assim, não conseguia encontrar um motivo lógico pelo qual subitamente o rapaz parecesse ter um interesse incomum em si. Os pensamentos continuaram a permear sua cabeça enquanto terminava de servir toda a equipe. Recostou-se em uma parede mais distante, caso eventualmente a solicitassem, enquanto acompanhava a apresentação da proposta. Mais uma vez, o cliente não pareceu nem um pouco satisfeito com a proposta. A ruga que se formava entre suas sobrancelhas evidenciavam bem isso.
– Ainda não é o que eu pensei... A ideia em si não é ruim, mas falta alguma... Essência... – Ga Yeong podia apostar pela expressão de Min Ji que ela queria mostrar para ele onde iria enfiar a essência que ele queria.
No entanto, o pensamento de Ga Yeong era similar ao do cliente. Faltava algo, algo que apelasse para o sentimental, que destacasse o produto entre a concorrência. Era comum que comerciais de computadores sempre focassem no público jovem, que apostassem em conceitos clean e minimalistas. A receita era simples e funcionava bem na maior parte do tempo, mas não era o que o cliente esperava. Não era algo que atraída o público de maior idade.
– Um conceito focado na família seria melhor... – Ga Yeong pensou consigo mesma, ou pelo achou que tinha pensado. A atenção de todos se voltou para a mesma que pareceu despertar de seus pensamentos. Como sempre, estragando tudo.
O cliente pareceu pensativo, mas sorriu de leve e assentiu com a cabeça.
– Família... A ideia me agrada. – Revelou. A equipe pareceu surpresa por ter algo finalmente ter agradado o CEO da IT Tecnology. – Gostaria de ver um plano com esse conceito. – A equipe ainda parecia um pouco estupefata, mas acatou os pedidos do cliente. – Ah, mais uma coisa... Você faz parte da equipe? Queria que participasse do projeto, você foi a única que sugeriu algo mais próximo do que eu estava pensando.
Ga Yeong demorou a entender que o rapaz falava com ela. Piscou algumas vezes antes de responder.
– Eu... Sou apenas uma estagiária... – Brincou com os dedos, sentindo-se levemente ansiosa. Não sabia o que passava pela mente do rapaz, que havia desviado o olhar para o copo de café, agora vazio, que pairava sobre a mesa.
– Acho que serve. – Respondeu com simplicidade e se voltou para Kyung Soo. – Então, acredito que até a próxima semana podemos ter uma nova reunião?
– É claro. – Kyung Soo respondeu com uma confiança exacerbada.
Depois que o cliente e sua equipe se foram, a equipe de publicidade continuou na sala discutindo os detalhes da reunião. Havia aqueles que se sentiram minimamente ofendidos por uma novata ser colocada como uma profissional mais capaz do que eles, e havia outros que se sentiram um pouco mais aliviados por finalmente avançarem um passo com um cliente tão exigente. Min Ji era aquela que estava no primeiro grupo, detestava a ideia de trabalhar como igual com a estagiária. Desde o momento em que Ga Yeong havia sido contratada, havia criado uma antipatia fora do comum com a mesma. Talvez por se sentir ameaçada, não sabia exatamente. O problema era que se Ga Yeong se mostrasse alguém realmente habilidosa, não duvidaria que alguém poderia ser descartado para que pudesse dar lugar à ela. Na pior das hipóteses, poderia ser seu pescoço que estaria na reta. Ainda assim, Min Ji tentava argumentar sobre a aquisição de Ga Yeong na execução do projeto.
– Senhor Hwa, ela não tem experiência, é um trabalho grande demais para uma novata participar. Ela pode colocar tudo a perder... – Kyung Soo o queixo, um ar levemente entediado enquanto encarava uma Min Ji prestes a dar um surto histérico.
– É a escolha do cliente. – Deu de ombros. – Apenas façam da maneira que ele deseja e façam um trabalho bem feito. Não queremos frustrar um cliente desse porte por uma quarta vez.
Kyung Soo se levantou de forma preguiçosa. Seu olhar se cruzou com o de Ga Yeong por uma última vez antes de abandonar a sala. A equipe saiu logo em seguida, alguns murmurando sobre o quão cansados estavam e sobre querer desistir do trabalho. Min Ji não pode deixar de fuzilar Ga Yeong com os olhos ao passar por último. Como se tivesse esquecido de respirar por alguns segundos, Ga Yeong soltou o ar de seus pulmões e se deixou amolecer. Todos os acontecimentos foram rápidos demais para que sua mente pudesse processar. Em poucos momentos havia virado parte de um projeto de grande magnitude, finalmente tinha tido um contato mais direto com seu ex – cujo qual desejava se vingar – e sentia que havia virado oficialmente o objeto de ódio de sua supervisora, Park Min Ji, sem contar a maneira como o cliente havia se referido a ela, com tanta simpatia.
Balançando a cabeça para dispersar aqueles pensamentos, logo se agilizou para arrumar a mesa. Recolheu as garrafas e os copos que haviam sido deixados no local, se atentando ao copo descartável de café que deveria ter uma capinha de papel protetora ao seu redor com o seu nome escrito. Perguntou-se onde poderia ter parado a capinha que o envolvia, mas voltou aos afazeres, logo depois fechando a sala.
Capítulo IV
Han Na segurava o resultado do exame em mãos. O resultado não a surpreendera, mas a deixava frustrada. Era o terceiro resultado negativo para o teste Beta HCG que recebia em menos de dois meses. Tudo o que Han Na queria era apenas engravidar. Outras mulheres conseguiam isso com tanta facilidade e porque ela não? Ela precisava de um filho. Uma criança seria sua garantia a, pelo menos, uma parcela da fortuna de Kyung Soo. No momento em que o rapaz havia a pedido em casamento, o mesmo havia deixado claro que o casório aconteceria apenas com uma condição: separação total de bens. Isso frustrava os planos de Han Na. Sabia que, no momento em que se cassasse com Kyung Soo, era bem provável que viveria no luxo e não precisaria ter acesso à sua fortuna para isso, mas conhecia bem os homens e sabia que poderia ser chutada em qualquer momento. Para se prevenir desse risco, queria pelo menos levar metade de tudo o que o pertencia.
Porém, com essa condição, não possuía garantias e nem teria acesso a tanto dinheiro, a menos, é claro, que tivesse um filho com seu noivo. Poderia ter pelo menos acesso a uma pensão bem gorda, o suficiente para viver da maneira como tanto gostava, cercada de luxo e riquezas. Entretanto, com a descoberta de que possuía endometriose, uma doença uterina que dificultava a concepção, viu esse plano ir por água abaixo. Semanalmente visitava seu médico acerca de sua condição e fazia tratamentos hormonais para tentar engravidar, mas até então nada havia funcionado. Essa frustração a deixava a beira da loucura. Sentia que se fosse em frente com o casamento, Kyung Soo estaria tirando mais benefício de si do que estaria tirando dele. Era bem claro para os dois que o relacionamento não se baseava em sentimentos genuínos de amor, era apenas uma espécie de contrato onde os dois tinham algumas vantagens: para ele, teria uma imagem reformada perante a mídia; para ela, teria uma vida luxuosa do jeito que queria e para ambos, uma companhia onde poderiam desfrutar dos prazeres carnais em tempos vagos. Colocou o exame em sua bolsa, saindo da clínica e pegando um táxi em direção ao centro da cidade.
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O clima na empresa parecia mórbido demais, como se houvessem anunciado a morte de Terry Crews e toda a nação estivesse de luto. Alguns pareciam irritados demais, outros desanimados, mas continuavam trabalhando, focados em seus próprios afazeres. Han Na se espreitou para a mesa de Min Ji que não parecia tão diferente do restante. As duas possuíam uma amizade desde que passaram juntas na mesma entrevista. Para Han Na, Min Ji era seus olhos e ouvidos dentro da empresa. Desde que havia se tornado a mulher do CEO, não se via obrigada a trabalhar com a mesmo empenho que o restante da equipe.
– Aconteceu alguma coisa? – Han Na olhou ao redor, conversando num tom baixo com Min Ji. A outra apenas suspirou cansada e frustrada, logo lhe dando maior atenção.
– Nosso cliente favorito nos deu o ar de sua graça hoje. – Han Na sabia bem de quem estavam falando. Lee Seung Ri era bastante conhecido por ser exigente e perfeccionista entre os funcionários. Só havia cruzado com o rapaz uma única vez pelos corredores da empresa e uma vez em um jantar beneficente. Nunca diria que o mesmo era um CEO bem sucedido. Apesar das vestes elegantes, lhe faltava o ar arrogante e presunçoso que a maioria dos ricos possuíam.
– Ele rejeitou a proposta de novo? – A pergunta soava como uma confirmação. Min Ji assentiu, mas a fonte de sua frustração era outra.
– Sim, só que a estagiária falou mais do que deveria e ele pediu para ela ajudar na próxima proposta. – Han Na reconhecia bem o complexo de inferioridade que sua amiga carregava em relação à estagiária.
Cha Se Young havia sido contratada com um currículo invejável e uma carta de recomendação de sua instituição de ensino, uma das universidades de maior prestígio de Seul. Era bem óbvio que Min Ji se sentia ameaçada pela possibilidade da novata tomar seu lugar na empresa. A maneira mais fácil de fazer com que isso não acontecesse era sabotando sua chance de crescer dentro da agência, deixando de delegar funções importantes que a possibilitassem mostrar seu potencial. Dentro da sala de reuniões, a garota terminava de arrumar a mesa e abrir as persianas que cobriam a visão para dentro da sala. Assim que se sentiu ser observada, a garota interrompeu suas ações e olhou diretamente para Han Na. Não soube dizer se estava acanhada, ela apenas fez uma rápida reverência com a cabeça e terminou suas tarefas, fechando a sala.
– Ela é insuportável e agora vou ter que trabalhar com ela de igual para igual. – Reclamou mais uma vez. Entretanto, Han Na estava mais instigada sobre a mulher que havia acabado de sair da sala. Acreditava já tê-la visto antes, mas não se lembrava de onde.
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– Deveria se envergonhar por deixar uma mulher velha esperando. Eu poderia estar morta quando você chegasse. – Lee Seung Ri não pode deixar de dar uma risada. A senhora Lee Doo Na era sempre bastante dramática. Sequer tinha chegado à casa dos setenta anos e já falava como se fosse enfartar a qualquer momento e deixar esse mundo. A idosa tinha a saúde e a teimosia de um touro, não seria qualquer coisa que a derrubaria.
– É mais fácil a rainha da Inglaterra bater as botas antes da senhora, mãe. – Seung Ri depositou um beijo em sua testa. Ao lado da mãe, sua irmã, Seung Ja, parecia entretida em confirmar alguns compromissos por telefone. Apertou de leve seu ombro em um cumprimento silencioso recebendo um sorriso como resposta. Não demorou muito para que a mulher desligasse o celular e voltasse a atenção para a interação em família. – O momento da refeição é sagrado, não deveria tocar em trabalho enquanto está na mesa.
Seung Ja deu uma risada leve com divertimento. Guardou o aparelho em sua bolsa que estava em uma cadeira ao seu lado e cruzou os dedos sobre a mesa.
– Eu realmente não devo ter nenhuma moral para receber bronca do meu irmão mais novo. – Comentou, tomando um pouco de seu suco. Sua fala havia feito Seung Ri rir.
As duas mulheres haviam aguardado que o rapaz chegasse para almoçarem. Por conta de seu atraso, apenas haviam pedido apenas uma entrada. Assim que Seung Ri se sentou à mesa, ao lado da mãe no lado oposto da mesa em que sua irmã estava, os empregados da casa se adiantaram para servir a família. Tão logo o almoço havia sido servido, o rapaz sentiu falta de um dos integrantes da família.
– Joon Young está na casa do Kyung Joon. – Seung Ja não quis entrar em muitos detalhes. Havia poucas semanas que havia concluído o processo de divórcio com Kyung Joon, mas estavam separados há mais tempo.
O casamento durou longos dezessete anos entre trancos e barrancos, ou melhor, mais barrancos do que trancos até que sua irmã finalmente decidisse pelo divórcio. O que a motivou a isso foram as diversas traições de Kyung Joon. O mesmo sequer se negou a esconder o adultério, pelo contrário, ainda havia a humilhado, sugerindo que apenas havia trocado Seung Ja por um “modelo mais novo”. A nova madrasta de seu filho parecia ter recém saído do ensino médio, tinha apenas vinte e dois anos e um belo par de seios, não muito diferente das outras amantes que tinha tido durante todos aqueles anos. O processo de separação havia sido bastante doloroso e devastador para Seung Ja, além de que a relação abusiva havia destruído boa parte de sua autoestima. Apesar de ter feito quarenta anos recentemente, possuía uma beleza invejável e um corpo estonteante que escondia por detrás de roupas fechadas e entediantes.
Joon Young, o único fruto que considerava positivo de seu relacionamento com Kyung Joon, era mais parecido consigo do que com seu antigo parceiro, tanto fisicamente quanto em personalidade. O rapaz tinha apenas quinze anos e possuía uma beleza notável, era um bom aluno, mas era mais quieto e reservado, até mesmo com sua própria família. Apesar da tamanha semelhança, no entanto, não possuíam o melhor dos relacionamentos. Desde que Kyung Joon havia se mudado, percebeu que não conhecia muito seu próprio filho. Por se manter sempre tão ocupada com o trabalho, havia negligenciado sua função como mãe diversas vezes, o que havia apenas fortalecido os laços de seu filho com o pai. Por consequência, desde o seu divórcio, seu filho se mantinha distante o máximo que podia, mesmo que a guarda do garoto fosse dela. Sentia que Joon Young a culpabilizava pelo fracasso de seu casamento, afinal, se fosse mais presente, provavelmente Kyung Joon não teria procurado suprimir a falta dela em outro relacionamento.
No fundo, Seung Ja acreditava nisso também, mesmo que Seung Ri, o único que realmente a apoiou durante todos os momentos difíceis lhe apontasse o contrário. Sua mãe, mesmo que nunca tenha gostado realmente de seu ex-marido, havia sido contra o divórcio. Para ela era um ultraje uma mulher se divorciar, era como se houvesse falhado no dever de ser uma esposa. Seus filhos sabiam bem como sua opinião antiquada não era incomum na sociedade em que viviam, mas ainda assim isso trazia alguns conflitos entre as duas mulheres. Sobrava, na maioria das vezes, a função de acalentar os ânimos exaltados para o irmão mais novo. No entanto, não era apenas Seung Ja que era alvo dos comentários impertinentes de sua mãe. A idosa pescou um pedaço do filé mignon em seu prato, voltando-se para o caçula da família Lee.
– Arranjei um encontro para você com a filha mais nova de um amigo da família. Você o conhece, ele é o diretor executivo da Monarch Company. – Anunciou. Não havia muita surpresa nisso, já que era frequente que a matriarca da família arranjasse esses encontros.
Seung Ri evitou revirar os olhos. Sua mãe insistia que deveria se casar, uma vez que “estava passando da idade de se estabelecer com alguém”. Periodicamente, lhe arrumava alguns encontros com mulheres, a maioria filhas de grandes empresários, e o desfecho era sempre o mesmo: sentia-se frustrado por sempre encontrar mulheres com pensamentos bem fúteis. Talvez fosse um pensamento um tanto ingênuo de sua parte, mas gostaria de conhecer uma pessoa que pensasse em algo mais além do que a junção de duas grandes fortunas. Não que fosse um romântico incorrigível, mas queria se envolver com alguém por quem realmente nutrisse um sentimento e esperava ser correspondido. Costumava ir aos encontros por consideração à mãe e era cortês com as pretendentes, mas até então nunca havia tido interesse por qualquer uma das mulheres com quem havia se encontrado. Tendo percebido a insatisfação do rapaz, a idosa logo se adiantou com o mesmo discurso que o filho já conhecia de cor.
– Você precisa se casar, já tem trinta anos. Se não se casar logo, quando terá filhos? – Doo Na questionou, ranzinza. – Quero morrer depois de ver meus netos.
– Desse jeito, você magoa os sentimentos do Joon Young... – Brincou. A idosa se reiterou. Tinha um grande afeto por seu único neto e isso era inegável, mas tinha preocupação por ser mal compreendida pelo recente divórcio de sua filha. Seung Ri tomou a mão de sua mãe, agora falando com mais seriedade, apesar do tom de voz ameno. – Eu irei para esse encontro, mas não espere nada mais do que apenas isso de mim.
Apesar de não estar satisfeita com a resposta, a idosa não entrou em uma discussão. Após o almoço, os filhos da família Lee se despediram de sua mãe, uma vez que precisavam voltar às suas atribuições na empresa. Decidiram retornar no carro de Seung Ja, uma vez que iriam para o mesmo destino, deixando o carro de Seung Ri aos cuidados de seu motorista.
– Sabe que a mamãe não vai sossegar até te ver casado... – Seung Ja parecia mais relaxada após deixar a mansão da família. Durante o almoço quase havia entrado em uma nova discussão com a matriarca, mas Seung Ri havia se adiantado para acalmar as duas.
– Eu ficaria surpreso se ela desistisse da ideia. – Comentou com certo humor. – A senhora Doo Na é teimosa demais. Não é atoa que vocês brigam tanto, são muito parecidas.
Sentiu que Seung Ja lhe estapeava com os olhos, mas não ouviu uma objeção sobre isso. Ambas as mulheres eram muito fiéis aos seus pensamentos, por isso frequentemente se chocavam quando discordavam de alguma coisa.
– De qualquer maneira, mas não vai machucar ir à esse encontro. A pessoa com quem me encontrarei também vai estar dispondo do tempo dela para isso, além de que não é muito educado cancelar ou deixar a pessoa esperando. – Para Seung Ri já havia se tornado um costume nos últimos tempos. Sempre era cortês quando rejeitava as pretendentes.
– Não querendo dar uma de intrometida como a mamãe, mas me pergunto quando alguma mulher atrairá seu interesse. – Seung Ja confessou. Ainda que defendesse os interesses do irmão mais novo, ainda assim ficava curiosa sobre isso.
Seung Ri deu um leve sorriso, absorto em pensamentos. Procurou no bolso de seu blazer o papel que envolvia o café que havia recebido da mulher com quem havia esbarrado algumas horas mais cedo. Em um garrancho de quem provavelmente havia escrito com pressa, havia o nome Cha Se Young. A gentileza e a timidez da mulher eram algo que a tornavam adorável à primeira vista. Quando a mesma traduziu o sentimento que procurava para o seu projeto, isso o atraiu e soube imediatamente que precisava de alguém como ela na equipe que produziria a propaganda de seu material. Entretanto, também se pegava pensando no quão intrigante era a mulher que havia lhe acertado com as portas giratórias.
– Quem sabe? – Refletiu enquanto brincava com o pedaço de papel em mãos. – Talvez isso aconteça mais cedo do que você pense...
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– Rapaz... Um zumbi parece mais vivo do que você... – Do Ji Soo sentiu cheiro de café antes de alguém se apoiar em seus ombros. Para se aproximar com tanta intimidade, sabia que era Hae Kook, seu colega de trabalho.
Ji Soo trazia uma pilha de contratos revisados para serem assinados pela diretora executiva que ainda não tinha voltado. Seu trabalho como assistente pessoal era bastante corrido e cansativo, colocava-o como uma espécie de garoto de entregas, levando e trazendo documentos a cada minuto, marcando compromissos na agenda de sua chefe, entre outras tarefas. Até algumas semanas atrás, Ji Soo não tinha muitos problemas quanto às suas funções, mas desde que sua esposa, Do Mi Nah, havia dado a luz à filha do casal, a rotina da família havia o desgastado enquanto tentava equilibrar suas responsabilidades de pai com a rotina profissional. Embora sua esposa fosse quem tomava conta da criança pela maior parte do tempo, por conta do período de amamentação, ainda assim auxiliava a esposa com os cuidados com o bebê, muitas vezes interrompendo o sono pela madrugada para alimentar, limpar e aninhar sua filha e no dia seguinte precisando acordar cedo para trabalhar.
– Eu não dormi muito bem ontem... – Ji Soo admitiu, parecendo um pouco mal humorado, diferente do habitual. Antes que pudesse falar algo mais, Hae Kook comentou com certo humor malicioso.
– E não parece que perdeu o sono fazendo... Bom... Você sabe o quê. – O mesmo bebericou de seu café o olhando com divertimento.
Para Ji Soo, o que mais o frustrava além da rotina cansativa era a ausência de intimidade entre o casal. Desde que sua esposa havia entrado no terceiro trimestre de gravidez até o momento atual, não haviam tido oportunidade para uma relação mais íntima. O puerpério para Do Mi Nah estava se mostrando um período difícil e sua recuperação do parto seguia-se mais lenta que o esperado, o que frustrava Ji Soo quanto às suas necessidades.
– Eu não vou comentar sobre a minha intimidade com você. – Ji Soo se desviou do assunto.
Isso apenas fez com que Hae Kook risse com divertimento. Sendo um homem solteiro com vinte e dois anos, o rapaz gostava de aproveitar bem seu tempo livre indo à boates e visitando a cama de diversas mulheres, o que significava que a vida de pai de família de Ji Soo, que era apenas três anos mais velho, era quase um entretenimento para o mesmo. Queria evitar casamento e filhos o máximo que pudesse, gostava de viver daquele modo. Seguiram em uma conversa trivial enquanto voltavam para o departamento financeiro ao mesmo tempo em que a diretora executiva se aproximava pelos corredores. Usava um terninho na cor castanho escuro sob um sobretudo preto um tanto sem graça e os cabelos presos num coque severo. Enquanto passava pelos corredores, os empregados a cumprimentaram com polidez. A mesma sumiu em sua sala, como normalmente fazia. Ao contrário da fama de simpático e benevolente do CEO da IT Tecnology, a diretora executiva era colocada como uma chefe bastante rígida e antipática. Mesmo que nunca houvesse abusado de sua autoridade com os funcionários, muitos acabavam andando na corda bamba com a mesma por ser bastante exigente quanto à qualidade do serviço de seus subordinados.
– Essa mulher me dá arrepios. – Comentou Hae Kook fazendo uma careta. – Tem um corpo incrível, mas é arrepiante. – Ji Soo franziu o cenho quanto ao comentário do amigo. Percebendo o estranhamento do rapaz, ficou tentado em provoca-lo. – Ah, qual é, não me diga que nunca reparou naquele corpão?
Ji Soo nunca havia reparado, pelo menos não até aquele momento. Nunca havia visto sua chefe com outro olhar, havia uma leve antipatia causada pela relação profissional que possuíam que o cobria de enxerga-la de outra forma, mas não pôde deixar de refletir depois do que amigo disse. De fato, a diretora executiva possuía uma beleza notável, ainda mais para uma mulher com seus quarenta anos. Os quadris largos, a cintura fina, o busto avantajado ainda podiam ser contemplados, mesmo sob roupas tão sem graça e que desvalorizavam seus atributos. O rosto ainda era jovial, mas seu autocuidado era tão decadente que a fazia aparentar ser mais velha do que realmente era. Ji Soo concluiu que se a mesma se cuidasse de maneira decente, poderia ser considerada ainda mais bonita que a maior parte das funcionárias da empresa. Balançou a cabeça brevemente, se livrando dos pensamentos.
– Você deveria se tratar... – Murmurou antes de deixar o amigo para trás. Pegou o café que o mesmo trazia, ouvindo-o resmungar, e seguiu para o escritório da diretora.
Deu dois toques na porta antes de adentrar a sala, encontrando a diretora em seu telefone. Enquanto retirava seu sobretudo, a mulher parecia discutir ao telefone. Pensou em se virar e sair, mas o gesto silencioso da chefe pedindo para que esperasse o fez hesitar. Deixou a pilha de autorizações sobre a mesa de mogno branco enquanto aguardava que a mesma finalizasse a ligação. A verdade era que Ji Soo não se sentia confortável ouvindo a conversa pessoal de sua chefe. Sabia que a mesma havia se divorciado há pouco tempo, tendo acompanhado algumas de suas conversas particulares por ser seu assistente pessoal, mas nunca havia comentado com outras pessoas sobre tais conversas, nem mesmo com Hae Kook. Frequentemente refletia sobre por que a chefe não se incomodava com sua presença quando falava sobre coisas tão pessoais ao telefone, entretanto nunca pensou num motivo específico. Talvez achasse o rapaz de certa forma tão insignificante que sua presença nem era tão relevante.
– Como assim você mandou o Joon Young de volta? Você disse que iria passar o final de semana com ele! – A mulher parecia bastante irritada, andava de um lado para o outro com uma das mãos em sua cintura. – Ele esperou a semana inteira para viajar com você e agora você o descarta para ficar com a sua namoradinha? – Ji Soo podia ouvir uma voz masculina do outro lado da linha. Mesmo que não conseguisse entender bem, deduziu que fosse seu ex-marido. – Não altere as minhas palavras, eu não deixo meu filho de lado por qualquer coisa como você!
Ji Soo havia conhecido o ex-marido de sua chefe em uma festa beneficente. Suas primeiras impressões sobre o homem era de que o mesmo era bastante inteligente e sacana, o tipo de pessoa que o causava desconforto apenas por se estar perto. Desconfiava que pelo mesmo motivo, sua chefe havia o evitado o máximo que pôde durante o evento com desculpas de que seu ex-companheiro estava conversando com seus próprios amigos para alguns convidados mais intrometidos.
– Você fez uma promessa para ele, imagine como ele deve estar se sentindo agora? – A resposta do homem parecia tê-la deixado incrédula. – Eu não consigo entender como você pode se considerar um pai... – Ela desligou o telefone, passando a mão pelos cabelos enquanto tentava se acalmar.
Ji Soo deixou o copo de café em frente à mulher. Por trabalhar tão próximo à mesma, já conhecia algumas de suas manias e o seu temperamento. Sabia que apenas iria querer beber algo, mesmo que não fosse seu café favorito e se sentaria em sua mesa pedindo a atualização de todas as tarefas que precisava cumprir e as que já foram cumpridas. Como se estivesse tendo um déjà vu, a mulher seguiu fazendo exatamente o percurso que havia imaginado. Seguiu o roteiro, lendo toda sua agenda de compromissos para o final do dia e para o dia seguinte, alertando-a sobre alguns compromissos mais importantes no resto da semana, além de repassar todas as tarefas pendentes e cumpridas. Tendo cumprido sua tarefa, o mesmo foi dispensado de sua sala. Rumou para a porta, mas antes olhando uma última vez para a chefe, percebendo-a mais cansada que o habitual, mas ainda assim resistindo como sempre fazia.
Capítulo V
A semana de Ga Yeong havia sido bastante caótica agora que havia sido encarregada de ajudar no projeto do comercial para a IT Tecnology. Quase não tinha tempo de equilibrar os estudos da faculdade com as tarefas do estágio, constantemente tendo que fazer trabalho extra no fim do expediente. Não se lembrava de ter algum dia saído no horário correto na semana anterior e ainda havia sacrificado sua folga de sexta para digitar todos os slides para a apresentação do projeto que aconteceria na segunda-feira. No sábado, havia ajudado sua So Ra a fazer suas velas aromáticas. A amiga, que cursava química e tinha o desejo de se tornar uma perfumista, complementava sua renda com a venda de alguns produtos que ela mesma fazia. No mesmo dia, havia se encontrado com um corretor de imóveis e visitado alguns apartamentos para alugar. Mesmo que So Ra não se importasse em ter a amiga por perto, queria respeitar sua privacidade. Não gostaria de acordar um dia e dar de cara com algum homem pelado em sua casa – como havia acontecido alguns meses atrás por So Ra ter se esquecido de que não vivia mais sozinha. No domingo, a única coisa que Ga Yeong fez foi limpar a casa, cuidar das unhas e dormir, compensando todo o sono perdido.
Ao chegar à agência na segunda-feira, seus colegas da equipe de publicidade pareciam ansiosos, porém mais confiantes que na semana anterior. Cumprimentou seus superiores antes de se sentar em sua mesa, mas antes mesmo que pudesse guardar sua bolsa, Min Ji se aproximou. Ga Yeong já se sentia saturada apenas de ver a mulher. Durante todo o planejamento do projeto, Min Ji havia se encarregado de infernizar sua vida com prazer. Qualquer sugestão que dava era rejeitada, lhe atribuía as funções mais fúteis e a impedia de ter uma voz ativa na equipe. Estava mais do que claro que ela tentava lhe sabotar e o pior era que o restante da equipe não parecia nenhum um pouco incomodada com isso.
– Onde está a apresentação? – Sequer havia lhe dado um bom dia. “A educação mandou lembranças”, pensou Ga Yeong.
A garota retirou uma pasta de sua bolsa, repassando a mesma para a mulher que folheou o mesmo sem sequer ler com atenção o conteúdo. Devolveu a apresentação e deu à mesma um bloco com novas anotações.
– Descarte e refaça com esse plano até às duas horas. – A boca de Ga Yeong quase foi ao chão. Olhou o relógio, eram meio dia e quinze e ela esperava mesmo que Ga Yeong refizesse um documento todo que levou um dia inteiro do zero em menos de duas horas? Percebendo a expressão de indignação, a mulher a questionou com certo desprezo. – Algum problema?
E com um sorriso dissimulado, Ga Yeong apenas balançou a cabeça em resposta, recebendo o desafio com uma determinação assustadora.
– É claro que não, vou terminá-lo em um instante. – Assim que se viu sozinha, folheou as anotações, percebendo que nada mais eram do que uma variação de suas ideias. – Se ela iria usar minhas ideias, deveria ter aceitado desde o início... – Murmurou. Por sorte havia feito um planejamento de suas próprias ideias assim que as teve e salvo no armazenamento em nuvem, sendo assim só precisaria modificar a apresentação e adicionar os detalhes que estavam diferentes de sua ideia original, o que não levaria mais do que alguns minutos.
Antes que pudesse começar a escrever, no entanto, as anotações haviam desaparecido de sua mesa. Olhou ao redor, confusa e então reparou no homem que estava a poucos centímetros de distância. O mesmo folheava as anotações, concentrado. Mesmo com o ar de seriedade, Hwa Kyung Soo ainda tinha um charme selvagem que o cercava, o que deixava Ga Yeong extasiada. Os cabelos pretos estavam levemente bagunçados e o blazer preto que usava sobre a blusa social da mesma cor contrastava com a pele alva, chamando mais atenção para o rosto esculpido com feições másculas. Ga Yeong não pôde deixar de pensar que o estilo rebelde lhe caía bem, melhor do que a imagem de bom moço que tentava construir.
– Provavelmente ela não queria admitir você que é melhor do que ela. – Comentou, tirando Ga Yeong de seus devaneios. Ficou confusa com as palavras do homem à sua frente até entender que o mesmo respondia sua fala anterior. O mesmo lhe devolveu as anotações, cruzando os braços sobre o peito com um meio sorriso – Você faz muitas pessoas se sentirem ameaçadas, senhorita Cha. Bom... Você faz as pessoas sentirem alguma coisa...
“Sentirem o que?”, Ga Yeong se perguntou mentalmente, porém o rapaz não completou sua resposta, deixando a menina intrigada. O olhar de Kyung Soo queimava sobre si, analisando-a de cima abaixo, deixando-a desajeitada, mas possuía um estranho magnetismo que a impossibilitava de desviar o olhar. Era como se faíscas pudessem ser vistas nas íris negras como ônix que deixavam Ga Yeong um pouco mais quente do que o normal. Questionou-se sobre quem poderia ter desligado o ar condicionado. O meio sorriso característico surgiu no rosto masculino antes que ele deixasse o recinto. Ga Yeong só então percebeu que havia se esquecido de respirar. Colocou uma mão sobre o peito, percebendo-o acelerado. Era apenas impressão sua ou Hwa Kyung Soo estava dando em cima dela? Talvez estivesse imaginando coisas ou interpretando errado o estranho comportamento do chefe. Olhou ao redor, agora percebendo que ninguém mais prestava atenção na mesma e puxou um livro de sua bolsa. “A Arte da Sedução” era como um guia para a mulher. Deixou-o de lado por um instante, prometendo-se que leria o livro assim que estivesse disponível.
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Son Oh Joon olhou para o papel na mesa e depois para o treinador do time. Arqueou uma sobrancelha, os braços cruzados sobre o peito como se desafiasse o homem à sua frente. O papel à frente era um demonstrativo do desempenho acadêmico rapaz. Apesar da maior parte das matérias ter uma pontuação mediana, o suficiente para passar de ano, a nota destacada em vermelho em matemática destoava drasticamente do restante. No ano anterior, havia ficado em recuperação e precisou sacrificar algumas semanas de suas férias para estudar e refazer a prova. Mesmo que o boletim que seu treinador o mostrava não contasse como uma avaliação oficial, ainda assim demonstrava como estava indo nas aulas. Agora estava arriscado a ficar de recuperação na matéria novamente e com isso poderia acabar perdendo sua posição como capitão no time, ou pior, acabar sendo suspenso como jogador até que suas notas melhorassem.
– Qual é, treinador, essas notas nem são oficiais, não pode me suspender do time por conta disso. Falta pelo menos um mês para a semana de avaliação, até lá minhas notas podem melhorar. – Tentou argumentar.
– Você disse a mesma coisa no ano passado, Oh Joon, e mesmo assim acabou ficando em recuperação.
– Mas eu consegui passar do mesmo modo. – O rapaz suspirou, tentando convencer o treinador a não suspendê-lo. – Não pode me tirar do time... Daqui a poucas semanas vamos ter os jogos municipais!
– Lamento, garoto. Eu tentei conversar com a diretoria, mas regras são regras. Pra permanecer no time, você precisa aumentar as suas notas. Até lá, você segue suspenso até segunda ordem. – Son Oh Joon sabia que seu treinador deveria estar tão frustrado quanto o mesmo. A realidade era que seu o rapaz causaria um grande desfalque no time e ele era um como um ás na manga, um último recurso que sempre virava o jogo ao seu favor.
O homem tirou de seu bolso um papel e o entregou. Percebeu que se tratava de um panfleto sobre reforço de matemática. Um aluno da turma avançada, aparentemente, estava dando aulas de matemática para alunos que estavam com dificuldades. Olhou para o treinador com uma sobrancelha arqueada, quase como se dissesse “você realmente não espera que eu me inscreva para essa bobagem, certo?”. A expressão de seu treinador, entretanto, não denotava qualquer pingo de brincadeira.
– Algumas semanas de reforço não irão te matar, acredite em mim. – Ele garantiu, o que não fez a insatisfação de Oh Joon sumir. – Você precisa de ajuda com a matéria, então se inscreva e se você tirar uma acima de oito nas avaliações, eu tiro a sua suspensão.
Suspenso. A palavra ecoava na cabeça de Oh Joon enquanto o mesmo guardava seu uniforme em seu armário no vestiário ao final do treino, o último que participaria naquele trimestre até que obtivesse os resultados de sua avaliação trimestral. Seus colegas estavam ao seu redor, alguns ainda com o uniforme do time, outros prontos para entrar debaixo do chuveiro. O clima de abate dominava à todos, com a saída do capitão, pegavam-se perguntando quem assumiria a sua função até que o mesmo estivesse apto à voltar para o time. Todos estavam à par de sua conversa com o treinador, uma vez que o próprio Son Oh Joon havia contado todos os detalhes.
– O treinador sugeriu que eu fizesse algumas aulas de reforço com um cara da turma avançada, Park Ga Nam, algo assim.
Quase que automaticamente o humor do time mudou, deixando Oh Joon confuso. Alguns rapazes até deram risada e se acotovelaram, como se soubessem se uma grande fofoca que o capitão não estava por dentro. O rapaz catou uma blusa perdida em seu armário e jogou na cabeça de um de seus colegas, incomodado pelos burburinhos.
– Eu quero entender qual é a piada. – Disse, visivelmente mal humorado.
– É Park Ga In, acho que todos a conhecem... Todos, exceto você. – Respondeu o rapaz atingido pela peça de roupa, jogando-o de volta para Oh Joon. – É a garota com a maior nota da escola, praticamente um computador humano. Soube que ela ganhou boa parte das competições de matemática no fundamental.
– Não sabia que se interessavam tanto por matemática. – Oh Joon zombou.
– Pela oportunidade de colocar minhas mãos dentro da blusa da Ga In, matemática seria minha matéria preferida. – Brincou com malicia. O ânimo dos rapazes logo se exaltaram. Oh Joon logo entendeu o motivo de tanta agitação entre os colegas de time. A tal Ga In, ou qualquer que fosse seu nome, deveria ser realmente bonita para deixar seus colegas tão animados. – Acredito que ela não esteja namorando.
– Eu era da sala dela no ano passado. – Um dos alunos novatos que havia entrado no time à pouco tempo se pronunciou. Ele falava de maneira formal com os outros alunos que eram pelo menos um ou dois anos mais velhos. – Ela recebia muitas propostas, mas nunca namorou com ninguém. O apelido dela era Dama de Ferro porque era muito certinha com os estudos, nunca saía com ninguém.
– Então provavelmente nem o Oh Joon teria chance. – O dono camisa nove riu com humor, provocando o time a implicar com o capitão. Oh Joon tinha uma fama de rebelde e mulherengo, vivia em festas nas horas vagas e saía até mesmo com mulheres universitárias. Ser provocado sobre não ter chances quanto à uma garota qualquer feria seu orgulho.
– Está confundindo as bolas, Mané! É mais fácil que chova canivetes do que eu ser rejeitado por uma garota qualquer. – Respondeu com confiança, ainda assim os ânimos da equipe pareciam ainda mais exaltados que antes.
– Que tal uma aposta, então? – Sugeriu o camisa nove com um sorriso presunçoso nos lábios. – Te dou um mês para conquistar a Dama de Ferro.
Son Oh Joon encarou o rapaz estender a mão em sua direção, esperando que selasse o acordo. Os restante de seus colegas pareciam tão entretidos quanto estariam se estivessem assistindo à final da copa do mundo. Seu olhar, no entanto, foi atraído para o fundo da sala onde um rapaz um tanto magricelo se recostava na parede. Seu perfil não se encaixava com o perfil atlético da maioria naquele recinto. Mun Seo não fazia parte do time, apenas acompanhava Son Oh Joon como um fiel escudeiro para onde quer que fosse. Já havia se tornado um rosto comum entre os jogadores do time, mesmo que não possuísse uma relação de amizade com os mesmos. O time sequer questionava a sua presença, uma vez que sabiam que Oh Joon prezava bastante pela amizade com o garoto, já que haviam crescido juntos, desde os primeiros anos do fundamental. O olhar de Mun Seo sobre si o fez ponderar sobre a aposta, se deveria ou não aceitar, mas a pressão que os outros faziam sobre si para que aceitasse o fez apertar a mão do camisa nova.
– Ok. – Son Oh Joon respondeu com confiança – Em um mês eu vou fazer a Dama de Ferro ser minha.
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Ga Yeong já havia roído pelo menos três unhas enquanto assistia Min Ji apresentar o projeto com sua ideia. Era a primeira vez que assumia um projeto e por ser algo de grande porte desejava que tudo desse certo e agradasse o cliente. De vez em quando olhava discretamente para o rapaz na cabeceira da mesa, para tentar ver sua expressão. Em pelo menos quatro dessas olhadas, seu olhar havia se cruzado com o do CEO da IT Tecnology, o que havia a deixado no mínimo constrangida. Assim que Min Ji finalizou a apresentação, o rapaz pareceu ponderar acerca do material. Por um minuto achou que o homem fosse novamente rejeitar a proposta, mas surpreendendo a equipe, o mesmo pareceu ter gostado da ideia.
– Parece bom para mim. – O CEO recostou-se de maneira mais confortável na cadeira. – Consigo visualizar o sentimento que procurava nessa proposta... Acredito que podemos confirmar a produção do material.
A equipe parecia comemorar internamente a aprovação do cliente, mas não deixaram transparecer. Mantiveram a imagem profissional frente ao rapaz que havia arrancado algumas noites de sono do grupo. Ga Yeong parecia a mais aliviada e realizada. Além de conseguir visualizar sua folga no final de semana, ainda estava feliz por sua ideia ter sido aceita, mesmo que não tivesse sido creditada pela apresentadora. Após os acertos finais, a reunião se encerrou com um aperto de mãos entre os dois CEOs e uma reverência pela parte da equipe. Assim que deixaram a sala, observaram o cliente e sua equipe abandonar a agência até sumirem pelos elevadores.
– Graças a Buda! – Alguém soltou. O departamento parecia estar mais leve depois disso. Ga Yeong entendia o sentimento, se sentia da mesma forma que os demais.
Kyung Soo se aproximou de seu pessoal, atraindo a atenção de todos.
– Fizeram um bom trabalho, pessoal. Mesmo sendo apenas a primeira parte do trabalho, vocês tiveram que lidar com um cliente realmente exigente, então queria recompensá-los pelo trabalho duro dessas últimas semanas. – Kyung Soo retirou sua carteira do bolso blazer, destacando um cartão sem limites pessoal. – Vou leva-los para jantar com carne de qualidade depois do expediente.
O departamento explodiu em gritos e comemorações. Um sorriso aberto e divertido surgiu nos lábios do homem, tornando-o mais charmoso e simpático. Ga Yeong não pôde deixar de se sentir envolvida por aquela visão. Sentia um leve choque passear por sua espinha e amolecia apenas com a vislumbre de sua imagem. Como Kyung Soo podia fazê-la esquecer de como controlar as próprias pernas apenas estando ali? Como se sentisse que estava sendo observado, o olhar de Ga Yeong encontrou os do rapaz que apenas acenou brevemente com a cabeça antes de desaparecer pelos corredores.
– Céus... – Sentindo suas pernas bambearem, se recostou em sua mesa tentando se recompor – O que foi isso?
Capítulo VI
Ga Yeong se sentia um pouco tonta. Nunca fora amante de bebidas e já havia tomado mais copos de cerveja e soju do que conseguia aguentar. Assim que conseguiu fugir da mesa onde a equipe de publicidade participava de um animado jantar, a mulher logo correu para fora do restaurante para tomar um pouco de ar, sentando-se em um banquinho solitário que havia encontrado na calçada. Sentia seu rosto aquecido apesar da brisa fria que varria as ruas de Seul. A bebida, no entanto, não havia sido o real motivo para que se sentisse assim tão quente. O momento de alguns minutos atrás haviam a deixado pensativa e acanhada. Enquanto seus superiores faziam uma de suas brincadeiras típicas de noites de bebedeiras, Ga Yeong havia perdido mais uma rodada e sua punição era beber um copo de cerveja com soju. Observou um pouco ansiosa um colega preparar um copo cheio da bebida e colocar à sua frente.
– Prontinho... – O homem parecia até bastante animado quanto a deixar Ga Yeong bêbada. – Uma punição saindo no capricho.
Ga Yeong olhou para o copo um tanto receosa. Não sabia se conseguiria tomar um copo tão cheio, na realidade, achava até que o que já tinha colocado para dentro poderia sair a qualquer momento.
– Acho que eu não consigo beber mais... – A confissão da mulher pareceu deixar os homens na mesa frustrados.
– São as regras, você perdeu, precisa beber. – Insistiu. Como um coro, os colegas se juntaram para cantar uma música animada, incentivando-a a colocar a bebida para dentro.
Ga Yeong suspirou, contrariada. Tomou o copo em mãos ponderando se realmente deveria beber seu conteúdo. Sentia o estômago embrulhar apenas com a ideia. Os silvos e a cantoria a deixavam desconfortável, seus superiores provavelmente pegariam em seu pé no dia seguinte caso se recusasse a ingerir tudo e não queria ter mais um empecilho para construir uma boa relação com todos. Respirou fundo preparando-se para beber quando ouviu uma voz masculina se oferecer como seu cavaleiro negro. O dono da voz era ninguém menos que o CEO da CS Publicity, Hwa Kyung Soo. Os funcionários pareceram surpresos com a interrupção do chefe que agia com bastante naturalidade.
– Eu bebo. – Afirmou novamente Kyung Soo. – A senhorita Cha parece estar no seu limite, como chefe eu devo prezar pelo bem estar dos funcionários.
Apesar da justificativa inusitada, os demais não pareciam ter estranhado o comportamento atípico do CEO. O copo foi direcionado ao rapaz que virou o conteúdo em um único gole, voltando a animar os demais na mesa. O clima de festividade continuou por bastante tempo, a maioria dos que estavam na mesa pareciam estar bêbados o suficiente para nem se darem conta da ausência repentina de Ga Yeong. A menina nunca havia visto Kyung Soo alguma vez se importar com o bem estar de outras pessoas, na realidade, desde que se lembrava, o rapaz sempre colocava seus próprios interesses acima do de outras pessoas. Perguntou-se se alguma vez havia sido alvo de alguma gentileza do mesmo, mas não havia nenhuma lembrança como tal em sua mente. Nem mesmo depois que haviam começado a namorar – um namoro sem toques, sequer um beijo, uma conversa mais íntima ou um tempo juntos – não se lembrava de ver uma faceta tão gentil vinda de Kyung Soo. Isso a fazia se questionar sobre o porquê o rapaz havia pedido para se tornar sua namorada.
Dispersou os pensamentos, checando o horário em seu celular. Havia passado das dez da noite, mas não era tão tarde. Pensou que talvez fosse um bom momento para ir embora, uma vez que já não conseguia mais ficar em pé por conta do álcool no sangue. Antes que ficasse em uma posição ruim com seus colegas, era melhor ir para casa. Assim que se levantou, sentiu a cabeça girar, cambaleando. Antes que pudesse cair, foi envolvida por um par de braços fortes. Um perfume de cítrico e levemente picante a atravessou, arremetendo-a com lembranças familiares. Qual não foi sua surpresa ao constatar que o dono do perfume era Kyung Soo?
– Você está bem, senhorita Cha? – O tom rouco vindo do rapaz causou leves arrepios em si. Percebendo finalmente a proximidade em que se encontravam, a mulher se afastou e agradeceu com leve manear de cabeça.
– Sim, estou bem. – Ga Yeong abraçou o próprio corpo, um pouco tímida. – Obrigada por... Ter se oferecido para beber no meu lugar.
O rapaz apenas balançou a cabeça, relevando o assunto.
– Tudo bem... Mas acho que tenho que controlar um pouco essa tendência a ser intrometido. Acho que posso ter passado um pouco do meu limite – Kyung Soo deu uma risada leve, se recostando na parede. A face avermelhada denunciava que seu corpo já não conseguia lidar com a quantidade de álcool que havia ingerido. Entretanto Ga Yeong não conseguia concordar com a visão do mesmo. Kyung Soo nunca havia se mostrado “intrometido”, ela desconfiava que o rapaz nunca houvesse um dia sido o cavaleiro negro de alguém, então porque se mostrava assim com ela? – Vim aqui para tomar ver se ficava um pouco mais sóbrio.
– Eu também... – Ga Yeong assentiu. – Eu não sou muito chegada à bebida, mas o pessoal parecia tão animado que não tive como não acompanha-los na bebedeira. Acho que deveria ter me resguardado um pouco.
– Se não estava se sentindo confortável, poderia ter passado suas bebidas para mim.
O olhar de Ga Yeong fixou-se nos de Kyung Soo. Nunca havia visto uma faceta tão gentil vinda do mesmo. Apesar de se sentir aquecida pelo rapaz ser tão acolhedor, lembrou-se da maneira tão fria que a tratava tempos atrás antes de sua mudança de aparência. Era como se não houvesse sido apenas ela quem havia mudado, mas o homem à sua frente também. Deu uma risada tímida e engasgada, quebrando o repentino silêncio que havia se instalado entre os dois.
– Você acabou de dizer que pode ter passado do seu limite. – Colocou uma mecha de cabelo que havia escapado do rabo de cavalo que usava atrás da orelha, desviando o olhar. A mecha escapou de sua orelha novamente, criando uma leve cortina entre a mesma e o olhar abrasador de seu chefe.
– Eu poderia ter feito esse pequeno sacrifício, apesar desse detalhe.
Sentiu as pontas frias dos dedos do rapaz em seu rosto, o mesmo colocava a mecha teimosa atrás de sua orelha novamente. Um arrepio percorreu a espinha de Ga Yeong, deslanchando uma corrente elétrica por sua coluna até explodir em sensações aquecidas por seus membros. A distância entre os dois havia diminuído consideravelmente, tanto que o hálito de álcool misturado à açúcar mascavo batia contra seu rosto e pareciam uma combinação interessante demais para não se provar. Analisou os traços masculinos, os olhos escuros e profundos, o rosto levemente corado pela bebida, a boca entreaberta que a instigava aos seus desejos mais profundos. Seus pensamentos foram cortados pela aparição de seus colegas de departamento. Kyung Soo se afastou de forma bastante discreta antes que os funcionários pudessem se questionar o que o CEO da agência fazia ao ar livre acompanhado de uma mera estagiária. Provavelmente estavam bêbados demais até mesmo para se lembrar do endereço de casa, pensou Ga Yeong. Antes que reparassem em si também, a mulher apenas se afastou, tomando o caminho para o ponto de ônibus que a levaria para casa.
Não havia dúvidas naquele momento que Kyung Soo tentara seduzi-la – e por pouco havia tido sucesso. O desejo que sentia pelo homem que povoara seus pensamentos desde a adolescência ainda a afetava, mas sabia que único motivo pelo qual o mesmo havia se aproximado era por conta de sua aparência. Se soubesse, um dia, que ela era a mulher que havia abandonado há seis meses, como será que reagiria? Ga Yeong não conseguia abandonar tal pensamento, mesmo que seu corpo ainda sentisse os efeitos da aproximação do outro. Podia imaginar a sensação dos lábios do mais velho sobre os seus, o gosto do beijo, a sensação das mãos fortes em seu corpo. Já se arrepiava apenas com sua imaginação fértil. Livrou-se de seus pensamentos ao tempo em que seu transporte chegava, embarcando no mesmo logo em seguida para ir para casa.
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Eram dez e meia a última vez que Ji Soo olhou o relógio. O escritório já havia se esvaziado há algumas horas, deixando-o sozinho em meio à um mar de mesas. Tendo se atrasado mais cedo devido à ter levado sua filha e a esposa ao hospital para um exame rotineiro, foi repreendido pelo gerente do departamento e escolheu fazer hora extra para compensar as horas perdidas. Seus colegas bem sabiam como a rotina familiar e o resguardo delicado de sua esposa acabavam o atrapalhando no trabalho. Talvez por isso, até, seus colegas não pareciam cobrá-lo tanto sobre suas responsabilidades. Naquele dia, apenas se despediram formalmente do rapaz, deixando-o sozinho no escritório do departamento. A única pessoa além do mesmo que não havia saído do trabalho era a diretora executiva, a qual teria que entregar algumas das atualizações recentes antes de terminar seu expediente oficialmente. Terminou de preencher algumas planilhas antes de colocar para imprimir e desligar o computador, espreguiçando-se. Sentia-se mentalmente exausto, a extensa carga de trabalho que havia acumulado acabaram tomando mais tempo do que esperava para ser concluído. Assim que a máquina terminou de expelir as folhas com gráficos e planilhas coloridas, organizou-as em uma pasta e rumou para o escritório de sua superiora.
Como sempre fazia, deu leves batidas na portas antes abri-la. Havia uma leve iluminação, diferente do habitual. Apenas alguns poucos pontos eram iluminados por uma luz fraca, proveniente de um dos abajures, o que possibilitava ter uma visão privilegiada das ruas de Seul à noite pelas enormes janelas do escritório. Uma música suave tocava de uma vitrola antiga que sempre julgou ser parte da decoração, o disco de vinil tinha um brilho leve sobre a luz. Reconheceu a voz de Lena Park, mas não soube dizer qual era música que tocava. Entretanto, a música não era o elemento que mais atraiu sua atenção na sala. A mulher de quarenta anos parecia absorta em seus pensamentos. Os olhos escuros estavam fechados e repousava no sofá preto de linho. Enquanto apoiava-se lateralmente no encosto do sofá, suas longas pernas tomavam o acento restante. Os pés estavam descalços e livres da meia calça que usava regularmente, como um uniforme, assim como do blazer. Ji Soo se perguntou internamente se alguma vez havia visto a chefe com os cabelos soltos como no momento. Os cabelos levemente ondulados caíam sobre os ombros da mulher, tornando a visão ainda mais bela. Sacudiu a cabeça, percebendo que analisava demais o ambiente à sua volta. Pigarreou, chamando a atenção da mulher que abriu os olhos, parecendo levemente sonolenta, e o encarou.
Apenas quando a diretora fez um gesto para que entrasse, percebeu que a mesma estava bebendo um copo do que parecia ser uísque. O rapaz deixou a planilha sobre a mesa de centro, ao lado da garrafa de uísque que parecia consideravelmente vazia.
– Eu não esperava que tivesse alguém no escritório... – A mesma confessou. Apesar normalmente ser tão rígida em sua postura, parecia cansada demais para colocar a fachada severa na frente de seu empregado.
– Eu estava fazendo hora extra... Para compensar o atraso. – Perguntou-se porque havia explicado sobre isso como uma criança que foi pega fazendo besteira. Não era como se a chefe houvesse o questionado sobre seus motivos de estar ali. A mulher deu um leve sorriso e bebericou o conteúdo de seu copo.
– Você é um bom funcionário. – Ji Soo estranhou sua fala. Mesmo que a chefe não fosse exatamente o tipo pessoa expressiva, ainda assim parecia que confirmava isso como se o tivesse avaliado. – Deveria apenas saído no seu próprio horário... Aposto que ninguém teria reclamado.
Ji Soo bem acreditava que fosse verdade. Talvez nem mesmo o gerente do departamento fosse se lembrar no dia seguinte de seu deslize, mas era uma mania sua fazer tudo da maneira correta. Preferia pagar as horas que devia, mesmo que tivesse que sacrificar suas horas de descanso.
– Algumas coisas são perca de tempo para gastar energia. – O rapaz desconfiava que naquele momento a mulher não falava mais sobre o trabalho ou sobre as horas extras.
– A senhora tem certeza de que está bem? – Ela assentiu vagarosamente com a cabeça.
– Eu apenas precisava de um momento de descanso. – Um sorriso sem humor surgiu nos lábios avermelhados. – Eu ia pedir para não dizer à ninguém que estou bebendo no trabalho, mas... – Deu de ombros – Você nunca conta mesmo...
Pensou nas palavras de sua chefe, era como se ela confiasse plenamente que qualquer intimidade sua não fosse ser exposta pelo mesmo. A diretora esticou o braço, alcançando a garrafa de uísque sobre a mesa. As mãos femininas pareciam um pouco instáveis, era bem visível que a sua ânsia pela bebida era apenas para lidar com seus próprios problemas. Seung Ja vendia uma imagem de mulher forte e autossuficiente, mesmo sob tantas críticas e julgamentos, era o braço direito de seu irmão, o CEO da IT Tecnology, mas em seus quase cinco anos trabalhando com a mulher, nunca havia visto sua chefe tão... Vulnerável. Ji Soo pensou consigo mesmo que ver a chefe sem a fachada que tanto carregava pelos corredores da empresa a faziam parecer uma pessoa normal, com emoções humanas e a necessidade de sentir um pouco de afeto. Seu pensamento foi cortado pelo som da garrafa indo ao chão.
– Céus... Eu sou mesmo um desastre... – Suspirou a mulher ao ver a garrafa estilhaçada no chão.
Ji Soo se aprontou para recolher os cacos de vidro ao mesmo tempo em que a mulher se apoiava na mesinha de centro para fazer o mesmo. A proximidade repentina entre ambos fez com que o corpo do rapaz tencionasse. Lembrou-se do que seu amigo havia comentado, sobre a beleza escondida sobre as roupas sem graças que a chefe usava. Naquele momento, podia ver bem isso. Os olhos negros estavam fixos nos seus, havia um mar de incógnita dentro deles, algo que Ji Soo se viu tentado a explorar.
– Você cheira a pimenta.
– O que? – Ji Soo se sentiu confuso por um segundo com aquele comentário repentino.
– Pimenta. – Repetiu, se aproximando lentamente. – Você tem cheiro de pimenta... Eu gosto do seu perfume.
A respiração quente da mulher bateu contra seu rosto, fazendo Ji Soo se perguntar como o cheiro de uísque poderia ser tão atrativo. Estava se aproximando demais do limite, mas porque não conseguia simplesmente se afastar? Aquela ali era Lee Seung Ja, sua chefe, diretora executiva de sua empresa, uma mulher recém-divorciada, pelo menos quinze anos mais velha e não parecia estar tão consciente de seu comportamento. Apenas isso seria motivo o suficiente para evitar que sua superiora se aproximasse daquela maneira tão perigosa. Ainda assim, Ji Soo não soube dizer o que o arremeteu. Talvez fosse o magnetismo que vinha da mulher, atraindo-o como um ímã. Fechou os olhos e sentiu os lábios da mulher sobre os seus, o gosto do macchiato que havia bebido momentos atrás se misturando com o amargo do uísque em uma combinação inesperadamente surpreendente. Envolveu sua nuca, aprofundando o beijo, os dedos se entrelaçando entre as madeixas escuras. Seus pelos se arrepiaram com o toque das mãos da mulher que agora o puxava pela gola de sua camisa social, como numa suplica que lhe entregasse tudo o que desejava. Deixou que o blazer lhe escorregasse pelos ombros, caindo com um baque surdo no chão. Apenas quando interrompeu o beijo, percebeu a proximidade entre os corpos.
Deveria parar ali, pensou consigo mesmo. Deveria parar antes de cruzar totalmente a linha, mas a mulher abaixo de si o fazia questionar se seria realmente tão ruim fazê-lo. “O que irá fazer?”, ela o olhava como se perguntasse qual seria seu próximo passo, um brilho de ansiedade no fundo de seus olhos. Antes que pudesse tomar uma decisão racional, entretanto, em um súbito impulso, envolvido por um misto de desejo e carência, voltou a reduzir a distância entre os dois, tomando-a em um beijo sedento, um prenuncio do que aconteceria naquela noite.
Capítulo VII
Ga Yeong bocejou enquanto esperava a corretora de imóveis lhe atender, quase não tinha conseguido pregar os olhos. Parte do motivo de sua insônia era por conta dos acontecimentos da noite anterior, sua mente parecia um motor rodando em velocidade máxima sempre se relembrando da forma como Kyung Soo havia lhe abordado. Ainda se sentia afetada pela maneira que o rapaz havia lhe olhado e colocado seu cabelo atrás da orelha. O outro motivo para ter pedido o sono havia sido por So Ra querer disseca-la atrás da fofoca. Havia praticamente iniciado um interrogatório quando disse para a mesma sobre o que Kyung Soo havia lhe dito. Ao mesmo tempo, a morena havia rasgado o verbo para dizer o quão cafajeste o mesmo era, afinal, ele não estava noivo? A menção à nova companheira de seu ex-namorado havia feito a mesma repensar sua questão sobre a vingança que planejava. Até então não havia pensado em como a mulher de seu ex se sentiria se o rapaz a trocasse por ela. A mesma não tinha qualquer relação consigo, não podia afirmar com certeza que havia sido a amante de Kyung Soo enquanto estava com ela ou se havia se relacionado com o mesmo depois que haviam terminado. Se perguntou por um momento se era certo seguir com o plano e correr o risco de machucar uma pessoa que não havia feito nada de errado. Acabaria apenas fazendo a mesma coisa que o rapaz havia feito com ela.
A corretora se aproximou, despertando-a de seus pensamentos, portando uma pasta sob o braço e um sorriso simpático nos lábios finos. A senhora não devia ter mais do que cinquenta anos, os cabelos tinham um tom grisalho e estavam presos num coque alto que mal alcançava o seu ombro.
– Já entrei em contato com o proprietário e ele avisou que já está próximo do local. Eu vou leva-la até a casa no meu carro. – Avisou a mulher. Ga Yeong assentiu, pegando sua bolsa e finalizando o café que estava tomando.
Em suas visitas à locais para morar, Ga Yeong havia encontrado um lugar com um bom espaço, uma quitinete de um único cômodo, mas grande o suficiente para viver bem sozinha. O espaço ficava à uma boa distância de seu estágio e da faculdade, além de não ficar muito longe do ponto de ônibus e ter bastante lojas de conveniências por perto. Embarcou no carro da corretora, colocando o cinto e rumaram para o local. Não havia demorado muito para chegar, logo que a mulher estacionou o carro em frente à casa, outro carro estacionou logo atrás de si. Imaginou que fosse o proprietário da casa. Não esperava que o proprietário fosse querer conhece-la antes de alugar a casa, era comum que tudo fosse resolvido por meio do corretor de imóveis. Talvez o proprietário fosse uma pessoa mais velha, que normalmente são mais desconfiadas. Desceu do carro, acompanhando a corretora. O proprietário, no entanto, parecia ser muito mais novo do que imaginava. Era um homem alto, jovem, vestia um moletom e um boné. Apenas quando o mesmo se aproximou, percebeu que o rapaz era um rosto conhecido para si.
– Senhor Lee Seung Ri? – O homem parecia tão surpreso quanto ela.
– Senhorita Cha Se Young... Não sabia que era a pessoa interessada na casa...
– Vocês dois se conhecem? – A corretora pareceu curiosa sobre o relacionamento dos dois.
– O senhor Lee é um cliente na empresa onde eu trabalho. – Confessou.
– Ah, sim, entendo. Que coincidência, não é mesmo? – A corretora disse. – Sendo assim, acredito que seja até mais tranquilo para conversarmos sobre o contrato de aluguel.
Apesar de Ga Yeong não ter muita certeza de como responder o comentário da mulher, Seung Ri assentiu de forma bem simpática. Deixou que a mulher abrisse o portão, dando passagem para os dois. A casa tinha dois andares, mas depois de algumas reformas, os andares foram divididos em duas casas. No andar inferior existia uma oficina, além de uma pequena quitinete, enquanto o andar superior havia se transformado em uma casa de dois quartos, bem simples. Além da entrada que haviam usado, havia uma entrada nos fundos do terreno que dava para a rua de trás.
– Acho que de tantos lugares, eu nunca imaginaria encontra-la aqui. – Comentou Seung Ri num tom de voz discreto. Com as roupas simples e comuns, era difícil para Ga Yeong vincular a imagem do cliente exigente ao do rapaz simples ao seu lado. A garota assentiu, um pouco acanhada.
– Realmente, é um encontro bem inusitado. – Como se houvesse dito algo errado. – Não um encontro nesse sentido, digo, a situação... Enfim...
O rapaz deu uma leve risada, achando engraçado a garota se embaralhar com as palavras. Apenas relevou, sabia o que a mesma queria dizer.
– Parecia ser uma casa realmente grande. – Ga Yeong comentou, percorrendo os olhos pelo terreno. Seung Ri concordou, mergulhando as mãos nos bolsos.
– E era, até grande demais para quatro pessoas, mas o espaço extra era bem utilizado. – Falou com nostalgia. – Eu posso dizer que a IT Tecnology começou aqui. Meu pai era desenvolvedor, mas nunca teve um cargo à altura da genialidade dele. Ele começou a desenvolver os seus primeiros projetos aqui, naquela oficina. – Ele apontou a porta vizinha à porta que seria seu novo lar. – E eu cresci aprendendo com ele tudo o que sei hoje.
– Você parece gostar tanto daqui... Porque está colocando pra alugar? – Somente quando perguntou, percebeu que estava sendo um pouco intrometida. – Desculpe, não é da minha conta...
– Você se desculpa demais, não é como se a sua curiosidade me incomodasse. – Ele falou, dando de ombros. – Eu só... Não achei justo que a casa envelhecesse sozinha. Eu moro em outro lugar agora, assim como a minha mãe e minha irmã, não tem motivos para manter a casa vazia.
Percebendo que o rapaz não havia incluído o patriarca de sua família, deduziu que o mesmo provavelmente não estava mais presente na vida de Seung Ri.
– O seu pai...
Seung Ri exibiu um sorriso um pouco diferente do habitual, era um tanto melancólico.
– Ele faleceu há alguns anos. – Revelou. – Desde que ele se foi, eu assumi a empresa que ele construiu.
– Sinto muito. – Ga Yeong foi sincera.
– Tudo bem... Meu pai criou seus filhos para serem fortes quando não estivesse mais presente.
Sua fala havia feito com que Ga Yeong lembrasse de sua própria mãe. Durante toda sua vida, Min Young havia lhe ensinado como se virar sozinha, desde a desconfiar da intenção das pessoas até resolver seus próprios problemas. Quando a mulher partiu, mesmo se sentindo perdida e desolada, foi capaz de se reformar depois de sua perda e ajudar sua família, mesmo com a falta de sua mãe. Nunca havia tido um pai para lhe auxiliar, mas também nunca sentiu falta de uma figura masculina. A presença de sua mãe já havia sido o suficiente para que a criasse com amor e carinho. O assunto foi interrompido pela corretora que havia aberto a porta da pequena quitinete e dava passagem para os dois entrarem.
A pequena quitinete estaria vazia se não fosse pela estante antiga em tom marfim e uma mesinha portátil com pernas retráteis. As paredes eram brancas e simples e não tinha quaisquer problemas de construção ou encanamento aparentes. A única coisa chamava a atenção era a porta que conectava a oficina à quitinete.
– Bom, esse espaço era um armazém antigamente, por isso tem essa conexão ainda. – A corretora explicou.
– Se a incomoda, eu posso ver algum profissional para fechar essa passagem. – Seung Ri se ofereceu.
– Eu não me importo, mas se for melhor, podemos até dividir os custos da reforma. – A proposta de Ga Yeong fez Seung Ri sorrir. Tirou o boné, dobrando-o e o enfiando de qualquer modo em seu bolso.
– Isso é responsabilidade minha, não precisa se preocupar com o custo. – A fala do rapaz soou como se não fosse aceitar nada além disso. – Se estiver de acordo, podemos ver o contrato agora.
Não havia muito para ponderar, era um espaço bom por um preço equivalente, numa boa localização e com acesso fácil à vários locais convenientes, mas ainda tinha um pé atrás sobre seu tipo de relacionamento com o locatário. E se isso influenciasse no trabalho? E se, por algum motivo, o rapaz se insatisfizesse com projeto e descontasse em si como inquilina? Estava insegura sobre a possibilidade de algo assim acontecer, mas o jeito gentil e simpático do rapaz a fazia pensar sobre dar o seu voto de confiança no mesmo. Era um risco, mas só saberia se fez a escolha errada quando o projeto estivesse pronto. A corretora colocou os papéis sobre o balcão, o mesmo que havia revisado na manhã anterior e lhe estendeu uma caneta que logo tomou em mãos.
– Onde eu assino?
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Ga In ouviu algumas batidas na porta, assim que se virou, deparou-se com um rapaz vestido com uma jaqueta do time de baseball. O mesmo se aproximou, deixando um papel sobre a mesa onde a menina estava sentada. Era um dos panfletos que havia distribuído pela escola dias atrás. Até então não havia recebido inscrições para as aulas de reforço, não soube dizer se havia sido porque o desempenho dos alunos não era tão insuficiente para precisar de ajuda ou se as pessoas não queriam gastar seu tempo livre recebendo aula. Suspeitava que fosse a última opção. Ao perceber que tinha alguém interessado nas aulas, Ga In se surpreendeu. Aquele rapaz era o seu primeiro “aluno” e não parecia ser o tipo de pessoa que se preocupava com suas notas.
– Vim me inscrever para as aulas de matemática. – Ele pronunciou.
– Tudo bem, eu vou pegar uma ficha para você. – A garota se levantou, pegando sua mochila e tirando uma pasta com algumas folhas. Destacou uma delas, entregando a mesma para o rapaz. – As aulas serão aos sábados, uma da tarde e depois da aula, de sete às oito e meia. Você pode escolher os horários que são melhores pra você, não recebi outras inscrições ainda.
– Eu estou disponível em qualquer horário... – O rapaz sorriu para ela, preenchendo a ficha e devolvendo para a mesma. Leu o nome no topo da ficha. Son Oh Joon... Não era um nome estranho para si, mas não se lembrava de onde havia ouvido. – Me parece bom que eu seja seu único aluno, eu não vou precisar disputar sua atenção com mais ninguém.
O comentário fez Ga In o olhar confuso, não havia entendido bem onde o rapaz queria chegar com aquela fala. Talvez estivesse pensando que a mesma não lhe daria a atenção que esperava durante as aulas se houvesse outra pessoa junto à eles.
– Não precisaria se preocupar com isso, eu sei dividir bem a atenção entre os alunos. – Afirmou com profissionalismo. O rapaz pareceu estranhar sua resposta, mas não comentou nada sobre isso.
– Não era bem sobre isso que eu estava dizendo, mas tudo bem... – Murmurou e coçou a nuca.
– Sobre o que então era o que estava falando? – Questionou, o que surpreendeu o rapaz pela forma direta que havia perguntado.
– Eu... – Procurou as palavras, logo então percebendo que a forma como a menina havia falado consigo parecia estranha em relação à forma como outras pessoas falavam com o mesmo. – Você não me conhece?
– Eu deveria conhecer?
– Son... Oh Joon, capitão do time de baseball, você sabe...
– Ah... Lembrei... – Ga In pareceu que havia encontrado uma peça perdida de um quebra cabeça. O nome Son Oh Joon pareceu mais claro para si, mas não tinha um grande significado. – Mas nunca conversamos, porque perguntou se eu o conhecia? Não somos da mesma sala e nem estou lhe devendo algum favor.
– Era só que... Enfim, deixa para lá, é só que as outras garotas reagem diferente quando eu falo com elas. Você não é assim.
Uma careta passou pelo rosto de Ga In que logo relevou. A mesma tirou uma pulseira simples de plástico de seu pulso e passou a rodá-la repetidamente por seus dedos.
– Provavelmente eu não sou mesmo. – A fala da garota pareceu estranha ao rapaz. Ga In guardou a ficha na mesma pasta que havia tirado o papel. – Espero vê-lo na próxima aula, Son Oh Joon. – A mesma fez uma leve reverência, colocando a pasta na mochila e então saiu da sala. Tão logo a garota saiu, o sinal soou declarando o intervalo para o almoço.
Son Oh Joon não imaginava que ficaria tão confuso com aquele encontro casual. Sua intenção era criar uma boa atmosfera, conquistar a garota com um papo galanteador e finalizar aquela aposta tão rápido que o camisa nove de seu time não poderia mais duvidar da sua capacidade de ter qualquer mulher que quisesse, mas o que teve em resposta foi uma garota que não havia demonstrado o mínimo de interesse em si. Perguntou-se como iria prosseguir com seu plano, já que estava bem claro que teria bastante trabalho com a menina.
– Eu vou dar um jeito... Essa garota vai cair aos meus pés.
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Os funcionários da CS Publicity cumprimentaram Han Na assim que a mesma entrou no escritório da equipe. Mesmo que, teoricamente, a mulher fosse apenas uma secretária, ainda assim sua influência como a mulher do CEO fazia com que seus colegas a tratassem como se portasse o mesmo título. Trazia em mãos uma sacola com muitos copos de café da cafeteria preferida dos funcionários da agência, deixando-os sobre uma mesinha aleatória que estava próxima de si.
– Trouxe café para todos, podem vir aqui se servir. – Os funcionários pareceram bastante satisfeitos com a bebida de graça. Se aproximaram como leões atrás de uma presa e pegaram um copo para si, sobrando apenas um copo no final.
Han Na havia contado quantos funcionários tinham na empresa, no geral, incluindo pessoal de limpeza e manutenção. Havia distribuído alguns cafés no caminho antes de chegar até a sala e antes de distribuir o café para as equipes dos departamentos, havia destacado dois cafés, um para si e para sua amiga, Min Ji. Logo quando a mesma se aproximou, entregou o café para a mesma, que logo o arrebatou e com uma expressão diferente do habitual, indicou com a cabeça para irem a um lugar mais reservado. As duas logo se dirigiram para o banheiro das mulheres onde a amiga logo vasculhou cada cabine para saber se estavam realmente sozinhas.
– O que houve? Parece até que está escondendo um segredo de estado. – Han Na estranhou o comportamento da amiga.
– É pior que isso, amiga. – Começou. – Sabe a estagiária nova? Aquela praga infernal?
Han Na assentiu, logo imaginando que sua amiga reclamaria mais uma vez sobre como a mesma havia dado alguma ideia genial para um trabalho ou que era estupidamente produtiva. Nos últimos tempos, a única coisa que Min Ji tinha para reclamar era o quão boa sua possível adversária era no trabalho. No entanto, a expressão entediada que portava em seu rosto logo foi substituída pela surpresa ao ouvir o que Min Ji tinha para dizer.
– Eu vi o Kyung Soo com ela ontem. Acho que ele a beijou, não tenho certeza. Ele se afastou assim que viu o pessoal da empresa chegando.
– Mais alguém viu? – Perguntou, sua preocupação maior era com a sua reputação do que com uma possível traição.
– Não, acho que não. Alguém teria comentado, se tivesse visto. – Ela se certificou.
Han Na mordicou a unha como sempre fazia quando se deparava com algo problemático. Ali estava mais um dificuldade que podia afastá-la ainda mais da fortuna de Kyung Soo. Se o seu noivo realmente estivesse se interessando por outra mulher, ou pior, se estivesse tendo um caso, não duvidaria que o homem a descartaria sem piedade. Kyung Soo preferia sempre o melhor, e se essa garota fosse exatamente o que ele queria, ela podia dar adeus à vida luxuosa que tanto gostava.
– Min Ji, você é uma ótima amiga. – A mulher pareceu satisfeita com o elogio e segurou as mãos de Han Na.
– Conte comigo para tudo. – Um sorriso surgiu nos lábios carmim de Han Na.
– Então continue de olho em tudo pra mim. Se essa mulher se aproximar novamente do meu noivo, me deixe por dentro de tudo. – Min Ji assentiu quanto ao pedido da mulher. As duas interromperam a conversa quando uma funcionária entrou no banheiro.
Depois da visita rápida aos funcionários, como fazia casualmente para manter sua reputação de boa colega, Han Na deixou o prédio visto que Kyung Soo estava em uma reunião de negócios em outro lugar. A ausência da nova estagiária deixava a mulher inquieta. Poderia ser que a tal reunião de negócios de seu noivo pudesse ser apenas uma desculpa para que o mesmo se encontrasse sorrateiramente com aquela estagiária? A possibilidade de uma traição deixava a mulher com os pelos eriçados, no entanto, assim que pôs os pés para fora da agência, foi surpreendida pela garota que há minutos atrás lhe deixara tão apreensiva – mesmo que não soubesse disso. Cha Se Young... Han Na não havia precisado pensar muito para se lembrar do nome da mesma, uma vez que não saía da boca de Min Ji. A garota havia acabado de descer de um carro particular importado, mas que definitivamente não fazia o gosto de Kyung Soo. Curvou-se para falar algo para o motorista e então fez uma leve mensura de agradecimento antes de se voltar para a empresa.
Aquele poderia ser um bom momento para colocar as cartas na mesa, pensou Han Na consigo mesma. Não havia outros funcionários por perto, apenas as duas numa discussão “amigável” na porta da empresa, como se houvessem acabado de se esbarrar e decidido colocar o papo em dia. Uma leve ameaça para manter aquela criatura longe de sua fortuna e com sorte não teria mais com o que se preocupar. Antes que colocasse seu plano em prática, o motorista se aproximou da garota mal havia alcançado as escadas que levavam às portas de entrada. Quão foi sua surpresa ao perceber que era ninguém mais, ninguém menos que o CEO da IT Tecnology? O rapaz parecia uma pessoa comum e até um pouco desleixada nas roupas casuais. Assim que alcançou a garota, entregou-lhe uma pasta esverdeada, o que fez a garota parecer tímida. Não soube dizer se as mesuras eram de desculpas ou de agradecimento. Afastou-se com pressa, apenas lhe cumprimentando com um aceno formal no meio de seu trajeto e entrando na agência mais rápido do que um flash. Mal pode pensar em pôr em prática seu plano de ameaçar a novata, mas não soube se seria necessário. Han Na tinha um olhar bastante afiado e podia suspeitar que a carona que Lee Seung Ri havia dado a Se Young tinha uma intenção além do amigável.
– Parece que já se tornou bem íntimo da equipe de publicidade. – Han Na se permitiu comentar, tomando a atenção do rapaz que interrompeu o caminhar para voltar ao seu carro. – Digo, tem passado tanto tempo aqui e agora já até dá carona para nossos funcionários.
O CEO franziu o cenho quanto ao comentário da mulher. Havia notado o tom malicioso, mas não havia entendido o motivo de sua curiosidade. Se lembrava bem de Ahn Han Na, noiva de Hwa Kyung Soo. O rapaz havia lhe apresentado a mesma em um evento beneficente que haviam sido convidados. Tinha uma personalidade elegante e um tanto ousada, bem parecida com o noivo, mas que não havia convencido nem um pouco Seung Ri de que era confiável. Talvez fosse por ser um pouco calejado quando se tratava de relacionamentos, mas a mulher à sua frente lhe passava a mesma sensação que a maioria das mulheres que havia conhecido em seus encontros às cegas: futilidade e ganância. Ainda assim, não viu motivos para ser deselegante, apesar da abordagem de Han Na. Havia oferecido uma carona porque a rua da agência fazia parte de seu percurso para a sua empresa.
– Não tanto quanto você imagina. – Respondeu. – Apenas ocorreu da senhorita Cha e eu nos esbarrarmos por coincidência. Não vi motivos para não ser gentil e oferecer uma carona.
– Entendo. – Han Na fez uma maneio com a cabeça, como se afirmasse algo com descrença. A soberba da mulher irritava Seung Ri. – Seus funcionários devem ser muito sortudos por terem um chefe tão gentil como você, devem conhecer seu carro tão bem quanto a palma da própria mão.
A fala da mulher foi bastante sugestiva, ao passo em que a mesma se afastava enquanto fazia um sinal para um táxi. Ainda que fosse do contrário de sua natureza ser vingativo e retrucar tais comentários, Seung Ri não conseguiu se segurar. Era como se a mulher à sua frente provocasse a pior parte de si. Assim que um táxi parou à frente de Han Na, não pôde deixar de comentar e provocar a mulher na mesma moeda.
– Talvez. – Seung Ri encolheu os ombros com indiferença e não se deteve em ser venenoso. – Acredito que Hwa Kyung Soo deve ser um chefe bem mais benevolente do que eu nesse sentido.
A expressão pasma da mulher à sua frente foi o que fez o dia de Seung Ri melhorar ainda mais naquele momento. Entrou em seu carro, fazendo um pequeno manejo com a cabeça de despedida antes de dar a partida e sumir entre as ruas movimentadas de Seul.
Capítulo VIII
Um copo de café pousou na mesa de Ji Soo. Sentiu o coração disparar de susto pela aproximação sorrateira de Hae Kook, que ria com divertimento de sua reação exagerada. O rapaz puxou uma cadeira atrás de si que pertencia a um colega que havia levantado momentaneamente para ir ao banheiro e se aproximou de si, provavelmente para comentar sobre as pernas de alguma funcionária ou falar sobre o jogo de baseball da noite passada, coisas que normalmente já não faziam parte dos interesses de Ji Soo. Naquele dia em especial, entretanto, seus pensamentos pareciam mais perdidos que o normal. Involuntariamente, pegava-se olhando para a porta que dividia o escritório do departamento com a sala da diretora.
As imagens da noite passada ainda eram vívidas em sua memória, assim como as sensações que os toques da mulher do outro lado da porta causara em seu corpo. Não havia tido tempo para pensar, na verdade, não havia pensado. Um desejo incontrolável havia o arrebatado e o levado a cometer tal pecado. Se seu ganha-pão não estivesse em jogo, teria escolhido não se levantar da cama, não se sentia pronto para encarar a chefe depois da noite louca que tiveram. Até então, evitava qualquer tarefa que precisasse passar pela supervisora como o Diabo fugia da cruz, o que não passou despercebido pelo olhar afiado de Hae Kook para coisas que não são de sua conta.
– Você... Fez alguma coisa com a chefe, não fez? – A pergunta fez Ji Soo arregalar os olhos em surpresa.
Engolindo em seco, o rapaz tropeçou nas palavras, arrancando uma gargalhada de Hae Kook. Mesmo que houvesse tratado por anos sua gagueira, ela sempre reaparecia quando ficava nervoso, seja por raiva, por medo ou surpresa. Hae Kook colocou uma mão sobre o ombro do amigo, tranquilizando-o, mas não sem antes de jogar areia em seus olhos.
– Deve ter vacilado feio para estar tão nervoso. O que foi que você fez? Esqueceu-se de enviar algum contrato? Triturou algum documento por acidente? – Ji Soo pareceu amolecer. As suspeitas de seu colega, afinal, não eram sobre ter passado a noite com sua chefe. Até mesmo ele duvidava que sua mente pudesse estar sã e realmente ter feito tal coisa.
Ji Soo sempre foi um marido fiel e devoto à sua esposa, chegava a ser entediante para seus colegas de trabalho, pelo menos para os rapazes, que o mesmo sequer reparasse em outras mulheres no ambiente de trabalho. Era um dos únicos que não falava sobre mulheres no trabalho, o único outro que não tocava no assunto era um rapaz de outro departamento, solteiro e que a maioria desconfiava que não gostasse do assunto por motivos bem específicos. Sob a insistência do colega, Ji Soo apenas relevou.
– Não foi nada demais, eu posso consertar meu erro depois. – Ji Soo blefou, não pareceu convencer o amigo, mas Hae Kook relevou.
Logo que assunto se findou, o telefone na mesa do rapaz tocou. Assim que atendeu, ouviu a solicitação que o assistente do próprio CEO lhe designava. Deveria ir ao cartório e autenticar algumas cópias de documentos referentes à empresa. Como os documentos eram de extrema valia, era comum que o serviço fosse feito por alguém de confiança ao invés de ser creditado esse serviço ao carteiro. No entanto, precisaria entregar tais documentos autenticados para a diretora depois. Todo o seu plano de evitar contato com a mulher, pelo menos naquele dia, parecia ter ido pelo ralo. Jogou algumas coisas de sua pasta dentro de sua gaveta, sequer se preocupando em esconder o desânimo e então colocou a bolsa tiracolo em seu ombro, abandonando o departamento.
Ji Soo havia gasto quase duas horas apenas na fila do cartório para ser atendido em vinte minutos. Havia perdido o horário de almoço e provavelmente teria uma pilha de relatórios para rever quando voltasse à empresa, mas a sua maior preocupação naquele momento era entregar aquelas cópias autenticadas para a diretora executiva da IT Tecnology. Não sabia o que esperar e isso o apavorava. Lee Seung Ja era conhecida por ser uma chefe bastante “casca grossa”. O que o CEO da empresa, seu irmão mais novo, tinha de boa personalidade, ela herdara de rispidez e péssimo temperamento. Ji Soo não podia negar que o CEO Lee Seung Ri era um ótimo empreendedor, mas confiava que a empresa se mantinha nas rédeas por conta do pulso firme da diretora executiva. Se havia alguém que certamente conseguia colocar ordem na bagunça, era ela. Enquanto o CEO entrava com um recurso mais criativo, Seung Ja era quem se certificava que a empresa andava nos trilhos. Os dois formavam uma equipe formidável.
Ji Soo tomou o caminho de volta para a empresa, apressando o passo conforme uma fina chuva começava a cair. Por sorte não estava muito longe e a chuva não parecia querer se transformar numa tempestade. Assim que alcançou uma área coberta, percebeu que não havia muitos pingos em seu paletó cinza escuro. Colocou o crachá de volta no pescoço e entrou no edifício, apenas o puxando para acionar a roleta que separava o interior da companhia do saguão de entrada.
Tão logo o rapaz voltou ao escritório, se deparou novamente com o problema que tanto queria evitar. Precisava entregar as cópias para sua chefe. Será que se pedisse com jeitinho para Hae Kook levar para ele talvez o rapaz aceitasse? Sentiu-se um covarde por pensar em delegar sua função por querer evitar a mulher dentro da sala, mas mesmo assim procurou o amigo com os olhos pelo escritório. Aquela criatura sempre estava por ali, mas naquele momento específico parecia que tinha tomado um chá de sumiço.
“Para de palhaçada, Ji Soo! Você só está indo entregar um documento, nada fora do normal”. Mesmo tentando se convencer, em nenhuma das vezes que tinha ido entregar algum documento à diretora, ele havia necessariamente se preocupado em ter passado uma noite quente com a mesma. Respirou fundo, ajeitando a gravata no pescoço antes de dar duas batidas na porta. A voz feminina soou um pouco mais enérgica que o habitual, apesar de ter demorado à responder. Abriu a porta, se deparando com o olhar da diretora que logo se desviou dos seus. Era como se a mulher estivesse esperando-o aparecer em algum momento. Ji Soo se deu conta de que Lee Seung Ja provavelmente estava tão nervosa com aquele momento quanto ele estava. Será que ela estaria se remoendo de culpa como ele estava? Ji Soo era casado e tinha suas contas a prestar, mas até onde estava claro para ele, sua chefe não tinha que jurar fidelidade a ninguém. Talvez ela estivesse se sentindo culpada por ter passado uma noite casual com seu assistente.
Balançou a cabeça, tentando dispersar os pensamentos. Deixou que a porta atrás de si se fechasse e se aproximou da mesa de sua chefe, deixando os documentos sobre ela.
– São as cópias autenticadas do registro do produto novo... – Ji Soo pareceu acanhado aos olhos de Seung Ja. A mesma folheou as cópias e o longo relatório que trazia junto à ele.
– Ok. – Como não houve nenhum outro adendo, o rapaz se preparava para sair quando foi chamado novamente. – Sobre ontem... Eu espero... Que façamos de conta que nada aconteceu.
Ji Soo a fitou, apesar de seu olhar estar fixo em um ponto aleatório no horizonte, a mesma parecia tão tensa, era quase como se suplicasse pela sua concordância. Para o rapaz também não era um episódio do qual se orgulhava, apesar de que, mesmo que não quisesse admitir, não havia sido uma de suas piores experiências. De certa forma, a noite anterior havia lhe proporcionado a chance de resolver suas questões quanto às suas necessidades não resolvidas. Era fato que se sentia um pouco mais leve, mas o peso da culpa não compensava o prazer que havia sentido.
– Tudo bem. Eu também não quero me lembrar de ontem... – A resposta do rapaz atraiu o olhar da chefe. Não soube dizer o sentimento exato que vira em seu rosto, mas talvez estivesse louco em dizer que vira um brilho de mágoa em seus olhos. Preferiu deixar a sala antes que sua mente criasse mais teorias sobre o que se passava na mente da mulher.
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Seung Ri foi atingido por alguma coisa gosmenta assim que entrou em seu escritório. Não soube dizer o que era a substância melosa e verde que o atingira em cheio no rosto, mas tinha um aspecto nojento e um cheiro enjoativo, apesar de parecer que não havia o sujado já que a gosma estava inteira. Fez uma careta, logo encontrando a pessoa por trás daquele ataque brutal. Ji Se Ong deu uma longa e animada gargalhada satisfeito com a traquinagem. Dispôs-se a se esconder atrás de uma das poltronas assim que viu o amigo pegar uma almofada pronto para uma revanche.
– Você está morto agora. – A ameaça de Seung Ri fez com que Se Ong se sentisse orgulhoso pela provocação ter surtido efeito.
A perseguição só se findou depois que pelo menos três almofadas acertaram a cabeça de Se Ong. Os dois rapazes se jogaram nas poltronas de couro da sala de Seung Ri, rindo como dois adolescentes. Se Ong alcançou uma das latinhas de cerveja que havia trago sorrateiramente para o escritório e um saco de batatinhas, abrindo-a sem muito cuidado. Uma parte do conteúdo caiu sobre a mesinha de centro. Sob o olhar intimidador de Seung Ri, o rapaz logo tratou de limpar o farelo e jogá-lo dentro de uma lixeira que tinha por perto.
– Afinal, o que era aquela gosma que você jogou em mim? – Seung Ri se serviu de uma das cervejas sobre a mesinha. Ainda estava gelada, o que indicava que o amigo tinha chegado há pouco tempo.
– Slime. – A sobrancelha arqueada de Seung Ri demonstrava que ele entenderia mais fácil um cachorro latindo do que o significado daquela palavra. – É uma massinha feita de cola, tinta e sei-lá-mais-que. As crianças adoram, roubei de uma quando estava vindo pra cá.
Seung Ri balançou a cabeça, Se Ong não tinha muito jeito, era como uma criança travessa uma parte do tempo, na outra parte restante tinha o perfil da maioria dos filhos de ricaços: mulherengo e festeiro. Ainda que uma amizade verdadeira parecesse ser impossível de crescer entre duas pessoas tão diferentes, como água e vinho, Seung Ri havia se tornado um bom amigo de Se Ong ainda na faculdade. Os dois dividiram um dormitório por um tempo e com a convivência aprenderam a apreciar a companhia um do outro. Enquanto Seung Ri era a pessoa que mantinha as coisas em ordem e a seriedade em relação às responsabilidades, Se Ong era a pessoa que descontraía o ambiente acadêmico com seu jeito brincalhão.
– Eu vim aqui para te tirar da sua caverna, mas fiquei surpreso por não te ver no escritório. – Era normal que Se Ong visitasse Seung Ri em seu escritório. Sempre que podia, o amigo tentava afastá-lo um pouco do trabalho, uma vez que o rapaz era quase um workaholic.
– Apareceu uma pessoa interessada em alugar a casa do meu pai, então eu fui me encontrar com ela. – Respondeu, o que também explicava o porquê estava vestido de maneira tão informal. Seung Ri sempre preferia se vestir confortavelmente, muito raramente se vestia com roupas de marcas, apenas quando trabalhava na empresa.
Entretanto, o que havia chamado a atenção de Se Ong era a tal pessoa com a qual seu amigo havia se encontrado. Era como se o alerta na cabeça do rapaz houvesse soado com força, principalmente ao ver um sorriso discreto surgir nos lábios de Seung Ri que parecia ter divagado por alguns segundos enquanto tratava de tirar o conjunto social da proteção. Se Ong se aproximou de Seung Ri, colocando um braço sobre seus ombros com bastante intimidade.
– Ela, hein... E era tão importante assim que você precisasse se encontrar pessoalmente com sua futura inquilina ao invés de deixar que o corretor de imóveis cuidasse do assunto pra você? – Se Ong apertou a bochecha de Seung Ri que logo afastou sua mão de seu rosto.
– Está imaginando coisas aonde não tem. – Seung Ri estalou a língua, se livrando do braço do amigo. – Eu queria cuidar pessoalmente do contrato da casa e você sabe por qual motivo.
Se Ong sabia bem o quão ligado seu amigo era à sua família, principalmente ao pai. Seung Ri tinha um cuidado extremo e uma intensa dedicação com todos os projetos e bens do falecido, cujo qual nunca chegou a conhecer. Não seria diferente quanto à antiga casa em que havia crescido. Provavelmente ele queria ter certeza de que a nova locatária cuidaria bem da casa em que vivera boa parte de sua infância.
– Mas ela é bonita, pelo menos? – Provocou.
– Sabe que eu não me prendo à beleza. – Seung Ri respondeu de maneira bem direta, tirando o moletom que usava. Vestia apenas uma camiseta simples e separou a blusa social do conjunto, logo a vestindo.
– Então ela deve ser bem feia... – Se Ong falou em um tom jocoso, jogando uma batatinha na boca.
– Ela é bonita... Muito bonita... – Seung Ri respondeu, logo prendendo a atenção do amigo. Sabendo que o mesmo não iria deixá-lo quieto sobre isso, acabou confessando seus pensamentos. – É só... Que ela é diferente de todas as mulheres que conheci até agora. Foi a única pessoa que realmente entendeu o que eu queria, que conseguiu traduzir a emoção que eu queria buscar com o projeto do meu pai... Mas não só isso, ela é uma mulher tão simples, não parece ter qualquer tipo de ganância. Na verdade, ela é uma pessoa bem gentil. Ela transparece um sentimento que eu achava que não existia mais...
– Oh... Parece que nosso querido Seung Ri está apaixonado...
– Não seja ridículo. Eu muito mal a encontrei duas ou três vezes por ai. – Seung Ri deu de ombros, colocando a gravata em seu pescoço. – Sou velho demais pra acreditar em amor à primeira vista.
– Mas não quer dizer que não exista... – Se Ong fingiu um ar indiferente. – O jeitinho que você fala dessa mulher entrega o sentimento, amigão. Porque não chama ela pra sair? Assim você vai ter bastante tempo pra conhecer ela e se arrepender por ter ficado fissurado nessa garota tão de cara.
Apesar do tom brincalhão de Se Ong, a proposta era verdadeira e fazia Seung Ri ponderar se era realmente uma boa ideia. A impressão que tinha quando conversava com Park Ga Young era a de que a mesma não se sentia confortável com ele, muito provavelmente por conta das suas posições em relação ao trabalho e agora em relação ao contrato de locação. Em seu trabalho, Seung Ri era um cliente VIP enquanto Ga Yeong era uma estagiária; fora daquele ambiente, Seung Ri era o senhorio e Ga Yeong era a inquilina de sua casa. Ele podia entender o quanto podia ser desconfortável para a mulher manter contato com ele, afinal, se surgisse algum problema entre os dois, poderia se sentir ameaçada sobre seu trabalho e sua moradia. Assim que revelou seu pensamento para o amigo, viu Se Ong refletir sobre o assunto – o que era algo bem incomum para Seung Ri.
– Mas então você poderia mostrar para ela que não é esse tipo de pessoa, que faz esse estilo vingativo. – “Pelo menos não a maior parte do tempo”, pensou Seung Ri se lembrando do evento de algumas horas mais cedo com a noiva do CEO da CS Publicity.
A ideia em si não era ruim. Seung Ri queria poder mostrar que não era o tipo de pessoa que usaria da sua posição para deixar outra pessoa desconfortável, era algo que considerava deplorável, mesmo sendo bastante recorrente entre as pessoas de sua classe. Era exatamente por esse motivo que evitava construir relações com algumas empresas, porque isso feria seus valores. A questão em si era como colocaria essa ideia em prática, já que não sabia como a mulher poderia se sentir com uma aproximação mais direta de sua parte. Se Ong colocou uma mão suja de farelos em seu ombro.
– Enfim, eu sei que você vai dar um jeito. Ninguém resiste a essa personalidade cativante que você tem. – Apesar do tom irônico, Se Ong parecia bem honesto quanto ao comentário. Os dois rapazes se encararam por longos segundos até que Seung Ri tirou sua mão suja de seu ombro.
– Seu porco...
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Oh Joon coçou a cabeça com o lápis na ponta que tinha a borracha. Estava frustrado e o motivo não era nem por causa da extensa lista de exercícios com cálculos para dar e vender, mas sim por conta de sua “professora”. Todas as suas tentativas de aproximação haviam falhado pelo simples fato de que aquela garota parecia ser mais burra que uma porta. Se tratando de toda aquela porcaria de matéria, Ga In era extremamente inteligente, mas socialmente não entendia uma indireta que fosse. Oh Joon começava a se perguntar se ela realmente não entendia suas cantadas ou se apenas fingia que não havia entendido. Isso apenas feria o seu ego, nenhuma garota agia de tal forma perto dele, exceto Cha Ga In.
– Você fez essa questão errada, era pra isolar primeiro a incógnita e depois dividir por cem. – Ga In usou uma borracha para apagar o cálculo feito.
– Isso é realmente importante agora? – Oh Joon suspirou com um ar cansado.
– Sim, é recorrente essa função ser usada nas provas do seu ano...
– Não estou falando disso. – O rapaz tentou alcançar a mão da menina, mas a mesma se recolheu um pouco incomodada. – Eu estou tentando chamar a sua atenção o dia inteiro. Trouxe um suco pra você, joguei indireta, até fingi que estava interessado nisso tudo e eu detesto matemática, mas você simplesmente ignorou todos os meus esforços.
– Eu não ignorei, eu só não percebi que queria ser meu amigo. – Ga In foi bastante categórica, deixando de lado o material escolar por um instante – Entretanto, eu reservo esse horário apenas para dar aula e também não tenho interesse em ter mais amigos.
Não soube dizer se aquilo era exatamente uma rejeição, perguntou-se onde exatamente estava rolando aquela falha na comunicação. Não queria dizer de forma tão clara que queria sair com aquela garota. Na verdade, realmente não tinha interesse em Ga In, mas a aposta que fizera o colocava numa corda bamba. Não queria ter sua reputação manchada e ter que cumprir o castigo por não conseguir conquistar a dama de ferro.
– Eu não quero ser seu amigo, eu quero ser seu namorado. Eu gosto de você. – Não era verdade, mas era o que precisava dizer. – Quero sair com você.
As sobrancelhas da menina franziram-se ao ponto em que parecia analisa-lo. Para Ga In, na realidade, estava tentando entender as motivações do rapaz para simplesmente ter gostado dela. Até onde se lembrava, os dois sequer haviam trocado algumas palavras até o dia anterior. O que poderia ter feito o rapaz simplesmente se sentir atraído por ela? A conta simplesmente não batia para ela, era como se faltasse algum elemento naquela equação. O sinal soou quebrando o silêncio que havia se instalado no local. A menina apenas guardou seu material em sua mochila evitando o contato visual com o rapaz que havia acabado de se declarar para ela.
– Acabamos por hoje. Amanhã retornaremos no mesmo exercício que paramos. – Ga In pronunciou. – Você pode tentar fazer os outros exercícios em casa.
– Você não vai me responder? – Oh Joon começava a se irritar pela mania de se desviar do assunto da garota. – Eu pedi pra sair com você.
O rapaz observou a garota brincar com a pulseira que usava assim como da primeira vez em que se conheceram. Seu olhar focava-se em qualquer outro ponto que não fosse seu rosto. Não queria que o tiro saísse pela culatra ao pressionar a garota com uma resposta, mas manter a calma e ser gentil não era bem seu ponto forte. A verdade era que estava começando a se irritar quanto ao comportamento esquivo da garota.
– Eu o responderei quando tiver certeza. – Foi a única coisa que a garota respondeu antes de sair da sala.
Bom, não era uma rejeição... Aparentemente. A verdade era que estava pisando em ovos com aquela garota e não sabia interpretar os sinais que a mesma dava. Ela era extremamente honesta por um lado, mas completamente misteriosa por outro. Era diferente da maioria das garotas com quem havia saído até então e honestamente não sabia como reagir à mesma. Vendo-se sozinho na sala, juntou seu material e se preparava para abandonar a sala quando uma figura familiar apareceu no batente da porta.
O rapaz suspirou, massageando o pescoço levemente dolorido. Mun Seo era um rapaz um tanto magro, não usava roupas que o destacassem e era bastante reservado, diferente de Oh Joon que era mais atlético e naturalmente chamava a atenção por sua personalidade forte e pela boa aparência. Era um mistério para quem olhasse de fora como duas pessoas tão diferentes podiam se dar tão bem e serem amigos. E como em qualquer amizade, as divergências de pensamentos causava atritos. Desde que Oh Joon havia aceitado a aposta de seu colega de time, Mun Seo havia se tornado distante. Ele não concordava com aquele tipo de coisa, uma aposta que poderia machucar os sentimentos de alguém que nunca havia feito nada para o mesmo. Uma aposta que poderia machucar até mais pessoas do que apenas aquela garota.
– Você realmente vai seguir em frente com isso, não é? – Mun Seo pareceu mais afirmar do que perguntar.
– Eu não vou ir tão a fundo nisso. Se eu aparecer por ai com ela já é o suficiente para o pessoal achar que está rolando alguma coisa e me deixar em paz.
– Inacreditável... – Um sorriso descrente surgiu no rosto de Mun Seo. Antes que se afastasse, Oh Joon envolveu seu pulso, o impedindo de ir embora.
– Seo...
– Você é sempre assim: você mesmo em primeiro lugar, e se alguém se machucar no meio do caminho, azar o dela. – O rapaz libertou seu pulso do aperto do outro. – Você me cansa...
Oh Joon observou o rapaz desaparecer de sua vista na medida em que os corredores se enchiam de alunos. O som do baque ao socar a parede fez com que as pessoas ao seu redor prestassem mais atenção em si. Como se o problema da aposta já não fosse o suficiente, agora estava em uma situação complicada com a única pessoa que realmente tinha consideração naquele lugar. “Eu e meu ego estupidamente gigante”, pensou consigo mesmo. Mesmo vendo que poderia perder uma pessoa importante para si, ainda estava num empasse quanto à sua imagem pela qual tanto prezava. Era o momento para Oh Joon colocar na balança o que era mais valioso para si: sua relação com Mun Seo ou a imagem que construíra e que o colocava como uma pessoa acima das outras?
Capítulo IX
Ga In colocou uma caixa larga sobre a mesinha de centro. A caixa cobria todo o espaço do móvel e tinha uma paisagem com bastante folhagem verde e animais exóticos na tampa. Assim que a abriu, virou a mesma sobre a mesinha derrubando todo o conteúdo sobre a mesma. Tratava-se de um quebra-cabeça de mil peças, algo que Ga In montava em raras ocasiões, o que chamou a atenção de sua tia Kim So Ah. Mal haviam acabado de jantar, ao invés de ir estudar, como normalmente fazia, a sobrinha se aprontou para montar o quebra-cabeça, quebrando sua rotina rígida. Além daquele fato, era comum que a sobrinha se colocasse a montar o quebra-cabeça quando não sabia lidar com alguma situação.
Lembrava-se de quando Ga In era mais nova, na casa dos seus nove ou dez anos. Algumas crianças a atormentavam por ser diferente da maioria e frequentemente era isolada da maioria, até mesmo por seus professores. Quando haviam momentos em que era agredida, Ga In entrava em surto e gritava, não deixava que ninguém a tocasse e era difícil acalmá-la. Uma das formas que haviam encontrado para ajudá-la a controlar seus surtos havia sido comprar quebra-cabeças. À medida que Ga In crescia e aprendia a mascarar e entender alguns comportamentos sociais, o passatempo passou a ser usado como uma forma de “exercitar” sua mente quando se via em um problema aparentemente sem solução. So Ah se perguntou o que poderia estar deixando sua sobrinha naquela situação.
– Aconteceu alguma coisa na escola hoje, querida? – So Ah se sentou no lado oposto à mesinha, secando as mãos no avental que usava. Estava lavando a louça há segundos atrás, mas achou por melhor interromper o que fazia para se certificar de que tudo estava bem com Ga In.
– Depende de que tipo de coisa a senhora se refere. – Ga In respondeu, entretida em achar as peças que montavam as bordas da imagem. – Se for em questão de atividades, não teve nada fora do comum. Os professores passaram atividades para casa e corrigiram alguns exercícios da aula anterior.
– E sobre seus colegas? Você está se dando bem com eles? – So Ah perguntou. Apesar de achar uma das peças que complementava a borda, não a apontou para a sobrinha. Ga In gostava de fazer aquela atividade sozinha, sem ter ajuda de outras pessoas.
– Bom, eu não converso muito com meus colegas além do necessário, apenas com a Ji Nah. Sinto-me bem com a companhia dela, não preciso de outros amigos.
– Então, se não aconteceu nada fora do comum na escola e com seus colegas, porque está montando o quebra-cabeça?
Ga In interrompeu sua ação por um momento, pensativa. Nem ela mesma sabia qual era a sua dúvida, mas ela se encontrava uma situação inusitada para si. Havia assistido muitas novelas durante a sua vida e via nas telas muito conteúdo sobre relacionamentos amorosos. Além das telas, sabia que seus vizinhos também tinham seus parceiros amorosos, mas no fundo ela mesma não sabia muito sobre isso. Era a primeira vez que recebia uma declaração de amor – não tinha certeza se realmente era a primeira vez, agora que pensava. O comportamento estranho de outros rapazes era bem parecido com o do rapaz que havia se inscrito nas aulas de matemática. Talvez ela que não houvesse entendido as entrelinhas antes, mas ainda assim ficava confusa sobre como deveria reagir a este tipo de aproximação.
– Tia, um garoto se declarou para mim hoje. Ele disse que gostava de mim. – A confissão da menina fez Kim So Ah ficar surpresa. – Mas eu não entendo. Nunca nos falamos antes de ontem, não temos intimidade, então porque ele gostaria de mim?
– Ele pode ter reparado em você e se interessado por conta das coisas que você faz. – Sugeriu So Ah.
– Não vejo como, nem somos da mesma sala e se nos esbarramos em algum lugar pela escola, nunca nos falamos apropriadamente. Eu tenho uma boa memória, acho que me lembraria disso. – Ga In afirmou com convicção.
– Ele pode ter te achado bonita. Você é muito bonita, é muito parecida com a sua mãe. Pode ser por isso que ele disse que gostava de você. – A mais velha buscou algumas outras opções. – Enfim, nem sempre existem motivos lógicos quando se trata de sentimentos, querida. Se estiver desconfortável quanto a esse rapaz, dê um tempo para si mesma para pensar no assunto, mas... Talvez se abrir a novas experiências não seja ruim.
– Eu não gosto de mudanças... – Ga In murmurou contrariada com a ideia de sair de sua zona de conforto.
– Eu não disse que precisava namorar esse rapaz... – So Ah logo se explicou para que não houvesse maus entendidos. – Mas conhece-lo não lhe fará mal. Vocês podem ser amigos e, através disso, você pode entender os sentimentos dele. É isso que está te causando confusão, não é?
Ga In refletiu por um minuto, os olhos vagando das peças embaralhadas do quebra-cabeça para sua tia que a observava com um sorriso aconchegante. So Ah tinha razão naquele ponto. Os sentimentos que Son Oh Joon dizia ter por ela era o que a deixava confusa. Não entendia a motivação por detrás de tais sentimentos, uma vez que nunca haviam conversado apropriadamente. Para ela, a construção de um sentimento tinha como pré-requisito uma boa relação entre os pares. Foi assim que se aproximou de Ji Nah. A menina tanto insistiu em ter sua amizade que os pontos em comum acabaram as aproximando, mas apenas quando se tornaram realmente próximas, Ga In se deu conta de que gostava de ter a companhia de Ji Nah, mesmo que preferisse passar boa parte do seu tempo sozinha.
Mas com Oh Joon era como se a ordem dos fatores tivesse sido alterada. Ao invés da aproximação, o sentimento havia surgido primeiro, pela parte do rapaz. Como poderia lidar com esse tipo de situação? Será que a ideia de deixá-lo conhece-la era algo considerável? No fundo, Ga In temia as consequências que poderiam vir por conta disso, mas em algum lugar dentro de si crescia uma sensação estranha de que deveria tentar pelo menos uma aproximação. Somente a ideia de algo novo acontecendo em sua vida a deixava ansiosa. Voltou sua atenção para o jogo à sua frente, procurando as peças que precisava. So Ah apenas suspirou, não seria pressionando a sobrinha que a ajudaria a resolver suas questões emocionais. Apenas se levantou e fez um carinho rápido em sua cabeça.
– Apenas considere o que falei. Coisas boas podem vir através de mudanças. – Aconselhou a menor antes de deixar a sala.
– Coisas ruins também podem...
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So Ra tinha um bico nos lábios enquanto observava sua amiga pesquisar alguns móveis de segunda mão em uma rede social. A mesma estava deitada em sua cama de bruços com as pernas cruzadas no ar e o queixo apoiado na palma da mão. A mulher não estava exatamente contente pela amiga ter arranjado um espaço próprio para si. Apesar de admitir que haviam acontecido certos inconvenientes por ter se esquecido da presença de Ga Yeong algumas vezes, ainda assim gostava de ter a amiga por perto e tinha um cuidado especial pela mesma, ainda mais depois de sua aparência ter mudado da água para o vinho e da ideia maluca de se vingar de seu ex. Se preocupava em como a amiga viveria sozinha. Para o bem ou para o mal, Ga Yeong nunca havia morado sozinha antes. Durante toda a sua vida viveu sob o teto de seus patrões, e mesmo que ela trabalhasse para eles, ainda assim, não era a mesma coisa que viver por conta própria. So Ra se perguntou se sua amiga ficaria bem no novo espaço.
– Parece que você está doida para se livrar de mim, logo. – So Ra falou com um fundo de drama. – Já assinou o contrato e tudo, nem me levou para ver se o lugar era realmente habitável.
– O lugar é bom, So Ra. É um espaço pequeno, mas é bom o suficiente para mim. Vou viver sozinha ali temporariamente, de qualquer maneira, então não preciso de uma mansão.
– Só estou comentando... – So Ra avaliou suas unhas. O esmalte em tom vinho estava intacto e perfeitamente pintado sobre cada unha. – De qualquer maneira, você arranjou um lugar bem rápido para ficar.
– Eu sei, foi surpreendente até mesmo pra mim. – Ga Yeong confessou. – Mas estou insegura se fiz um bom negócio. A localização é ótima, o preço também, mas o senhorio da casa é o cliente do projeto que eu estou produzindo. Eu estou preocupada que possamos nos desentender de alguma maneira e isso afetar o meu trabalho.
So Ra pareceu ter ganhado vida frente à novidade. Sentou na cama, se aproximando mais de Ga Yeong para se inteirar melhor da fofoca.
– Espera, o cliente que você está falando é o aquele cara, o CEO da IT Tecnology? O que pediu pra você entrar na equipe do projeto? – A boca de So Ra quase foi ao chão ao ver a amiga confirmar.
– Ele é um homem bem gentil, na realidade. Foi bastante cordial quanto a casa, se ofereceu pra pagar um pedreiro para fechar a passagem entre a oficina e o quartinho que eu vou ficar e ainda me deu uma carona para a agência. – Ga Yeong falou se lembrando da maneira simpática que o rapaz havia a tratado. Não duvidava que fosse de sua natureza agir de forma tão humilde. – Mas ainda assim, não sei se eu deveria ter aceitado e assinado o contrato. Talvez eu tenha me precipitado.
– Opa, espera, vamos rebobinar um pouco. – So Ra fez um gesto como se estivesse retrocedendo o tempo com as mãos. – Como assim, ele te deu carona? Sobre fechar a passagem até entendo, afinal isso é o dever do senhorio, mas uma carona é bem inusitado, ainda mais um cara rico.
– Eu sei, né? Eu também estranhei. – Ga Yeong concordou com a amiga – Eu fiquei constrangida, mas aceitei a carona. Acabou que a viagem foi até agradável, sabia? A gente acabou conversando sobre a empresa dele e os planos para o comercial do produto novo.
– Então não vejo motivos pra você ficar tão receosa quanto a esse cara. Ele é legal, você mesma está falando. – So Ra pontuou. – E de qualquer maneira, mesmo se acontecer algum desentendimento na agência com o seu cliente, quem vai levar os danos é o Kyung Soo. Só vejo vantagens pro seu plano de vingança.
Ga Yeong empurrou o ombro da amiga como se estivesse alertando-a para ter cuidado com sua fala.
– Não é bem assim. Se as coisas derem errado nesse projeto, toda a equipe vai sofrer o dano junto. Não quero prejudicar outras pessoas que não tem nada haver com os meus problemas pessoais. – Por um minuto So Ra desconfiava que a amiga não estivesse falando exatamente de seus colegas de trabalho. – E, além disso, eu quero que esse projeto dê certo. É a primeira vez em meses que algo é confiado a mim. Eu que dei a ideia pra esse projeto e queria ver a reação das pessoas ao verem esse comercial pronto.
So Ra podia entender o sentimento da amiga. Era como a chance de alcançar a realização pessoal através desse projeto. Ainda assim, não acreditava que seus colegas a aplaudiriam de pé pelo esforço desprendido para a produção daquele comercial.
– Mas Ga Yeong... Você disse que ninguém na sua equipe acredita no seu potencial, então onde você vai encontrar alguém que te apoie nesse projeto?
Ao contrário do que So Ra esperava, Ga Yeong sorriu. A menina não pôde controlar seus pensamentos. Seu cliente, e agora senhorio, apareceu em sua mente quase que automaticamente. Apenas a confiança de Lee Seung Ri em si já era mais que o suficiente para que acreditasse em si mesma.
– Não se preocupe quanto a isso, So Ra. Eu já tenho o apoio que eu preciso.
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Eram quase onze horas da noite quando Kyung Soo finalmente voltou para casa. Depois de um dia movimentado se reunindo com o conselho da empresa de seus pais e com seus advogados, a única coisa que Kyung Soo pensava era em um bom banho e um pouco de prazer a dois. Se a situação em que se encontrava não fosse tão irritante, Kyung Soo poderia até mesmo rir da ousadia dos acionistas de sua futura empresa. Sim, SUA empresa. Era sua por direito, era o herdeiro da família Hwa, mas por conta da maldita clausura no testamento de seus pais não podia ter acesso imediato a toda a fortuna e as ações do conglomerado de lojas de sua família. Havia sido alertado pelos sanguessugas que seu prazo para cumprir a condição que seu pai impôs no testamento iria se findar em poucos meses, como se já não soubesse.
A intenção era, na realidade, intimidá-lo e Kyung Soo sabia bem disso. A verdade era que todos esperavam que ele não conseguisse cumprir o acordo para que pudessem pôr as mãos em suas ações e na fortuna que o pertencia. A questão era que o rapaz estava mais preparado do que eles pensavam e tinha boa parte de seu plano traçado. Apesar de ter conseguido achar uma pequena brecha na cláusula que o permitia ter mais liberdade de escolha, ainda assim precisava cumpri-la para ter acesso à herança. Por conta disso, estava desde então se preparando, limpando sua imagem perante a mídia para poder assumir o conglomerado de seus pais sem causar grandes danos à mesma. O seu relacionamento com Ahn Han Na era a peça chave no meio de todo esse esquema.
Assim que atravessou a porta de seu apartamento luxuoso, o rapaz tirou os sapatos de qualquer maneira na soleira. A silhueta feminina sentada no sofá o observava se aproximar enquanto se livrava da gravata frouxa e do blazer, jogando-os desleixadamente em uma poltrona próxima. Sequer havia reparado na expressão de poucos amigos e na falta de uma saudação mais acolhedora como era de costume a mulher fazer. Assim que se aproximou com a intenção de lhe beijar o pescoço, a mesma se afastou atraindo um olhar confuso do rapaz.
– O que foi agora? – Kyung Soo suspirou com ar entediado.
– Você se encontrou com outra mulher. – As palavras de Han Na fizeram o cenho do rapaz ficar franzido. – Soube que você beijou a garota nova da agência.
Kyung Soo ficou pensativos por alguns minutos até entender do que a mesma estava falando. Sua expressão se suavizou, como se tivesse se lembrado de alguma recordação antiga. Não havia acontecido um beijo, mas não foi por falta de vontade. Apesar de estar um pouco bêbado, ainda assim estava bastante lúcido quando tentou seduzir a estagiária nova e se não fosse pelo restante da equipe ter se aproximado, ele teria ido em frente e beijado de fato a garota. Cha Se Young tinha um charme inocente e meigo genuínos, diferente de outras mulheres que forçavam essa imagem. Mesmo que sua aparência pudesse ser igualada a de Han Na em muitos aspectos que a deixavam sexy, aquela essência pura a diferenciava das demais. Kyung Soo poderia dizer que sua vontade era manchar aquela pureza com toda a experiência que tinha e Han Na estava bem ciente disso.
– Não é do seu feitio bancar a namorada ciumenta. – Kyung Soo falou com certo desdém.
– Você fala como se eu tivesse que ter orgulho por você colocar um par de chifres na minha cabeça. – O rapaz revirou os olhos diante da resposta de sua noiva.
– E você afirma com certeza demais algo que nunca aconteceu. – A resposta firme de Kyung Soo fez com que Han Na titubeasse em suas certezas. Com o tempo de convivência havia aprendido a ler o rapaz, ou pelo menos ler o suficiente para saber quando mentia sobre algo do tipo. – O máximo que a sua amiguinha deve ter visto foi eu impedir a nova estagiária de dar com a cara no chão.
Han Na não se surpreendeu que Kyung Soo soubesse quem havia dito a ela sobre o que havia acontecido no jantar da equipe. A única pessoa que repassava tudo o que acontecia na empresa em sua ausência era Min Ji.
– Ser uma pessoa que se importa com os outros não faz seu estilo, meu amor.
Kyung Soo não respondeu ao seu comentário, o que deixou Han Na com as antenas em alerta. Ao invés de palavras, o rapaz apenas puxou sua noiva para si, afundando seus lábios na pele de seu pescoço. A mulher cedeu à carícia, apoiando suas mãos sobre os ombros largos do homem, sentindo as mãos do rapaz se infiltrar por baixo de seu vestido. Antes que se desse conta, estava sentada em seu colo, as pernas em cada lado de sua cintura.
– Não há necessidade se sentir ameaçada, querida. – O voz grave do rapaz em seu ouvido fez com que os pêlos de seu corpo se eriçassem – Você é a única que eu preciso.
A sua frase era aberta a interpretações. Necessária, sim, mas não era única que ele queria. Mesmo que não entendesse exatamente suas motivações para tê-la ao seu lado, Han Na sabia que era uma carta valiosa demais para simplesmente ser descartada do baralho pelo rapaz, mas para o quê era importante nos planos de Kyung Soo? E o quanto era importante para que o mesmo não pensasse em substituí-la num futuro próximo? Os pensamentos de Han Na se perderam quando a boca faminta do rapaz tomou a sua num beijo voraz e no que se seguiram os momentos intensos pelo resto da noite.
Capítulo X
A semana havia sido corrida para Ga Yeong. Com o prazo apertado para a realização do projeto, as provas do semestre chegando e a pesquisa para comprar as coisas necessárias para morar sozinha, não havia tido muito tempo para se aprontar para a mudança. Para So Ra isso até era uma vantagem, já que pôde desfrutar da companhia da amiga por um pouco mais de tempo, mas Ga Yeong já havia se planejado para mudar naquele fim de semana. Contratou uma empresa de mudanças para ajudá-la a descarregar as poucas coisas que tinha na casa de sua amiga – alguns móveis que havia comprado e alojado no apartamento de So Ra temporariamente. O restante das coisas compraria assim que se mudasse.
Assim que os funcionários da mudança chegaram, carregaram o caminhão com seus pertences em pouco menos de meia hora. Cerca de quarenta minutos mais tarde, já estavam em frente à sua nova moradia descarregando suas coisas e levando-as para dentro de seu apartamento. Não demoraram muito para terminar de descarregar tudo devido à quantidade de coisas que tinha. Os móveis mais pesados eram apenas a geladeira e a cama de solteiro um pouco mais larga que o tradicional que havia comprado. Além disso, tinha comprado um fogão elétrico que era mais barato e ocupava menos espaço, alguns pufes que eram fáceis e leves para se deslocar para qualquer canto do quarto e uma escrivaninha simples para poder trabalhar e estudar.
– Já terminamos aqui, senhora. – Um dos funcionários avisou. A mulher agradeceu aos rapazes e dispôs de uma gorjeta pela eficiência.
Assim que os homens saíram, um carro bastante familiar parou em frente ao portão de entrada. Quando Lee Seung Ri desceu do veículo, trajado de forma confortável em seus jeans esfarrapados e blusão verde, da forma despojada como havia o encontrado alguns dias atrás quando descobriram por acaso que seriam locador e locatário, Ga Yeong sentiu falhar uma batida. Por um momento pensou que talvez fosse seu nervosismo pelo homem à sua frente ser alguém com um status muito superior ao seu, além de seu cliente. A garota pisava em ovos com o rapaz, mesmo que em nenhum momento ele houvesse lhe dado sinais de que precisava fazê-lo. Seung Ri tinha uma personalidade bastante calma e centrada, mesmo que fosse extremamente exigente quanto aos seus projetos. Era gentil e bastante conhecido pelos seus feitos em nome da caridade. Não parecia ser realmente alguém que pudesse ameaçar sua carreira apenas por não estar satisfeito com alguma coisa.
– Bom dia, senhorita Cha. – O rapaz a cumprimentou, tirando-a de seus pensamentos. A garota piscou algumas vezes até entender que o mesmo falava com ela.
– Ah, sim... Bom dia. – A garota abraçou o próprio corpo um tanto tímida.
– Trouxe suas coisas da mudança hoje?
– Sim, foi o único tempo livre que consegui. Essa semana foi bem corrida para mim.
– Acredito que esteja sendo estressante para você por conta do comercial. – A forma como Seung Ri havia falado tinha soado um pouco preocupada para Ga Yeong. A menina logo negou com a cabeça, tranquilizando-o.
– Não, imagina. É que eu estou em semana de provas na faculdade, então é natural que eu esteja um pouco sobrecarregada com o estágio e os estudos ao mesmo tempo. – A mulher explicou – Mas a partir da semana que vem eu vou estar um pouco mais livre e a minha rotina vai voltar ao normal.
– Bem, se logo estaria livre, porque decidiu se mudar agora? Ou tinha algum problema com sua antiga casa? – Os dois começaram a caminha pelo quintal do terreno em direção à oficina.
– Não, não tinha nada de errado. Eu estava ficando um tempo na casa de uma amiga minha. Ela até disse que eu poderia ficar mais tempo, mas eu achei que era mais cômodo pra mim me mudar logo. Gosto de ter minha privacidade e ela pode ter a privacidade dela também.
– Você deve ter morado sozinha por muito tempo. É o tipo de pensamento de quem desacostumou a dividir o teto com outras pessoas. – Seung Ri falava como se tivesse experiência no assunto. O rapaz devia estar na casa dos trinta anos, o que fez Ga Yeong se perguntar se ele nunca havia se casado ou estado em um relacionamento firme para dividir sua moradia com outra pessoa.
– Na verdade, eu nunca morei sozinha. É a minha primeira casa, mas eu sei bem a sensação de como é viver sozinha. – A fala de Ga Yeong havia chamado a atenção Seung Ri que se perguntou que tipo de convivência familiar ela teria tido para falar de maneira tão melancólica.
Durante os anos que viveu na mansão da família Hwa, Ga Yeong nunca teve problemas quanto à sua privacidade depois do falecimento de sua mãe. Quando Min Young ainda estava viva, a menina dividia o pequeno quartinho das empregadas com sua mãe. O cômodo ficava na área externa da casa, em um ponto mais afastado da mansão, e muito dificilmente alguém teria interesse em fuxicar aquele espaço. Era grande o suficiente para três ou quatro pessoas dormirem juntas, mas não era exatamente um lar. Por tal motivo não se incomodava com o tamanho do quartinho que havia alugado para si, achava até mais cômodo do que a casa de sua amiga que era bastante espaçosa. Depois que Min Young faleceu, Ga Yeong passou a viver naquele quarto sozinha. Cozinhava para si mesma, cuidava de si mesma quando adoecia, limpava tudo sozinha e trabalhava e estudava por conta própria. Tirando as despesas do espaço, já lidava com as próprias despesas de alimentação, transporte e escola sozinha, portanto confiava que viver sozinha naquela quitinete não seria muito diferente da forma que já vivia.
– Acho que eu fui um pouco intrometido, você parece não ter boas lembranças sobre esse assunto. – A intuição de Seung Ri fez com que Ga Yeong se surpreendesse. Não era como se fosse um livro aberto, mas ele havia aprendido a lê-la nas entrelinhas.
– Não exatamente. – Ga Yeong confessou. – Minha mãe era empregada doméstica e a gente vivia num anexo da casa dos patrões dela. Ela faleceu quando eu tinha quinze anos, então eu acabei vivendo lá por bastante tempo “sozinha”, por assim dizer. Não era como se alguém tivesse interesse em visitar o quartinho da empregada.
– Eu sinto muito pela sua mãe. – Como se tivesse num déjà vu, Ga Yeong se viu na pele do rapaz quando ela disse as mesmas palavras ao saber da perda de pai. Sorriu com nostalgia.
– Tudo bem, a minha mãe também criou as filhas dela para serem fortes quando ela se fosse.
Seung Ri não pôde deixar de sorrir quando ouviu suas palavras saírem da boca da mulher. O rapaz se aproximou da porta da oficina de seu pai e digitou a senha da fechadura eletrônica.
– A sua mãe fez um ótimo trabalho, então. – Disse antes de se despedir com um aceno e sumir dentro da sala.
Ga Yeong só percebeu o que havia acontecido quando entrou em sua quitinete. Havia conversado por mais de dez minutos com o cliente mais exigente de sua empresa sem gaguejar, se sentir tímida, dar uma de louca ou qualquer coisa do gênero. Na realidade, havia se sentido tão confortável na presença do rapaz que até mesmo havia falado de sua vida pessoal, algo que sempre tentou ser discreta sobre. Ninguém tinha uma boa opinião sobre uma mulher que fosse mãe solteira, muito menos sobre uma criança que fora criada sem uma figura paterna, mas Seung Ri simplesmente a ouviu sem julgamentos, o que apenas fez falar ainda mais sobre si mesma. Era como se estivesse descarregando boa parte de suas mágoas, assim como um pecador confessa seus pecados num confessionário.
Murmurou um “Oh, Céus!” devido as paredes serem tão finas que podia até mesmo ouvir os passos de Seung Ri na oficina ao lado. A garota sentiu o rosto esquentar pela vergonha de ter se exposto tanto para a última pessoa que deveria na face da terra. Apressou-se para pegar um copo de água a fim de se acalmar, levantando o puxador da torneira com mais força que o necessário. A peça foi lançada para cima com a pressão da água que parecia um pequeno chafariz. A primeira reação da garota foi gritar pelo susto e tentar tampar a fonte com as mãos. Péssima ideia, apenas fez com que a água mudasse de direção. Ao invés de atirar para cima, na vertical, a água atingia todos os pontos na horizontal deixando a garota ensopada em questão de segundos.
Como um cavaleiro surgido do nada, Seung Ri abriu a porta que dividia a quitinete e a oficina que ainda não havia sido fechada. Aproximou-se apressado tentando ajudar a parar o vazamento e tendo o mesmo fim que a garota, completamente ensopado. Apenas conseguiram interromper o fluxo de água quando o rapaz teve a brilhante ideia de fechar o registro. Mesmo assim, o estrago estava feito. Boa parte da casa estava inundada e algumas de suas coisas que ainda não havia desempacotado estavam molhadas.
– Eu mereço mesmo... – Ga Yeong suspirou, cansada.
Seung Ri retirou uma das caixas do chão, colocando-a com cuidado sobre a cama caso houvesse algo frágil que pudesse quebrar dentro. Deixou-a de cabeça para baixo para que a parte molhada não tocasse o colchão.
– Aparentemente suas coisas não estão muito molhadas, acho que não deve ter estragado nada. – O rapaz quis tranquiliza-la. – Se quiser, eu te ajuda a secar as coisas.
– Não precisa, você já fez demais. – Ga Yeong se sentia em dívida pela ajuda de Seung Ri. Se estivesse sozinha, provavelmente sua casa agora estaria totalmente embaixo d’água. – Está todo molhado... Eu vou ver se tenho alguma roupa seca para você.
A mulher se apressou e colocou algumas caixas sobre a cama, logo abrindo uma que havia algumas de suas roupas antigas. Antes de sua transformação, Ga Yeong usava tamanho GG ou então comprava na sessão masculina. Dificilmente encontrava roupas que coubessem em seu corpo. Ainda não entendia o porquê não havia jogado tais roupas fora, era como se estivesse tentando se livrar de algo que era parte de si. Entregou uma blusa com a imagem de um personagem japonês ao rapaz que logo franziu o cenho.
– Naruto? – Questionou com uma sobrancelha arqueada.
– Era de uma amiga minha... Ela me deu de presente... – Não entendeu o porquê sentiu a necessidade de explicar ao rapaz a origem de uma blusa que era masculina.
– A sua amiga tinha um péssimo gosto... – O rapaz desdenhou balançando a cabeça de forma descrente enquanto se direcionava para o banheiro. Ga Yeong se sentiu envergonhada e chateada pelo rapaz ter caçoado de seus gostos por animes até que ficou surpresa quando ouviu o mesmo comentar de dentro do banheiro. – Dragon Ball é mil vezes melhor!
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Son Oh Joon estava bastante inquieto, até mais do que estava acostumado. Com a sua suspensão do time, estava impossibilitado de jogar e isso o estressava. Era em campo que colocava o estresse para fora, que colocava a raiva para fora e naquele momento não tinha um escape para isso. A questão com Ga In era o que mais rondava em sua mente. A menina havia dito que iria responder o seu pedido para sair com ele quando tivesse certeza, MAS CERTEZA DE QUE? Ele era Son Oh Joon, o melhor rebatedor do time, capitão do time de baseball, o cara mais popular do colégio, o que diabos ela tinha que ficar pensando para aceitar a proposta? Não era como se ele fosse simplesmente puxar uma faca e a ameaçar de morte caso não o namorasse. Em contrapartida, sua relação com Mun Seo parecia mais perturbada do que nunca. O garoto ignorava suas mensagens e ligações e evitava encontra-lo no colégio. Não queria ouvir suas explicações ou suas motivações, simplesmente estava irritado consigo por ter aderido à aposta e continuar seguindo em frente com a mesma.
Oh Joon pensou se valia realmente a pena perder a confiança e o afeto de Mun Seo por conta de uma aposta idiota feita por um cara idiota, mas era difícil se desprender da ideia de que se fracasse com isso iria apenas fomentar a imagem de que era um perdedor e um fracassado para seus colegas de time. Isso o fazia titubear nas suas decisões, não estava disposto a se desligar da forma como os outros o viam tão fácil assim. O rapaz despertou de seus pensamentos quando uma silhueta feminina se aproximou, sentando-se na carteira à frente a sua. Ga In retirou seus cadernos e os colocou sobre a mesa que compartilhava com o rapaz.
– Desculpe o atraso, não costumo me enganar com os horários. – A garota respondeu. Oh Joon olhou o relógio na parede atrás de si. Era 14:04, ela só havia se atrasado por quatro minutos, não era como se fosse um grande atraso. Franziu o cenho quanto à sua mania de ser extremamente correta. – Enfim, antes de começarmos a aula, eu decidi que podemos sair juntos.
Os olhos de Oh Joon se arregalaram diante da resposta tão direta da garota. Na verdade, não sabia se a surpresa era de fato por ser tão direta ou se era pela mesma ter aceitado sua proposta, já que a garota parecia rejeitá-lo tanto durante a semana todas as vezes que tentava investir em uma aproximação mais direta. Antes que pudesse comemorar por estar mais próximo de concluir a aposta, a garota continuou sua fala, jogando um balde de água fria sobre a sua cabeça.
– Mas como pessoas que estão se conhecendo para se tornarem amigos. – Concluiu a garota.
Oh Joon abriu e fechou a boca algumas vezes tentando formular alguma coisa em sua cabeça.
– Mas... Eu não disse que queria ser seu amigo, eu quero namorar você. – O tom de voz do rapaz pareceu um tanto desdenhoso, mas Ga In não pareceu perceber isso.
– Eu sei. – Ga In respondeu – Mas para tudo existe uma ordem, e pelo para mim acontece dessa forma. Eu não me sinto confortável em me relacionar, de maneira ampla, com alguém que eu não conheço ou não possui algo em comum comigo. Para que eu possa ter uma amizade, primeiro eu preciso conhecer você.
Oh Joon fechou os olhos e suspirou frustrado. Essa garota era de dar nos nervos. Porque ela estava jogando toda aquela baboseira para cima dele? Conhecer? Ser amigo? Aquele não era seu objetivo, ele não tinha qualquer interesse naquilo, ele apenas queria ficar com ela por um dia e espalhar pro seu time que pegado a garota que ninguém nunca tinha conseguido pegar antes. Passou uma mão pelos cabelos, se segurando para não estragar o plano.
– Mas eu já disse que gosto de você! E o que eu faço com esse sentimento?
– É sobre esse sentimento seu que não tenho certeza. – A fala da garota fez com que Oh Joon ficasse surpreso. Será que ela desconfiava de suas intenções? – Não consigo entender como alguém pode gostar de uma pessoa que sequer conhece.
– Ah... Gostando... Eu sei lá...
– Você poderia me dizer qual é o sabor de leite que eu mais gosto?
Oh Joon piscou algumas vezes sem entender onde a garota queria chegar com aquele assunto. Ele não fazia a mínima ideia de qual era o sabor do leite que ela gostava e nem tinha vontade de saber, então porque ela gostava tanto de complicar as coisas?
– Morango? – Chutou sem muita certeza.
– Eu não tomo leite. – A garota confessou deixando o rapaz sem expressão. – É essa a diferença para mim. Eu gosto de pessoas que conheçam o que eu gosto, as minhas manias, minhas falhas, minhas limitações e que, acima disso, ainda continuam do meu lado.
A resposta da menina fez com que Oh Joon refletisse sobre suas palavras. Mesmo depois de finalizarem a aula de reforço daquele dia, o rapaz não conseguiu deixar de pensar sobre o significado daquilo que a garota havia dito para ele. Era como se aquelas palavras houvessem o atingido diretamente nas feridas que tentava esconder, algo que trazia consigo sob a imagem do astro do esporte e pegador que queria tanto continuar sustentando.
Capítulo XI
A situação em que se encontrava parecia bem estranha para Ga Yeong. Há poucos centímetros de distância, perto o suficiente para apenas esticar o braço e tocá-lo estava seu cliente mais exigente – e senhorio – ajudando-a a arrumar a bagunça que estava sua pequena quitinete. Seung Ri parecia estranhamente a vontade, vestido com um bermuda larga de algodão e uma blusa de um personagem de anime que havia ficado maior que o esperado no rapaz. O mesmo havia ajudado a secar o chão depois que a torneira da cozinha havia decidido se rebelar e tentar seguir carreira como chafariz e agora ajudava a desempacotar seus pertences, organizando e secando o que pudesse estragar em contato com a água. A cena era inusitada para a mulher, havia tentado de muitas maneiras evitar contato além do profissional com o rapaz, mas antes que percebesse os dois acabaram se aproximando naturalmente. Seung Ri emanava um sentimento de aconchego que deixava Ga Yeong confortável em sua presença.
– É a sua mãe? – Seung Ri tirou um porta-retratos com cuidado de uma das caixas. Havia duas pessoas na foto, uma garota na casa dos dez anos e uma mulher de na faixa dos trinta anos.
Ga Yeong balançou a cabeça negativamente, acabou sorrindo ao se deparar com a saudade que sentia das pessoas na foto.
– É a minha irmã mais nova e minha madrinha, irmã da minha mãe. Elas vivem em Jeju, então eu quase não as vejo. – Explicou Ga Yeong. – Eu normalmente viajo para lá nas minhas férias ou em algum feriado.
– Deve ser difícil viver sozinha na cidade grande. – Seung Ri pensou alto. Ga Yeong concordou, apesar de não ter dito que não gostava dessa rotina.
– Um pouco, mas com o tempo a gente se acostuma. – Ga Yeong puxou outro porta-retratos da caixa, secando o vidro fino que protegia a fotografia de uma mulher sorrindo em um jardim florido. – Essa era a minha mãe.
Seung Ri admirou a imagem e olhou para Ga Yeong, percebendo o quanto era semelhante à mulher. Era bonita e trazia a sensação de ser uma mulher gentil e amorosa, não muito diferente da filha.
– Ela era bonita. – Seung Ri disse, vendo Ga Yeong concordar com a cabeça.
– Sim. Mesmo que ela tivesse sendo mãe solteira sempre teve muitos homens atrás dela. –A garota falou, se recordando dos momentos em que a mãe era cortejada. – Mas ela sempre foi apaixonada pelo mesmo homem, ela nunca aceitou outra pessoa em sua vida.
– Você não parece ter um bom relacionamento com o seu pai. – A forma distante como a mulher havia falado sobre o homem pelo qual a mãe havia se apaixonado havia entregado seu relacionamento com a mesma. Viu Ga Yeong balançar a cabeça negativamente.
– Na verdade, eu nunca o conheci. Minha mãe também nunca revelou quem ele era e ele também nunca tentou manter contato conosco. – Viu ressentimento nas palavras da garota. – Eu nem sabia se ele estava vivo ou não até minha mãe aparecer grávida da minha irmã.
Ga Yeong colocou o porta-retratos de lado, tirando outra foto da caixa. Era uma foto de sua irmã mais nova, do ano passado, segurando uma medalha das olimpíadas de matemática. A garota havia ficado em segundo lugar e sorria de maneira tímida para a foto. Secou a foto com cuidado sob o olhar atento de Seung Ri.
– Sua irmã e você...
– Somos filhas do mesmo homem. – Ga Yeong completou seu pensamento. – Ela não precisou me dizer, eu sempre desconfiei. Além disso, Ga In e eu temos o mesmo tipo e fator sanguíneo, somos AB positivo e minha mãe era A negativo, então só confirmava as minhas suspeitas.
Seung Ri ficou impressionado com a perspicácia de Ga Yeong ao mesmo tempo em que estava tocado com sua história. Podia entender o porquê se sentia tão ressentida quanto ao seu pai biológico, ele havia se aproveitado dos sentimentos que sua mãe nutria por ele e a abandonou duas vezes, deixou que o peso de ser mãe e provedora da família caísse sobre seus ombros sem qualquer remorso. Percebeu que havia sido abençoado por ter uma família presente, mesmo que eventualmente tivessem algumas divergências de valores.
Ga Yeong tirou da caixa o último porta-retratos, uma foto sua com So Ra no auge da adolescência em um parque de diversões. Enquanto a amiga sorria abertamente e fazia uma pose engraçada, Ga Yeong cobria o rosto com um pirulito gigante. Nunca havia gostado de tirar fotos e as poucas que tinha viviam escondidas, não gostava de deixar registrado seu rosto que era considerado tão feio. Havia sobrado na caixa apenas o anuário do ensino médio. Os olhos de Ga Yeong se arregalaram quando viu o Seung Ri retirá-lo da caixa e abrir o livro na primeira página prestes a folheá-lo.
– Não! – Ga Yeong se atirou sobre o rapaz que se esquivou surpreso.
Como se houvessem iniciado uma batalha, o homem levantou o livro fora do alcance da mulher que tentava pular para alcança-lo. Para o desespero de Ga Yeong, Seung Ri era quase um poste, só faltava uma lâmpada no topo da cabeça, e parecia se divertir com seus esforços para recuperar seu anuário escolar. Acabaram caindo sobre a cama quando Ga Yeong pulou em cima do mesmo para pegar o livro. Rastejou sobre o rapaz que agora tentava esconder o anuário debaixo de si, mas havia sido mais ágil, tomando finalmente o livro para si.
– Ah, queria ver sua foto no colegial... – Seung Ri lamentou com um tom divertido. A garota, entretanto, não tinha o mesmo humor brincalhão que o mesmo, o que fez o rapaz franzir o cenho. – Qual foi? Sua foto não deve estar tão ruim assim.
Ga Yeong balançou a cabeça, guardando o álbum em uma gaveta sem nem ao menos secá-lo. O rapaz se sentou na cama, parecendo entender que havia mais coisas ali do que a garota queria revelar.
– Eu não gosto da minha aparência nessa época. – Confessou. – É só uma neurose minha, mas ainda assim, eu não queria mostrar. – Mentiu. Mentiu em partes, pelo menos.
Era verdade que não queria revelar suas fotos antigas, mas não queria dizer que seu problema com sua aparência era apenas um incômodo seu. Havia sofrido bastante durante o ensino médio e sido isolada por seus colegas por ser considerada feia. Isso havia trazido muitos traumas e dificuldades para se relacionar com outras pessoas por muito tempo.
– Eu entendo. – Sentiu honestidade nas palavras do rapaz. – Desculpe pela brincadeira, não sabia que isso a incomodava.
– Tudo bem... – Ga Yeong o tranquilizou, colocando as mãos nos bolsos de seu jeans. – Você não tinha como adivinhar... E foi engraçado também, de qualquer maneira.
O celular do rapaz tocou sobre a escrivaninha, fazendo com que a vibração do telefone fizesse um barulho alto. Seung Ri esticou o braço alcançando o aparelho, verificando a mensagem que havia acabado de receber. Suspirou com frustração.
– Eu tenho que ir agora. – Seung Ri se levantou parecendo um pouco letárgico. – Preciso resolver uma coisa.
– Claro... – Ga Yeong se lembrou das roupas molhadas do rapaz. – Suas roupas...
– Tudo bem, eu tenho algumas roupas na oficina do meu pai. – O rapaz a tranquilizou. – Eu me trocarei e te devolverei suas roupas mais tarde.
Antes que Seung Ri pegasse as roupas molhadas sobre a cadeira, Ga Yeong foi mais rápida e as pegou, abraçando as mudas de maneira até possessiva, o que fez o rapaz ficar confuso.
– Eu vou lavá-las e te devolverei quando tiver tempo, é o mínimo que posso fazer por ter me ajudado. – Ga Yeong estava grata e queria mostrar sua gratidão de alguma forma, mas não sabia exatamente o porquê queria usar as roupas do rapaz como desculpa para reencontrar o mesmo novamente.
Seung Ri apenas aceitou sua oferta, percebendo-a relaxar um pouco com sua afirmativa. Deixou que a garota o levasse até a porta que separava a oficina de seu pai da pequena quitinete, mas antes que saísse, se voltou para a mesma tomando sua atenção. Ponderou sobre as palavras de seu amigo, sobre convidá-la para sair ou pelo menos demonstrar de alguma maneira que poderia ser alguém com quem ela pudesse se sentir tranquila. Os momentos que haviam passado mais cedo apenas o fez ter certeza do tipo de mulher incrível que estava à sua frente e queria que ela se sentisse confortável com o mesmo como estava se sentindo até alguns minutos atrás, esquecendo as classes sociais em que se encontravam.
– Eu... – Seung Ri parou e repensou sobre sua intenção naquele momento. Apenas balançou a cabeça negativamente, desistindo do que iria falar. – Nada... – O mesmo sorriu e se despediu, fechando a porta depois de desaparecer dentro da oficina, deixando uma Ga Yeong confusa com suas últimas palavras.
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Seung Ja encarou o filho com espanto, tanto pelo seu pedido quanto por seu estado. O garoto tinha alguns hematomas em seu rosto e um corte no lábio inferior, o uniforme estava sujo e amarrotado e o cabelo bagunçado. Ambos estavam do lado de fora da sala dos professores onde os outros quatro rapazes, claramente seus agressores, encontravam-se. Assim que recebeu a ligação sobre uma briga onde Joon Young havia se metido, Seung Ja largou tudo o que fazia para atender a ocorrência. Não era de seu feitio abandonar o trabalho, a menos que o motivo fosse algo muito importante. Para a mulher, Joon Young era o seu bem mais precioso. Mesmo que a relação entre ambos não fosse uma das mais invejáveis, ainda assim não alterava o valor de seu filho em sua vida. Daria sua vida pelo garoto, mas aparentemente isso era algo que Joon Young não queria.
Antes mesmo que pudesse entrar naquela sala e agir em defesa do rapaz, Joon Young a interceptou e pediu como uma súplica que a mulher não fizesse nada, que não pedisse para que os rapazes fossem punidos por suas ações e apenas relevasse o caso.
– E aceitar o que fizeram com você? – Seung Ja estava com raiva, queria que a justiça fosse feita pelo seu filho. – Olha para você, como posso simplesmente ignorar isso?
– Ignorando, como fez a maior parte da minha vida. – As palavras duras de Joon Young a atravessaram como uma faca. – Se o meu pai estivesse aqui, ele iria entender a minha vontade. Apenas esqueça isso, eu posso me virar sozinho.
O rapaz não hesitou em lhe dar as costas e voltar à sala dos professores, deixando Seung Ja sozinha nos corredores. Sentiu seu peito se fechando com as palavras cruéis do menino, mas não o julgava por nutrir aqueles sentimentos negativos sobre si. Seung Ja havia priorizado a sua carreira ao invés de seu filho e agora que tentava compensar seu erro, o rapaz já havia nutrido sentimentos ruins quanto à mesma. Agora, mesmo com a ausência de seu pai em momentos importantes como aquele, Kyung Joon havia se tornado o único exemplo de progenitor carinhoso que o seu filho conhecia.
Seung Ja se isolou em seu escritório assim que deixou o colégio de seu filho. Mesmo à contra gosto, decidiu seguir a vontade do rapaz de deixar passar aquela atrocidade. Não tinha forças para entrar em outro conflito, fosse com seu filho ou com o conselho estudantil. Não queria ter que lidar com pessoas a culpabilizando por seu filho estar no meio de uma briga como sabia que fariam. “Se a mãe dele se ocupasse em educá-lo ao invés do trabalho...”, “se os pais dele não fossem divorciados...”, “se ao menos a mãe dele fosse mais presente...”, Seung Ja estava cansada de ser tão julgada. Quando teve Joon Young, a mulher não estava pronta para largar sua carreira. Havia batalhado por anos para merecer o cargo que tinha, batendo de frente contra muitos obstáculos. Era uma conquista preciosa para si que não queria deixar de lado quando se tornou mãe, mesmo que outras pessoas dissessem que deveria fazê-lo.
Sua mãe, seu marido, as poucas amigas que tinha, todos tinham o mesmo pensamento: a maternidade deveria ser sua única e fundamental prioridade. Isso fez com que Seung Ja se sentisse em conflito por muito tempo. Ela queria ser mãe e ter uma carreira, mas porque seu filho que havia desejado tanto tirava a sua escolha de ser a profissional que sempre sonhou? Com o tempo, aquele sentimento angustiante dentro de si substituiu o amor materno por remorso. Durante muito tempo evitou ser a mãe que Joon Young precisava até entender que aquilo não era natural. Uma mãe não deveria detestar seu filho, certo? A mulher precisou de tempo e coragem para enfrentar aquele sentimento de infelicidade que havia surgido com a chegada de seu único filho, que a havia arrebatado e muitas vezes a deixava incapaz de levantar da cama.
Seung Ja apenas soube que tinha depressão pós-parto quando seu irmão, seu único aliado, havia ficado ao seu lado quando decidiu consultar um psicólogo. Seung Ri foi para ela sua fonte de energia para enfrentar o tratamento para sua condição. Mesmo fazendo psicoterapia regularmente com a ajuda de medicamentos, levou muito tempo para que a mulher reaprendesse a amar o filho novamente. Desassociar a culpa por não poder ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo do garoto havia sido difícil para si, se livrar de uma crença que crescia tão fixa em seus pensamentos levou tempo demais. Joon Young agora era um rapaz quase adulto e a ausência materna haviam o tornado amargurado quanto a ela. Seria difícil que o filho lhe perdoasse algum dia.
Ouviu uma batida fraca na porta. Mesmo que não houvesse dito para entrar, seu assistente se infiltrou para dentro da fala portando um grande bloco de papéis e um café de sua cafeteria predileta. A mesma titubeou por um momento, se apoiando na janela de seu escritório onde estava a observar a movimento nas ruas, perdida em pensamentos. Com a aproximação do rapaz, colocou uma expressão de seriedade em seu rosto enquanto o observava deixar as folhas sobre sua mesa e então lhe oferecer o café. Era um latte gelado, seu café preferido, mas não havia pedido por ele.
– A senhora não parece ter tido um bom dia, então achei que poderia ajudar a melhorar um pouco as coisas. – Ji Soo foi honesto. O gesto de gentileza do rapaz havia lhe deixado tocada.
– Eu acho difícil que um café melhore o meu dia... – A voz da mulher soou cansada.
– Eu também não acho, mas tinha esperanças. – Ji Soo respondeu com uma cumplicidade incomum aos dois. – Seu temperamento ruim dificulta o meu trabalho.
Normalmente Seung Ja se sentiria ofendida com aquele tipo de resposta, mas ao contrário do esperado, a mulher apenas riu. De certa maneira se sentia acolhida pelo rapaz ao seu lado. Era como se suas posições hierárquicas dentro da empresa houvessem ficado em segundo plano e agora se tratassem como iguais. Um sentimento de tranquilidade a atingiu enquanto conversava com o rapaz.
– Não abuse, eu ainda posso te demitir pela péssima piada. – A mulher avisou, mas o tom brando soara mais como uma brincadeira, como se houvesse aderido ao humor do rapaz.
– Então eu acho melhor manter minha boca fechada. – Ji Soo simulou como se houvesse fechado um zíper em sua boca.
O rapaz se afastou, fazendo uma mesura de maneira descontraída. Seung Ja apenas olhou para o copo em sua mão, reparando na caligrafia delicada na capinha que envolvia o copo. Destacou o pequeno pedaço de papel analisando-o melhor por um segundo. Antes que Ji Soo saísse da sala, Seung Ja o confrontou.
– Você não comprou esse café pra mim, não é? – A mulher exibiu a capinha onde havia o nome Nam Hae Kook de um lado e um número de telefone com uma marca de batom no lado oposto.
Ji Soo coçou a cabeça, constrangido por ter sido pego no flagra.
– Talvez... – A resposta arrancou um sorriso de Seung Ja, que agora se via sozinha novamente em seu escritório monótono e frio, mas que agora parecia um pouco mais acolhedor do que minutos atrás.
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A mulher não parecia muito satisfeita, apesar sorrir ao apertar a mão de Seung Ri. Depois de trocar de roupa e deixar a antiga oficina de seu pai, o rapaz pegou seu carro e partiu em direção ao centro da cidade. Com toda a confusão na casa de Ga Yeong, havia se esquecido totalmente do encontro às cegas que sua mãe havia marcado para ele. Ainda que não gostasse de participar de tais eventos, sempre ia por consideração à sua mãe e por educação à pessoa com quem estava se encontrando. Não tinha a intenção de se relacionar romanticamente no momento – ou pelo não com as mulheres com quem se encontrava – apesar de sua mãe insistir que o mesmo deveria se casar logo para lhe dar netos, por isso sempre era bastante claro com quem quer estivesse no outro lado da mesa sobre suas intenções, mesmo que isso frustrasse a pessoa. Pagou a conta do refeição e acompanhou a mulher na saída do restaurante, certificando-se de conseguir um táxi para deixar a mesma em segurança em sua casa e logo depois se direcionou ao seu carro, voltando para sua empresa para mais uma reunião de negócios.
– Precisamos de pessoal mais experiente e que estejam acostumados com a cultura da empresa para nova filia. – O rapaz pronunciou com uma voz carregada de sotaque, tornando aparente que era estrangeiro.
Com o crescimento da IT Tecnology nas mãos de Seung Ri, uma expansão da empresa para outros países deixou de ser um sonho para se tornar um projeto, mas para poder abrir uma filial em outro país era preciso de uma pessoa competente que pudesse gerenciar os funcionários da maneira correta. Sua primeira escolha havia sido sua irmã, mas sabia que por mais que Seung Ja amasse seu trabalho, ela não iria deixar o país por isso, principalmente por causa de seu sobrinho. Sendo assim, precisou arranjar uma pessoa que se encaixasse nos requisitos que um gerente de filial necessitava. Jack Hansen era de origem humilde, até onde sabia, mas tinha um olha afiado para o mundo dos negócios. Era bem articulado, inteligente e produtivo, além de ter uma personalidade um tanto feroz, perfeito para gerenciar a filial que pretendia abrir em Nova York.
– Quer que nós cedamos funcionários da nossa sede para a filial? – Seung Ri completou o raciocínio da maioria dos acionistas presentes.
– Apenas o suficiente para que possamos manter a empresa funcionando enquanto contratamos e treinamos novos funcionários. – Jack respondeu. – Se olhar na apostila, verá a relação de quantas pessoas precisaremos para manter a filial estadunidense.
Eram muitos funcionários, não seriam o bastante para falir a empresa, mas poderia prejudicar alguns setores. Pensou consigo mesmo se teria uma solução para esse problema. Quanto a enviar funcionários para a nova filial, não teria muito jeito. Era preciso que tivessem pessoas mais experientes e familiarizadas com os valores e a rotina da empresa, mas não podiam deixar que a sede tomasse danos por isso.
– Podemos escolher alguns funcionários que se destacam na empresa e enviá-los para a filial de Nova York. Ofereceremos um bônus e algumas garantias, como ajuda de custo com moradia e educação pros filhos. Isso pode motivar alguns funcionários a aceitarem a proposta. – Seung Ri pensou. – Mas gostaria que as vagas fossem temporárias para alguns deles. Em quanto tempo você acha que pode contratar e treinar novos funcionários e deixa-los aptos para se adequar à empresa?
– Dois anos e meio, três anos... – Jack estipulou. – Já estamos nos planejando para começar as contratações, mas falta pessoal adequado para as seleções.
– Então podemos oferecer um contrato de trabalho de três anos e meio para os funcionários que escolhermos e também podemos abrir inscrições para outros funcionários que tiverem interesse em ir para a filial. – Seung Ri anotou as ideias na apostila. – Enquanto isso, contratamos temporários experientes pra suprir a falta do pessoal até que possam voltar pra sede.
– Pra mim, parece uma boa solução. – Jack concordou.
– Começaremos amanhã a selecionar o pessoal, então. – Seung Ri declarou. – Essa foi a última pauta da reunião, então podemos encerrar por aqui.
Assim que se viu livre de mais uma reunião tediosa, Seung Ri se refugiou em seu escritório, mas não ficou muito tempo sozinho. Logo viu a senhora Lee Doo Na surgindo com uma careta não muito amigável, o que o levou a suspirar já prevendo a bronca que viria por dispensar mais uma pretendente em seu encontro às cegas.
Bom, ela não podia culpá-lo, ele disse que iria ao encontro, não que aceitaria uma namorada.
Capítulo XII
Exausto.
Essa era a palavra que definia o estado de espírito de Ji Soo. Havia mais uma vez feito trabalho extra para compensar o atraso nas tarefas – o que fez apenas depois de ponderar bastante por conta dos acontecimentos de alguns dias atrás. Apenas se sentiu confortável de ficar depois do expediente ao ver a chefe sair do trabalho no fim do dia, deixando-o livre para se concentrar em seus próprios assuntos. Ji Soo era casado com sua primeira namorada que conheceu na adolescência e haviam tido sua primeira filha há um pouco menos de dois meses. Por mais que a rotina de pai e assalariado o estivesse desgastando de muitas formas, não queria trocar o que tinha por um impulso estranho de uma única noite. Amava sua esposa, amava a vida que construíram juntos apesar das dificuldades e amava a filha que tinham, estava bem assim. Entretanto, ainda não entendia o que o havia acometido para se relacionar com sua chefe.
Até algum tempo atrás, nunca havia olhado para Seung Ja com outros olhos. Para o rapaz, a mulher era apenas sua chefe, uma mulher competente, porém extremamente rígida e não exatamente acolhedora com seus funcionários. Mesmo trabalhando para a mulher há alguns anos, nunca haviam tido uma conversa que fugia do meio profissional, mas então de uma hora para a outra simplesmente havia a desejado como se fosse o último copo de água no meio do deserto. E depois de tudo, mesmo prometendo a si mesmo que não deixaria que aquilo acontecesse novamente, pegou-se consolando a mulher que parecia estar deprimida com a desculpa esfarrapada de que o humor da mesma poderia afetar seu trabalho. Bom, talvez afetasse, mas isso não era um motivo bom o bastante para ter tentado dar uma de “amigo pra toda hora” para confortá-la. Eles não tinham essa intimidade, independente do que havia acontecido naquela noite.
O rapaz dispersou os pensamentos. Assim que chegou em seu lar, encontrou as luzes apagadas e o apartamento silencioso. Tirou os sapatos e rumou para a cozinha. Antes de se deitar, sua esposa havia deixado o jantar posto para o mesmo. Apenas sentou-se à mesa e começou a comer, lavando a louça logo depois e indo o chuveiro em seguida. Sentir a água quente cair sobre seu corpo parecia varrer boa parte da tensão que carregava consigo, se permitiu demorar mais que o normal no banho antes de ir para a cama. Mi Nah se remexeu assim que subiu no colchão, mas não pareceu ter acordado. Ji Soo se aconchegou próximo da mulher, enlaçando sua cintura. As costas femininas estavam contra seu peito, podia sentir a respiração da mesma sob sua mão que fazia um leve afago em sua barriga. Afastou as longas madeixas castanha do caminho e buscou o pescoço da esposa, depositando alguns beijos na região enquanto sua mão trilhava um caminho sinuoso entre as pernas da mulher. Mi Nah se remexeu, suspirando levemente e segurando a mão do marido, impedindo-o de ir mais além.
– Hoje não, amor. – Murmurou sonolenta – Hoje eu estou cansada.
Ji Soo também estava, mas se perguntou por que apenas ele sentia falta dos momentos de intimidade entre os dois e ela não. Afastou-se, suspirando com frustração. A mulher se virou na cama, puxando o cobertor até os ombros.
– Da próxima vez eu prometo que vamos fazer... – Ouviu a esposa certificar – Desculpe...
Não demorou muito para que a mulher estivesse ressonando novamente, deixando Ji Soo isolado com suas frustrações. Percebeu ali que não estava tudo bem com a vida que tinha. Ele se sentia de lado, como se além da filha do casal, outras coisas houvessem se tornado mais importante para Mi Nah do que ele. Não sabia se era apenas por causa da rotina, mas não sentia mais o afeto de sua esposa. Deixou-se vencer pelo cansaço e antes que percebesse havia caído no sono.
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Oh Joon suspirou frustrado deixando o celular de lado. As mensagens que havia mandado para Mun Seo não haviam sido visualizadas, o garoto simplesmente estava o ignorando. Não atendia as ligações, havia o bloqueado em suas redes sociais e o evitava no colégio, o que só fermentava mais os boatos sobre a briga dos dois, que realmente havia acontecido. Sentia falta do rapaz, era a única pessoa com quem se sentia bem para falar sobre seus anseios e seus problemas. Estava acostumado com sua presença silenciosa por perto e isso o deixava confortável. Sua vida era um tanto caótica por conta de seu relacionamento com seus pais. Sempre que decidiam passar algum tempo em casa, o rapaz acabava discutindo com seus progenitores por algum motivo.
Há poucos dias atrás, entrou em uma discussão com sua mãe por conta de um cãozinho sem perna que havia resgatado da rua, cujo qual havia apelidado de Panqueca. Mesmo tendo cuidado do animal por quase um mês na ausência do casal e ter mantido a casa em ordem, foi obrigado a entregar o cãozinho apenas porque seus pais não queriam o animal por perto, mesmo que mal ficassem uma semana completa em casa antes de viajarem novamente. Em outra ocasião, essa em particular havia deixado a relação de Oh Joon com os pais ainda mais caótica, seu pai havia quebrado sua tão sonhada guitarra que havia levado meses economizando para comprar apenas porque, na opinião de seus pais, ser músico não era um bom caminho para o mesmo. Não era atoa que preferia que os dois apenas continuassem viajando à trabalho como sempre faziam ao invés de estarem mais presentes. Acabou se dedicando ao baseball pois via ali uma forma de extravasar a raiva que sentia, mas não esperava se tornar uma parte tão importante do time.
Pensar em sua relação com seus pais e com Mun Seo o fez relembrar das palavras de Ga In durante a noite. “É essa a diferença para mim. Eu gosto de pessoas que conheçam o que eu gosto, as minhas manias, minhas falhas, minhas limitações e que, acima disso, ainda continuam do meu lado”. Para o rapaz, Mun Seo era exatamente essa pessoa. A única pessoa com quem podia ser ele mesmo, sem máscaras, sem segredos e ainda assim ter o seu afeto e sua aceitação, mas ele poderia ficar bem apenas com Mun Seo aceitando seu verdadeiro eu? E quanto às outras pessoas, e quanto aos seus colegas, seus amigos do time? Seus pais já pareciam renegar qualquer coisa referente à ele, mesmo que não falassem explicitamente isso. Será que o aceitariam verdadeiramente como ele era? Oh Joon duvidava muito que isso pudesse acontecer.
No meio da noite, as palavras da garota ainda ecoavam em sua mente. Conhecer o que eu gosto... Não era uma má ideia, afinal, pensou Oh Joon. Abandonou os pensamentos melancólicos e se dispôs a planejar o dia seguinte.
Oh Joon chegou atrasado na aula de reforço. Mesmo sendo sábado, a escola ficava aberta para que os alunos pudessem estudar e usar a biblioteca. Apesar do fluxo de alunos ser consideravelmente menor nesses dias, ainda havia até bastante gente na instituição. Assim que entrou na sala, Ga In o olhou insatisfeita. Checou o relógio verificando quanto tempo o rapaz havia se atrasado. Independente se estivesse atrasado por uma hora ou um minuto, sabia que levaria bronca do mesmo jeito. A garota tinha uma rigidez com seus horários, era pior do que seus professores.
– Você está trinta e sete minutos atrasado. – Declarou. – Por causa disso, vou precisar replanejar as atividades de aula da próxima aula e adicionar as atividades que não vamos ver hoje para a semana que vem.
– Na verdade, eu não vim aqui estudar. – Oh Joon declarou, colocando um sacola de equipamentos sobre a mesa. A garota o olhou interrogativa. – Vamos sair.
– Por quê?
– Porque você disse que queria me conhecer melhor. – Oh Joon esboçou um sorriso travesso.
– Eu disse que deveríamos nos conhecer melhor. – Ga In o corrigiu, deixando claro que o rapaz deveria fazer o mesmo esforço para tentar conhece-la também.
– É, mas de qualquer maneira, eu já sei algo sobre você agora. – Oh Joon disse confiante. – Sei que você não bebe leite... E gosta de matemática. Também sei que é bem certinha com seus horários e é organizada. – Oh Joon contou nos dedos as suas observações, atraindo a atenção de Ga In. – Mas você ainda não sabe nada sobre mim.
Oh Joon tinha um ponto interessante. De fato, ele havia observado muitas coisas que compunham a personalidade de Ga In, mas até então, a única coisa que sabia sobre o rapaz, em suas próprias observações era que o mesmo era péssimo com horários e que fazia parte do time de baseball. Não havia muitas coisas sobre Oh Joon que Ga In pudesse dizer que conhecia além do que estava na superfície.
– Mesmo assim, deveria ter me falado, assim eu poderia ter me programado. – Ga In parecia frustrada pela forma como o rapaz havia decidido as coisas sem consulta-la primeiro.
– Se eu tivesse falado, não seria uma surpresa.
– Eu não gosto de surpresas. – Ga In foi categórica, o que fez Oh Joon suspirar.
– Eu não consigo marcar um homerun com você, não é?
– Eu não entendi. – Ga In não era nem um pouco familiarizada com termos esportivos.
– Apenas venha comigo, já perdemos quase todo o tempo de aula mesmo, você pode me ensinar o que tiver no seu caderno mais tarde.
Oh Joon precisou rebolar para convencer a garota a acompanha-lo. Guiou o caminho até o campo de baseball ao lado do gramado onde faziam educação física. O campo estava bem cuidado e tinha uma proteção ao redor para evitar que a bola fugisse para muito longe. Deixou que a garota se acomodasse na arquibancada enquanto pegava alguns equipamentos extras. Trouxe um lançador automático, algumas proteções corporais e um taco para Ga In, visto que o mesmo já havia trago seu próprio equipamento de casa.
– Por que quer que eu vista isso? – A garota questionou quando o rapaz pediu para mesma colocar a proteção.
– Porque você vai jogar comigo. – Respondeu.
– Eu não quero jogar.
– Vamos, Ga In... – O rapaz falou de um jeito bastante informal, algo que Ga In não estava acostumada. – Você disse que queria me conhecer melhor.
– Eu disse... – O rapaz a interrompeu, completando seu raciocínio.
– Que queria que nos conhecêssemos melhor. É, eu sei. – O rapaz revirou os olhos com ar entediado. – Então, vamos fazer desse jeito. Você me vê jogando uma partida, só pra ver como é, e depois tenta uma vez, ok?
Sem ao menos esperar sua confirmação, o rapaz tirou sua jaqueta para ficar mais confortável com as rebatidas. Colocou algumas bolas na máquina e assim que ligou, a máquina começou a atirar bolas em um determinado intervalo de tempo. Oh Joon rebatia todas as bolas que eram lançadas com precisão, parecendo confortável e entretido com a atividade, era como se estivesse se divertindo, Ga In pensou, mas não fazia tanto sentido para si. A única coisa que via era o rapaz repetir seguidas vezes o mesmo comportamento, como se fosse um ritual. O que poderia haver de tão interessante na atividade? Depois de algumas rebatidas, o rapaz desligou a máquina momentaneamente e ergueu o taco para a garota.
– Sua vez. – Ga In não parecia estar muito motivada a tentar rebater as bolas. – Qual é, você precisa tentar...
– Eu não vejo como ficar batendo com um pedaço de madeira em uma bola repetidas vezes pode ser divertido. – Ga In desdenhou, fazendo Oh Joon soltar um grunhido baixo
“E eu não vejo como ficar escrevendo um monte de números num caderno possa ser divertido”, pensou consigo mesmo, mas manteve a máscara de bom garoto.
– Você só vai descobrir isso quando entrar em campo.
Ga In acabou cedendo, mesmo à contra gosto. Não estava muito confiante quando colocou a proteção que o rapaz lhe dera. Havia tido algumas dificuldades para ajeitar o traje em seu corpo, visto que fora projetado para homens altos. O traje que deveria bater em sua cintura quase alcançava seus joelhos, o que deixava a garota bem engraçada. Oh Joon não pôde deixar de rir quando viu o resultado final.
– Eu vou tirar isso. – Ga In falou, mas foi impedida pelo rapaz
– Eu não quis rir de você, mas é que você ficou engraçada com essa roupa. – Oh Joon confessou. – Desculpe, não tinha outro tamanho no vestiário.
Ga In resolveu relevar, estava claro que o rapaz estava se esforçando para criar uma relação com a mesma, então podia ao menos tentar ser um pouco mais flexível, mesmo que isso fosse contra a sua natureza. Assim que pegou o taco, percebeu era mais pesado do que esperava. Colocou-se na plataforma, da mesma maneira como o rapaz havia demonstrado minutos atrás. Antes que ele ligasse a máquina, no entanto, o rapaz se aproximou com um capacete. Afastou-se quanto percebeu que o rapaz queria colocar o capacete em sua cabeça.
– Precisa mesmo de todo esse equipamento? – Ga In questionou – Você não usou capacete ou colete.
– Eu sou um jogador experiente. – Oh Joon se aproximou e colocou o capacete em sua cabeça. A menina se encolheu como se houvesse levado um tabefe, mas antes que houvesse percebido, o rapaz já havia até mesmo prendido a correia em seu queixo para impedir que o capacete caísse. – Você é novata, é praticamente obrigatório. Acredite, você vai agradecer por estar usando tudo isso.
Assim que a garota pareceu estar pronta, o rapaz ligou a máquina. Ga In esperou a primeira bola, segurando o taco com firmeza. Esperou alguns segundos e então veio o primeiro disparo. Antes que pudesse ver o objeto, a bola acertou o fundo do campo atrás de si, assuntando a garota. Oh Joon segurou uma risada da reação da menina que pareceu ter percebido.
– Não é tão fácil quanto parece, não é? – Oh Joon provocou, o que fez Ga In apenas soltar um suspiro frustrado.
A segunda bola teve o mesmo destino que a primeira. Quando a terceira bola foi lançada, Ga In tentou acertá-la com o taco, mas acabou entrando no trajeto da mesma. Se não fosse pelo capacete, teria sido acertada na cabeça. O rapaz, percebendo o que havia acontecido, desligou a máquina e se aproximou da menina.
– Você está bem? – A garota jogou o taco no chão, frustrada.
– Isso é uma perda de tempo. – Resmungou. – Não existe nada de produtivo nisso e eu não sou boa nesse jogo.
– Você está apenas começando, é normal. É só questão de tempo até você pegar o jeito. – Oh Joon suspirou, tentando ser paciente. A verdade é que o corpo mole da garota estava o irritando. Pegou o taco e a entregou novamente. – Olha, o problema é a forma como você está posicionada. Está tensa demais. Deixa eu te mostrar como faz.
Ga In ofereceu o taco ao rapaz quando o mesmo disse que a mostraria como deveria se posicionar, no entanto, a ideia de demonstração do rapaz era outra. A garota se encolheu quando sentiu o peito do rapaz contra suas costas, um pouco incomodada com o toque repentino. O rapaz segurou suas mãos, posicionando bem onde cada uma de suas mãos deveria segurar no taco enquanto dava instruções se como deveria manter as pernas afastadas em relação ao tronco. Simulou uma rebatida, sem as bolas mesmo, ensinando a garota a se acostumar com os movimentos. Oh Joon parecia realmente empenhado em lhe ensinar sobre seus gostos, pensou Ga In, se deixando relaxar. O garoto se afastou, olhando-a com certa animação.
– Acho que podemos tentar novamente. – Concluiu o rapaz.
Entretanto, assim que as bolas começaram a ser disparadas novamente, a garota parecia ter se esquecido de todo o treinamento básico que havia recebido. Oh Joon se aproximou da menina, voltando a se posicionar às suas costas. Deixou que uma das bolas disparadas passasse por eles e se preparou para rebater a próxima. Ga In não parecia confiante, não acreditava que conseguiria acertar alguma coisa, mas contra todos as suas crenças, assim que a bola foi disparada, o rapaz movimentou suas mãos, deixando que a mesma finalizasse a jogada sozinha, e finalmente a garota conseguiu acertar o objeto.
– Eu consegui... – Ga In encarou Oh Joon perplexa. – Eu realmente consegui...
– Eu falei que era só questão de tempo... – O rapaz se vangloriou por finalmente ser o dono da razão. – Foi divertido, não foi?
Ga In não esperava que fosse gostar de ter acertado uma rebatida, nunca fora fã de esportes, nem sequer pedia seu tempo assistindo na televisão. Não entendia o prazer por trás de ficar correndo atrás de uma bola ou de competir para chegar em primeiro lugar em uma corrida. Seus professores que sempre estiveram por dentro de sua condição nunca lhe cobraram participar de atividades físicas, alguns até preferiam que estivesse isolada, então nunca se preocupou realmente com aquele tipo de atividade. No entanto, havia entendido o tipo de emoção que aquilo gerava. Era como ela com seus quebra-cabeças. Sempre que montava algum, precisava procurar as peças certas, os locais certos para encaixá-las, saber diferenciá-las e isso levava tempo e esforço, o que fazia o resultado final ser gratificante. A emoção não era diferente de quando finalmente acertou a bola.
– Sim, mais do que eu esperava... – Ga In confirmou, sorrindo de leve.
A visão do sorriso feminino fez Oh Joon sorrir também.
– Podemos tentar de novo? – Ga In perguntou, mas Oh Joon parecia que tinha sua atenção focada em outra coisa atrás de si.
– Talvez outro momento... – Oh Joon falou, se apressando para tirar seu capacete. Ga In não entendeu o porquê o rapaz havia feito isso. Ele apenas apressadamente jogou seu equipamento dentro da bolsa que havia trago consigo, deixando os artigos esportivos do colégio largado pelo gramado.
– Son Oh Joon! – Ouviu uma voz masculina e grave gritando ao longe.
Quando Ga In se virou, percebeu que era um professor que estava se aproximando junto com alguns alunos, alguns rapazes uniformizados com o uniforme do time e algumas garotas que se aproximavam para assistir o treino. Antes que a garota pudesse ligar A com B, Oh Joon a puxou pela mão, forçando-a a correr junto com o mesmo. Só então entendeu que o rapaz havia usado o campo contra as regras e que agora estavam fugindo do castigo. O treinador tentou alcança-los, mas antes mesmo de conseguir chegar no local onde estavam treinando, os dois já haviam sumido.
– Esse garoto... – O treinador praguejou.
Atrás do mesmo, algumas alunas discutiam sobre o astro da escola estar possivelmente de namorada nova, afinal, era estranho que o rapaz estivesse em campo com alguma garota que não fosse algum de seus relacionamentos passageiros.
– Aquela era a Park Ga In da turma avançada, não é? – Uma das garotas perguntou entretida com a conversa. Uma das garotas confirmou com a cabeça.
– Isso significa que ele superou a Lee U Jin? – As garotas pareceram ficar ainda mais em êxtase. Fazia algum tempo que Oh Joon não saía com alguém desde que Lee U Jin havia lhe dado um fora. – Caramba, que babado! As meninas precisam saber disso...
Capítulo XIII
– Garota, que babado! – So Ra deu um leve tapinha no ombro da amiga.
As duas mulheres estavam na quitinete de Ga Yeong. Sendo sábado, So Ra havia tirado o dia de folga para ajudar a amiga desempacotar e organizar todos os seus pertences, mas ficou surpresa ao ver que boa parte da arrumação estava mais adiantada do que esperava. Depois que Ga Yeong explicou-lhe o motivo de ter arrumado tão rápido suas coisas, So Ra não pôde deixar de ficar surpresa. Inesperadamente, a mulher havia contado com a ajuda de Seung Ri, seu senhorio e cliente em sua empresa, para arrumar boa parte da bagunça que estava seu apartamento depois que a torneira da cozinha havia quebrado e inundado a quitinete.
– Eu já gosto desse cara. – Disse So Ra. – Apoio total que você desencane do Kyung Soo e fique com ele.
– Para de baboseira, So Ra. – Ga Yeong corou. Ela não queria pensar no rapaz daquela forma, além disso, seus sentimentos por Kyung Soo sempre foram fortes, não era como se fosse deixar de gostar do rapaz de uma hora para outra, mesmo que ele sempre tenha lhe destratado de muitas formas.
– Eu só estou falando. – So Ra deu de ombros – Por mim, o Kyung Soo podia desaparecer da terra. Não faria falta nenhuma.
Não era nenhuma novidade para Ga Yeong que sua amiga detestava o rapaz por quem sempre fora apaixonada. Desde sempre, quando ouvia as histórias sobre como o rapaz lhe tratava, apenas pegou antipatia pelo mesmo. O sentimento se intensificou quando conheceu Kyung Soo pela primeira vez. Sequer havia precisado encontra-lo novamente depois disso para passar a detestá-lo definitivamente. So Ra tirou do varal algumas peças de roupa que haviam molhado no dia anterior. Ao ver as roupas masculinas que estavam ali, não pode deixar de dar um sorrisinho e provocar a amiga.
– Além disso, pode ser que o senhor Lee tenha algum interesse em você. – Sugestão de So Ra fez com as antenas de Ga Yeong ficassem em alerta – Quer dizer, não é muito comum um senhorio, ainda mais tão rico como ele, se empenhar tanto para ajudar sua inquilina.
Realmente, So Ra tinha um ponto, mas não via como o rapaz poderia ter algum interesse em si. Para Ga Yeong, Seung Ri era apenas uma pessoa gentil, que ajudava alguém sem olhar a quem. Era algo distante demais da realidade que o mesmo estivesse gostando dela, mas admitia que a sua companhia a deixava confortável, tanto que se sentia segura em falar sobre sua vida com o mesmo, assim como o rapaz também parecia gostar de falar sobre sua vida com ela. Além disso, não via o rapaz dessa forma também. No máximo, podia considerá-lo como uma espécie de amigo com quem não tinha muita intimidade.
– Já deu de criar teorias, né? – A garota arremessou um travesseiro na amiga, que logo retaliou lançando-o de volta. – Preciso fazer compras, está faltando alguns materiais de limpeza e não tem muita coisa pra fazer o jantar.
– Devemos ir no mercado? – So Ra sugeriu. Olhou em seu relógio, percebendo que eram quase três da tarde. – O mercado fecha cedo hoje, se formos agora, conseguiremos comprar tudo o que você precisa a tempo.
Ga Yeong concordou com a ideia e logo montou uma listinha do que precisaria. As duas então saíram e em pouco tempo chegaram ao mercado que não ficava muito distante dali. A praticidade de morar próximo ao comércio do local foi uma das coisas que a atraíram para alugar a quitinete. Se fizesse suas compras semanalmente ou a cada quinzena, não precisaria se preocupar em gastar dinheiro com transporte, tendo em vista que não teria que carregar muito peso em suas compras. Assim que chegaram ao mercado, So Ra puxou um carrinho e partiram em busca das coisas que precisavam.
– Eu preciso comprar uma torneira nova. – Ga Yeong falou assim que percebeu que havia esquecido de colocar o item em sua lista. A parte onde encontraria a peça ficava do outro lado do mercado.
– Eu vou ir lá buscar, você pode ir pegando o que falta da lista. – So Ra se ofereceu. A garota concordou com a cabeça e logo So Ra desapareceu de sua vista.
Continuou procurando sozinha as coisas listadas até ouvir seu nome ser chamado. Assim que se virou, se surpreendeu ao encontrar Kyung Joon. O rapaz vestia uma blusa de moletom elegante e jeans escuro, de longe era possível ver o quanto aquela roupa era cara, mas caía muito bem no corpo esbelto do rapaz. Viu um sorriso característico surgir no rosto do homem assim que confirmou que era realmente ela. Ga Yeong sentiu o coração falhar uma batida conforme o rapaz se aproximava. Kyung Joon exalava um charme naturalmente selvagem, o que deixava Ga Yeong com as pernas molengas. Reconheceu o perfume cítrico do rapaz, um pouco menos ardente pela falta do álcool, mas ainda tão potente para mexer com seus sentidos. Piscou algumas vezes quando percebeu que o rapaz já estava perto de si.
– Senhorita Cha? – O rapaz repetiu, chamando-lhe a atenção.
– Ah, sim... – A garota colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, se sentindo um tanto tímida. – Oi.
“Oi? Não tinha algo mais empolgante pra dizer, não?” praguejou consigo mesma. Encontrar o rapaz em um mercado era a última coisa que esperava. Kyung Soo não tinha o perfil de quem perdia tempo fazendo compras para seu lar. Reparou que a única coisa que o rapaz tinha em mãos eram algumas pilhas, uma lanterna e algumas barrinhas de proteína. Talvez houvesse passado ali apenas porque precisava de algo mais urgente, concluiu.
– Eu não tinha certeza se era você mesma, você parece bem diferente de quando está no trabalho. – O rapaz confessou. Normalmente, a garota sempre usava roupas sociais bem sóbrias no trabalho, vê-la com um jeans surrado e uma camiseta com a legenda “Estou com fome! Alimente-me, mortal!” era algo que passava longe na imaginação do rapaz.
O comentário de Kyung Soo fez Ga Yeong corar e avaliar seu próprio estado. Era o tipo de roupa que normalmente usava em casa, com exceção de seu jeans, mas as roupas pareciam desgastadas demais para serem usadas na rua. Na verdade, até seus tênis que deveriam ser brancos pareciam desgastados demais para serem usados sem o risco de se esfarelarem no próximo passo que desse. Estar vestida de forma tão desleixada, mesmo que fosse para ir ao mercado fazer as compras da semana, lhe deixava um pouco desconcertada frente ao homem que estava tão bem vestido, mesmo que o rapaz não parecesse se incomodar com esse fato.
– Eu acho que deveria ter me arrumado melhor... – Ga Yeong respondeu.
– Você acha? Eu estava pensando que essa roupa caiu bem em você. – Kyung Soo parecia mais amigável que o normal para Ga Yeong. Ainda que não houvesse dito aquilo de forma direta, as palavras do rapaz pareciam mais um elogio. Era como se dissesse que mesmo se vestisse um saco de lixo, continuaria bonita. – Está acompanhada? – Kyung Soo percebeu que havia bastante coisa para apenas uma pessoa em seu carrinho. A garota confirmou timidamente.
– Estou com uma amiga. Ela foi pegar uma torneira nova pra mim. – Ga Yeong comentou. O rapaz franziu o cenho por conta do item incomum que a mesma estava comprando. – Ah, eu acabei de mudar recentemente, a torneira da casa era um pouco antiga e acabou quebrando.
– Quebrou direto na parede? – Kyung Soo fez uma careta como se tivesse experiência com o problema.
– Por sorte, não, mas molhou meu apartamento inteiro do mesmo jeito. – Ga Yeong confirmou. Se o encanamento tivesse quebrado dentro da parede, precisaria chamar um encanador e um pedreiro com urgência. – Por sorte o senhorio estava lá e me ajudou a fechar a água. Eu nem sabia onde ficava o registro da casa.
– Imagino a bagunça que deve ter ficado. – Se perguntou como Kyung Soo parecia tão por dentro dessas coisas. O rapaz sempre havia sido o típico filho mimado de seus pais, não era como se fosse habitual ao rapaz precisar resolver seus próprios problemas de encanamento.
– Molhou um bocado de coisas, mas acho que não estragou nada. – Confessou. – Acho que a única coisa que pode ter dado perda foi o meu micro-ondas que pegando um bocado de água, eu fiquei com medo de ligar pra ter certeza.
– Se precisar de um adiantamento pra te ajudar a comprar um novo, pode falar comigo. – Ga Yeong não entendeu de onde vinha tanta gentileza do rapaz.
O Kyung Soo que conhecia era tudo, menos benevolente. Oferecer-lhe um adiantamento sem pedir algo em troca era bem suspeito, mas sabia que haviam motivos bem específicos por trás de suas ações. Talvez fosse um bom momento para finalmente colocar sua vingança em prática? Afinal, já estava há tanto tempo na empresa e havia trabalhado tão próximo ao rapaz tantas vezes que não sabia o porquê ainda não havia começado seus planos. Poderia ser porque havia se acomodado ao trabalho ou simplesmente pela falta de coragem, mas aquela podia ser uma chance de finalmente se aproximar do homem, seduzi-lo e então larga-lo como havia feito com ela. Estaria apenas pagando na mesma moeda, ele não poderia reclamar por receber o mal na mesma proporção que havia causado à outra pessoa. “É agora ou nunca, Ga Yeong... Se deixar essa oportunidade passar, você não vai ter coragem pra tentar de novo”, pensou consigo mesma.
– Na verdade... – Antes que pudesse terminar sua fala, So Ra surgiu no final do corredor chamando seu nome (o outro nome).
– Se Young, achei! – Garota sacodiu uma sacola com uma torneira dentro.
Antes mesmo de se aproximar, So Ra logo reconheceu a pessoa que acompanhava a amiga – foi uma surpresa encontrar o embuste em um ambiente como aquele. Logo franziu o cenho, tomando o lado da garota. “Péssimo momento para aparecer, não é?”, Ga Yeong praguejou internamente. Viu a chance de convidá-lo para jantar ir pelo ralo com a aparição da amiga.
– Kyung Soo... – So Ra fez uma saudação informal com uma intenção explícita de ser hostil. – Quanto tempo, não é mesmo?
Apesar de só ter encontrado a garota uma única vez em sua vida, lembrava bem da mesma pelo fato do encontro ter sido bem desagradável. Assim como a primeira impressão de Kyung Soo para a garota havia sido ruim, para o rapaz não havia sido diferente. Os dois pareciam ser o mesmo sentimento de desagrado apenas por estarem na presença um do outro.
– É, bastante tempo. – Kyung Soo respondeu com uma simpatia forçada. – E como vai a Ga Yeong?
As antenas de Ga Yeong ficaram em alerta pelo rapaz aparentemente querer saber sobre como ela estava. Olhou para So Ra como se implorasse com olhos para que a mesma não revelasse demais sobre a sua identidade.
– Ela está muito bem, mas não graças a você, é claro. – So Ra olhou para Ga Yeong, fingindo que a mulher ao seu lado não era a sua amiga de infância. – Você não a conhece, é uma amiga de infância minha e ex-namorada dele.
A tensão no ar podia ser quase palpável. Os dois se encararam como se estivessem disputando um jogo mortal. Era quase possível ver a eletricidade passando entre seus olhos.
– Já pegou tudo? Acho que podemos ir para o caixa. – So Ra a encarou como se dissesse “vamos embora AGORA”. Achou por bem fazer como a garota queria. A mesma tomou controle do carrinho, dando meia volta no corredor. – A gente se esbarra por aí.
Sequer esperou que a amiga se despedisse do rapaz sair pilotando o carrinho de compras por aí. Ga Yeong só teve tempo de se virar para Kyung Soo e pronunciar um “desculpe” com certo constrangimento e fazer uma mesura rápida antes de acelerar o passo para alcançar a amiga.
So Ra não deixou de reclamar do rapaz durante todo o caminho de volta para o apartamento. Se não houvesse disposto de um sorvete para tentar acalmar os ânimos da mulher, não duvidaria que a mesma estivesse xingando-o a plenos pulmões no meio da rua. O reencontro dos dois não havia sido dos mais amigáveis. Ainda podia sentir o quão hostil havia ficado o clima enquanto conversam.
– Insuportável! – Praguejou mais uma vez a mulher. – Amiga, eu te amo, mas você tem um dedo PODRE pra homem.
– Ele foi gentil comigo e educado com você – Ga Yeong tentou amenizar a situação. – Ele está melhor do que era antes.
– Ele é um dissimulado, isso sim. – So Ra rebateu quase cuspindo fogo. – Garota, a melhor coisa que você pode fazer agora é esquecer essa vingança. Segue sua vida, finge que esse cara nunca existiu.
Ga Yeong não queria entrar naquela discussão mais uma vez. Mesmo que a amiga sempre a apoiasse, naquela questão ela era contra. Nunca havia gostado da ideia da mesma tentar se reaproximar do rapaz, fosse para reconquistá-lo ou se vingar, sempre havia deixado claro que para qualquer um dos fins ela não via como Ga Yeong sairia com seus sentimentos intactos dessa situação. Haviam discutido algumas vezes durante o tempo em que se preparou para participar do processo seletivo para a empresa de Kyung So, mas apesar das divergências de ideias, a mesma nunca deixou de estar ao seu lado. Na realidade, So Ra havia até lhe arrumado alguns encontros às cegas para ajuda-la a se comunicar melhor com as pessoas, mas as esperanças da amiga era a de que Ga Yeong conhecesse alguém que lhe chamasse atenção o suficiente para esquecer de vez o filho da família Hwa, algo que nunca aconteceu.
A conversa das duas foram interrompidas quando se depararam com um grupo de estudantes, aparentemente algumas crianças do fundamental, jogarem algumas pedras em um beco, o que chamou a atenção das amigas por conta da atividade suspeita. Quando um dos garotos pareceu ter acertado alguma coisa, todos comemoraram.
– Será que morreu? – Um deles perguntou.
– Se não morreu, vai morrer agora. – O mesmo garoto que havia acertado a pedra se preparou para lançar outra.
– Será que é um rato? – So Ra pareceu temerosa de se aproximar.
Ga Yeong duvidava muito disso, um rato seria bem esperto e conseguiria fugir com facilidade. Decidiu intervir e saber o que era o alvo dos rapazes.
– Ei! – Assim que chamou a atenção dos garotos, os mesmos correram apressados.
Ga Yeong apressou o passo, olhando no beco o que poderia a fonte de atenção das crianças que estavam atirando as pedras. Encontrou um filhote de cachorro ensanguentado e machucado. O mesmo não tinha uma das pernas e parecia bastante debilitado. Havia sido acertado diversas vezes e não aguentaria muito tempo.
– Que crueldade! – Ga Yeong se espantou com o estado do animal. Provavelmente haviam feito aquilo pelo cachorro não ter uma das patas dianteiras. – Ele não vai aguentar muito tempo.
– Será que dá tempo de leva-lo ao hospital? – So Ra se questionou tão chocada quanto a amiga.
– Não, não vai dar. Ele deve estar com os ossos quebrados, tirar ele daqui só vai acelerar a sua morte. – Ga Yeong falou. Enquanto pensava no que fazer, viu o bichinho parar de respirar. – Ah, não...
Lamentou pelo animal e de alguma forma se viu no mesmo. Havia sido rejeitado e hostilizado apenas por não ter uma das patas, não muito diferente de como havia sido tratada durante boa parte de sua vida. Lembrou-se de como havia morrido e sido trazida de volta à vida, só então se lembrando que tinha consigo o abyss que havia a ressuscitado. Será que funcionava em animais? Animais tinham almas, certo? Então talvez pudesse dar certo. Assim que estendeu a mão, viu a esfera brilhante surgir em sua palma num tom meio rosado.
– Eu vou usar o abyss nele. – Ga Yeong avisou, sabendo que a amiga não conseguia vê-lo.
– Está brincando, né? É um cachorro e ele nem é seu. – So Ra contestou – E se você precisar dele no futuro? Isso é importante. Você não disse que ele vai desaparecer depois que usá-lo?
Ga Yeong confirmou. Mesmo assim, não via onde poderia usar a esfera e queria salvar o animal. Não sentia que era um desperdício. Ali tinha uma vida e um ser com sentimentos e angústias como qualquer outra pessoa.
– Sim, mas mesmo assim eu quero tentar... – Ga Yeong parecia decidida. – Ele não merecia o que fizeram com ele. – Ela olhou para o animal morto à sua frente – Ele já devia sofrer sozinho, não precisava que outras pessoas piorassem tudo para ele.
So Ra pareceu entender o quanto sua amiga se identificava com o bichinho, mesmo que houvesse o encontrado naquele instante. Observou a amiga estender sua mão sobre o animal. Mesmo que não pudesse ver, acreditava que o tal abyss estivesse em sua mão agora e ela estivesse tentando salvar o cachorro. Esperaram dois minutos, depois cinco, depois dez... O cachorro não se mexeu, o que fez Ga Yeong se sentir entristecida.
– Você tentou... – Sentiu a mão de So Ra em seu ombro tentando consolá-la.
As duas se distanciaram do beco, não havia nada que pudessem fazer além de ligarem pra alguma entidade da prefeitura buscar o corpo do animal. Quando estavam há alguns poucos metros de distância, ouviu um latido forte, mas agudo, como o de um filhote. Não esperava ver o animal que achava não ter conseguido salvar vir correndo em sua direção, como se soubesse quem havia o trazido de volta à vida. Ga Yeong apenas se abaixou, sequer se importando se suas compras estavam encostando no chão e acolheu o animal que agora tinha suas quatro patinhas saudáveis e intactas. Até seu aspecto parecia melhor. Apesar de ainda estar sujo de sangue e lixo, seu pelo parecia mais sedoso e brilhante, além de estar com um peso saudável. Sua aparência no geral não havia mudado ao contrário dela.
– Achei que não tinha conseguido salvá-lo. – Ga Yeong confessou ao animal. Assim que estendeu sua mão, não viu mais surgir a esfera que havia trago a mesma de volta à vida.
– Isso quer dizer que você não tem mais a esfera? – Perguntou So Ra.
Ga Yeong confirmou com a cabeça, parecendo feliz apesar de não deter mais o objeto mágico. Percebeu que o animal tinha uma coleira de um centro de animais, o nome “Panqueca” estava escrito em um dos lados. Provavelmente não se importariam se o cãozinho agora tivesse um novo lar, Ga Yeong pensou consigo. Mesmo que não tivesse mais a esfera, pelo menos agora tinha um companheiro com quem dividir sua casa.
Capítulo XIV
Hae Kook parecia interessado no comunicado pregado na parede próximo a si. Enquanto o rapaz esperava os elevadores para ir ao andar da sala de reuniões, o mesmo anotava algumas informações sobre as vagas de trabalho da nova filial da empresa que seria aberta nos Estados Unidos. Percebendo o interesse do amigo, Ji Soo olhou de rabo de olho o que o rapaz escrevia no celular e deu uma leve risada. Trazia consigo um carrinho de cafés e algumas cópias de um plano que havia sido pedido em cima da hora. Era claro que Hae Kook não deixaria de perceber aquilo. Questionou Ji Soo sobre o que era tão engraçado para arrancar uma risada breve do mesmo que parece não estar em seus melhores humores naquela segunda-feira chuvosa.
Apesar de ter tido alguma folga no fim de semana, o rapaz tentou evitar o máximo que podia sua esposa. Inventou de fazer uma caminhada pela manhã e fazer compras à tarde. À noite estava tão cansado que apenas fez dormir e no dia seguinte, aproveitou o domingo para caminhar novamente. Em partes, sua mente parecia se culpar constantemente pela noite que havia passado com a chefe em seu escritório no final do expediente, em outra se sentia confuso sobre os sentimentos da mulher com o qual estava casado. No meio disso tudo, seus sentimentos estavam uma confusão e não parecia que conseguiria resolvê-los tão cedo. Isso deixava o rapaz ansioso, mesmo que não quisesse admitir.
– Você realmente está pensando em ir? – Ji Soo perguntou, se referindo ao cartaz.
– É claro. Não poderia perder a oportunidade de curtir as praias da Califórnia. – Hae Kook parecia achar que a vaga de trabalho era uma viagem.
– A filial é em Nova Iorque.
– E Nova Iorque não fica na Califórnia? – “Misericórdia...”, pensou Ji Soo. Assim que as portas do elevador se abriram, os dois rapazes embarcaram. Deixou que Hae Kook apertasse o botão que os levaria ao seu andar.
– Você ao menos sabe falar inglês? – “Já que geografia não é bem seu forte?”, complementou em pensamentos. – Isso com certeza vai ser fundamental pra você ser chamado.
– Claro que sei. – Hae Kook falou com confiança. – Waizup, mém. Rau you doing?
– “How are you?”... – Ji Soo o corrigiu. Hae Kook piscou algumas vezes sem entender a resposta do outro e apenas falou algo aleatoriamente.
– Yeah... – Respondeu sem muita certeza.
– Acho melhor não se animar muito com isso, amigo... – Ji Soo respondeu.
Assim que as portas se abriram, os dois rapazes se direcionaram para a sala de reuniões. Não havia ainda muitos funcionários presentes. Até onde havia lido nas cópias, seria discutido alguns reajustes sobre uma festa que a empresa daria no próximo fim de semana. Por conta de alguns contratempos na nova filial em Nova Iorque, o CEO que seria o anfitrião da festa não poderia participar, o que deixava a equipe de planejamento com um pepino em mãos. Conhecendo bem o meio, Ji Soo sabia que a ausência do CEO da empresa no evento poderia gerar uma imagem ruim para possíveis colaboradores. Era como se aquela gente rica se achasse importante demais para ser ignorada, Ji Soo pensou. Na ponta de uma das mesas, onde deveria estar o presidente da empresa, estava a diretora executiva. Raramente a vice-presidente, a senhora Lee Doo Na, participava de alguma reunião, o que sobrava para a diretora cuidar dos contratempos na ausência do irmão.
Não foi surpresa para ninguém que a mulher fosse se tornar a anfitriã do evento, mas era possível ver que algumas pessoas não estavam muito confiantes quanto a isso. Lee Seung Ja era conhecida por não ter muito talento para a socialização, não tinha o charme acolhedor que o irmão tinha, então se preocupavam que talvez ela não fosse ser a melhor escolha – mesmo que não houvessem uma opção melhor, afinal, a empresa tinha que ser representada por alguém da família. Ji Soo apenas acreditava que talvez o problema não fosse não ser uma pessoa cativante como o CEO da empresa, mas sim que talvez faltasse algo à mulher para se sentir mais confortável com as pessoas.
Lembrou-se da maneira casual como haviam conversado em sua sala há alguns dias, quando uma estranha energia os fez parecerem em sintonia. Naquele momento, não parecia estar conversando com a diretora executiva Lee Seung Ja, sua chefe temperamental e exigente que vira e mexe sobrecarregava seus funcionários, mas sim estava conversando com uma Seung Ja diferente, sem a fachada de mulher forte e inatingível que sempre sustentava. Apenas uma pessoa comum, humana, com seus anseios e sentimentos melancólicos. Essa aproximação fez com que o rapaz pudesse visualizá-la com um olhar diferente do habitual. Quando a reunião se findou e os membros da equipe da festa saíram, viu-se sozinho recolhendo os copos e as apostilas descartadas. Colocou-as no carrinho e ajeitou a sala antes de sair.
Depois de descartar tudo apropriadamente, voltou ao seu departamento com as anotações do que havia sido discutido na reunião. Como normalmente fazia, se aproximou da sala da diretora, batendo duas vezes na porta antes de entrar. Seung Ja parecia pensativa, postada em frente à janela como no dia em que a mesma parecia estar chateada com seus motivos pessoais. Perguntou-se qual poderia ser o motivo de seus pensamentos conturbados, mas ao contrário da primeira vez, decidiu que não se intrometeria. Apenas se aproximou, abrindo as anotações em seu tablet.
– Eu devo falar sobre o resumo da reunião e a agenda de hoje? – Perguntou, mas de algum modo a pergunta soara como se quisesse saber como a mulher estava de uma maneira indireta.
Seung Ja o olhou por alguns instantes, parecia cansada, mas também parecia ansiosa. Apenas negou com a cabeça, o que havia atiçado a atenção do rapaz, já que não era comum que a mulher rejeitasse a leitura de seus compromissos e tarefas. Ji Soo apenas confirmou com a cabeça e só se deu conta depois de alguns segundos que podia ir embora. Virou-se para sair da sala quando sentiu a manga de seu paletó ser puxado.
A mulher nem ao menos havia percebido que havia o segurado, era como se o tivesse feito inconscientemente. Seu olhar parecia imerso em dúvidas quando os olhares se cruzaram. Não pôde evitar que as lembranças daquela noite viessem à sua mente, era quase estivesse tendo um déjà vu. Imaginava que a mulher também se sentia da mesma forma, pois a mesma o soltou, quebrando o contato visual segurando suas mãos para que não repetisse o ato. Sentiu uma eletricidade correr por sua espinha, assim como na noite onde ousaram cruzar a linha entre o profissional e o íntimo. Sua boca secou, de repente era como se precisasse mergulhar nos lábios da mulher para aplacar sua sede.
Concluiu que a melhor opção era se afastar o máximo que pudesse antes que seus sentidos enlouquecessem, mas parecia que seu corpo não estava de acordo. Não sabia o porquê se sentia atraído pela mulher à sua frente, era como se aquele súbito desejo se manifestasse apenas por estar no mesmo ambiente que ela. Antes que pudesse raciocinar sobre suas ações, o rapaz envolveu a nuca de sua chefe, puxando-a para perto e selando sua boca com um beijo feroz e urgente. Seung Ja apenas se entregou ao toque do rapaz, sentindo-o puxá-la de maneira quase possessiva para si, esmagando-a contra seu contra seu peito, seus dedos se emaranhando entre os cabelos agora libertos do coque severo que sempre usava.
Os lábios famintos rumaram para seu pescoço, arrancando um suspiro sôfrego da chefe. Agarrou-se aos ombros masculinos a fim de se livrar daquele paletó, ele estava vestido demais para seu gosto. Como se houvesse ouvido seus pensamentos, o rapaz se afastou e se livrou da peça, voltando a se aproximar com o mesmo ímpeto. Ji Soo guiou a mulher pelo escritório até encostarem-se à mesa, a qual o rapaz limpou com uma passada de mão, apenas o suficiente para abrir espaço para que a mulher se sentasse sobre a mesma. As pernas firmes da chefe estavam ao redor de sua cintura, os pés livres dos saltos medianos roçavam em suas panturrilhas. Antes que pudessem se deter e evitar que cometessem outro erro, se deixaram consumir pelo desejo que haviam tentado por tanto tempo reprimir um pelo outro.
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Oh Joon não esperava chegar ao colégio e saber que havia boatos sobre si. Assim que entrou em sua sala, percebeu que a maioria dos alunos havia parado ao vê-lo. Era comum algo do tipo acontecer, mas não daquela forma, como se todos soubessem de algo, exceto ele. Não demorou muito tempo para que alguém do time viesse cutucar seu ombro com piadinhas sobre seu relacionamento com Ga In. Perguntou-se em que momento seus colegas haviam descoberto que estava saindo com a garota – não que estivessem em um relacionamento amoroso, afinal Ga In havia sido bem clara que não tinha qualquer interesse no rapaz além de uma possível amizade.
Achava difícil que pudessem tê-lo visto passando o tempo no centro comunitário da ilha onde a maior parte dos frequentadores eram da terceira idade. Por mais que não fosse seu tipo de ambiente, aceitou a tortura por conta de Ga In e da bendita aposta. Apesar de não entender o porquê a garota gostava de ficar naquele lugar quase morto e tedioso, onde a única forma de entretenimento – isso se der para dizer que era realmente um entretenimento – era jogar damas, cartas e quebra-cabeças com os idosos, não sentiu que havia sido realmente uma perda de tempo. Ter passado a tarde com Ga In o fez perceber que gostava de um pouco de silêncio e uma companhia que ficasse ao seu lado apenas para passar o tempo.
Durante todo o horário de aula, ficou se questionando como a garota estaria se sentindo. Provavelmente deveria já estar por dentro dos boatos com o seu nome envolvido. Será que estaria com raiva, chateada? Poderia achar que ele fora o autor dos boatos e não entendia bem o porquê se preocupava com a opinião da mesma. Com a convivência, mesmo sem intenção, havia se afeiçoado à garota. Admitia que mesmo com a personalidade reservada e os costumes e gostos que destoavam tanto dos seus, ainda via na garota uma boa amiga. No final, não havia sido tão ruim aceitar a aposta, mesmo que estivesse em dúvida sobre levá-la adiante. Por um momento cogitou se era certo fazê-lo, mesmo se sua imagem estivesse em jogo. Não queria magoar Ga In assim como havia magoado Mun Seo.
A falta do rapaz ainda era bastante sentida por Oh Joon e os momentos que ficava em sua companhia pareciam uma lembrança distante. Durante a aula havia olhado para o rapaz algumas vezes. Era óbvio que o mesmo sabia sobre o boato, mas queria desmentir para o mesmo o que havia acontecido. O tempo gasto com Ga In não havia passado de algumas atividades amigáveis. Ela o havia ensinado matemática e o levado para passar o tempo entretendo alguns idosos, ele havia lhe ensinado baseball e um pouco da vida fora de sua caixinha. Por mais que estivesse ainda tentando levar a cabo a aposta, ainda assim não havia se relacionado com a garota, mas sabia que o rapaz não o ouviria, estando ou não com Ga In, como os boatos diziam. Mun Seo não parecia que iria perdoá-lo tão cedo, não importasse o que fizesse para reconquistar sua confiança.
Tão logo a aula terminou, Mun Seo desapareceu antes que Oh Joon pudesse se aproximar. O rapaz queria evita-lo de todos os modos possíveis. Acabou sendo interceptado por seus colegas por conta dos boatos novamente. O camisa nove era de sua turma, para seu desgosto. Não era novidade para ninguém que os dois se estranhavam desde que Oh Joon havia entrado no time.
– Parece que o Oh Joon conseguiu conquistar a dama de ferro... – Um dos colegas comentou. O restante dos colegas de sala já haviam saído, deixando apenas o pessoal do time do segundo ano. – Acho que ele ganhou a aposta, Hyun Jin.
– Será? A gente estava lá naquele dia, eu só vi o Oh Joon ensinando baseball pra uma garota – O camisa nove encolheu os ombros como se duvidasse. Era claro que ele não aceitaria perder a aposta daquela forma. – A gente nem sabe se era realmente ela.
– O que você quer pra eu provar, Hyun Jin? Um vídeo? – Oh Joon foi irônico.
– Eu não acharia ruim. – Um dos colegas comentou, fazendo o grupo rir.
– Esquece, não sou um babaca. – Logo que pensou na aposta, Oh Joon percebeu o quanto estava sendo hipócrita. – Não nesse nível, pelo menos.
– Então, vamos fazer desse jeito – Hyun Jin pareceu satisfeito com sua brilhante ideia, o que desagradava Oh Joon antes mesmo de ouvir o que estava pensando. – Traga a dama de ferro para a socialzinha que vou dar na minha casa, no domingo à noite. Se você aparecer com ela lá, eu vou me dar por vencido.
A expectativa do grupo parecia alta, queriam ver se o rapaz realmente conseguiria a façanha. Oh Joon vacilou por um momento, não sabia se aceitava a condição ou não. Queria se livrar da aposta, mas se aceitasse e Ga In não quisesse ir com o mesmo, acabaria virando chacota. Se não aceitasse, estaria apenas mostrando que não era tão bonzão quanto gostava de sustentar. Não havia uma opção em que pudesse sair ileso, mas não queria ter que admitir tão cedo que não capaz de conquistar uma garota.
– Ok. – Oh Joon falou com uma falsa confiança. – Eu a levarei no domingo, então espero que esteja pronto pra pagar a sua parte da aposta.
Assim que conseguiu se livrar do time, Oh Joon decidiu procurar por Ga In. Quando colocou os pés no corredor, percebeu que havia uma silhueta feminina bastante familiar para si se afastando pelos corredores, mas o jeito como a garota se vestia e o tom de cabelo castanho claro não se pareciam com o estilo de Ga In. Procurou a mesma por boa parte da escola, em sua sala de aula da turma avançada, na sala onde normalmente dava aulas de reforço, no refeitório, até encontrar a mesma na biblioteca. O rapaz se aproximou, tentando não ser barulhento, e sentou-se numa cadeira ao lado da garota.
– Ga In... – Oh Joon a chamou. A garota o olhou sem expressão, o que deixou Oh Joon ansioso.
– JI Nah me disse que as pessoas estão falando sobre nós. – A garota começou – Estão falando que eu sou sua namorada.
– Eu sei. – Oh Joon balançou a cabeça, escolhendo bem suas palavras. – Eu posso explicar sobre isso.
– Foi você quem falou que estamos namorando? – A pergunta da garota foi bastante direta.
Oh Joon respirou fundo antes de responder.
– Não, não fui eu. – Foi sincero. – Algumas pessoas nos viram ontem jogando e acharam que estávamos saindo.
Ga In voltou sua atenção para o livro que estava lendo. Reconheceu algumas funções que haviam estudado juntos alguns dias atrás.
– Entendi. – Ga In pareceu mais calma do que esperava, o que deixou Oh Joon um pouco apreensivo.
– Eu achei que você ficaria brava. – Foi sincero.
– Você não é o culpado pelos boatos, não tenho porque ficar brava com você.
– Mas então... Você não fica brava por estarem falando de você?
– Eu já estou acostumada com as pessoas falarem sobre mim, um boato a mais ou a menos não deve mudar a opinião deles sobre mim. – Ga In foi sincera. – Além disso, se eu me importar com a opinião de todos e tentar mudar quem sou só para agradar todo mundo, eu não vou estar feliz comigo mesma. – Completou. – Foi o que a minha tia disse.
Novamente, as palavras de Ga In fizeram o rapaz refletir sobre si mesmo e sobre o que era importante para si. Oh Joon se sentia infeliz por não ser a pessoa que realmente era em frente aos seus colegas, mas o medo de ser julgado e excluído o fazia se agarrar tão desesperadamente à imagem que criara para si. Uma persona que o protegia de um sofrimento que temia enfrentar.
– A sua tia sabe algumas coisas legais. – Oh Joon comentou depois de alguns segundos.
A questão da aposta voltou para sua mente, fazendo-o ponderar como poderia tocar no assunto da festa. Não era exatamente a melhor situação para isso e sabia bem que Ga In não gostava de lugares com muita gente. Havia observado a garota por tempo o suficiente para perceber que evitava sempre o refeitório quando esta cheio e preferia atividades mais calmas e silenciosas. Não era atoa que combinava com a turma avançada, além da inteligência elevada, o pessoal daquela turma costumava ser bastante quieto, do jeito que ela gostava. Com certeza a garota não aceitaria um convite para um festa cheia de gente, com música alta e regada à bebida. Pensou que talvez um outro programa pudesse ajudar a convencê-la sobre a festa.
– Eu estava pensando se poderíamos ir ao cinema. – Ele interrompeu a garota antes que a mesma falasse. – Estava pensando em irmos depois das aulas de reforço, num horário com poucas pessoas, pra não te incomodar. É só um filme, eu te levo pra casa depois disso.
Ao contrário do que esperava, Ga In aceitou o convite sem resistência. Apenas viu a garota confirmar com a cabeça e logo fechar o livro e os cadernos, guardando-os em sua mochila.
– Cinema parece bom pra mim. – Ga In falou. – Acho que finalmente encontramos algo que apreciamos em comum.
Oh Joon deu um leve sorriso, concordando. Mas logo o sorriso do rapaz murchou quando a garota o chamou para as aulas de reforço.
– Céus, essa garota precisa esquecer os estudos...
Capítulo XV
Han Na estava pensativa durante toda a manhã depois da noite calorosa que teve com Kyung Soo. Apoiado em seu peito desnudo, o rapaz ressoava enquanto dormia, relaxado. O sol já adentrava a janela, iluminando parcialmente o quarto quando a mulher havia acordado. Pegou o primeiro celular que alcançou e ligou a tela. Sequer havia dado oito da manhã e viu algumas mensagens na barra de notificações. Estranhou, virou o objeto e percebeu que não o seu celular por conta da capa escura. Virou o aparelho novamente, lendo as mensagens pela notificação. Havia uma mensagem de um advogado e conseguiu ler apenas um pedaço de uma frase, já que não conseguia desbloquear a tela.
“Sobre a condição imposta no testamento do senhor e senhora Hwa”, a frase havia chamado a atenção da mulher. Han Na estava ciente de que Kyung Soo era herdeiro de um conglomerado de lojas de departamento muito famosa no mundo inteiro, o que o tornava extremamente rico, mas nunca ouvira falar algo sobre um testamento de seus pais. Kyung Soo não era exatamente um livro aberto com a mesma, era até bem o contrário disso. Sabia sobre coisas triviais do rapaz, seus gostos e suas manias, mas muito pouco sabia sobre sua convivência familiar e assuntos mais sombrios. Não se surpreendia que o rapaz estivesse deixando-a de fora dessa questão, mas não significava que ficaria parada sem procurar saber sobre isso.
Sentiu o rapaz se remexer em seu peito, enlaçando sua cintura preguiçosamente. No mesmo instante, deixou o celular onde havia o pegado antes e fez-lhe um breve cafuné nos cabelos negros. Depois de alguns momentos, o rapaz se virou na cama, pegando o celular e checando as horas. Abriu as mensagens, checando-as rapidamente antes de colocar o aparelho no mesmo lugar e voltar e envolver a cintura da mulher, agora um pouco mais desperto.
– Eu tenho algum tempo antes de ir para a agência. – Kyung Soo revelou parecendo disposto – Deveríamos gastar esse tempo de forma mais produtiva.
Han Na exibiu um sorriso dissimuladamente sedutor enquanto o homem se acomodava entre suas pernas. Sentiu os lábios percorrerem seu pescoço, fazendo-a estremecer e se arrepiar sobre as carícias selvagens.
– É claro, por que não?
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Seung Ja estava em êxtase, deitada sobre o carpete com a cabeça apoiada no braço de seu assistente. Não estava em seus planos repetir as cenas da noite que havia jurado esquecer e que até mesmo havia pedido para o rapaz esquecer, mas de alguma maneira acabaram da mesma forma. Não entendia o que era aquela aura magnética que o garoto, pelo menos uns doze anos mais novo que ela, tinha e que a atraía como um ímã, fazendo com que o desejasse desesperadamente. Sempre que os olhares se cruzavam, era como se trocassem faíscas, sua boca ficava seca e suas pernas apenas queriam se lembrar da sessão de estarem enroladas em torno da cintura masculina. Tampou o rosto tentando recompor um pouco de seu juízo.
– Céus, o que fizemos... – Seung Ja suspirou. – Porque a gente acabou assim outra vez?
– Não me pergunte, eu também não faço ideia. – Ji Soo parecia tão extasiado quanto a mulher. – Eu não entendo porque simplesmente perco a razão quando estou com você...
Seung Ja olhou o rapaz que deitava olhando para o teto e parecia tão perdido em pensamentos quanto a mesma. Deu conta só então que ela não era a única que não entendia aquela estranha atração que um sentia pelo o outro. Em um momento, estava ansiosa com a ideia de ser a anfitriã do evento que iriam realizar, sem contar como estava angustiada em relação ao seu filho e ao ex-marido, e no momento seguinte, assim que o rapaz entrou em sua sala, sua mente apenas se esvaziou e encheu-se de pensamentos sobre como seria bom senti-lo dentro de si novamente.
– Sobre o que estava pensando antes? – Seung Ja se assustou com a pergunta repentina, era como se o mesmo houvesse lido seus pensamentos. – Você estava ansiosa, por quê?
Seung Ja piscou algumas vezes, os olhos do rapaz queimavam sobre si como fogo no palheiro. Sentiu-se desnuda, não apenas de corpo, mas de alma. Uma tranquilidade a atingiu como se pudesse dizer tudo o que a deixava inconsolável.
– Eu... – A mulher suspirou. – Não sei se darei conta. – Começou pelo mais fácil. – Esse evento, normalmente quem fica à frente de tudo, quem é o rosto da empresa é o Seung Ri. Eu fico nos bastidores e garanto que ele possa brilhar tanto quanto deve.
Ji Soo parecia entender bem o que a mulher queria dizer. Por mais competente que fosse, faltava em Seung Ja a confiança de que tinha o mesmo potencial que o irmão para atrair as pessoas. Ela devia acreditar piamente que não tinha essa capacidade de cativar e emocionar as pessoas como o CEO da empresa tinha, pensou consigo mesmo.
– E você faz um bom trabalho. – Ji Soo comentou, atraindo o olhar da mulher. – Mas... Eu acho que se você fosse apenas você mesma, como a mulher que eu conversei há alguns dias atrás, você brilharia tanto quanto o seu irmão.
Seung Ja sentiu-se tocada, mas ainda era difícil livrar-se de suas inseguranças.
– Quem me dera se as outras pensassem como você, mas eu sei que não atraio as pessoas dessa forma. – A mulher parecia convicta daquele pensamento. Ji Soo pensou consigo mesmo que ela não falava apenas de sua personalidade. – Já é um milagre que haja alguém que se atraia por mim... – A mulher confessou em um sussurro.
Ji Soo franziu o cenho, virando-se de lado para encará-la melhor.
– Você acredita realmente que não seja atraente? – Perguntou. A mulher não o olhou, sentindo-se um tanto envergonhada por expor suas inseguranças. – Você faz o tipo de, pelo menos, metade do nosso departamento, mesmo usando essas roupas que escondem a sua beleza.
– Não é momento pra piadas. – A mulher encarou um ponto no teto, sentindo-se estranha com aquela fala do rapaz. Ji Soo envolveu sua nuca, voltando o rosto da mulher para si. Seung Ja o encarou, havia sinceridade em seu olhar.
– Não é piada. – Ji Soo afirmou com seriedade. – Você é bonita, só você que não sabe disso.
– Então por que... Ele me abandonou? – Viu surgir algumas lágrimas nos olhos da mulher, o corpo feminino tremendo ao tentar conter as emoções que pareciam finalmente querer se libertar de seu interior.
Abraçou a mulher, sentindo suas mãos se agarrarem aos seus ombros e as lágrimas quentes molharem seu braço. Deixou que seus dedos se entrelaçassem aos fios escuros numa carícia acolhedora.
– Porque ele não era digno de ter alguém como você. – Ji Soo falou. – A culpa não é sua pelo fim do seu casamento...
Eram as palavras que Seung Ja precisava ouvir, como se suas dúvidas tivessem sido varridas e uma paz a tivesse acometido. Ouviu o choro se intensificar enquanto a acolhia, sem julgamentos e sem opiniões sobre seus problemas, apenas servindo como um ombro para a mulher poder desabafar.
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– Céus, fecha isso, esse cheiro está me dando enjoo.
Quando Kyung Soo abriu a geladeira para pegar a garrafa de suco, Han Na imediatamente se sentiu nauseada. O rapaz franziu o cenho, não havia algo na geladeira que parecesse estar estragado ou tivesse um cheiro enjoativo, mas mesmo assim sua noiva parecia querer vomitar apenas com o tal cheiro que ele não estava sentindo. Fechou a geladeira, colocando um pouco de suco para si e para a mulher que ainda parecia enjoada.
– Está doente? – O rapaz perguntou.
– Que eu sabia, não. – Han Na olhou para o café da manhã posto na mesa e sentiu o estômago embrulhar. – Mas vou passar o café, não estou me sentindo muito disposta.
– Se estiver passando mal, apenas vá a um hospital. – O rapaz falou sem muita delicadeza. Han Na não se sentiu ofendida, na realidade já era acostumada à verdadeira personalidade do rapaz. “Delicado como um coice de cavalo, só faltava as ferraduras”, pensou consigo mesma.
– Claro, pode deixar. – Han Na apenas deu de ombros.
Depois do café da manhã, Han Na viu-se sozinha no enorme apartamento quando o rapaz saiu para ir à sua agência. Aproveitou dos momentos em que estava sozinha para por em prática seu plano. Esgueirou-se pelo escritório de Kyung Soo, procurando pelas estantes abarrotadas de livros e por suas gavetas algum documento ou algo que fosse relacionado ao tal testamento. Levou algumas horas para que pudesse encontrar o tal documento. Folheou o mesmo, era um testamento de quase três páginas com os desejos dos pais de Kyung Soo sobre o destino de sua herança. Leu o mesmo com cuidado, percebendo então algo inusitado no testamento, uma condição fora do comum para que o mesmo pudesse colocar suas mãos no dinheiro e em todos os bens de seus pais.
– Não creio... – Han Na murmurou consigo mesma, perplexa.
Digitou alguns números em seu celular, ligando para o número de uma advogada com quem tinha uma amizade de longa data.
– Olá, Hye Jin, como vai? – Han Na usou um tom simpático para falar com a mulher. – Escute, eu queria pedir um favor pra você, podemos nos encontrar?
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A semana de Ga Yeong parecia estar se arrastado mais que o normal, ao contrário da outra semana anterior que havia sido bastante corrida. Não soube dizer se teve essa impressão por estar mais ocupada que o normal, mas o fato era que queria logo que a semana terminasse para se livrar da semana de provas e ter mais tempo livre para se dedicar à sua atividade favorita: dormir. Desde que havia se mudado, o pouco tempo livre que arranjava entre o trabalho e a faculdade era gasto cuidando do cãozinho que havia resgatado e cuidar da casa que ainda não estava totalmente arrumada depois da mudança. Mesmo com a ajuda de So Ra e, inesperadamente, de Seung Ri, descobriu que mesmo tendo pouca coisa ainda faltava muita coisa colocar as coisas em seus devidos lugares.
No estágio, as coisas pareciam bastante corridas por conta do prazo das filmagens do comercial. Haviam selecionado alguns atores e haviam conseguido alugar um bom set de filmagens. O conceito do comercial havia sido passado para o diretor que havia planejado as filmagens das cenas e então tudo parecia finalmente estar saindo do papel. Ga Yeong parecia realizada quando viu sua ideia finalmente ser usada, acompanhando de perto a filmagem dos atores. Apesar do comercial durar, no máximo, uns trinta segundos, ainda assim se sentia feliz por ter cooperado para a realização daquele projeto. Já estava empolgada para ver o resultado final do comercial que tinha prazo marcado para a próxima semana.
Enquanto o diretor dava as ordens e passava as instruções para os atores e o pessoal da cenografia, a garota visualizava algumas das cenas já gravadas num televisor. Apenas duas pessoas de sua equipe estavam presentes na filmagem, tendo em vista que não tinha necessidade de todos estarem ali. Sentiu alguém encostar em seu braço, chamando sua atenção. Assim que se virou para olhar quem era, viu Kyung Soo próximo a si. Ele indicou com a cabeça que a garota deveria segui-lo. Desde o dia anterior, quando se esbarraram no mercado por coincidência, o encontro de So Ra com Kyung Soo havia deixado a sua situação com o rapaz estranha, o que a deixava sem saber como se aproximar. Não daria simplesmente para abstrair e fingir demência sobre a citação de So Ra à sua pessoa quando estava presente.
Deixou-se guiar pelo rapaz até uma sala mais isolada, longe de olhares curiosos. O rapaz deixou a porta fechada e se sentou sobre uma mesa próxima à si de maneira relaxada.
– Eu queria me desculpar pelo o que houve ontem, acho que você deve ter ficado constrangida por aquela situação. – O rapaz falou com um sorriso amarelo, o que não era muito característico seu.
– Não, tudo bem. – Ga Yeong balançou as mãos, como se relevasse o assunto. – Era um assunto pessoal de vocês, de qualquer maneira.
– Mesmo assim, eu queria me desculpar... E explicar também. – Kyung Soo cruzou os dedos das mãos, parecendo escolher bem as palavras. – Não quero que tenha uma má impressão sobre mim.
A verdade era que Kyung Soo não sabia o que mais So Ra poderia ter contado para Se Young. Queria que as chances de se envolver com a garota não tivessem sido zeradas pela boca nervosa da melhor amiga de sua antiga empregada.
– A So Ra não é muito minha fã, como você percebeu, mas ela não sabe de toda a história. – A fala do rapaz atraiu a atenção de Ga Yeong. Sentiu a ansiedade subir a mil. – Eu estive num relacionamento com a amiga dela. Na verdade, eu nem sei se posso dizer que era um relacionamento, mas as coisas não acabaram exatamente bem entre nós.
A garota sentiu-se magoada pelas palavras do rapaz, colocar como se o seu relacionamento não pudesse ser chamado de namoro era como se disse que não havia existido nada entre os dois, como se negasse os sentimentos que havia dito que tinha por ela, assim como os que ela sempre havia nutrido por ele.
– Meus pais faleceram em meados do ano passado. Eu nunca tive exatamente um bom relacionamento com meu pai, mas não significava que eu não o amasse. – Revelou. Ga Yeong se lembrava bem das brigas e discussões entre os dois homens da casa, então sabia que o rapaz falava a verdade. – E tinha uma mulher, o nome dela é Park Ga Yeong, que era muito próxima da minha família, era quase como se fosse da minha família também. – “Exceto quando amigos ricos estavam presentes”, pensou rancorosa. – Meus pais realmente tinham um grande afeto por ela e, bem... Meu pai queria que eu e ela nos tornássemos um casal.
A face surpresa de Ga Yeong apenas fez com que Kyung Soo se sentisse estimulado à continuar.
– Eu não fui o melhor dos filhos quando eles estavam presentes, então... Quando eles se foram, eu quis pelo menos realizar o desejo do meu pai. – Ga Yeong sentiu suas mãos suarem e tremerem enquanto tentava o bolo de emoções que insistia em querer sair por sua garganta. Explicava muita coisa, coisa até demais. Os sentimentos do rapaz nunca foram honestos como os dela.
– E a sua noiva... – Ga Yeong controlou sua voz para não parecer tão emocionada. O rapaz a olhou surpreso por alguns segundos, mas então pareceu pensativo e decidiu responde-la.
– A Han Na... Eu a conheci enquanto eu estava “tecnicamente” namorando a Ga Yeong. A gente simplesmente criou uma afinidade incrível, trabalhávamos bem juntos, tínhamos os pensamentos parecidos... Eu achei que estava apaixonado e ai eu decidi terminar com a Ga Yeong para embarcar num relacionamento com a Han Na. – O rapaz suspirou. – Eu só não fui muito maduro na época... Se eu tivesse sido mais honesto com a Ga Yeong, acho que eu não a teria a machucado tanto. Não é uma atitude da qual eu me orgulho.
Então era isso, Kyung Soo não queria tê-la magoado, apesar do que fez. Entendia seus motivos para querer honrar as vontades de seus pais, mas a ferida que havia lhe causado apenas aumentava com as suas palavras. Sentia-se enganada, mas a raiva por ter sido abandonada parecia estar sendo substituída por uma profunda tristeza.
– A So Ra... Disse que você tinha abandonado e expulsado essa menina da sua casa... – Ga Yeong mentiu, não havia sido So Ra quem havia lhe dito, ela quem havia presenciado tudo aquilo. Ga Yeong viveu o abandono cruel na pele.
– Não foi bem assim, na verdade a casa foi fechada, eu não podia fazer nada. – Kyung Soo falou. – Meus pais colocaram no testamento que a casa ficaria fechada por um tempo, nem mesmo eu entendi suas motivações. Por isso eu moro no meu apartamento, por enquanto.
Ga Yeong se sentiu mal por tê-lo entendido errado. Quando recebeu a noticia de que havia sido despejada da mansão dos Hwa, havia achado que a pessoa que pediu para lhe comunicarem isso havia sido o rapaz, já que na noite anterior o rapaz havia lhe mandado uma mensagem terminando o namoro – ou melhor, o que ela achava que era um namoro. Perguntou-se como seria o desfecho dessa história caso as escolhas e os eventos tivessem acontecido de maneira diferente.
– É muita coisa... – “muita coisa para digerir”, Ga Yeong concluiu em seus pensamentos. Segurava suas mãos nervosamente, tentando lutar contra a ansiedade.
– Eu sei, não é o tipo de história que esperamos contar pros nossos netos também. – Kyung Soo brincou tentando descontrair o clima.
– Pois é... – Ga Yeong assentiu, mesmo não tendo prestado muita atenção no que o rapaz dizia. Precisava de ar puro ou acabaria tendo um derrame. – Eu vou ver se o pessoal precisa da minha ajuda.
Antes que saísse da sala, sentiu o rapaz envolver seu pulso.
– Espera... Eu queria falar com você sobre uma coisa. – Kyung Soo pareceu pensativo. Ga Yeong voltou-se para o rapaz, ansiosa sobre o que o mesmo tinha para lhe dizer. – É só... – Viu-o morder o lábio inferior. – Eu tenho pensado em você de muitas formas, desde que nos esbarramos aquela vez no elevador, no dia do processo seletivo.
Ga Yeong ficou surpresa que rapaz havia se lembrado de seu primeiro encontro depois que havia se transformado. Ela não imaginava que Kyung Soo a havia reparado naquele dia, quando descobriu que o mesmo estava com outra pessoa.
– Eu não deveria pensar dessa forma em você, ainda mais estando com a Han Na, mas... É diferente a forma como sinto com você. Depois de um tempo convivendo com a Han Na eu percebi que nosso relacionamento se deu mais por conta dos nossos gostos serem parecidos, eu não gostava dela de verdade, apenas achava que estava apaixonado... Mas com você, desde que começamos a trabalhar juntos... Me sinto bem com você, me sinto vivo...
Ga Yeong tremeu na base quando rapaz se levantou, ficando a centímetros de distância de si. Sentiu o rapaz aninhar seu rosto em suas mãos com delicadeza, algo que sempre sonhou acontecer entre si e o mesmo, mas nunca havia acontecido. Sua boca ficou seca, sua respiração ofegante.
– Eu acho que... Eu gosto de você... – O rapaz admitiu, diminuindo a distância entre os dois. Ga Yeong fechou os olhos esperando pelo beijo que não veio.
Ouviram batidas na porta e o nome Se Young ser chamado, alguém da equipe a procurava. Afastou-se, sentindo-se mole. Os efeitos de se relacionar com Kyung Soo poderiam ser fatais, pensou consigo mesma. Respondeu que sairia em alguns segundos com uma voz um pouco chapada.
– É melhor eu ir, eu... – Embolou-se com as palavras, o que fez Kyung Soo sorrir.
– Tudo bem, só vai. – Kyung Soo a tranquilizou.
Antes de sair da sala, no entanto, a garota parou por um momento, respirando um fundo. Sua ação chamou a atenção do rapaz, principalmente quando a mesma se virou para ele.
– Podemos jantar juntos esse final de semana, depois que finalizarmos o projeto? – Kyung Soo parecia surpreso, não esperava que a garota fosse tomar a iniciativa de convidá-lo para sair. Com um sorriso, o rapaz apenas assentiu, observando-a abandonar a sala em seguida e deixa-lo só com seus pensamentos.
Capítulo XVI
– Quer pipoca amanteiga ou pipoca doce? – Oh Joon perguntou enquanto estavam na fila do cinema.
– Pipoca doce. – Ga In respondeu, a garota tinha um urso de pelúcia em mãos que o rapaz havia ganhado mais cedo em uma máquina de fliperama. Apesar de não ter entendido bem a intenção do rapaz ao lhe dar o presente, o aceitou de bom grado. Gostava de ursinhos, apesar de muitos considerarem um gosto infantil demais para sua idade.
– Ok, então. – Oh Joon destacou um cartão de sua carteira, fazendo o pedido à atendente. Pagou adiantadamente, logo tendo em mãos o balde de pipoca e os dois refrigerantes do combo que havia comprado.
Seguiram para a sala onde aconteceria a sessão e procuraram seus lugares. Era um dos locais mais afastados da tela, a pedido de Ga In. Haviam escolhido assistir um filme de ação e ficção que havia acabado de ser lançado, um gênero que Ji Soo apreciava bastante. Durante a sessão, no entanto, percebeu que a garota se encolhia quando os sons de explosão e os efeitos especiais pareciam ficar mais altos.
– Você está bem? – Oh Joon pareceu preocupado. Apesar de a garota confirmar com a cabeça, não parecia tão convicta disso.
– Estou, só... Está muito alto... – Ga In respondeu.
Ji Soo procurou em sua mochila os seus fones de ouvido. Era um headset que usava para dormir na maioria das vezes. Colocou-os sobre os ouvidos da garota, que o olhou surpresa. Os fones abafavam os sons mais altos, tornando um pouco mais confortável para a garota estar naquele ambiente.
– Está melhor? – Oh Joon perguntou.
Ga In mordeu o lábio, sentindo-se estranha. Era a primeira vez que lidava com o sentimento que estava dentro de si. Sentia-se bem com o rapaz, relaxada, confiava no mesmo e queria ser acolhida pelo mesmo. Do mesmo modo, Oh Joon viu ali a chance para dar o próximo passo. Deixou que sua mão envolvesse carinhosamente o rosto da garota. Ao contrário do habitual, a menina não o afastou. Nem mesmo Ga In entendia o porquê o toque do rapaz não a incomodava mais. Porque o deixava chegar tão perto? Porque não se sentia desconfortável? Porque queria que ele fosse em frente? Sua mente parecia a mil e vazia ao mesmo tempo. Não vendo resistência, tomou sua reação como uma permissão para se aproximar, diminuindo a distância entre os lábios da garota e os seus.
Mas não conseguiu ir em frente e beijá-la, mesmo que Ga In estivesse entregue ao clima. Sentia-se culpado, não queria beijá-la apenas por conta da aposta. A garota havia lhe mostrado o quanto era amável e se aberto para conhecê-lo, o que ia bem contra a sua natureza. Além disso, admitia que gostava da mesma. O rapaz suspirou contra o rosto de Ga In, deixando que sua mão pendesse e se afastou, o que chamou a atenção da menina. Ga In não soube dizer o porque estava frustrada. Na realidade, não sabia dizer nem porque havia criado expectativas. O comportamento do rapaz a deixou pensativa e durante todo o filme um clima esquisito se instalou entre os dois.
– Foi um filme bom... – Oh Joon comentou quando estavam do lado de fora. A sessão havia terminado há alguns minutos e agora caminhavam até um ponto de ônibus. Sentaram-se no banco esperando o ônibus chegar.
O clima esquisito parecia bem denso, quase palpável. Não havia ninguém ali além deles e os dois não sabiam como reagir depois do quase beijo que haviam dado dentro do cinema. Ga In apenas concordou com a cabeça, acariciando o pelo liso e fofo do ursinho. O rapaz molhou os lábios com a língua, sentindo-a seca e se perguntou se aquele poderia ser o momento para convidá-la para a festa, afinal, havia estragado a noite com sua ação impensada. Decidiu quer era melhor arriscar, já que aquela noite parecia perdida.
– Acho que estraguei as coisas hoje. – Oh Joon confessou seus pensamentos, atraindo o olhar da garota. – Desculpe.
– Não estragou. O filme foi divertido, a pipoca estava boa e você me deu um ursinho, é algo que eu gosto, então não foi ruim pra mim. – Apesar do jeito robótico da garota, sentiu que a mesma tentava consolá-lo.
– Não ficou brava comigo? – O rapaz a olhou. – Quando eu tentei te beijar?
Ga In não soube dizer o porquê se sentia envergonhada de repente. Era como se Oh Joon estivesse tentando quebrar as muralhas que havia construído para si mesma, mesmo que não fosse sua intenção. A garota balançou a cabeça de maneira negativa, tentando arranjar palavras que definissem seus sentimentos naquele momento. Era algo novo para si, nem mesmo ela entendia o porquê não havia se sentido desconfortável, então como iria explicar para o rapaz como se sentia?
– Eu... – Ga In começou, suspirando. – Me senti diferente... Não sei dizer o porque, apenas foi estranho para mim, mas não foi desagradável.
Oh Joon estava surpreso com a honestidade da garota. Mesmo que ela sempre fosse sincera quanto ao que sentia, naquele momento ela parecia apenas uma garota inocente tentando entender os próprios sentimentos.
– Eu normalmente não gosto que me toquem porque é difícil para eu interpretar o significado disso... E nem gosto de muito barulho porque me deixa confusa, é difícil ouvir meus próprios pensamentos às vezes. – Ga In admitiu. – Eu não gosto de surpresas porque você não sabe o que você pode ganhar ou perder com isso... E eu gosto de matemática porque tem regras e uma lógica por trás de cada equação. – Mordeu o lábio inferior, tentando controlar a ansiedade. – É assustador porque as coisas parecem mais intensas pra mim, mas mesmo assim... Eu quis vir aqui e quis ser tocada por você.
A garota tirou sua pulseira, rodando-a entre os dedos, sentindo as costas passando por seus polegares enquanto tentava raciocinar sobre os seus sentimentos. Mesmo que não gostasse de falar sobre si mesma para outras pessoas, queria dizer para ele algo que era parte de si, algo que não gostava de falar para ninguém.
– Eu posso te contar um segredo? – A garota o encarou, esperançosa.
Oh Joon apenas concordou com a cabeça, sentindo-se estranho pela confiança depositada em si.
– Eu sou autista... – O rapaz pareceu surpreso, mas isso explicava muita coisa. Não que soubesse o que era ser autista, mas sabia que era alguma coisa relacionado ao estado psicológico de alguém, ou algo do tipo. – Eu não me importo muito com a opinião das outras pessoas, mas eu não gosto de como me tratam quando descobrem. Eu sou taxada como incapaz, como estranha, como deficiente e eu não sou assim. – Sentiu que a garota carregava uma mágoa profunda sobre aquele assunto. – Você é uma das poucas pessoas que sabe sobre isso, agora... Porque eu confio em você e você faz eu me sentir bem.
Aquelas eram as palavras que Oh Joon menos queria ouvir naquele momento. Ele preferia que a garota tivesse dito que o detestava ou que tinha ficado brava por ter cruzado o limite com a mesma. Preferia ter o desprezo do que a confiança dela naquela altura do campeonato. O rapaz suspirou, olhando para o céu com poucas nuvens e bastante estrelas. Na ilha onde viviam, com a baixa poluição, as estrelas davam as caras com mais frequência. Aquela era a chance de Oh Joon desistir daquela aposta idiota, era a chance de revelar tudo, de se livrar da fachada que tanto tentava manter... Mas porque não conseguia? Porque preferia se manter infeliz assim ao invés de mostrar quem era de verdade?
“É agora ou nunca, Ji Soo...”, pensou consigo mesmo “Você vai fazer a coisa certa ou vai seguir a aposta?”
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– VOCÊ NÃO FEZ ISSO! – So Ra berrou do outro lado do telefone, o que fez com Ga Yeong quase derrubasse o aparelho no chão. – PORQUE DIABOS VOCÊ CONVIDOU O KYUNG SOO PRA JANTAR?
Ga Yeong havia contado tudo o que havia acontecido no dia para a amiga, os motivos pelo qual Kyung Soo havia pedido a garota em namoro, o motivo de sua expulsão da mansão dos Hwa, até mesmo como o rapaz se sentia sobre seu relacionamento com Ahn Han Na e sobre seus sentimentos sobre ela – ou sobre Cha Se Young, como Kyung Soo pensava. So Ra havia escutado tudo perplexa com todas as coisas por trás do repentino interesse de Kyung Soo em si quando ainda possuía sua aparência anterior. Parecia um enredo de novela, algo que nunca acreditaria que aconteceria na vida real, ainda mais consigo. Mesmo com a explicação de tudo, So Ra não parecia muito convencida.
Para ela, Kyung Soo era um caso perdido, e mesmo que o rapaz alegasse que sua intenção fosse realizar o desejo de seus pais, para ela essas ações não eram coerentes com a personalidade egocêntrica do homem. Não confiava que a história fosse verdadeira, pelo menos não toda. Podia apostar que tinha muito mais coisas que estavam sendo ocultadas naquela história louca demais. Ao contrário da amiga, Ga Yeong parecia acreditar fielmente nas palavras do rapaz. Havia chorado, cuidado do cãozinho, pensado bem sobre tudo e então chorado mais um vez assim que havia chegado em casa depois do trabalho. Depois de ter avaliado bem a história, não achava que o mesmo se disporia de mentir para ela, ainda mais depois de saber sobre seus sentimentos.
E era por esse que tinha proposto o jantar. Mesmo que antes sua intenção de chama-lo para jantar fosse para seduzi-lo e descarta-lo, naquele momento o que mais queria fazer era contar a verdade. No momento em que o rapaz foi sincero sobre tudo o que aconteceu, sentia-se na obrigação de ser sincera também. Apesar de Kyung Soo tê-la feito sofrer por conta das expectativas e do término cruel, o homem parecia ter se arrependido de suas ações. Ga Yeong não conseguia simplesmente ignorar aquilo. Era hora de por um ponto final naquela história.
– So Ra, eu vou contar para ele a verdade. – Ga Yeong falou num filete de voz. Panqueca se acomodou no colo na garota, sentindo que a mesma não parecia estar bem. – Vou contar pra ele que eu sou a Ga Yeong.
Um silêncio longo se instalou no outro lado da linha. So Ra parecia estar tentando digerir a informação que acabara de receber.
– Você tem certeza que está pronta? – Era uma boa questão. Será que estava pronta para revelar sua identidade para o homem que sempre esteve apaixonada desde a adolescência? Será que estava pronta para a sua reação?
Antes que pudesse responder, ouviu algumas batidas na porta, atraindo a atenção de Panqueca que começou a latir em disparada. Olhou para o relógio, eram quase sete da noite e ainda não tinha conversado o suficiente com os vizinhos para terem intimidade de chama-la naquele horário. Perguntou-se quem poderia ser o visitante.
– So Ra, eu te ligo daqui a pouco, tem alguém batendo na porta. – A garota desligou o telefone depois de se despedir da amiga e rumou para a porta com o cachorrinho em seus calcanhares.
Assim que destrancou a porta, deparou-se com Seung Ri. O rapaz sorriu assim que seu olhar se prendeu na garota. Vestia-se confortavelmente com um jeans folgado e uma camisa com o símbolo do herói Flash. Trazia consigo uma bola de basquete e duas sacolas, uma delas era aparente ver algumas bebidas e salgadinhos. Panqueca avançou sobre o rapaz, como se estivesse tentando proteger a dona do intruso, mas mal conseguia alcançar sua canela.
– Parece que você arranjou um cão de guarda pra proteger a casa. – Seung Ri comentou bem humorado. Tirou da sacola um palitinho de carne, abrindo a embalagem e oferecendo ao animal. O cachorro cheirou o alimento e logo o abocanhou, arrancando um pedaço e se esquecendo rapidamente da visita.
– Grande cão de guarda, sendo subornado pelo primeiro estranho que aparece na porta. – O rapaz não pôde deixar de rir do comentário da garota.
– Eu vim trazer as suas roupas. – O rapaz levantou a sacola extra.
– Ah, é mesmo... Não precisava ter se incomodado de trazer à essa hora. – Ga Yeong falou e pegou sacola. – Espere um minuto, eu vou trazer as suas roupas também. – Antes que a garota pudesse sair do lugar, sentiu seu pulso ser envolvido pelo rapaz.
– Ao invés de você me trazer as roupas, podemos dar uma caminhada? – Seung Ri falou, deixando Ga Yeong confusa. – Eu quero te mostrar um lugar.
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– Oh, você chegou... – Mi Nah deu um sorriso cansado para o marido.
A mulher havia deixado a filha do casal no pequeno bercinho portátil e o balançava com o pé enquanto descascava algumas batatas. A visão de sua família num cenário cotidiano o fez relembrar o momentos de algumas horas mais cedo, trazendo a culpa à tona novamente.
– Eu me enrolei um pouco com a bebê, então o jantar vai sair um pouco atrasado. – Avisou.
– Tudo bem... Eu vou tomar um banho... – O rapaz seguiu para o banheiro.
Deixou suas roupas no cesto, por um momento se avaliando no espelho. Suas costas e seus ombros estavam arranhados, eram como marcas que certificavam que tudo o que havia acontecido era real. Entrou no chuveiro, tomando um banho mais longo que o habitual. Sua cabeça estava cheia de pensamentos, não sabia como lidar com a sua situação. De um lado, tinha esse impasse com sua esposa. Parecia que finalmente o casamento tinha esfriado e a relação entre os dois havia se tornado cômoda, apenas. Do outro lado, tinha esse desejo por sua chefe que o fazia ceder aos seus impulsos, era como se a mulher simplesmente o atraísse por puro instinto. No fundo, por mais que visse em Seung Ja uma pessoa com quem poderia ter alguns momentos de prazer e uma troca de confissões, não queria trocar sua esposa por ela. Então porque sempre cedia aos instintos?
– Amor... – Mi Nah abriu a porta do banheiro. Não havia pudor entre os dois em momentos como aquele, onde o rapaz se via totalmente nu debaixo do chuveiro. – Não demore muito, a conta de água veio cara mês passado.
– Ok, eu já estava acabando... – O rapaz respondeu. A mulher fechou a porta, deixando-o sozinho novamente.
Depois que o rapaz terminou o banho, rumou para o quarto e vestiu algumas roupas confortáveis. A pequena filha do casal dormia em um berço próximo à cama. Fez uma pequena carícia na cabeça da criança, deixando o quarto logo em seguida. Mi Nah, naquele meio tempo em que havia tomado banho, já tinha acabado de preparar o jantar e agora colocava a mesa. Sentou-se do lado oposto à mulher e comeram em silêncio na maior parte do tempo, exceto por algumas respostas curtas sobre algum assunto variado que surgia em meio ao jantar. Talvez fosse apenas impressão sua, mas parecia que Mi Nah estava incomodada com algo. Talvez fosse por conta da rotina com a criança, mas a mesma parecia esgotada e angustiada.
– Amor... – Ji Soo atraiu a atenção da esposa, que o olhou por um instante. – Está tudo bem? Você parece incomodada...
Mi Nah pareceu um pouco surpresa, mas assentiu com a cabeça dando um sorriso cansado.
– Estou, só... Não dormi muito bem. – Respondeu, mas Ji Soo não sentiu muita firmeza em sua resposta.
– Tem certeza que é apenas isso? – Insistiu.
A mulher pareceu ponderar sobre o que iria falar, mas apenas assentiu.
– Sim... Só estou cansada, a bebê teve febre hoje. – Sua resposta o fez ficar preocupado. Febre em crianças tão pequenas poderia ser perigoso.
– Deveria leva-la no hospital? – Ji Soo perguntou.
– Não precisa... Eu já lidei com isso.
Depois daquela resposta, o rapaz relaxou. Voltaram a comer em silêncio, cada um deles perdidos em pensamentos. Ji Soo assumiu a limpeza da cozinha e logo depois se preparou para ir dormir. Apesar do horário avançado, sua esposa não se deitou com o mesmo. Alegou que queria ver algum programa na televisão e iria dormir logo em seguida. Assentiu com a cabeça, indo se deitar sozinho. Embora seus pensamentos estivessem bastante conturbados, imediatamente foi fisgado pelo sono.
Assim que se viu sozinha, Mi Nah esperou alguns minutos antes de checar se o marido havia realmente dormido. Espiou por uma frecha na porta o rapaz ressoando antes de fechá-la totalmente. Suas mãos pareciam tremer pela ansiedade quando decidiu entrar no banheiro e checar o cesto de roupa suja. As roupas que Ji Soo havia usado naquele dia estavam por cima das outras roupas. Analisou com cuidado a camisa social branca, não encontrando uma mancha sequer, ao contrário da camisa que lavara há alguns dias atrás, cujo tinha uma marca de batom no colarinho. Mi Nah desconfiava que o marido estivesse lhe traindo há alguns dias.
Desde o nascimento de sua filha, o relacionamento havia esfriado consideravelmente. Ji Soo era para si um homem carinhoso e cuidadoso, que sempre havia colocado seu bem estar e o da filha do casal acima do dele. Sentia-se sortuda por ter vivido boa parte de sua vida ao seu lado, mas não podia negar que estavam passando por uma crise. Sentia-se distante do rapaz e sentia-se infeliz consigo mesma também, mas não queria acreditar que o homem pudesse estar sendo infiel. Era algo inimaginável para ela.
– Mi Nah, para de ser neurótica... O Ji Soo não faria isso... – Murmurou para si mesma, deixando de lado as roupas do marido.
“Talvez o rapaz tivesse esbarrado com alguém, talvez não fosse batom”. Mi Nah tentava se convencer. Mas e as marcas? Como poderia explicar os arranhões no corpo de seu marido como havia visto enquanto o rapaz tomava banho? Não tinha como terem sido feitas por acidente ou por alguma outra razão. Não tinha como não ligar os fatos, Ji Soo tinha um caso. Mas a questão principal era: o que Mi Nah faria quanto a isso?
Última modificação feita por SaaChan (30-04-2021, às 14h09)
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#4 17-01-2021, às 03h11
Capítulo XVII
Ga Yeong não sabia bem o que esperar de Seung Ri. Os dois estavam em uma quadra de basquete, o local parecia um pouco abandonado, cercado de prédios comerciais que estavam fechados. Com certeza, não era um local que costumava ser muito visitado, já que o seu acesso parecia bem escondido. Não ficava muito longe de sua casa, tanto que os dois vieram caminhando para o local. O rapaz demonstrava seu talento no basquete, jogando a bola e encestando uma atrás da outra, não importava muito a distância. A garota observava o rapaz um tanto curiosa, afinal, por qual motivo ele havia a chamado naquela hora da noite?
– Você não me chamou para te ver jogando basquete, não é? – Ga Yeong questionou, caminhando em direção ao rapaz.
– É claro que não... – O rapaz respondeu com um sorriso divertido. – Eu precisava de alguém pra segurar minhas coisas, não podia deixar minha cerveja encostar no chão.
– E eu tenho cara de cabideiro, não é mesmo? – A garota acabou por entrar na brincadeira do rapaz.
– Acredito que um cabideiro não conseguiria ser tão bonito. – O comentário do rapaz a fez corar.
Seung Ri lançou novamente a bola, acertando o centro do aro com uma cesta limpa. Correu para buscar a bola, quicando a mesma ao se aproximar da menina.
– Eu vou viajar amanhã de manhã, por isso queria te ver hoje. – Seung Ri falou, lançando a bola novamente. – Decidimos abrir uma filial nos Estados Unidos, mas como parece que a situação por lá está um pouco mais caótica do que esperávamos, eu vou ir lá pra resolver alguns assuntos.
– Ah, entendo... Isso quer dizer que você não vai conseguir acompanhar a filmagem de amanhã do comercial, não é? Você parecia realmente envolvido com esse projeto. –Disse Ga Yeong, lembrando-se que também não havia o visto naquele dia no set de filmagens. Apesar de muitos clientes não acompanharem todas as etapas da produção de um comercial, Seung Ri parecia ser o tipo de pessoa que queria participar ativamente de todos os estágios. O rapaz apenas afirmou com a cabeça.
– Eu confesso que me sinto ansioso sobre esse comercial. – Seung Ri foi sincero. – Na verdade, o produto dessa propaganda era um projeto do meu pai. Levou muito tempo para que a gente conseguisse colocar em prática esse plano dele. Ele era genial, por isso que eu tive dificuldades pra tirar esse projeto do papel.
Isso explicava muita coisa sobre essa dedicação do rapaz, como se dedicava a estar por dentro de tudo o que envolvia aquela tecnologia.
– Agora eu entendo o quanto esse projeto é importante pra você... Na verdade, eu já esperava que fosse porque não é muito comum um CEO de uma empresa se envolver pessoalmente em algum projeto, ainda mais um simples comercial. – Ga Yeong confessou.
– Pra mim não é só um comercial, é o que conecta as pessoas ao desejo do meu pai. – Seung Ri caminhou até a arquibancada um pouco desgastada, tirou dali uma latinha de cerveja e a abriu, oferecendo-a para a garota.
Ga Yeong não gostava de beber, nunca foi fã de álcool e muito menos tinha resistência o suficiente para duas ou três latinhas, mas sua cabeça estava tão cheia sobre seus problemas envolvendo Kyung Soo que se viu tentada a aceitar. Deu um longo gole, fazendo uma careta em seguida. Kyung Soo continuou falando sobre seus sentimentos acerca do projeto que estava realizando.
– Meu pai sempre quis que a tecnologia dele conectasse as pessoas, todas as pessoas, independente de idade e das condições delas. Por isso que quando você sugeriu a ideia de focar a propaganda na família, eu finalmente senti que a mensagem desse projeto estava chegando à alguém. – O rapaz tomou um gole da cerveja sob o olhar atencioso da garota. Por um momento, Ga Yeong não soube dizer por que se sentia tão feliz pelo homem reconhecer sua ideia, ou melhor, porque estava feliz por ajuda-lo a realizar o seu sonho. – E eu tenho certeza que sob o seu cuidado, essa mensagem vai chegar a outras pessoas.
Ga Yeong sorriu, sentia-se quente por dentro com a confiança que era depositada em si. O rapaz ao seu lado sorriu ao olhá-la também. Logo tomou outro gole de sua cerveja, mudando de assunto. Na realidade, Seung Ri havia pensado seriamente sobre convidar a garota para jantar e dizer como se sentia em relação a mesma, mas quando havia a encontrado em seu apartamento, percebeu que a garota não havia tido um bom dia. O rosto estava um pouco inchado e parecia que havia passado algum tempo chorando. Não queria tocar no assunto enquanto a garota não estava bem com seus problemas. Ao mesmo tempo, queria servir de ombro amigo para consolá-la, caso quisesse conversar. Talvez estivesse ultrapassando a linha que a garota havia tracejado entre eles perguntando sobre algo que deveria ser tão íntimo para a mesma, mas durante aquelas últimas semanas haviam compartilhado tanta coisa um sobre o outro que esperava que tivesse a confiança da garota para ouvir seus problemas.
– Mas mudando de assunto... – O rapaz bebericou novamente de sua latinha, percebendo que a bebida começava a esquentar. – Você não parecia muito bem hoje...
Ga Yeong sentiu-se envergonhada.
– Ah, você percebeu? – Não pode deixar de ficar surpresa com a intuição do rapaz.
– Você parece que levou dois socos no olho, quem não perceberia? – O rapaz brincou, o que fez a garota rir com o mesmo.
– É que, enfim... – Ga Yeong não sabia se deveria contar sobre seus problemas ou não para o rapaz, mas por algum motivo se sentia confiante e tentada a falar tudo o que estava lhe causando agonia. – Eu reencontrei uma pessoa do meu passado recentemente. Ele era o filho dos patrões da minha mãe e quando eu vivia com ela, eu era apaixonada por ele... Mas a gente nunca se envolveu de verdade, aparentemente... – A garota brincou com o anel da latinha. – Na verdade, aconteceu uma sequência de maus entendidos entre nós e a gente perdeu contato por um tempo.
Seung Ri se arrependeu de ter perguntado. Vendo como a garota confessava seus problemas sobre um homem pelo qual havia sido apaixonada o fazia questionar se ainda havia algum sentimento forte por parte de Se Young sobre essa pessoa. Mordeu o lábio inferior, ouvindo-a continuar a contar sua história.
– Só que agora que a gente se reencontrou, ele não me reconheceu. Na verdade, eu dei a entender que não era a pessoa que ele conhecia. – Confessou. O olhar de Seung Ri se fixou em si. – Ele confessou os sentimentos dele por mim hoje, disse que gostava de mim...
– Você ainda sente algo por ele? – Seung Ri questionou, ansioso com a resposta.
A pergunta do rapaz havia feito com que a garota se sentisse pensativa. A verdade é que ela não sabia dizer, estava em dúvida sobre os sentimentos que havia criado por Kyung Soo desde a sua adolescência e sobre os seus sentimentos atuais. Depois que havia optado por se vingar da traição do rapaz e convivido na mesma empresa que o mesmo por quase cinco meses, percebeu como era realmente receber afeto do homem, atrair sua atenção e percebeu que todos os sentimentos como esse, antigamente, vinham apenas dela. Ao contrário disso, se sentia desprezada por Kyung Soo de muitas formas, mas sabia que o rapaz havia amadurecido e repensado a maneira como a havia tratado durante a juventude. Ele havia confessado para si, mesmo que achasse que era outra pessoa, que se arrependia de suas ações do passado e que agora queria ser alguém melhor.
Mas será que isso era o suficiente para ainda amar o Kyung Soo?
– Eu não sei. – Foi sincera. – Mas... Eu queria ser honesta com ele, dizer quem eu sou... Ele se abriu comigo e parecia estar sendo honesto, então eu acho que eu devo ser honesta com ele também...
Seung Ri abriu outra cerveja, bebendo o conteúdo em um único gole. Por mais que ela não houvesse confirmado com todas as letras que ainda amava a pessoa por quem passou boa parte da adolescência apaixonada, ainda assim não havia negado que poderia haver o sentimento. Sentia-se frustrado, chateado e a culpa era sua por criar expectativas. Deixou a latinha de lado, tentando se livrar do pensamentos que começavam a tomar sua mente e se levantou da arquibancada. Buscou a bola com a qual estava jogando antes, quicando a mesma pela quadra. A garota o observou, parecia pensativo e distante por um momento, mas logo o rapaz se aproximou e jogou a bola em sua direção. Quase havia deixado a bola escapar, era um pouco mais pesada do que esperava.
– Vamos jogar uma partida. – O rapaz sorriu para Ga Yeong que pareceu confusa com o convite repentino.
– Eu não sei jogar...
– Você nunca jogou basquete na escola?
– Basquete nunca foi o meu forte. – Nem qualquer outro esporte que envolvesse correr, chutar, pular ou se movimentar no geral, pensou consigo mesma.
– Bom, então pode ser um bom momento para aprender... – A garota pareceu um pouco insegura, mas se levantou para tentar. – Bom, você tem uma bola e ali tem uma cesta, tente acertar.
– Assim, do nada? Não tem nenhuma técnica milagrosa pra me ensinar?
– Não, apenas precisa jogar mesmo. – Ga Yeong não pareceu muito convencida, mas mesmo assim tentou.
Imitou a posição de algum jogador famoso que havia visto algum dia na TV, visualizou o alvo e então lançou a bola. Entretanto, como todo castigo pra corno é pouco, a bola ficou presa entre o aro e a tabela. Os dois ficaram surpresos como a péssima pontaria de Ga Yeong podia ter causado tal situação.
– Acho que basquete realmente não é o seu forte... – Ga Yeong o olhou como se dissesse “Você acha? Sério?”. – Me empresta o seu sapato.
– Porque o meu sapato? – A garota franziu o cenho, desconfiada.
– Eu vou arremessar pra tirar a bola dali. Se eu jogar o meu tênis, que é maior, a chance de ficar preso na tela é maior.
Ga Yeong suspirou, contrariada, mas desde que ela havia sido a pessoa que prendeu a bola no aro, não custaria emprestar o seu sapato para o rapaz tentar tirar a bola dali. Tirou o tênis que usava e o entregou a Seung Ri que logo atirou o calçado em direção à bola. O calçado bateu no objeto e caiu dentro do aro, ficando preso na tela.
– Meu sapato! – Ga Yeong protestou.
– Me empresta o outro, eu prometo que dessa vez eu vou tirar a bola e o seu sapato de lá.
Ga Yeong pareceu desconfiada, mas mesmo assim entregou o sapato, ficando apenas de meia no meio do campo. O rapaz jogou o outro pé do sapato que acabou tendo o mesmo fim. Os dois observaram boquiabertos os dois tênis e a bola presos na cesta.
– Seung Ri... – Apesar da maneira informal que a garota havia usado pela primeira vez com o rapaz, o tom de voz não transparecia que estava muito contente. Com um sorriso amarelo o rapaz apenas proferiu a única coisa que poderia dizer naquele momento.
– Foi mal...
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Quando Ji Soo disse para sua chefe no dia anterior que ela deveria mudar um pouco as roupas que usava, não imaginava que a mulher faria de si uma espécie de “consultor de moda” particular. Mal havia colocado os pés na empresa naquela manhã e logo foi chamado para a sala da diretora. Assim que entrou em sua sala, a mesma pediu por um favor um tanto incomum: ajudá-la a escolher um vestido para o evento que participaria.
E até agora se perguntava o porquê havia aceitado.
Seung Ja surgiu de um provador, postando-se em frente ao rapaz. Alisou o vestido azul cobalto de mangas que batia abaixo do joelho. Virou-se por um momento, analisando o vestido no espelho.
– O que achou deste? – Perguntou esperançosa, era o quinto vestido que mostrava ao rapaz.
– Bonito. – A mulher pareceu surpresa com sua reação. – É o tipo de vestido que ficaria perfeito na sua mãe, que tem setenta anos.
A mulher suspirou, frustrada. Começava a pensar que não havia nada para ela naquela loja.
– Está se escondendo e escolhendo roupas que não te valorizam. – Ji Soo respondeu. – Está trocando seis por meia dúzia.
– Eu estou tentando.
– Está com medo... Não confia que é bonita o suficiente para usar um vestido bonito. – As palavras do rapaz lhe acertaram como uma flecha.
Ji Soo se afastou, havia um vestido que havia lhe chamado a atenção desde que entraram na loja. Pediu para a atendente trazer o vestido que estava na vitrine. Em poucos minutos, a atendente trouxe o vestido, deixando Seung Ja surpresa.
– Não posso usar um vestido desses, é...
– Bonito? Eu sei. – Ji Soo respondeu. – E vai ficar bonito em você, acredite. Apenas o experimente...
A mulher pareceu insegura, mas pegou o vestido e voltou para o provador. Alguns minutos depois, a mesma apareceu em frente ao rapaz. Ji Soo apenas perdeu a fala, olhando a mulher de cima abaixo. O vestido longo e vermelho, com mangas compridas caídas nos ombros, valorizava cara curva do corpo feminino, o decote alongado nas costas e o decote na frente a tornavam sensual, assim como a fenda que subia por uma das pernas. Seung Ja se sentia exposta, como se todos pudessem ver suas imperfeições, mas o olhar de Ji Soo sobre si a fez ponderar sobre suas inseguranças. Via desejo nos olhos do rapaz, como se novamente estivesse em frente ao amante da primeira vez em que se envolveram.
– A senhora está incrível, é raro um vestido desse porte cair tão bem em alguém. – A atendente parecia estar sendo honesta. – A senhora deseja levar ou quer tentar outro?
– Ela vai levar. – O olhar de Ji Soo parecia queimar sobre Seung Ja. A todo instante, não havia desviado os olhos da mulher a sua frente uma vez sequer. – Pode preparar a compra.
A atendente pareceu confusa, mas como não ouviu qualquer objeção, retirou-se para ajeitar a compra. Vendo-se sozinho com a chefe nos provadores, o rapaz não resistiu a tentação. Na realidade, quanto mais tempo passava com Seung Ja, menos queria lutar contra o desejo que sentia. Guiou a mulher para dentro da cabine onde se vestia, soltando seus cabelos do coque severo que sempre usava.
– Você fica irresistível assim. – Seung Já ouviu o rapaz proferir antes de atacar seu pescoço. Segurou-se nos ombros do mesmo, sentindo as pernas bambas. Os olhares se cruzaram, como se entrassem num silencioso consenso sobre como gastariam o tempo nos próximos minutos.
Capítulo XVIII
– Você disse que a festa não teria muitas pessoas... – Ga In mirou o rosto de Oh Joon incomodada pela quantidade de gente que parecia não acabar mais saindo da casa do colega de time do rapaz.
– Eu não sabia que ele iria convidar todo esse povo, pra mim ele tinha dito que era uma social com poucas pessoas. – Oh Joon mentiu, sabia muito bem que festas como aquela sempre eram encharcadas de gente.
– Acho melhor eu ir pra casa, não sei se consigo ficar aqui. – Ga In se preparou para dar meia volta, mesmo que não soubesse o caminho exato de volta para sua casa. Somente a ideia de estar em uma social pequena com outras pessoas com quem não tinha uma convivência já a deixava desconfortável, imagine uma festa daquela magnitude.
– Não vai, Ga In... – O rapaz segurou seus ombros com sutileza. – Olha, a gente entra, tenta ficar um pouco e se for muito difícil pra você, eu te levo pra casa, ok?
– Oh Joon...
– Vamos só tentar, eu vou ficar do seu lado o tempo inteiro... – O rapaz tentou convencê-la.
Entraram em um debate sobre o assunto, mas a persistência do rapaz fez com que a garota se desse por vencida, mesmo que não estivesse à vontade com a ideia. Os dois entraram na casa, o som alto logo começou a incomodar a garota. Como se estivessem equilibrando uma cesta de frutas na cabeça, as pessoas – pelo menos as que estavam um pouco mais sóbrias – logo voltaram sua atenção para o casal incomum. O astro e a nerd, era quase como ver um roteiro de filme clichê se tornando realidade. Logo os burburinhos começaram e Oh Joon sabia bem que falavam deles. Com um sorriso falso, Hyun Jin, o anfitrião da festa logo se aproximou vestindo sua melhor máscara de pessoa simpática.
– Olha quem temos aqui, a famosa senhorita Ga In. – O rapaz se aproximou para tocar a mão da garota, mas de uma maneira não tão sutil Oh Joon afastou a mão de Hyun Jin, colocando um braço entre o rapaz e a menina. – Oh, que possessivo, eu só ia dizer um oi.
– Você pode dizer “oi” sem tocar nela. – Oh Joon deu um sorrisinho de escárnio.
O pessoal ao redor começou com os cochichos novamente, surpresos pela atitude protetora do rapaz. Isso apenas fomentava os boatos de que os dois estariam num relacionamento. Para Oh Joon não importava tanto que alguém estivesse dizendo por aí que Ga In era sua namora, por mais que isso fosse surpreendente. Para uma pessoa que era tão preocupada com a própria imagem, era curioso como o rapaz estava colocando uma garota que até então não tinha um grande valor para si acima de sua própria imagem.
Hyun Jin ergueu as mãos como se estivesse se rendendo, mas tinha um sorriso debochado nos lábios.
– Tudo bem, foi mal... Não queremos incomodar o casal... – O rapaz falou dando alguns passos para trás.
O clima tenso entre os dois rapazes parecia chamar a atenção do pessoal que estava por perto. Mesmo que a sala fosse bastante espaçosa, nem todos os convidados conseguiam estar no mesmo espaço onde os rapazes pareciam que logo iriam se atracar por conta do ódio mútuo que nutriam um pelo o outro. Frustrando as expectativas do pessoal, Hyun Jin apenas se afastou, fazendo com que a atmosfera densa se dissipasse. Não demorou muito para que as pessoas ao redor se distraíssem novamente com seus próprios assuntos.
– Até quando as pessoas vão achar que estamos namorando? – Ga In perguntou para o rapaz. Ji Soo apenas suspirou.
– Em breve eu vou ajeitar essa situação, confie em mim. – O rapaz segurou os ombros da menina com uma leve carícia.
Os olhos de Oh Joon se prenderam na figura de um rapaz franzino na base da escada que levava ao segundo andar, como se tivesse acabado de descer. Mun Seo lhe encarou por alguns segundos tão longos que pareciam uma eternidade. Dando-se conta de sua companhia, o rapaz deu meia volta e subiu novamente as escadas para o andar superior. Oh Joon havia dado tempo e espaço para o rapaz, mas naquele momento queria acertar as contas. Virou-se para Ga In, sorrindo de maneira acolhedora.
– Eu vou buscar uma bebida pra gente, já volto. – Antes que a garota pudesse protestar, o rapaz a abandonou na sala, indo atrás do rapaz que lhe deixava perturbado.
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– Como se sente sendo a principal atração da noite? – Ji Soo se aproximou casualmente assim que viu Seung Ja sozinha.
– Desse jeito faz parecer que eu faço parte de espetáculo de circo... – A mulher bebericou um pouco do seu champanhe.
O comentário da mulher fez com que Ji Soo risse disfarçadamente. Como o rapaz esperava, assim que a mulher adentrou o salão com o vestido vermelho que havia escolhido há alguns dias atrás, imediatamente atraiu a atenção de todos. Os cabelos que normalmente viviam presos em um coque severo estavam soltos e desciam como uma cascata pelas costas expostas por conta do profundo decote do vestido. Enquanto conversava com os convidados, o rapaz se mantinha um pouco distante, sempre a observando e estando em seu campo de visão. Apenas a presença de Ji Soo no salão já deixava Seung Ja um pouco mais confiante para socializar com os colaboradores e possíveis investidores da empresa.
E parecia que eles estavam apreciando a sua presença, muito mais do que ela esperava. Quanto mais segurança passava em sua conversas, mais agradável sua companhia era para as pessoas com quem estava dialogando. Havia perdido a conta de com quantas pessoas havia conversado naquela noite, pessoas que pareciam interessadas em si até mais do que em possíveis acordos com a empresa. Somente quando via a mulher sozinha, Ji Soo se aproximava rasteiramente, certificando-a que estava fazendo um bom trabalho.
– Eu... Não estava confiante de que essa noite pudesse ocorrer bem. – Seung Ja confessou. – Sem a sua ajuda, eu teria transformado esse evento num fracasso.
– Concordo. – Ji Soo bebeu um pouco do champanhe, atraindo a atenção da mulher – E aquele vestido de idosa teria sido a sua ruína.
Seung Ja não pode deixar de rir do comentário de seu secretário, apesar de nunca ter sido fã de humor ácido, as brincadeiras do rapaz não deixavam de serem divertidas.
– Tem muita coragem de questionar o meu gosto por moda... – Permitiu-se entrar na brincadeira. – O meu estilo requintado é algo que você não entenderia.
– O seu estilo requintado é bastante duvidoso... – Rebateu.
– Se acha que tem mais capacidade de montar um look melhor que o meu, eu o convido a refazer todo o meu guarda-roupa...
– Eu pensarei no caso se receber alguma bonificação no final do mês. – Ji Soo respondeu com humor, mas ao contrário do que esperava, a mulher não o acompanhou.
Mirou o rosto de Seung Ja que parecia perdida e ansiosa, pensou por um momento que talvez houvesse a ofendido com sua piada, mas ao vê-la morder o lábio inferior percebeu que o motivo de sua distração não era o seu humor ácido. Voltou-se para trás de si, reconhecendo a figura masculina que havia encontrado poucas vezes ao lado de uma mulher jovem e bastante sensual. Se Kyung Joon era alto, bonito e expirava confiança e inteligência ao mesmo tempo em que tinha um jeito sacana demais para o gosto de Ji Soo. Era o tipo de pessoa que tomaria cuidado para que sua filha não se envolvesse quando tivesse idade suficiente para namorar (mesmo que fosse ficar de guarda para qualquer homem que sua filha tivesse interesse quando fosse mais velha). A mulher ao seu lado muito mal deveria ter sua idade, talvez fosse até mais nova. Não se admirava com o quanto a Seung Ja poderia ter se sentido inferior por ter sido trocada por uma mulher mais nova, mesmo que fosse tão bonita quanto (na humilde opinião de Ji Soo, até mais que a nova companheira de seu ex-marido).
– Apenas seja superior, você também o trocou por um modelo mais novo. – Seung Ja viu surgir um pequeno sorriso de lado surgir no rosto do rapaz. Ji Soo se afastou assim que viu o ex-marido de sua chefe finalizar uma conversa com alguns convidados, desconfiava que a próxima parada do casal seria a mesa em que estavam.
Não demorou muito para que Kyung Joon finalmente decidisse se aproximar acompanhado da bela mulher ao seu lado. Avaliou de cima abaixo a ex-companheira com uma expressão neutra, mas Ji Soo sabia que o homem estava impressionado. Ainda assim, independente de quão surpreso estava pela mudança de visual e de atitude da ex-esposa, o homem não parecia disposto a agir de maneira agradável com a mesma. Firmou uma mão no braço de sua atual companheira, apenas com o propósito de provocar Seung Ja, entretanto a mulher apenas esboçou um sorriso dissimulado, não se deixando cair nas provocações do homem. Sabia que caso se deixasse levar pelas afrontas do mesmo, apenas estaria satisfazendo o seu ego. Era um gostinho que não estava disposta a dar ao mesmo.
– Está promovendo um belo evento essa noite. Não é bem do seu feitio, mas aparentemente está fazendo um bom trabalho. – O homem comentou. Apesar de parecer um elogio, havia um tom levemente desdenhoso por trás daquelas palavras.
– É uma característica forte da minha família sempre fazer o quer que seja com qualidade, você sabe bem. – Seung Ja respondeu com uma elegância e confiança que pareciam inéditas ao casal.
– O seu vestido está lindo, querida... – A namorada de Kyung Joon se pronunciou com uma intimidade não cabia às duas.
Hwa Yeong era quase vinte anos mais nova que Seung Ja, provavelmente tinha saído do ensino médio há pouco tempo e tinha a lábia de uma estelionatária. Era a antiga secretária de Kyung Joon, cujo qual nunca havia sido fã e também havia sido o motivo de muitas brigas conjugais quando ainda estava casada com Kyung Joon. Nunca havia se deixado enganar pelo imagem meiga e gentil que a mulher cismava em sustentar. Apesar de ter ficado decepcionada ao descobrir a traição, não estava surpresa. Foi o estopim para a mesma decidir se separar definitivamente do ex-marido.
– Adoraria saber onde comprou, esse modelo cairia bem num corpo como o meu. – A mulher não pode deixar de comentar com o intuito de comparar o corpo de Seung Ja ao seu, como se estivesse a provocando pela diferença de idade. – Acredito que o meu Kyung Joon adoraria me ver em um desses...
– Acho que está sem sorte, a loja onde eu compro costuma fazer modelos para mulheres com bustos mais... Avantajados. – Ouviu uma risada discreta não tão distante de si. Qual não foi sua surpresa ao constar que Ji Soo estava mais afastado ouvindo tudo e se deliciando com as respostas à altura de sua amante? A namorada de seu ex se reiterou, estava mais acostumada a ser venenosa do que Seung Ja, o que significava que se recuperava rápido também.
– Entendo... De qualquer maneira, eu prefiro vestidos que fiquem mais justos nos quadris... – Jogou os cabelos castanhos para trás, relevando o assunto.
– Querida, gostaria de dar um passeio pelo salão? Aposto que tem muitas coisas para ver. – Apesar do olhar protestante da namorada, a mesma se afastou e deixou que o companheiro ficasse à sós com a ex-cônjuge.
– Tenho certeza que não pediu para ficar sozinho comigo apenas para me encher de galanteios. – Foi direta.
– Creio eu que não preciso encher o seu ego como provavelmente a maioria dos homens nessa festa já devem ter feito. – Seung Ja talvez estivesse delirando, mas podia jurar que o tom desdenhoso do homem era para disfarçar algum traço de ciúme sobre si. A mulher quis rir.
– Está com ciúmes, Kyung Joon? – A pergunta direta o fez expressar surpresa por alguns segundos, mas logo o homem voltou com o sarcasmo característico seu.
– Céus, você ganha um pouco de confiança e começa a achar que o mundo gira em seu próprio umbigo.
– Apenas estou perguntando por conta de seu comentário indiscreto. – Viu o ex-companheiro se debruçar sobre a mesa com uma proximidade perigosa.
– Eu não preciso sentir falta de algo que eu mesmo joguei fora. – Seung Ja se sentiu balançada com o comentário cruel do homem, como se apenas aquele fato houvesse quebrado suas duas pernas.
Sentiu um bolo formar-se em sua garganta, dificultando que a mesma pudesse até mesmo respirar. Todas as inseguranças voltavam com força e se perguntava “porque diabos havia achado que podia enfrentar aquele idiota?”. Era como se suas armaduras tivessem virado pó. Como um cavaleiro negro, Ji Soo se postou ao lado da mulher com duas taças de champanhe que havia arranjado com algum garçom. Postou uma das taças em frente a mulher, envolvendo suas costas como sua mão grande e quente, como se dissesse que estava ali apoiando a mesma. Seung Ja sentiu como se suas forças estivessem retornando apenas com a presença do rapaz ao seu lado.
– Desculpe a demora, eu tive que lutar com por essas taças com alguns convidados... – Ji Soo esboçou um sorriso e piscou discretamente para a mesma.
– Não me admira que a bebida não esteja chegando até aqui... – Comentou com humor. – Creio que não preciso apresenta-los...
O rosto de Kyung Joon se fechou ao analisar o rapaz de cima abaixo. A proximidade entre os dois não disfarçava nem um pouco a relação que tinham, coisa que Ji Soo fazia questão de não querer esconder. O desconforto do homem à sua frente era como uma forma de entretenimento para o mesmo: praticamente um show de qualidade. Talvez estivesse se deixando tomar pelo seu ego e não exatamente por querer ajudar Seung Ja a se manter firme perante o ex-companheiro, mas qualquer um dos motivos estava bom para ele. O fato era que Kyung Joon era o tipo de pessoa que mais o incomodava e Ji Soo queria coloca-lo em seu lugar. O homem deu uma risada meio descrente, algo que soara mais como uma bufada frustrada.
– Seu desespero era tão grande pra se envolver com um mero secretário? – Kyung Joon perguntou com certo desprezo. Por mais que Seung Ja não precisasse dar explicações ao ex-marido, se viu tentada a provoca-lo. Com Ji Soo ao seu lado, tinha mais segurança de que seria amparada. O rapaz poderia ser tão ardiloso quanto Kyung Joon era.
– Eu resolvi tentar me abrir a novas experiências. Você sempre disse que eu era tão careta, então pensei em fazer a mesma coisa que você. – Seung Ja olhou o rapaz com cumplicidade e certo desejo. – Não foi uma má escolha.
– Impressionante... A puritana e recatada Lee Seung Ja se envolvendo com seu secretário, isso daria uma boa manchete... – Antes que Seung Ja pudesse responder que era uma mulher solteira e desimpedida, o Kyung Joon continuou. – Ainda mais por seu secretário aparentemente ser casado.
Seung Ja piscou algumas vezes mantendo a máscara de mulher confiante que usava. Casado? Ouvira bem? Olhou discretamente para Ji Soo que parecia um tanto confuso com seu olhar sobre si. Somente então reparou na aliança brilhante no anelar esquerdo do rapaz, coisa que até então não havia feito. Em nenhum momento havia parado para se perguntar sobre a vida do homem com quem havia divido alguns momentos íntimos em seu escritório. A verdade era que Seung Ja não sabia que Ji Soo era casado, e se soubesse, será que teria se relacionado com o mesmo afinal de contas?
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Ga In estava desconfortável, se sentia ansiosa naquele lugar sem Oh Joon por perto. Não havia se passado muito tempo que o rapaz havia saído, uma garota de cabelos longos e tingidos num castanho claro se aproximou. As roupas curtas apenas salientavam seus atributos já bem formados para uma garota de apenas quinze anos. Lee U Jin era considerada uma das beldades de sua escola, era quase impossível que alguém não a conhecesse, principalmente pelo fato de ter namorado Oh Joon por alguns meses antes de descarta-lo. A garota avaliou Ga In de cima abaixo, com um sorriso de escárnio nos lábios pintados de vermelho.
– Um pouco decepcionante... – A garota falou.
Ga In se sentia desconfortável demais para responder. A música alta e o tanto de pessoas deixavam-na nervosa, nem mesmo contar as contas em sua pulseira terapêutica a estavam ajudando a lidar com aquela situação. Sentia que estava as coisas estavam ficando fora de seu controle.
– Os rapazes falavam tanto sobre como você era inalcançável que eu esperava no mínimo uma beleza rara... – Lee U Jin desdenhou, percebendo a garota nervosa com seus comentários.
Ga In não entendia qual era o ponto daquele diálogo, o que a garota queria consigo. Sua cabeça parecia tão lotada que não conseguia raciocinar, sequer ouvir seus próprios pensamentos. Não queria explodir, entrar em surto, mas sentia que era uma bomba relógio prestes a explodir em alguns segundos.
– Mas fazer uma aposta pra ver quem pegava você? – A fala da garota chamou a atenção de Ga In. Piscou algumas vezes tentando interpretar aquelas palavras.
– Aposta? – Repetiu, a voz um tanto arrastada.
– É, uma aposta. – A garota parecia se divertir com a expressão confusa da garota. – Ou você realmente achou que o Oh Joon se aproximaria de uma garota estranha e sem sal como você por que gostava de verdade de ti?
As palavras da garota não faziam sentido para Ga In. Oh Joon havia apostado que ficaria com ela? Por quê? Por qual motivo ele faria aquilo? O que ele ganharia fazendo com que a mesma pagasse um papel de trouxa achando que ele realmente gostava dela? Não queria acreditar que aquela menina pudesse estar dizendo a verdade. Durante todas aquelas semanas que haviam passado juntos, estudando, se conhecendo, até mesmo saindo daquela rotina tão fechada que Ga In nunca abria mão para tentar coisas novas e divertidas, não tinha como acreditar que tudo aquilo não tinha um significado tão profundo para o rapaz quanto tinham si. Depois de ter dito para o mesmo que confiava nele...
– Não é verdade... Você é uma mentirosa... – Sua cabeça doía, não conseguia ouvir a própria voz, era como se a música alta abafasse seus sentidos.
– Se você diz... Porque você mesma não pergunta pra ele? – U Jin não poupou a garota de seu veneno. – Ele foi lá pra cima...
Ga In nunca foi boa em interpretar as expressões faciais das outras pessoas, assim também como nunca foi muito boa em aprender algumas expressões de fala. Sempre interpretava algo no seu sentido literal, a menos, é claro, que já conhecesse o sentido da fala antes. Mesmo assim, Ga In soube identificar bem o olhar vitorioso e desafiador da garota à sua frente. Seu maior temor era que a mesma estivesse com a razão. Não queria acreditar que a primeira pessoa por quem havia desenvolvido sentimentos tão fortes e tão inéditos para si pudesse estar traindo sua confiança por conta de uma brincadeira sem fundamentos entre seus colegas. Mesmo que não quisesse acreditar nas palavras daquela estranha, ainda seguiu para o andar superior.
O segundo andar tinha apenas algumas portas fechadas. Na verdade haviam quatro portas que levavam a alguns cômodos. Podia chutar que deveriam ser três quartos e um banheiro, visto que o do térreo era apenas um lavabo. O som ali era mais abafado e não haviam pessoas no corredor superior. Tocou a maçaneta da primeira porta, girando a mesma. A porta se abriu, revelando um quarto com uma cama espaçosa, mas que não parecia estar sendo utilizada há um bom tempo. Provavelmente era um quarto de hóspedes. Apenas seguiu o caminho, tentada a voltar para baixo e esperar que tudo o que a garota houvesse dito fosse apenas uma brincadeira de mau gosto. Lembrou-se de quando estava no fundamental e algumas crianças faziam brincadeiras do tipo com ela. Havia demorado a aprender a identificar quando alguém apenas a estava fazendo de trouxa ou quando era verdade sobre manda-la ir para algum lugar apenas por maldade. Ainda assim, porque parecia que era verdade as palavras dela?
Tocou outra maçaneta, revelando um quarto de adolescente, com pôsteres e alguns artigos esportivos. Imaginou que pudesse ser o quarto do rapaz que havia conhecido mais cedo, o anfitrião da festa. Seguiu para a penúltima porta, respirando fundo antes de abrir a mesma. Ga In sentiu as pernas vacilarem, mas se manteve de pé. Seus pensamentos pareciam estar em um mar revolto assim que se deparou com a cena. A música alta não a ajudava a organizar os pensamentos e seus sentimentos pareciam entrar em erupção, como um vulcão expelindo seus sentimentos para fora de si. Tentou tapar seus ouvidos, correndo em direção à saída sem olhar para trás.
Capítulo XIX
Seung Ri olhou com curiosidade para o memorial que havia em frente ao colégio que ficava do outro lado da rua. As fotos de dois adolescentes, uma garota que julgaria ser latina e um rapaz negro estavam espalhadas entre várias flores, pelúcias, cartazes e velas, a maioria delas apagadas por conta do vento fraco que corria pelas ruas de Manhattan. Mesmo em inglês, o rapaz conseguia ler bem o que dizia em cada uma delas. Coisas como “Sempre em nossos corações”, “Vocês fazem falta”, entre outras coisas do tipo eram algumas das mensagens escritas ali.
– Bem trágico o que aconteceu com eles... – Jack Hansen falou enquanto bebia seu café. – Os dois desapareçam em uma viagem escolar ontem. Caíram de uma cachoeira, aparentemente e até agora não tiveram algum sinal deles. – O rapaz explicou – Mas o engraçado é que mesmo sem saberem se estão ou não vivos, já tem pessoas criando memoriais para os dois.
– É como se estivessem os matando antes mesmo de confirmarem suas mortes. – Seung Ri seguiu o raciocínio do rapaz que deu um meio sorriso, concordando com a observação do mesmo. Deu um bocejo, sentindo os efeitos do jet lag pela diferença de horário entre a Coréia e os Estados Unidos.
– E não duvido que devem postar fotos sobre isso o tempo inteiro, como uma competição de quem deve ter ficado mais triste sobre o desaparecimento dos dois. – Jack continuou. – Se bobear, não devem nem ser próximos de algum deles, mas mesmo assim devem falar sobre o quanto a vida é difícil sem os dois por perto.
Jack deu uma risada sem humor, fazendo Seung Ri pensar se o rapaz estava comentando apenas sobre a tragédia em si ou se sua fala se remetia a alguma experiência própria. Normalmente era intuitivo, mas não era um adivinho. Decidiu relevar sobre o assunto. Tomou um gole de seu café, sentindo-se confortável na pequena cafeteria simples onde estavam. Jack mudou de assunto, o sotaque carregado até mesmo para um americano aparecendo volta e meia. Perguntou-se de qual estado o rapaz seria.
– Eu fiquei surpreso por aceitar me acompanhar até essa cafeteria. – O americano respondeu com sinceridade. – Achei que iria preferir aquelas cafeterias cheia de “frufruzinho” que a maioria dos ricos gostam.
– Eu prefiro locais agradáveis e de boa qualidade. – Respondeu, catando um donuts da caixa à sua frente. Era fã de doces, mas normalmente gostava dos bolos em seu país. A pasta americana era muito pesada para o seu paladar e o doce que havia escolhido havia sido o mais perto de agradá-lo. – Não importa muito se eles são populares ou não, desde que a comida seja boa e tenha uma higiene agradável.
Jack riu com gosto, deliciando-se com seu café.
– Com certeza, você é bem diferente da maioria dos ricos. – O sotaque forte ficou novamente em evidencia, era como se o rapaz estivesse relaxado com a presença do outro.
– Afinal, porque escolheu essa cafeteria? – Seung Ri perguntou – Parece que você não escolheu esse lugar por conta do café.
O rapaz ficou surpreso pelo olhar afiado do CEO. Não se admirava que o homem a sua frente tinha um bom potencial para os negócios, ele era bom em ler as pessoas.
– Meu irmão trabalha naquela escola. – Jack confessou. – Faz um bom tempo que não o vejo, então eu decidi surpreendê-lo com a minha ilustre presença. Imagino a festa que será quando estivermos juntos novamente.
– Você estava trabalhando para a sede da minha empresa antes, certo? Quantos anos ficou lá?
– Dois. Mas antes disso eu estava em muitos lugares por aqui nos Estados Unidos. – O rapaz falou. – Estive na Califórnia, depois na Flórida, Geórgia, Kansas... Eu viajei bastante por uns bons seis anos pela sua empresa, mas curiosamente nunca viajei para o Texas, onde eu nasci. – Isso explicava o sotaque forte do rapaz, as vezes até meio difícil de entender para Seung Ri. Os nativos daquela região costumavam ter um dialeto bem enrolado até mesmo para os nativos do resto do país. – Essa é a segunda vez que eu sou mandado para Nova York, mas até que estou satisfeito por estar aqui.
– Você deve estar bem ansioso para reencontrar seu irmão, parece falar dele com bastante afeição. – Novamente a intuição do rapaz não falhava. Apesar da conversa informal com o chefe, não se intimidou a falar sobre sua vida particular.
– De certa maneira, sim... Precisamos colocar muita coisa em dia. – Jack falou dando um leve suspiro. – E também, existe muitas coisas que eu queria conversar com ele, coisas que sempre guardei para mim. – Revelou. – Talvez pareça um pouco macabro da forma como eu vou dizer, mas é algo que eu desejo revelar antes de morrer, pra que eu possa viver sem arrependimentos. Eu não posso adivinhar o dia de amanhã e talvez eu não tenha mais a oportunidade de estar frente a frente com o meu irmão tão cedo.
Seung Ri sentiu como se aquilo valesse para ele também. Era como se caísse como uma luva sobre os seus sentimentos em relação à Se Young. Por mais que a garota parecesse estar apaixonada por outra pessoa, ele precisava dizer como se sentia sobre a mesma. Se ela o rejeitasse, bom, paciência. Não havia nada que pudesse fazer sobre isso, mas pelo menos não se arrependeria por não ter tentado. O rapaz olhou para o último donut na caixa, decido sobre que rumo tomar. Quando retornasse à Coréia, iria se declarar para a mulher que havia o cativado desde a primeira vez em que haviam se encontrado.
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Seung Ja estava em frente ao elevador do hotel onde havia sido realizado o evento. Havia ficado no local do início ao fim da festa, entretendo seus convidados e garantindo que tudo ocorre conforme o planejado. Ainda assim, sua mente parecia dispersa depois da conversa um tanto acalorada com seu ex-parceiro que havia dado o ar de sua graça no evento. A mulher se sentia um pouco estranha ao se dar conta de que durante todo o tempo que havia passado ao lado de Ji Soo, apenas ela havia revelado tantas coisas sobre sua vida e o rapaz nunca havia dito nada. Aliás, duvidava que seu secretário alguma vez tivesse tentado esconder o fato de que era casado, uma vez que o mesmo não reagiu como se tivesse sido pego em flagrante sob o olhar da mulher quando a mesma se mostrou surpresa sobre seu estado civil. Ji Soo nunca havia escondido sua aliança quando estava próximo dela, então porque ela nunca percebeu aquele objeto em seu dedo?
Enquanto esperava que a grande caixa de metal parasse em seu andar, sentiu uma presença ao seu lado. O rapaz que povoava seus pensamentos manteve uma pequena distância, tendo em vista que estavam em público. A demonstração de intimidade que haviam dado algumas horas mais cedo havia sido um show em particular para seu ex-marido, mas não podia correr o risco de deixar que outras pessoas soubessem sobre aquele relacionamento casual que mantinham. Sua imagem e a imagem de sua empresa poderiam ser manchadas com aquele segredo vindo à tona. Assim que o elevador se abriu, os dois embarcaram. Deixou que Ji Soo selecionasse o andar e apenas se deixou relaxar quando as portas se fecharam.
– Você ficou tensa o resto da noite depois que pediu para eu sair. – Ji Soo pareceu levemente preocupado. – O seu ex... Ele disse alguma coisa que te deixou chateada?
Seung Ja apenas balançou a cabeça negativamente. Permitiu-se se livrar dos saltos e os entregou ao rapaz.
– Não é isso, é apenas... – Suspirou.
– Seung Ja, você sabe que pode contar comigo, então pode me dizer o motivo de estar se sentindo triste. – Encorajou-a.
A mulher apenas o olhou por longos minutos, logo ouvindo as portas se abrirem. Desembarcou do elevador sem se importar de estar sem sapatos.
– Você está descalça...
– Eu sei. – A mulher se direcionou para a porta de seu quarto que não ficava muito distante dali. Retirou um cartão de acesso de sua bolsa, sua suíte. Antes que o rapaz pudesse acompanha-la, a mesma se interviu entre o mesmo e a passagem.
– Seung Ja, o que está acontecendo? – A mulher umedeceu os lábios, sentindo-os repentinamente secos.
– Você é casado... – O rapaz franziu o cenho, dando-se conta finalmente de que a mulher não sabia disso. Não a culpava, em nenhum momento haviam falado sobre isso.
– Vamos entrar, aqui não é o melhor lugar para conversarmos sobre isso. – Sentiu uma desconfiança da mulher que não se moveu de imediato. – Eu juro que apenas vamos conversar...
Mesmo sentindo que não deveria ceder, a mulher deu espaço para que o rapaz entrasse e então fechou a porta. Enquanto o rapaz pegava uma garrafa de água no frigobar, Seung Ja se acomodou aos pés da cama, se livrando as joias que a pinicavam durante toda a noite. O rapaz colocou dois copos sobre a mesinha de centro, enchendo-os de água e puxou uma cadeira para se acomodar de frente para a mulher. Apenas aquele copo de água não iria deixa-los sóbrios, mas precisava da bebida como uma forma de se sentir mais confortável para começar aquele assunto.
– Eu não sabia que não tinha te contado, me desculpe. – O rapaz foi honesto. – Minha intenção nunca foi enganar você...
– Eu só não entendo... Como você pode se sentir bem com isso... – Seung Ja caçou as palavras. – Céus! Você tem uma esposa! E eu sou sua amante, eu tenho cooperado pra destruir a dignidade da sua mulher!
– Seung Ja, não é dessa forma, me deixa te explicar...
– Eu já fui traída, Ji Soo, mais vezes do que eu gostaria de contar... – Sentiu um bolo se formar em sua garganta e ardência característica em seu nariz. A mulher suspirou fundo, sentindo-se tomar pela raiva e pela decepção. – Eu fui trocada... Eu sei como é a dor da traição, eu sei como é doloroso não ser o suficiente pra alguém que você ama... Se culpar por não ser diferente, por não dar conta das necessidades daquela pessoa...
O corpo feminino tremia, ao ponto em que a ansiedade a impossibilitava de ficar no mesmo lugar. Colocou-se de pé, andando de um lado para o outro pelo quarto elegante. Sentiu as lágrimas escorrerem quentes por suas bochechas, apenas assim se dando conta de que já estava chorando.
– E eu simplesmente tomei o papel da pessoa que causa todos esses sentimentos avassaladores na única pessoa inocente nessa história...
– Seung Ja... – O rapaz tentou se aproximar, fazendo a mulher recuar.
– Vamos colocar um ponto final nisso... – A chefe parecia decidida. – Apenas saia...
– Você não é o pivô de nada, Seung Ja... Apenas me deixe explicar... – Ainda assim, a mulher parecia firme em sua decisão.
– Ji Soo, por favor...
– O meu casamento está em crise! – O rapaz deixou que sua voz se sobressaísse, como se estivesse desesperado para colocar para fora aquela questão que tanto o assombrava. – Não é sua culpa, nunca foi... Mas as coisas já estavam difíceis entre mim e a minha esposa.
Seung Ja viu agonia nos olhos do rapaz enquanto o mesmo confessava seus próprios problemas. Pensou consigo mesma o quanto deveria estar sendo difícil para o mesmo, provavelmente o assistente deveria estar guardando aquilo consigo por tempo demais além do que deveria. Sentia raiva e decepção, mas via no rapaz sinceridade, o que a fez vacilar em sua decisão.
– As coisas já estavam difíceis antes de nos envolvermos... Eu tentei, de verdade, não me envolver com você... Mas por algum motivo, como se fosse uma atração mais forte que eu, eu acabava voltando pra você... – O rapaz parecia ofegante, como se lhe faltasse ar. Ela entendia bem o sentimento, ela se sentia da mesma forma. Todas as vezes em que tentara não desejar o rapaz, acabava falhando e voltando a se envolver com o mesmo. – Eu me sentia culpado, é claro. Não está sendo fácil pra mim. Toda vez que eu olho para a minha mulher, eu penso em como fui um canalha me envolvendo com você...
– E você ainda a ama? – Seung Ja perguntou – Você disse que o seu casamento estava em crise... Mas você não me disse se ainda a ama, se existe amor entre vocês...
Ji Soo sequer vacilou em sua resposta, ele não precisa pensar muito a respeito disso.
– Sim, eu amo... – O rapaz suspirou e passou uma mão pelos cabelos agora despenteados. – Mas eu não sei se ela ainda sente o mesmo... Eu acho que a gente só se acostumou com a presença um do outro... Parece que todo o restante se tornou mais importante pra ela, até as coisas triviais. – Brincou com os dedos, perdido em pensamentos. – A minha família é importante pra mim. Minha mulher e minha filha...
– Sua filha... – Seung Ja gravou aquela informação em sua mente. Realmente não conhecia bem a pessoa com quem havia se deitado durante aquele tempo. – Céus, você tem uma filha...
– Eu tenho... Na verdade, eu me tornei pai há pouco tempo... Minha filha nem tem dois meses ainda... – O rapaz confessou. – Mas eu me sinto... Perdido, deslocado... É como se eu não fosse parte família que eu construí...
Apesar da raiva que sentia, uma raiva que era muito mais direcionada a si mesma do que ao rapaz à sua frente, Seung Ja se permitiu ser o ombro que Ji Soo precisava. Pelo pouco tempo que haviam passado juntos, o rapaz sempre se mostrou um ótimo amigo e um excelente ouvinte para suas mágoas. Era hora de retribuir com o mesmo empenho, por mais que não se sentisse tão disposta a isso. O sofrimento que o seu assistente mostrava ali era verdadeiro e por mais que não pudesse se considerar a melhor das conselheiras amorosas, ainda assim poderia dizer com alguma experiência como provavelmente sua esposa poderia estar se sentindo. Uma mãe de primeira viagem, recém-parida, com muitos conflitos sobre a maternidade e sobre si mesma, Seung Ja conhecia bem o sentimento e poderia dizer que era algo bem parecido com o que a mesma havia vivido. Permitiu-se se aproximar do rapaz, tomando suas mãos entre as suas.
– Eu não sou a melhor a pessoa para isso, mas eu me reconheço tanto em você... E você fez tanto por mim que eu não posso simplesmente ignorar seu sofrimento assim. – A mulher começou. – Ji Soo, a maternidade não é fácil pra nenhuma mulher e mesmo que muitas pessoas digam que um filho só une mais um casal, nem sempre isso acontece. Não significa que ter filhos seja um maldição, mas às vezes a chegada de um muda muita coisa, ainda mais quando não estamos preparados para isso...
Seung Ja se lembrou de todos os conflitos que teve com a chegada de seu primogênito. As brigas com Kyung Joon, com sua mãe, até mesmo todos os conflitos internos que havia tido consigo mesma, desde as mudanças externas – seu corpo, suas obrigações – até mesmo as internas – como seus sentimentos e até a sua busca pela realização pessoal. Nada daquilo havia sido fácil e até a fez desenvolver por seu filho um sentimento negativo que só pôde superar depois de muitos anos de terapia.
– A gente se sente em conflito com o que devemos ser e o queremos ser, sem contar toda a pressão do que é ser mãe... Além disso, muitas vezes nos sentimos menos do que realmente somos, nos sentimos insuficientes, nos sentimos indesejáveis e é difícil lidar com esses sentimentos que chegam pra gente. – A mulher apertou a mão do rapaz, fazendo-o olhar para ela. – Ji Soo, converse com a sua esposa... É o melhor conselho que eu te dou. Apenas arrume coragem para isso e não deixe que as coisas acabem ficando pior antes que seja tarde demais...
Naquela noite, Seung Ja não teve a companhia de Ji Soo. Ao contrário do planejado, o rapaz apenas voltou para sua casa, apesar do horário avançado. Para a mulher foi a melhor escolha, queria que parassem com aquele caso por ali. Apesar de pensar que poderia ser difícil simplesmente romper com aquele relacionamento clandestino, havia sido mais fácil do que esperava. O rapaz havia se tornado para si uma pessoa especial, mas não estava apaixonada pelo mesmo, assim como sabia bem que o rapaz também não a amava. Em contrapartida, sentia-se culpada por ter se envolvido com um homem casado, apesar de entender que haviam se relacionado por um estranho impulso que sempre parecia atraí-los um para o outro. Não justificava a traição, é claro, mas ao mesmo tempo não negava o que havia acontecido. Em nenhum momento quiseram se relacionar um com o outro, mas acabaram se envolvendo pelo desejo que sentiam, ou talvez por que precisavam de alguém quem pudessem contar seus problemas, que pudessem falar sobre o que mais os assombrava.
Apenas se permitiu se envolver pelo sono, se sentindo estranhamente mais leve por ter sido, daquela vez, a pessoa que cedeu seu ombro para o rapaz que havia se tornado um amigo peculiar.
Capítulo XX
Ji Soo não esperava chegar em casa e encontrar as luzes acesas. Correu os olhos pela sala, encontrando Mi Nah sentada no sofá em silêncio, parecendo estar pensativa e ansiosa. O rapaz franziu o cenho, tirando os sapatos e se aproximando da esposa que até então não havia o olhado diretamente. O rapaz pressentia que a situação não ficaria muito boa. Conhecia bem demais a mulher com quem havia divido boa parte de sua vida durante sete anos de convivência para saber quando entrariam em uma briga. O que mais assustava o rapaz, entretanto, era se o motivo da briga pudesse ser alguma coisa relacionada à uma separação. Não esperava que tivesse que enfrentar aquele problema tão cedo, ainda mais depois de conversar sobre isso com Seung Ja há algumas poucas horas atrás e ainda estar absorvendo todo o conteúdo do que haviam discutido. Sentiu a garganta secar quando a mulher o olhou, pode ver uma profunda mágoa em seus olhos, o que fez seu coração errar uma batida.
– Precisamos conversar... – Mi Nah anunciou. O rapaz assentiu com a cabeça, deixando o blazer que havia trago em um dos braços sobre a mesinha de centro.
– Sim, nós precisamos...
Mi Nah sentiu o nariz arder e a voz embargar, como um prenúncio de que cairia em lágrimas. Tentou conter as emoções quando mostrou ao rapaz a camisa social com a marca de batom na gola. Ji Soo arregalou os olhos, surpreso. Não esperava que Mi Nah houvesse descoberto sobre seu romance secreto com Seung Ja. Até então, havia pensado que o motivo da conversa fosse sobre o afastamento dos dois. O rapaz ainda estava digerindo sua relação com Seung Ja – ou pelo menos tentando entender o que havia sido o caso dos dois –, não se sentia pronto para falar sobre aquilo com a mesma. Não que quisesse esconder a traição para sempre, mas apenas falar sobre isso quando estivesse realmente pronto e quando a sua relação com a esposa não estivesse tão fragilizada como naquele momento.
– Você está tendo um caso? – Apesar da pergunta, o tom era afirmativo. Ji Soo respirou fundo.
– Eu ia te contar.
– Mentiroso... – A mulher retrucou em um sussurro, sentindo uma lágrima fina escorrer por seu rosto.
– Eu terminei tudo com ela hoje, meu anjo, eu... – Antes que pudesse continuar, o rapaz foi cortado por um grito enfurecido da mulher.
– NÃO ME CHAME DE MEU ANJO! – Mi Nah se levantou, jogando a camisa manchada no rapaz. – Você me traiu, Ji Soo... Você simplesmente foi para a cama de outra mulher como se... Eu não fosse mais... – Cobriu o rosto com as mãos, sentindo as lágrimas rolarem por sua face sem freio. – Céus, o que eu estou fazendo?
– Mi Nah, eu nunca quis as coisas chegassem nesse ponto, eu juro... – Ji Soo tentou se explicar, se aproximando aos poucos da mulher que o rejeitava. – A gente foi se afastando e... Eu estava confuso, com medo... Eu sei que não faz sentido...
– Não, não faz sentido... – Mi Nah respondeu entre soluços, sentindo-se como uma idiota. – Não faz sentido você simplesmente ter sentido medo e ir para a cama com outra mulher... – Tentou limpar as lágrimas sem sucesso. – Ela deve ser como uma deusa, deve ser linda... Por isso você deve ter ficado com ela, enquanto eu aqui pareço... Uma porca horrível...
“Muitas vezes nos sentimos menos do que realmente somos. Nos sentimos insuficientes, nos sentimos indesejáveis e é difícil lidar com esses sentimentos que chegam pra gente.” As palavras de Seung Ja nunca fizeram tanto sentido para Ji Soo quanto naquele momento. Como pôde não perceber todo o sofrimento que sua esposa estava passando? Provavelmente estava tão insegura quanto ao seu desempenho no seu papel como esposa e como mãe serem insuficientes que estava guardando toda aquela angústia para si mesma. Sentiu-se um idiota e um insensível por ter atribuído aquele distanciamento entre os dois a uma rotina de pai de família, como se a rotina fosse culpada por não ter sido mais atencioso com sua mulher como deveria.
– Não, Mi Nah... Você é linda e é a única que eu amo e que eu preciso... – Ji Soo segurou os ombros de sua esposa. Sentiu a mesma se rebater, tentando se livrar do contato do marido. – Mi Nah!
– Me solte! – Ao contrário disso, o rapaz apenas a abraçou e sentiu a mesma amolecer entre seus braços, cedendo.
Deixou que as lágrimas da mulher molhassem sua camisa, sequer se importando com esse detalhe. Apesar de vez ou outra sentir os pequenos punhos lhe baterem com certa fraqueza, apenas deixou que a mulher descontasse toda sua fúria e sua mágoa em si. Ele sabia que estava errado, que havia falhado não apenas quando se envolveu com outra pessoa, mas também quando ignorou todos os sinais de que sua mulher precisava de ajuda, de que precisava de um ombro para desabafar e alguém para lhe acolher para além das suas obrigações como mãe. No período mais sensível em que sua esposa precisava de si, havia sido a pessoa que havia largado sua mão.
– Eu vou ajeitar tudo isso... Me perdoe por não ter sido um bom marido. – O rapaz beijou a testa de Mi Nah que ainda soluçava.
Apenas quando a situação se acalmou, o rapaz explicou sobre tudo, desde o seu primeiro envolvimento com a mulher com quem trabalhava – cujo a qual, apesar de tudo, não revelou o nome – até o seu conselho sobre o seu casamento. Também explicou sobre seus sentimentos, sobre como havia se sentido em relação à situação em que se encontravam. Foi sincero do início ao fim, sem esconder detalhes. Queria mostrar que estava realmente arrependido, que ainda era digno de sua confiança, mesmo que seus atos houvessem sido imperdoáveis.
– Eu acho que também o negligenciei... Não deve ter sido fácil pra você ter ser pai também... – Mi Nah considerou. – Nós deixamos de apoiar um ao outro... As coisas desandaram em algum ponto para nós dois... Mas... Uma traição... Eu nunca esperaria...
– Eu sei. Eu me envergonho e não me reconheço... – Ji Soo confessou. – Mas nós demos um ponto final nisso. Não vai acontecer novamente...
– Eu sei que não vai... Por que eu não quero que você continue se encontrando com ela... – Mi Nah respondeu, encarando o rapaz, decisiva. – Eu quero que você deixe a sua empresa...
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Ga Yeong não esperava que iria se encontrar com Kyung Soo em um restaurante caríssimo. Quando aceitou a sugestão do rapaz, imaginava um restaurante mais reservado e menos chique, mas então se lembrou de que o homem à sua frente não se atraía por coisas simples. Sentia-se um tanto deslocada, não combinava com tal lugar e suas roupas – um vestido florido simples, sem muitos detalhes, num tom escuro com pequenas flores em amarelo e branco – a destoavam dos outros clientes que se vestiam de maneira bem mais elegante. Ainda assim, o rapaz à sua frente não parecia incomodado com suas vestes, na verdade parecia nem reparar que a própria garota se sentia desconfortável em tal lugar. Pediu um vinho e até mesmo escolheu o cardápio da noite, conhecia o lugar como ninguém, visto que era um cliente frequente do restaurante.
– Podíamos ter ido à outro restaurante, aqui parece um pouco caro... – Ga Yeong falou, se sentindo um tanto tímida.
– Não se preocupe sobre isso, eu faço questão de pagar a conta. – Por aquele motivo, se sentia ainda mais desconfortável.
A garota havia proposto aquele jantar para contar ao rapaz sobre sua verdadeira identidade. Queria revelar que era Park Ga Yeong, a filha da empregada que era apaixonada por ele desde a adolescência. Queria explicar sobre as suas motivações para ter se aproximações do mesmo, resolver todos os maus entendidos, ser honesta sobre tudo estando cara a cara com o mesmo, mas até então não sabia como fazê-lo. Temia pela reação do mesmo e não tinha um script certo em sua mente para seguir. Quando havia se decido por fazê-lo, havia se sentido segura de sua escolha, mas agora em frente ao mesmo não sabia se conseguiria ir em frente.
Um garçom se aproximou e colocou duas taças em frente aos mesmos, enchendo-as até certo ponto. Ga Yeong não gostava de vinho, na realidade nunca foi fã de qualquer bebida alcoólica, mas se permitiu provar da bebida por educação. Bebericou um pouco do conteúdo de sua taça e então a colocou novamente no mesmo lugar, sentindo o gosto suave do vinho se espalhar por sua boca.
– Eu vou confessar que fiquei surpreso por ter me convidado para jantar, não esperava que você fosse ter esse tipo de iniciativa. – Kyung Soo confessou. – Na verdade, eu achei que depois da minha explicação, você não iria querer se aproximar de mim novamente.
– Não, eu... Entendi que houve um mal entendido entre você e a So Ra. – A garota foi compreensiva – E também entendi que você se sente mal com muita coisa nessa história, então... Eu não tinha porque vê-lo com maus olhos.
– Você é realmente uma garota incrível... – Kyung Soo a elogiou, dando um leve sorriso. – A maioria das pessoas não reagiriam da mesma forma.
– Eu não consigo entender como você pode me achar tão incrível assim... – Ga Yeong deixou escapar. Até alguns meses atrás, duvidava muito que o rapaz a olhasse com tais olhos. Por mais que tivesse amadurecido depois da morte de seus pais, ainda assim não acreditava que o rapaz cairia de amores por ela por conta de sua antiga aparência.
– Por que eu não acharia? – Kyung Soo a olhou com certa confusão. – Você é tão... Linda. É difícil alguém não reparar em você ou não gostar de você...
– E essa é a única qualidade que você vê em mim? – Ga Yeong questionou com certa mágoa. Por mais que sempre tenha desejado ser bonita, naquele momento percebeu que era quase como uma maldição para si. Sempre quis ter a atenção de Kyung Soo, que ele a percebesse e percebesse o sentimento que nutria pelo mesmo, mas quando finalmente conseguiu o que queria, percebeu que o mesmo só reparava em sua aparência.
– Não, é claro que não... – O rapaz tentou se reiterar, mas parecia um pouco sem jeito.
Na realidade, Kyung Soo não esperava ter dificuldades com a garota. Ela parecia ser mais tímida que a maioria das mulheres com quem já havia se relacionado, mas também parecia estar tão atraída pelo mesmo que não imaginava que a mesma se prenderia a pequenos detalhes. Aparentemente, teria que rebolar um bocado para conquistar a Cha Se Young, algo que definitivamente não estava acostumado a fazer, mas ao mesmo tempo estava disposto a tentar.
– Eu te acho inteligente e gentil, te acho talentosa. Você ser bonita complementa tudo isso. – Ainda assim, a resposta de Kyung Soo não pareceu satisfazer a garota. Se Young tinha um olhar distante, como se pensasse bem sobre aquele encontro. Suspirou, coçando levemente o pescoço. – Acho que comecei com o pé esquerdo com você...
Ga Yeong o olhou, ainda pensativa. A mesma balançou a cabeça, negando que o mesmo estivesse errando com ela. Na realidade, os pensamentos pareciam um pouco conturbados. Pensava consigo mesma que aquele era o melhor momento para revelar as coisas antes que o rapaz pudesse se constranger ainda mais. Ouvir o mesmo elogiá-la sem saber quem era a deixavam incomodada. Era como se estivesse deixando que a mentira se estendesse por mais tempo do que deveria. Suspirou, fechando os olhos por um momento. Era agora ou nunca, precisava falar a verdade.
– Senhor Hwa, eu... – Um toque de telefone a desconcentrou, fazendo com que interrompesse sua fala. A mesma olhou para o seu celular um tanto desconsertada. No visor havia o nome de sua madrinha. Era raro os momentos em que sua família ligava para a mesma e dado o horário avançado, acreditava que era algo importante. – Desculpe... Eu preciso atender...
– Tudo bem... – O rapaz assentiu, vendo a garota abandonar a mesa e se dirigir a um lugar mais reservado para atender a ligação.
Assim que se viu sozinho à mesa, Kyung Soo mordeu o lábio, frustrado. Cha Se Young era uma mulher com quem precisava pisar em ovos. Embora fosse bastante evidente o desejo que a mulher sentir por si, ainda assim a garota era puritana demais para se entregar tão facilmente, e mesmo que tivesse sugerido aquele jantar, ela também não parecia estar disposta a se envolver consigo no papel de amante. Suas motivações eram uma incógnita para o rapaz e ficar no escuro era algo relativamente novo para o mesmo. Queria saber o que exatamente Se Young queria com o mesmo. Um relacionamento? Uma companhia? Um envolvimento de uma única noite? Ele não conseguia deduzir nada a partir de suas atitudes.
Foi arrancado de seus devaneios quando a garota se aproximou novamente. Parecia mais pálida que o normal quando se sentou à mesa. As mãos trêmulas recolheram a bolsa e o sobretudo que havia tirado quando entrara no restaurante. Era evidente que, o que quer tivesse ouvido no telefone, havia a deixado abalada emocionalmente.
– O que aconteceu? – Kyung Soo perguntou.
– Nada, eu só... E-eu... Preciso ir embora... – A voz embargada deixava evidente que a mulher tentava conter as emoções.
– Se Young... – O rapaz segurou suas mãos, sentindo-as frias – Você pode me dizer o que aconteceu.
Ga Yeong o encarou por alguns segundos, sentindo todas as emoções a arrebatarem de uma única vez. Permitiu-se abraçada pelo rapaz e chorar em seu peito.
– Aconteceu... Aconteceu um acidente... Eu preciso ir pra casa... – Revelou entre soluços. – Preciso pegar a última barca pra Jeju...
– Tudo bem, eu te levo no meu carro, vai ser mais rápido. – A tranquilizou. Embora os planos de um jantar a dois tivesse ido por água abaixo, achou por bem acompanhar a garota até o porto e leva-la pessoalmente até a ilha de Jeju. Por mais que não fosse de seu feitio, não queria deixar Se Young sozinha daquela maneira tão fragilizada.
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Ahn Han Na parecia ansiosa enquanto assistia os números no visor do elevador mudarem conforme a grande caixa metálica subia de andar. Batia o scarpin vermelho no chão enquanto esperava chegar ao 5º andar onde ficava o escritório de advocacia de sua amiga. Mesmo fora do horário comercial, Hye Jin havia arranjado algum tempo para se reunir à sós com Han Na, para explicar à mesma sobre o testamento dos pais de seu noivo. Havia tirado algum tempo para estudar o documento, tendo ficado com o mesmo em sua posse por alguns dias em segredo. Não era atoa que Han Na estava tão nervosa, se Kyung Soo descobrisse que o documento havia sumido, ela seria a primeira suspeita do rapaz. Assim que as portas se abriram, a mulher se apressou para chegar ao escritório.
– Você chegou rápido... – Hye Jin abriu a porta de sua sala para que Han Na entrasse. Além dela, havia apenas a sua secretária. Assim que a mulher passou pela porta, a advogada logo a fechou para ter privacidade.
– É claro, eu precisava saber mais sobre esse testamento. O que descobriu? – Han Na perguntou, ansiosa. Sentou-se em uma poltrona acolchoada onde a advogada normalmente conversava com seus clientes.
– Primeiramente, que o conteúdo dele é bem válido, mas ele tem uma brecha. – Hye Jin falou, sentando-se de frente para a amiga, do outro lado da pequena mesa de centro.
– Como assim, uma brecha?
– No testamento, o senhor Hwa Hae Myung diz que o seu herdeiro, Hwa Kyung Soo, tem direito ao seu patrimônio apenas se o mesmo contrair matrimônio com essa moça, Park Ga Yeong, mas... Aí é que entra a questão. Segundo a lei, você não pode obrigar alguém a se casar contra a sua vontade ou através de algum tipo de suborno. Como exemplo, você pode pensar em casamentos falsos para conseguir dupla cidadania, é uma forma de suborno. – A advogada explicou. – Portanto, a maneira como Kyung Soo poderia contrair matrimônio com essa moça poderia ser de maneira bastante duvidosa, o que acaba invalidando, em partes, esse termo no testamento.
– Mas então, quer dizer que ele não precisa se casar pra conseguir a herança dos pais, certo? – Han Na questionou, franzindo o cenho.
– Não exatamente. – A advogada revelou. – Na realidade, ele ainda precisa contrair matrimônio, mas ele tem mais um mês para se casar ou então ele perderá o direito à herança. Muito provavelmente as ações da empresa dos Hwa serão divididas entre os atuais acionistas e os bens, como a casa e os carros da família serão leiloados pelo banco. Seria uma perda de bilhões para o Kyung Soo.
Isso explicava tudo. Era como se as peças do quebra-cabeça finalmente estivessem se encaixando e o plano de Kyung Soo enfim fizesse sentido para si. Ela entendia agora o porquê ela era uma peça tão importante naquele jogo e o quão necessária era para o rapaz. Sem ela, o patrimônio da família Hwa apenas iria pelo ralo e duvidava que o seu noivo conseguiria uma substituta para ela sem que o mesmo precisasse contar todos os seus planos e ter que dividir, pelo menos, uma boa parte de sua grana com quem quer que se casasse com o mesmo. Não só estava sendo usada para limpar a imagem de rebelde inconsequente de Kyung Soo, como também era uma chave para a sua aquisição bilionária.
Han Na sentiu a cabeça girar com aquela informação, ficando tonta por alguns segundos. Hye Jin logo veio para acudi-la, trazendo um pouco de água mesma.
– Você está bem? – Han Na apenas assentiu, bebendo um pouco do líquido e sentindo o mundo se estabilizar novamente.
– Estou... É só um efeito colateral do tratamento. – Tranquilizou a amiga. Hye Jin era a única que sabia sobre o tratamento para a endometriose que a mulher estava fazendo. – Às vezes eu me sinto mal, mas ultimamente eu tenho estado mais abatida.
– Você não acha melhor dar uma pausa no tratamento? – Sugeriu. – Pelo menos, até que esteja melhor para tentar novamente...
– Não, eu preciso de um filho. – Han Na estava decidida – Uma criança é a única maneira de garantir que eu não vou ser jogada fora com uma mão na frente e a outra atrás... Ainda mais depois de saber sobre isso... – A mulher fitou a advogada – Eu vou apostar todas as minhas fichas nisso...
Capítulo XXI
– Seo... – Oh Joon alcançou o rapaz franzino, puxando-o pelo braço. O garoto logo se desvencilhou do aperto do punho do outro, tomando seu caminho pelo curto corredor. – Seo!
– Eu já disse que eu não quero mais falar com você! – O garoto rebateu, olhando diretamente Oh Joon nos olhos pela primeira vez em semanas.
– A gente precisa conversar...
– A gente não precisa de nada, a única coisa que eu quero é que você se afaste de mim. – Ainda que o desejo do rapaz fosse afastar Oh Joon, o capitão do time fez o contrário. Empurrou o garoto para um quarto vazio onde pudessem falar com mais privacidade. – Você deve ter perdido a cabeça!
– Sim, eu perdi! Estou há semanas sem falar com a única pessoa que me entende e me aconselha, que entende as minhas angústias porque eu vacilei. – Oh Joon confessou, sentindo-se ofegante por alguns segundos.
– E no entanto você não parece nem um pouco mal por isso. – Mun Seo cuspiu, enfurecido. – Eu te pedi, eu te implorei pra não seguir com essa aposta. Você teve todas as chances de desistir disso, mas você escolheu se envolver com a Ga In... Quantas pessoas você tem que magoar só por causa dessa fachada que você insiste em sustentar?
– Seo... É complicado, você sabe que eu não posso simplesmente dizer toda a verdade pra todo mundo... – O rapaz suspirou pesadamente.
– Eu não estou te pedindo para contar tudo... Eu só estou te pedindo para parar de usar as pessoas... Parar de usar as pessoas pra se esconder, como se isso fosse motivo de vergonha... – Os nós dos dedos de Mun Seo estavam brancos tamanha a raiva que sentia ao tentar segurar suas emoções – Você... Me machuca quando faz isso... Por que é horrível te ver com outra pessoa. Primeiro foi a Lee U Jin e agora a Park Ga In...
– Seo, eu não me envolvi com ela, tá? É verdade, eu aceitei a aposta e tentei ir em frente com isso, mas... Eu não fiquei com ela. – O rapaz se aproximou alguns passos, cauteloso – A Ga In é uma garota... Diferente... E eu me apeguei um pouco à ela. Ela é uma garota que eu gostaria de ver sempre feliz e protegida, mesmo que ela não precise disso. E ela me fez pensar sobre muita coisa, sobre mim, sobre meu verdadeiro eu... E sobre o que eu estava perdendo me segurando nessa mentira...
Apesar das palavras sinceras de Oh Joon fizeram Mun Seo bambear em suas convicções, mas o rapaz ainda parecia bastante magoado pelas ações do mais alto.
– Mas mesmo se dando conta disso, você ainda trouxe ela aqui... – Oh Joon não pôde se esquivar daquele fato.
Realmente, mesmo com toda a reflexão que a convivência com Ga In havia o proporcionado, ainda assim havia feito o Hyun Jin queria: havia trago a Ga In para aquela festa para exibi-la como um troféu, um comprovante de que havia cumprido a aposta. No final, não havia conseguido de fato se desprender daquela dependência da imagem do machão pegador.
– Você teve a chance, Oh Joon... Só que eu cansei... – Mun Seo suspirou, sentindo todas as emoções à flor da pele. Achou por bem se afastar antes que perdesse o controle.
Apesar de ser um rapaz considerado bastante calmo, Mun Seo estava em seu limite. O rapaz não conseguia simplesmente ficar quieto e perdoar mais uma vez as atitudes egoístas de Oh Joon. Passou uma mão pelos cabelos curtos, sentindo as mãos trêmulas. Entretanto, o mais alto apenas se interpôs em seu caminho, impedindo-o de abandonar o quarto.
– Não vamos começar isso de novo. – Mun Seo pediu em um sussurro.
– Eu vou desistir da aposta, eu digo que nunca fiquei com a Ga In, mas... Por favor, Mun Seo...
– Você não vai dizer, eu conheço bem o homem por quem eu me apaixonei. – O mais baixo deu o assunto por finalizado, desviando-se do mais alto.
Entretanto, antes que alcançasse a porta, sentiu-se ser puxado pelo braço e a mão áspera tomar seu rosto. O toque familiar fez com que o rapaz apenas fechasse os olhos, cedendo pela saudade e pelo sentimento. No instante seguinte, seus lábios foram tomados pelos o de Oh Joon, o braço livre envolvendo a cintura do outro ao mesmo tempo em que se apoiava nos braços do mesmo, ficando inconscientemente na ponta dos pés. Deixou que o rapaz explorasse sua boca, que o dominasse, mesmo que ainda se sentisse magoado.
O som da porta se abrindo interrompeu aquele momento íntimo dos dois rapazes. No portal, a garota que havia sido o pivô de suas brigas os olhava com espanto e um misto de emoções que nenhum deles conseguia interpretar de verdade. As mãos pequeninas tremiam, seus movimentos pareciam repetitivos e estranhos, como se fosse um robô entrando em curto. Oh Joon podia imaginar como a mente de Ga In deveria estar uma bagunça, ainda mais de visualizar a pessoa que havia se declarado para ela beijando outro homem. Qualquer pessoa comum surtaria... Até mesmo ele estava tão confuso quanto ela, como se seus pensamentos vários nós difíceis de desatar. Sobretudo, temia que a garota pudesse dizer à alguém sobre o que tinha visto, mas acima disso, se sentia uma pessoa ruim por causar-lhe sofrimento.
– Ga In... – Antes que pudesse completar sua fala, a garota colocou as mãos sobre os ouvidos, tentando abafar o som alto que a deixava tão confusa e sumindo de sua vista. – Ga In!
Sentiu uma mão agarrar-lhe o pulso quando ameaçou seguir a garota. Mun Seo o olhava com esperança, como se suplicasse.
– Não vai atrás dela...
– Eu não posso deixar ela sozinha, ela pode acabar se machucando. – Oh Joon tentou explicar. Aquilo era diferente de apenas seguir uma aposta idiota. – Seo, a Ga In tem autismo, tá? Ela pode acabar se perdendo, ela não conhece nada por aqui... Não é sobre a aposta, eu juro.
O rapaz pareceu compreender a situação em que se encontravam. Apesar de não saber tanto sobre o que era o autismo, era maduro o suficiente para entender que a preocupação de Oh Joon ia além da questão da aposta. Por mais que ainda não se sentisse seguro sobre as motivações de seu companheiro, decidiu deixá-lo ir atrás da garota.
Oh Joon atravessou o corredor em passos largos e apressados, não sabia exatamente para onde Ga In poderia ter ido. Procurou primeiramente a garota por todo o primeiro andar e só então saiu da casa, procurando-a pelas ruas um tanto desertas da parte mais residencial da ilha. Tentou ligar para a garota, mas foi ignorado, o que apenas aumentou sua preocupação. Decidiu seguir em direção ao centro, talvez a garota se lembrasse do caminho de volta para o ponto de ônibus, pensou consigo mesmo. Era o melhor chute que poderia dar. Seguiu correndo para o ponto de ônibus mais próximo.
O rapaz temia por não encontrar a garota, pensava que aquele era o seu castigo por ter aceitado participar de uma brincadeira de mau gosto, uma piada atroz. Por conta de seus sentimentos e de sua máscara, havia magoado uma garota inocente e que havia o aceitado verdadeiramente, apesar de dificilmente se abrir para outras pessoas. Imaginava se quando conseguisse encontrar a garota, ela seria capaz de perdoá-lo e aceita-lo novamente como amigo. Duvidava muito, nem mesmo ele se perdoaria.
Acabou encontrando a garota cambaleante próximo à um ponto de ônibus, num local mais movimentado, com as mãos sobre os ouvidos enquanto se balançava e andava em círculos pela rua. As pessoas mais próximas olhavam com estranhamento para a garota, imaginando se estava bêbada ou se tinha algum problema. Uma mulher até mesmo se afastou, como se Ga In pudesse ter uma doença contagiosa e mortal. Apesar da raiva que sentiu pela reação das pessoas diante do sofrimento que a garota tentava lidar, o rapaz apenas respirou fundo e tentou se aproximar de maneira mais calma. Não adiantaria explodir naquele momento, era a Ga In quem era mais importante.
– Ga In... – Assim que percebeu a aproximação do rapaz, a garota tampou os ouvidos com mais força tentando abafar os sons que insistiam em atrapalhar seus pensamentos.
– Não... Não se aproxime... Não... – Ga In ordenou, a fala um pouco mais robotizada que o normal. – Você é mentiroso... Você mentiu.
– Eu sei, me desculpe, mas eu não queria te magoar.
– Você não gosta de mim... Você mentiu, você não diz a verdade! – A garota reforçou, os pensamentos tornando-se fixos naquela resposta. – Você mentiu, mentiu pra mim, mentiu sobre gostar de mim, mentiu sobre tudo. Você fez uma aposta, essa é a verdade, você só queria namorar comigo por causa de uma aposta.
O rapaz a olhou com surpresa. Como ela sabia daquilo? Em que momento ela havia descoberto sobre a aposta?
– Você é mentiroso, você não quer ser meu amigo e você não gosta de mim! – A garota repetiu, os movimentos tornando-se mais frenéticos e os pensamentos conturbados.
– Ga In, vamos para um lugar mais quieto, eu espero você se acalmar e então vamos conversar melhor... – O rapaz tentou se aproximar e tocar seus braços, mas assim que o fez, Ga In apenas se esquivou, retrocedendo alguns passos e alcançando o asfalto.
A rua movimentada estava abarrotada de carros em alta velocidade. Oh Joon apenas teve tempo de tentar empurrar a garota para fora do trajeto de um ônibus que se aproximava, entretanto, apesar da reação rápida, o veículo se aproximava com uma rapidez maior do que o rapaz poderia agir, atingindo os dois com uma força mortal.
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Eram quase uma hora da manhã quando Ga Yeong chegou ao hospital da ilha acompanhada por Kyung Soo. A mulher parecia estar com suas emoções à mil quando havia sido avisada do acidente de sua irmã. O coração de Ga Yeong se fechou imediatamente e a única coisa que conseguiu foi cair em prantos. Por sorte, Kyung Soo estivera ao seu lado para lhe prestar apoio, até mesmo a acompanhando até sua cidade natal. Durante todo o trajeto, talvez por querer poupar a afilhada de uma notícia impactante durante a viajem para Jeju, sua madrinha, So Ah, apenas dizia que a garota estava em cirurgia e que não sabia o estado exato de sua saúde. Mesmo com o desespero, a única coisa que Ga Yeong pôde fazer foi esperar até chegar à sua cidade natal, quase três horas depois.
Aproximou-se com pressa à recepção do hospital, trêmula e desesperada. A recepcionista tratou primeiro de tentar acalmar Ga Yeong antes de atendê-la. Era comum que familiares e pessoas relacionados aos pacientes buscassem por informações com as emoções à flor da pele.
– Eu cuido disso pra você. – Kyung Soo se ofereceu. – Qual o nome da sua irmã?
– Ga In... Park Ga In... – O rapaz franziu o cenho, o nome parecendo uma estranha coincidência para o mesmo. Apesar do sobrenome diferente, o homem apenas afastou aquele pensamento de sua cabeça. Era apenas uma estranha coincidência e nada mais. A enfermeira os indicou em qual andar deveriam ir e explicou que a garota ainda estava em cirurgia.
Ga Yeong viu seu mundo cair assim que colocou os pés na sala de espera da ala de emergência. Tão logo havia conseguido chegar no andar indicado pela recepcionista, a mulher avistou sua madrinha em prantos ao ouvir a resposta do médico que acabara de sair da sala de cirurgia. Antes que pudesse se dar conta, seus pés a levaram até os dois, ouvindo com clareza o que o médico dizia. “Nós tentamos tudo o que podíamos”, “a situação dela era complicada”, “sentimos muito pela sua perda”, aquelas frases ecoavam em sua mente, vagando sem um significado profundo. Era como se alguém estivesse falando grego consigo, não conseguia digerir a informação (ou melhor, não queria digerir a informação).
– Madrinha... – Ga Yeong chamou pela mulher que falava com o médico. So Ah se virou nos calcanhares, fitando a mulher estranha que se referia a si com uma conexão que não pertencia às duas. Mas não demorou muito tempo, So Ah apenas arregalou os olhos com um misto de surpresa e tristeza pela atual aparência tão destoante da antiga aparência de sua afilhada e pela recente descoberta da morte de sua sobrinha mais nova que havia criado como uma filha.
– Céus, Ga Yeong! – A garota apenas abraçou e se permitiu chorar nos braços da madrinha. – Como você...
Apesar da surpresa, a mulher não pode deixar de perceber a pessoa que a acompanhava. Kyung Soo estava mais afastado, tão surpreso quanto ela, aparentemente. O rapaz parecia então entender tudo, todas as coincidências. Como se uma parte do quebra-cabeça finalmente tivesse aparecido magicamente e completado a imagem real daquela situação. A garota que havia rejeitado, sua antiga empregada e o obstáculo entre ele e a sua herança era Cha Se Young, a mulher estonteante e inteligente que havia o atraído desde a primeira vez em que se viram. Havia se deixado ser enganado quando a verdade estava bem debaixo de seu nariz. Quase riu de desgosto e incredulidade pela genialidade da garota.
Em contra partida, alheia à clareza súbita dos fatos por Kyung Soo, Ga Yeong apenas vivia o luto de sua perda. Ga In era para si a única herança realmente preciosa que sua mãe havia deixado para si. Apesar de não poder sempre acompanhar a garota e sempre se culpar por não poder ser presente, sempre a tratava como um tesouro do qual deveria cuidar sempre. Em imaginar que a última vez em que ouvira a voz da garota fora em meados do ano passado, alguns meses antes de sua transformação, apenas aumentava a dor por não ter ligado antes ou mesmo visitado sua família no dia de natal, como mandava a tradição. Apenas se martirizava por não ter estado por perto e impedido que sua irmã passasse por aquele acidente e, ainda pior, ter gasto sua única chance de salvar Ga In usando o abyss em um cão de rua ao invés de tê-lo guardado e o usado com sabedoria.
So Ah, entretanto, mantinha os olhos fixos no rapaz que parecia tão transtornado quanto sua afilhada, reconhecendo-o imediatamente. Mesmo com o coração dolorido pela partida precoce de sua sobrinha mais nova, não pôde deixar de se questionar o que Hwa Kyung Soo, filho de Hwa Hae Myung estava fazendo ali, naquele hospital, acompanhado de Ga Yeong. Apenas acompanhou com os olhos o rapaz se afastar até sumir de seu ponto de vista.
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Assim que alcançou seu carro, Kyung Soo apenas se colocou para pensar. Em que momento havia abaixado tanto a guarda e não percebeu que Cha Se Young e Park Ga Yeong eram a mesma pessoa? De certa maneira, ele não poderia se culpar, a garota estava irreconhecível. Da menina estranha e feia que vivia no quartinho dos fundos de sua casa, ela simplesmente havia se transformado em uma mulher magnífica em poucos meses. Nem mesmo um excelente cirurgião plástico poderia fazer um milagre naquele nível, certo? Ao julgar pela mudança absurda em sua aparência, ele nem mesmo podia dizer com total certeza. Além disso, seu nome também havia mudado, não teria como adivinhar, mas ainda assim, como não percebeu as intenções da garota? Como não conseguiu ver aquilo antes?
Um toque de telefone interrompeu seus pensamentos. Suspirou ao ver o nome no visor, aquele momento não era o melhor para lidar com Han Na, mas ainda assim atendeu, revirando os olhos pela pergunta da mulher.
– Onde você está? – A voz feminina o interrogou num tom frio.
– Isso importa? – O homem massageou a têmpora. – Você não está ligando por estar preocupada comigo.
– Você está com aquela praga da estagiária? – Questionou, irritando-se. Não se preocupou em negar o comentário anterior do rapaz.
– Já disse que o papel de namorada ciumenta não lhe cai bem. – Kyung Joon irritou-se, não queria responder ao interrogatório de sua noiva. – Apenas diga o porquê da ligação.
Um silêncio se instalou do outro lado da linha e o som de papel pôde ser ouvido logo em seguida.
– Quem é Park Ga Yeong? – Kyung Soo franziu o cenho com a pergunta, imaginando-se onde a noiva poderia ter ouvido aquele nome.
– Como sabe esse nome?
– Está escrito aqui no testamento do seu pai, esse que você escondeu de mim. – A mulher foi sarcástica. – Não é por isso que me pediu em casamento? Eu pensei que você queria limpar sua imagem, mas conseguiu me enganar direitinho. Por isso que pediu pela separação total de bens?
– Você mexeu nas minhas coisas? – O rapaz foi ríspido.
– Eu precisava saber o que você escondia. Enfim, agora sim colocamos todas as cartas na mesa. – A mulher falou com desdém. – Mas ainda assim fico curiosa sobre essa Park Ga Yeong e o porquê decidiu procurar outra pessoa ao invés de se casar com ela... Ah, e eu já sei sobre o prazo do contrato. Você tem um só um mês, por isso se pensa mesmo em me trocar pela praguinha, sinto te dizer, mas ela parece mais interessada no nosso cliente preferido do que em você.
Han Na foi venenosa, mas não sabia de todos os fatos. Apesar de ter se atentado à última fala da mulher que o deixou bastante incomodado, não pôde deixar de querer devolver as provocações na mesma moeda.
– Não cantaria vitória antes da hora se fosse você. – O rapaz respondeu com o mesmo tom desdenhoso. – Sabe essa Park Ga Yeong que é citada no testamento, a mulher com quem eu deveria me casar? Ela é a Cha Se Young.
Capítulo XXII
O final de semana foi bastante chuvoso, com direito à trovoadas. Para Ga Yeong era como se os céus estivessem manifestando suas emoções. Mesmo fora de condições, a mulher cuidou de todos os preparativos do velório de sua irmã, sentindo o luto ainda muito forte dentro de si. Despedir-se do corpo de Ga In fora um dos momentos mais difíceis para a mais velha e mesmo com o amparo de sua madrinha, o vazio parecia tomá-la por completo. Primeiro havia perdido sua mãe e agora havia perdido sua irmã, era como se o seu destino fosse ficar sozinha e ver todos irem embora antes de si. Seu único apoio agora era sua madrinha So Ah e sua melhor amiga So Ra, cujo qual havia vindo de Seul para Jeju na primeira barca pela manhã logo após saber a notícia.
Kyung Soo não havia aparecido novamente, desconfiava que o homem havia pegado um avião de volta para Seul ou então dormido em algum hotel pelo centro antes de ir embora pela manhã. Por mais que sua cabeça não estivesse em condições de pensar em outras coisas além de seu luto, pegou-se perguntando como o rapaz reagiria quando colocasse os pés novamente na agência – isso, é claro, se algum dia resolvesse voltar para lá. Apenas imaginar ter que encarar novamente o homem por quem tentou se aproximar e se vingar por tê-la abandonado depois de toda a verdade ter sido exposta a amedrontava. Já haviam se passado três dias que estava se refugiando na casa de sua madrinha e a coragem não havia surgido para enfrentar as consequências de suas ações.
Um copo de chocolate quente surgiu no campo de visão da garota. Levantou os olhos, deparando-se com So Ra.
– Você precisa de alguma coisa doce. – A garota estendeu o copo mais uma vez e Ga Yeong se viu obrigada a aceitar.
Não tinha vontade de beber ou comer alguma coisa, na realidade não havia sentido fome nos últimos dias, mas havia comido pelo incentivo de sua amiga e sua tia. Era quase irônico pensar que até algum tempo atrás estaria se empanturrando de comida como havia feito quando sua mãe faleceu e agora sofria com uma terrível falta de apetite. Era como se nada fosse cobrir o vazio que sentia. Tomou um pouco do chocolate quente.
– Onde está minha madrinha? – Perguntou, uma vez que não havia visto a mesma naquela manhã.
– Ela saiu cedinho antes de nós acordarmos, não sei onde ela foi... – So Ra respondeu. Enquanto bebericava de sua própria caneca de chocolate quente, a garota foi cuidadosa para tocar num assunto mais delicado. – Você... Vai voltar para Seul?
Ga Yeong queria responder que não, mas precisava voltar, mesmo que não estivesse totalmente preparada para enfrentar o que viria. Queria se esconder em Jeju até ficar velha e ser a próxima a ir para cova, mas precisava lidar com os problemas que havia gerado. Além de tudo, suas responsabilidades estavam todas lá, sua faculdade, seu estágio, sua casa... Apenas o cachorrinho que havia adotado estava ali com ela naquele momento. So Ra havia trazido consigo o pequeno Paçoca que parecia crescer mais que o esperado à cada semana. O cachorro dormia confortavelmente em frente à televisão que estava ligada em algum canal aleatório de culinária.
– Vou... Talvez eu volte ainda hoje, no final da tarde. Eu não avisei a ninguém o motivo da minha falta. – Apesar de ser segunda e só ter faltado apenas um dia, sabia bem que isso seria motivo o suficiente para ouvir sermão de sua supervisora. – E, além disso, eu tenho que cuidar da faculdade também e da casa... Eu ainda não tive tempo de trocar a torneira da cozinha...
– Sabe que eu não estou falando disso, Ga Yeong... – So Ra foi um pouco mais direta. – O que vai fazer sobre o Kyung Soo?
A garota suspirou, pensativa.
– Eu não sei... – Foi honesta – A única coisa que eu posso fazer agora é me preparar pra qualquer seja a reação dele... Se ele me perdoar ou me amaldiçoar, a única coisa que eu posso fazer é aceitar...
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Ji Soo ficou olhando para os papéis em sua mão por um longo tempo. Nos últimos dois dias, havia escrito várias cartas de demissão para entregar à sua chefe naquele dia, mas ainda não havia tido coragem para entregá-la. A verdade era que havia discutido muito sobre a exigência de sua esposa. Por mais que entendesse o quanto ela queria afastá-lo da mulher com quem havia a atraído, naquele momento era para o rapaz simplesmente pensar em uma demissão. Eles haviam acabado de ter um filho e criar uma criança não era barato. Além das despesas com remédios, médico, roupas e comida de bebê, ainda precisava pensar em economizar para futuramente sua filha poder frequentar uma boa escola e uma faculdade. Não podia se dar ao luxo de simplesmente desistir de seu emprego.
Mesmo que Mi Nah houvesse garantido que o rapaz poderia tirar alguma renda trabalhando temporariamente com seu cunhado no restaurante da família, ainda assim era uma renda não muito estável. Se em algum momento não houvesse lucro o suficiente, não poderia garantir que teriam dinheiro o suficiente para suprir todas as necessidades, principalmente até conseguir outro trabalho com um salário e os benefícios que tinha atualmente. Era uma jogada de risco e mesmo assim havia escrito aquela carta. Agora pensava em como poderia entregar aquilo para sua chefe depois da conversa que tiveram ao final do evento no último fim de semana e se realmente era uma boa ideia entregar aquela cartas com uma lista tão grande de contras em seu “prós e contras”.
Suspirou pesadamente, levantando-se da cadeira e se dirigindo até a porta do escritório da chefe. Bateu duas vezes, como sempre fazia, e quando tentou abrir a porta, encontrou a mesma trancada. Isso o fez franzir o cenho. Tentou abrir novamente, pensando que talvez não houvesse girado toda a maçaneta, apenas então percebendo que realmente a porta estava fechada.
– A diretora não veio hoje. – Um colega avisou assim que percebeu que o rapaz tinha assuntos a tratar com a superior.
– Ela não veio? – Ji Soo franziu o cenho.
– Não. Estranho né? Ela nunca falta, nem quando está doente. – O rapaz respondeu.
– É... Bem estranho... – Respondeu com a mente distante.
Ji Soo se pegou pensando se o motivo da ausência de sua chefe poderia ter sido o rompimento conflituoso que tiveram há três dias. Sabia bem que Seung Ja era uma mulher madura e emocionalmente forte, então confiava que estivesse lidando bem com isso. Até mesmo aconselhá-lo, ela havia feito, mas ainda assim poderia ter existido alguma chance de ele ter ferido os sentimentos de Seung Ja? Essa questão ficou batucando em sua cabeça por um bom tempo.
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Seung Ja apertou as mãos em torno do volante enquanto dirigia de volta para casa. Ao seu lado estava Joon Young, o rapaz sequer a olhava nos olhos, o que deixava a mulher apreensiva. Por mais que estivesse bastante surpresa pelo o que havia acontecido, sua maior prioridade era proteger seu filho. Queria acolhê-lo, conversar com o mesmo, orientá-lo e entender seu sofrimento. Culpava-se por ter, mais uma vez, deixado de prestar atenção em seu filho. Quando o rapaz insistiu para que perdoasse os garotos que o agrediram, deveria ter ignorado e ido em frente com a denúncia, assim provavelmente evitaria a situação em que se encontravam naquele momento. Devia ter percebido que o problema era pior do que apenas uma briga escolar. Seu filho estava sendo ameaçado e chantageado debaixo de seu nariz e não havia percebido. Agora que seus agressores haviam o exposto, a única coisa que podia fazer era tentar remediar o que estava feito.
Estacionou o carro em frente à sua casa, encontrando um carro familiar estacionado na calçada ao lado. Kyung Joon tinha uma cara de poucos amigos, esperava que os dois descessem do veículo com os braços cruzados. Antes de descerem do carro, a mulher apenas virou-se para o garoto no banco do passageiro, tentando sorrir de maneira tranquilizadora. Passou uma mão pelos cabelos do garoto tentando atrair seu olhar, mas o rapaz apenas olhava algum ponto no horizonte pela sua janela.
– Não se preocupe com isso, eu e seu pai vamos dar um jeito de punir as pessoas que fizeram isso com você... – Seung Ja falou com um tom ameno. – E depois, se estiver disposto a conversar, eu vou ouvi-lo. Você pode confiar em mim, sabe disso, certo?
Joon Young não assentiu ou negou, apenas permaneceu da mesma forma, acuado. A mulher se afastou com o coração pesado e finalmente saiu do carro, sendo acompanhada pelo garoto logo em seguida. Kyung Joon se aproximou, parecendo mais furioso do que receptivo com a presença dos dois, fazendo com que instintivamente Seung Ja se colocasse entre o homem e o seu filho. Os longos anos de casamento haviam a ensinado bem a perceber quando o seu ex-marido parecia mais disposto a uma briga do que estar minimamente preocupado com a situação. Se sentiria acuada se não tivesse temerosa sobre o que aconteceria se deixasse Joon Young enfrentar a ira de seu pai.
– Que diabos de vídeo era aquele? – Kyung Joon questionou o garoto que apenas fitava o chão. – EU PERGUNTEI QUE VÍDEO ERA AQUELE!
– Estamos no meio da rua, abaixe o seu tom! – Seung Ja exigiu, firme. Haviam poucas pessoas passando pela vizinhança, mas ainda assim se atentavam à discussão que se iniciava.
– Isso aconteceu por sua culpa! Se tivesse ficado a droga do traseiro em casa como uma mãe que preste, esse garoto não faria coisas anormais como essa! – A mulher se manteve firme apesar do ataque. Por mais que soubesse que a sua ausência tinha causado danos na relação com seu filho, o que via no vídeo não era um comportamento doentio ou anormal. Não aceitaria aquilo como ofensa.
– Esse garoto é seu filho, trate-o com respeito! – Seung Ja se exaltou, aumentando o tom de voz pela primeira vez. – Você devia estar com raiva das pessoas que o expuseram, não dele! O Joon Young é uma vítima, então pare de exigir dele qualquer explicação!
– É melhor ficar quieta... – O tom do homem foi ameaçador.
– Ou o que? – Seung Ja o desafiou, encarando-o com firmeza, algo que era incomum para o mesmo. O homem ergueu a mão em um impulso, mesmo sob o olhar firme da mulher.
Mesmo que temesse o que o outro iria fazer, Seung Ja não vacilou e estava pronta para se defender e defender Joon Young se o homem seguisse em frente com a intenção de agredi-la. No entanto, antes que o mesmo consumasse o ato, Kyung Joon foi empurrado, caindo sentado no chão. Mal o rapaz se deu conta do que havia acontecido e que aquele conflito não estava mais apenas entre sua ex-esposa e ele, viu o homem avançar sobre si com fúria nos olhos.
– Seung Ri! – Seung Ja se interpôs entre o irmão e o ex-companheiro, tentando impedi-lo de levar aquela briga à outro nível. – Por favor, se acalme!
– O que pensa que tá fazendo com a minha irmã, imbecil? – Seung Ri tentou se desvencilhar da irmã para atacar o homem que se levantava com ar de superioridade.
Nunca havia ido com a cara de Kyung Joon, assim como todo o resto da família, e sempre quis tirar aquele sorriso arrogante de seu rosto com os próprios punhos. Ao ver o homem ameaçar agredir sua irmã, não pôde sentir outra coisa além de raiva. Apenas a imagem o fazia transbordar em fúria e querer fazer o homem à sua frente provar do próprio veneno. Seung Ja, por outro lado, apenas queria que a confusão se extinguisse. Já era uma dor de cabeça grande o suficiente que seu filho estivesse sofrendo pela exposição que passara na escola, ele não precisava passar por mais uma exposição em frente à sua casa, assim como ela mesma não queria passar por aquilo.
– Seung Ri, as pessoas estão olhando... – A mulher falou como uma súplica, apenas assim fazendo o rapaz se deixar vencer sobre partir para cima do outro.
– Encoste na minha irmã e eu te mando para o hospital! – A ameaça era bastante verdadeira e Kyung Joon sabia bem disso. Seus olhos rumaram de Seung Ri para a ex-esposa, pensando melhor sobre comprar aquela briga. Levantou-se, limpando as roupas.
– Vamos conversar mais tarde. – O tom de Kyung Joon soara como um aviso, como se dissesse que a discussão aconteceria quando ambos estivessem sozinhos, uma ideia que foi rejeitada imediatamente pela mulher.
– Vamos conversar apenas na presença de um advogado, num tribunal. – A mulher declarou, fazendo o homem franzir o cenho.
– Como é?
– O Joon Young vai ficar comigo até nos resolvermos num tribunal. – Reforçou, firme. – Até lá, eu não vou deixar que você leve ele.
– A guarda do garoto é minha... – Kyung Joon falou num tom de ameaça.
– E você representa um perigo para ele depois desse seu comportamento. – Seung Ja foi firme. – Aposto que todas essas testemunhas concordam comigo...
Só então o homem percebeu que havia uma quantidade considerável de pessoas acompanhando toda a confusão, inclusive filmando tudo com seus celulares. Kyung Joon se reiterou, mas não sem antes direcionar um olhar furioso para a mulher. Afastou-se a passos largos sem sequer olhar para trás ou dizer qualquer coisa, entrando em seu carro e partindo. Apenas quando o carro sumiu de sua vista, a mulher se permitiu amolecer, abraçando Joon Young que parecia ainda mais abalado pela situação.
– Você fez bem... – Seung Ri falou depois de um tempo com uma mão sobre o ombro da irmã. – Colocou-o no lugar dele, soube se defender.
– Obrigada... – Por mais que estivesse ainda um pouco abalada pela ameaça de violência do ex-marido, ainda assim se sentia orgulhosa de si. Havia ficado mais forte e não havia se deixado dobrar pelas ações de Kyung Joon.
– Sobre que foto ele estava falando? – O homem perguntou, preocupado. O sobrinho parecia bastante fragilizado e a situação havia apenas piorado a maneira como se sentia. A mulher apenas tirou seu blazer e colocou sobre a cabeça de seu filho.
– Conversaremos lá dentro, aqui não é local para isso. – Seung Ri apenas concordou e abriu espaço para que os dois entrassem em casa.
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Oh Joon encarava o teto com a cabeça repleta de pensamentos. Depois do acidente, assim que acordou, se viu preso à uma cama de hospital com a perna e o braço direito engessado e algumas costelas fraturadas. Poderia dizer que aquele era o seu pior pesadelo, não apenas por ser um atleta que dependia de seus membros saudáveis para jogar, mas porque não sabia o que havia acontecido depois que fora atingido pelo ônibus que o atropelou. Sua mente não pôde deixar de se direcionar à Ga In, queria saber como ela estava, se havia se machucado ou se havia conseguido salvá-la a tempo.
Se sentia culpado pelo acidente, uma vez que tudo aconteceu porque insistiu na aposta que levou a garota àquela festa. Se tivesse desistido daquela aposta idiota como Mun Seo pediu, se não estivesse tão focado em esconder seu verdadeiro eu ao invés de admitir de uma vez por todas que era gay, nada daquilo teria acontecido. Quando soube no dia seguinte que Ga In havia falecido, a única coisa que pode fazer foi chorar pela culpa que a consequência de seus atos havia gerado. Em nenhum momento em sua vida se sentiu tão desolado e vazio como naquele momento.
Ouviu uma batida fraca na porta. Uma mulher mais velha com os cabelos levemente grisalhos e uma enorme lancheira o encarou com um sorriso discreto. Aproximou-se do rapaz, colocando a lancheira sobre a mesinha ao lado de sua maca. Oh Joon não podia negar a semelhança entre Ga In e sua tia So Ah, havia encontrado a mulher apenas uma vez quando fora levar a Ga In em casa depois de irem ao cinema. Sentia-se culpado apenas por estar em sua presença e a mulher gentil sequer sabia de tudo o que havia acontecido, de tudo o que havia levado sua sobrinha para a morte.
– Soube que seus pais não vieram te visitar. – A mulher falou, abrindo a mesinha da maca. – Você vive sozinho, não é? Seus pais viajam muito?
– A maior parte do tempo. – Confessou.
– Deve ser bem solitário. – So Ah se compadeceu pelo rapaz. – Eu vim porque pensei que gostaria de companhia... Mas não entendo muita coisa sobre baseball ou o que quer que os jovens gostem de conversar sobre, então talvez eu não consiga entretê-lo muito.
Oh Joon mordeu os lábios, sentindo um bolo se formar em sua garganta. Tentou conter as emoções que pareciam transbordar de dentro de si enquanto a mulher ajeitava os potinhos sobre sua mesa. Haviam algumas frutas cortadas e descascadas, um pouco de canja e até mesmo chá. Era a primeira vez em muito tempo que alguém preparava uma refeição para si, por mais modesta que fosse, o que o deixava ainda mais emocionado. Sentiu algumas lágrimas escorrerem por seu rosto e tentou limpá-las com a mão saudável. So Ah apenas fez um carinho na cabeça do rapaz,
– Eu sinto muito pelo o que aconteceu... A culpa foi minha... – Oh Joon murmurou com a voz embargada.
– Tudo bem, não se culpe... As coisas apenas aconteceram dessa maneira... Foi um acidente infeliz...
– Não, eu... A culpa foi realmente minha... Eu não aguento mais guardar isso comigo... – Oh Joon confessou tudo, desde o surgimento da aposta, de sua aproximação, suas intenções e como seus sentimentos em relação à Ga In haviam mudado até o momento do acidente. A escuta acolhedora da mulher o fez até mesmo revelar seu segredo mais profundo que tanto tentava esconder e o fez acabar naquela situação. – Eu deveria ter parado e me afastado, mas eu estava tão obcecado com essa imagem que eu tanto queria sustentar... Que eu não consegui simplesmente desistir da aposta... E eu acabei matando a Ga In...
– Você não a matou, não diga isso. – Apesar de estar chocada com a história, entendia que o rapaz talvez fosse a pessoa em mais sofrimento.
Oh Joon tinha apenas dezesseis anos, havia aprendido a se cuidar sozinho por conta da ausência constante dos pais e sentia a necessidade de se conectar com outras pessoas. Era mais do que compreensível que o rapaz tentasse se esconder por trás de uma imagem falsa que o tornasse especial para outras pessoas, para compensar a falta de afeto que sentia de seus pais. Por mais que o rapaz sentisse que era melhor estar distante de seus progenitores, isso não significava que Oh Joon não sentisse falta dos dois, principalmente de alguma demonstração amor e carinho, o que muitas vezes não acontecia.
– Não nego que escolheu um mau caminho, mas apenas te faltou alguém que o orientasse da maneira correta. – So Ah lhe deu um abraço reconfortante, assim como sempre fazia com Ga In. – O que aconteceu foi um acidente, um acidente trágico e a culpa não foi sua.
Deixou que o rapaz derramasse todas as suas mágoas e seus arrependimentos em seus ombros até que chegasse à exaustão. Depois de um longo tempo, o rapaz dormia sob o olhar materno de So Ah. Ajeitou os cobertores sobre o rapaz e ajeitou os potes ainda intocados dentro da lancheira novamente. Por mais que fosse difícil para si lidar com a verdade de que sua sobrinha havia sido vítima de uma brincadeira de mau gosto que lhe custou a vida, não podia ignorar o sofrimento do rapaz que estava tomado pela culpa e pela tristeza de ter perdido uma grande amiga. Deixou a lancheira sobre a cômoda ao lado e saiu do quarto, se deparando com um rapazinho franzino sentado em uma cadeira próxima à porta.
– Você deve ser o Mun Seo... – O rapaz a olhou e desviou o olhar, um tanto constrangido. – Não precisa ficar dessa maneira comigo. Talvez não me verá aqui se você vier ver o seu... Amigo... Com frequência.
O garoto mordeu o lábio, um pouco sem jeito.
– O Oh Joon me falou sobre você e sobre ele... Eu não sou nenhuma especialista, mas tenho muita experiência de vida. Nesse momento, o que o seu amigo precisa é de apoio e também muita paciência. Não é simples para ele se desprender dessa imagem que ele carrega, então o melhor que você pode fazer é esperar o tempo dele. – A mulher tocou o ombro do rapaz. – Desejo boa sorte a vocês.
Dito isso, So Ah apenas se afastou, sumindo do campo de visão de Mun Seo e deixando o rapaz sozinho com seus pensamentos.
Capítulo XXIII
Logo que os irmãos Lee entraram em casa, Joon Young subiu correndo para o seu quarto. Seung apenas teve tempo de suspirar, preocupada com o rapaz. Seu filho tinha apenas quinze anos e estava lidando com uma exposição de sua intimidade, além de estar sendo alvo de comentários maldosos em suas redes sociais. Não podia imaginar há quanto tempo estava recebendo as ameaças que vinha sofrendo das pessoas que o expuseram. Para piorar, ainda tinha tido uma briga com seu ex-marido que havia exposto ainda mais o rapaz e a sua família. Cortava-lhe o coração imaginar por quanto sofrimento Joon Young deveria estar passando e pior ainda era não ter certeza se o rapaz se abriria com ela. A relação dos dois nunca fora fácil, principalmente por conta do seu distanciamento durante muitos anos de sua família.
Seung Ja havia sofrido muito com a depressão pós-parto nos primeiros meses de vida de seu filho. Com a falta de apoio de sua mãe e de seu marido, a sua situação apenas foi piorando com o tempo. Além de uma falta muito grande de afeto por seu filho, muitas vezes se via numa situação em que não queria cuidar de Joon Young e não deixava que ninguém cuidasse do mesmo, cuidar de si mesma também era um desafio. Apenas Seung Ri teve a iniciativa de ajuda-la e convencê-la a se tratar. Mesmo assim, apesar de ter melhorado e superado a depressão pós-parto por muito tempo, houve muitas dificuldades para se reconectar com a sua família novamente. O principal motivo disso era o seu conflito sobre ser mãe e conciliar a sua vida profissional com a vida pessoal. Era como se, para ser mãe, fosse preciso abdicar de todas as outras escolhas que houvesse feito na vida.
Por muito tempo, sua principal escolha foi o trabalho. Joon Young veio em segundo lugar e percebeu então que não tinha se preparado o suficiente para ser mãe. Demorou muito tempo para que as suas prioridades se invertessem, e quando finalmente se sentiu apta para ser a mãe que Joon Young precisava, o rapaz já havia crescido e se virado muito bem sem ela, se apoiando na figura paterna para suprir a falta que a mãe havia feito em sua vida. Entretanto, naquele momento, o único que o rapaz confiava havia se voltado contra o mesmo e agora só sobrava para o garoto a única pessoa que o Joon Young sentia remorso por nunca ter estado realmente presente em sua vida. Seung Ja se perguntava se conseguiria se conectar com filho àquela altura do campeonato, se o rapaz a faria digna de sua confiança.
– Enfim, o que aconteceu? – Seung Ri perguntou, tão preocupado quanto a irmã com o comportamento de seu sobrinho.
– É melhor você ver... – A mulher sacou o celular e mostrou a foto que havia recebido da diretora do colégio.
Na imagem, Joon Young aparecia com trajes femininos, uma saia escolar e uma peruca longa na cabeça, além de uma maquiagem bem feita. Parecia conversar animadamente com alguém em uma sala isolada até perceber que estava sendo gravado. Era bem óbvio que o rapaz havia se trajado daquela maneira por vontade própria, o que apenas fazia com que os comentários maldosos nas redes sociais do rapaz pipocassem aos montes. Pessoas com pensamentos fechados e extremamente preconceituosas com o que fosse contrário às “leis naturais” do que é ser um homem de verdade. Seung Ja havia tido contato com muitas pessoas durante muito tempo em sua vida, pessoas de diferentes nacionalidades, culturas e etnias. Mesmo que tivesse dificuldades em entender o que levava uma pessoa a se identificar com um gênero diferente ao qual nasceu, sabia bem que isso não era motivo para endemonizar uma pessoa.
– Ele estava sendo ameaçado... – Seung Ja revelou, guardando o celular depois que o irmão assistiu todo o vídeo. – Eu deveria ter desconfiado pela reação dele na escola... Aquela briga foi muito suspeita e eu só aceitei o pedido dele... Deveria ter insistido.
– A culpa não foi sua, você não tem uma bola de cristal, não poderia ter adivinhado o que estava acontecendo. – Seung Ri tentou reconforta-la. – Eu posso conversar com ele, se quiser...
Seung Ja apenas balançou a cabeça negativamente. Entendia a boa intenção de Seung Ri, mas era hora de parar de terceirizar sua função como mãe para as outras pessoas. Precisava ser a pessoa que iria acolher e aconselhar seu filho. Apenas tocou o braço de Seung Ri, como se dissesse silenciosamente que cuidaria da situação. Respirou fundo antes de se levantar e rumar para o quarto de Joon Young. Deu algumas batidas na porta de seu filho, percebendo a porta trancada.
– Filho... Você pode abrir a porta pra mim? – Pediu. Não ouviu qualquer movimentação do lado de dentro do quarto. – Joon Young... Por favor... Abra a porta...
Apesar da resistência do rapaz, o mesmo abriu a porta algum tempo depois sob a insistência de Seung Ja. O mesmo se recolheu em sua cama, não parecia aberto à conversa, se escondendo sob o cobertor.
– Eu vou arranjar um jeito fazer aqueles garotos se responsabilizarem pelo o que fizeram com você... – Seung Ja garantiu. – Eles não vão sair impunes, nem que eu tenha que mover o céu e a terra para isso.
– Não vai apagar o que aconteceu. – Pela primeira vez naquele dia, Seung Ja pôde ouvir a voz do filho. Joon Young não parecia muito esperançoso, ele não estava preocupado sobre as pessoas que o expuseram e sim sobre o vídeo que o comprometia e Seung Ja sabia bem disso.
– Podemos conversar sobre o vídeo? – A mulher perguntou, respeitando o tempo do rapaz. Se o mesmo estivesse pronto para discutir sobre isso, esperaria até que o rapaz viesse até ela. Entretanto, surpreendendo-a, Joon Young pareceu receptivo a uma conversa. Deixou uma fresta aberta no cobertor, revelando os olhos inchados e molhados pelo choro. A visão do garoto tão vulnerável deixou o coração de Seung Ja balançado.
– Você... Não vai me chamar de anormal? Não vai gritar comigo? – Seung Ja nunca houvera alguma vez tomado uma postura agressiva quanto ao rapaz, apesar de no passado tê-lo afastado de muitas formas. Demorou a entender o porquê o garoto cobrava uma postura agressiva sua se nunca houvera alguma vez feito aquilo com o mesmo. Somente depois entendeu que o Joon Young esperava qualquer coisa dela, menos uma atitude acolhedora.
– Eu nunca faria isso... Quando digo que quero o seu bem e que quero me aproximar de você, eu estou sendo sincera. – Seung Ja foi honesta, o que deixou o rapaz pensativo. – Eu quero entender o que você sente, quero que se abra pra mim... Qualquer que tenha sido os seus motivos e os seus desejos pra agir ou se vestir daquela maneira, eu vou aceitar e vou estar contigo...
Joon Young pareceu pensativo e se escondeu novamente sob os cobertores. Remexeu-se por alguns segundos antes de se livrar do cobertor, sentando-se na cama e abraçando os próprios joelhos. Não sabia por onde começar, não sabia como explicar como se sentia. Sabia apenas que não era fácil para si, seus pensamentos estavam conturbados.
– Eu... Só... – O rapaz respirou fundo, sentindo a voz embargada. – É como se... Eu não fosse certo. Eu não fosse eu... Eu olho pra mim mesmo e eu me sinto tão errado, tão feio...
– Joon... – Seung Ja colocou uma mão nas costas do rapaz, mostrando ao mesmo que estava ali para ouvi-lo, sem preconceitos e julgamentos.
– Eu sempre via os outros meninos brincando e se comportando de maneira mais... espontânea, mais agressiva... E eu só sentia que eu não era assim. Não que isso fosse o suficiente para dizer que eu era diferente, mas... No fundo era como se fosse um sinal... De que eu não era como eles... – Continuou, entre soluços. As lágrimas vinham sem controle, finalmente estava desabafando com alguém sobre o que sentia de verdade, sobre a sua verdadeira essência. – Eu nunca me vi como um menino... Eu sempre me senti como uma garota... Me desculpe...
– Você não tem motivos para se desculpar. – Seung Ja abraçou o filho, ou melhor, sua filha. Era difícil até mesmo para ela associar aquela informação. Sabia que iria ter que se acostumar com as coisas, era tudo muito novo para ela, assim como também era para Joon Young. – Você não tem que se desculpar por ser você mesmo, nunca faça isso. – A mulher respondeu, sentindo além de compaixão uma identificação com a mesma. – A maneira como você se enxerga diz direito apenas a você. Eu tenho medo porque sei que as pessoas não irão te entender e irão querer que você se encaixe em uma regra que não deveria existir, mas aonde quer que você vá, eu vou estar do seu lado, vou te apoiar e vou te aceitar da maneira como você é... Seja homem ou mulher.
Joon Young se sentiu acolhida. Era a primeira vez que se sentia acolhida por sua mãe. Havia tido muitos sentimentos conflitante sobre sua progenitora por muitos anos, muitos deles alimentados por seu pai. Sempre pensou que a mulher que agora a abraçava nunca havia lhe amado genuinamente e, no entanto, naquele momento em que mais precisava de um apoio, ela fora a única que havia se mostrado como alguém digna de sua confiança, a única que demonstrava que iria lutar contra o mundo se fosse necessário, apenas para que pudesse ser a pessoa que sempre sentiu que era, mas que nunca pode mostrar por conta de todos os estigmas e preconceitos que a sociedade impunha sobre alguém como ela. Permitiu-se desabar e chorar, desabafar e falar sobre tudo, sobre como se sentia, seus medos e expectativas.
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Assim que So Ah colocou os pés em casa, deixou algumas coisas que havia comprado na volta do hospital na cozinha. Queria fazer uma refeição mais nutritiva para a afilhada que não estava se alimentando bem desde o dia do acidente. Entendia muito bem os sentimentos de Ga Yeong. Tendo sido a pessoa que mais conviveu com Ga In, se sentia tão desolada quanto a mais nova. Havia feito parte de toda a criação de sua sobrinha, da infância até a adolescência. Era sua única companhia, apesar de ter sido um pouco difícil lidar com a sua condição. Contudo, mesmo que entendesse o quanto sua afilhada ainda estivesse sofrendo com o luto, sentia que era o momento de discutir algumas coisas com Ga Yeong e até revelar algumas coisas que sempre ficaram escondidas até aquele momento.
Com a aparição do único filho da família Hwa, os antigos patrões de sua irmã, Min Young, So Ah havia ficado preocupada sobre a conexão entre o rapaz e a sua afilhada. Por mais que Ga Yeong tivesse vivido por muito tempo na mansão dos Hwa, sabia que recentemente a mesma havia se mudado e também que havia conseguido um novo trabalho, segundo o que a mesma havia lhe dito. Então como os dois haviam voltado a se encontrar se não havia mais motivo para terem contato um com o outro? O rapaz até mesmo havia trago sua afilhada de Seul até Jeju em um horário tão avançado da noite, além de ter parecido tão surpreso sobre a situação em que se encontravam. Não sabia bem o porquê o rapaz parecia tão surpreso, queria entender o que estava acontecendo.
Seguiu para o quarto de Ga In onde Ga Yeong havia dormido nos últimos dias. O quarto estava bem organizado e limpo, a única coisa que tinha em excesso na decoração eram flores. Ga In sempre fora muito apaixonada por flores, em especial tinha um amor por uma flor chamada Cattleya, uma espécie de orquídea muito popular em países latinos. O perfume suave da flor sempre fora bastante agradável para a sobrinha, assim como a aparência da mesma. Encontrou a afilhada dobrando algumas roupas e as colocando dentro de uma bolsa grande que So Ra havia trago em sua viagem. Percebeu que a mulher se preparava para voltar à capital em breve, o que fez So Ah se aproximar. Era agora ou nunca.
Sentou-se na cama ao lado da afilhada, atraindo a atenção da mesma. Era espantoso o quão diferente a garota estava. Ga Yeong sempre fora muito diferente, o nariz sempre fora mais largo e as feições mais brutas que a irmã mais nova. A última vez que havia visto sua sobrinha, a mulher tinha quase o dobro de seu peso atual e se escondia em roupas largas. Naquele momento, entretanto, Ga Yeong estava muito mais bonita, bem dentro do padrão de beleza coreano e era impossível olhar para a mulher sem lembrar de sua irmã. A semelhança era tamanha que parecia estar na presença de Min Young, mesmo sabendo que a irmã mais entre elas.
– Você mudou muito... – So Ah começou, passando uma mão pelos cabelos de sua afilhada. – Você está parecida com a sua mãe...
– Alguém já me disse isso... – Ga Yeong confessou. Lembrou-se de quando estava arrumando suas coisas com Seung Ri e o rapaz a comparou com uma antiga foto de sua mãe. Ainda que a mudança extrema de aparência de Ga Yeong fosse algo que surpreendesse sua madrinha, So Ah não se focou no assunto.
– Você vai voltar para Seul?
– Vou... Eu ainda tenho muitas coisas para ajeitar... – A garota confessou, colocando mais uma muda de roupa dentro da bolsa – Eu ainda tenho muitas coisas para decidir também... Muitas coisas para pensar...
– E sobre o rapaz que a trouxe aqui? – So Ah foi um pouco mais direta.
– Era o Hwa Kyung Soo, o filho dos Hwa... – Ga Yeong explicou. – Acho que faz algum tempo desde que você o viu pela última vez...
So Ah havia visitado poucas vezes a mansão da família Hwa, tanto que podia contar nos dedos as vezes que havia ido lá. Por ser a casa dos patrões de sua irmã, nunca se sentiu a vontade para ir à capital e passar os dias nos aposentos de Min Young, além de que também havia visitado a mesma com a sobrinha mais nova. Era muito mais comum que Min Young e Ga Yeong visitassem a família em Jeju do que So Ah e Ga In irem para a capital. Por conta da dificuldade de se adaptar às novidades, viajar com Ga In sempre havia sido um problema, então naturalmente acabava evitando ir à Seul. Entretanto, nas poucas vezes que havia ido à Seul, So Ah havia conhecido de longe o filho dos Hwa, assim como os patrões de Min Young. Por mais que na época em que havia conhecido o rapaz, o mesmo fosse apenas um estudante do ensino médio, não havia tido dificuldades em reconhecê-lo. O rapaz tinha uma forte impressão que permanecia com ele, independente do passar dos anos.
– Eu sei, eu o reconheci. – Disse a mais velha – E acredito que ele também me reconheceu.
A mulher se ajeitou na cama, puxando um travesseiro para seu colo. Pensou em como deveria começar aquele assunto, ainda mais por saber a situação tão delicada em que sua afilhada se encontrava. Haviam acabado de perder uma pessoa importante em sua família e para Ga Yeong isso era ainda mais pesado do que para outras pessoas. A Ga In era para a garota o único presente que sua mãe havia deixado para a mesma, era como se a mulher se sentisse responsável por não tê-la protegido, mesmo que isso não estivesse no alcance da mesma. So Ah entendia que não havia nada que pudesse fazer e que eventualmente ela precisaria deixar que Ga In saísse do ninho porque não duraria para sempre. Talvez a idade a tivesse deixado mais sábia, mas para Ga Yeong a perda era muito mais avassaladora porque não via as coisas da mesma forma. Por ter se tornado a pessoa responsável por sua família tão cedo, acreditava fielmente que era sua culpa sua irmã ter partido tão precocemente. Era como se tivesse falhado com sua responsabilidade.
Contudo, depois de ter ponderado bastante e por ter se deparado com a aproximação com o filho dos Hwa, So Ah não podia deixar que aquele segredo continuasse se estendendo por tanto tempo. Por mais que fosse o desejo de Min Young que aquilo ficasse enterrado para sempre, So Ah não acreditava que fosse certo ou justo com suas sobrinhas. Ga In, assim como Ga Yeong, haviam sofrido bastante por não saberem sobre suas origens, por mais que tentassem ocultar ou passar por cima de todos os julgamentos sobre o assunto. Era hora de trazer à luz a verdade. Suspirou, tomando a mão da sobrinha que a olhou confusa. Deixou as roupas de lado por um momento, virando-se para a madrinha que parecia apreensiva e cautelosa.
– Madrinha, se é sobre eu ir para Seul que você está preocupada, eu vou me virar bem sozinha... – Ga Yeong a certificou. – Eu consigo me cuidar... Eu consegui me virar quando a mamãe se foi, então eu vou dar meu jeito agora também...
– Não é sobre isso, querida... – So Ah mordeu o lábio inferior, o cenho franzido. – Na verdade, eu preciso conta algo para você... Espere aqui um minuto.
So Ah se levantou, saindo do quarto por alguns minutos. Logo a mesma retornou com uma pequena caixinha de madeira em mãos. Assim que a madrinha abriu a caixa, logo percebeu que era uma caixinha de música. Uma bailarina começou a girar e uma música clássica começou a tocar assim que a tampa foi aberta. Dentro da caixa, haviam alguns papéis que pareciam ser cartas, algumas até com nomes de destinatários. Ga Yeong logo reparou que as iniciais de sua mãe estavam entalhadas na lateral da caixinha, o que havia a deixado curiosa a respeito daquele objeto. Nunca havia visto a caixa de música antes, não sabia da sua existência, mas à primeira vista parecia um objeto bem caro, algo que havia aprendido a diferenciar bem de um objeto de pouco valor enquanto havia trabalhado na casa da família Hwa.
– O que é isso, madrinha? – Ga Yeong perguntou, curiosa. – Era da minha mãe?
So Ah assentiu com a cabeça. Quando Ga Yeong estendeu a mão para tocar a pequena caixa, a mais velha afastou o objeto com certo receio. A garota não entendeu o porquê da reação da madrinha e a olhou com o cenho franzido.
– Antes que você leia, eu queria falar sobre um assunto importante com você. – So Ah começou. – Quando a sua mãe deixou essa caixinha comigo, ela me fez prometer que eu nunca te diria a verdade, não importasse o que... Mas eu acho que você precisa saber, ainda mais porque você parece tão próxima do filho dos Hwa e... Isso não pode continuar guardado assim...
– Madrinha... Você está me assustando desse jeito... – Ga Yeong franziu o cenho, não conseguia imaginar o quão sério poderia ser o assunto para deixa-la tão apreensiva.
– A sua mãe era muito nova quando ela decidiu ir para Seul, você sabe bem... Ela queria tentar o sonho de ser bailarina, mas não aconteceram as coisas do jeito que ela esperava. – So Ah contou – Ela precisou se virar e passou por muita coisa até conseguir se estabelecer na casa dos Hwa... Nessa época, quando ela passou a trabalhar como empregada, ela acabou se envolvendo com uma pessoa que não deveria... Ela estava muito apaixonada, isso simplesmente a cegou. Eles eram de mundos diferentes, entende? Por mais que estivessem apaixonados um pelo outro, ele nunca iria desistir da vida dele por ela...
– Como assim, desistir da própria vida, madrinha? – Ga Yeong franziu o cenho, não entendia onde sua tia queria chegar com aquela história sem pé e nem cabeça.
– O homem que a sua mãe havia se envolvido já tinha uma família, tinha um filho, uma esposa e era muito influente. Ele e a esposa haviam tentado por muito tempo terem filhos, mas nunca conseguiram... Então eles decidiram adotar uma criança, mas isso foi muito antes de sua mãe se envolver com ele. Eu acho que, mesmo se a sua mãe tivesse tomado a atitude de confrontá-lo sobre você e a sua irmã, as coisas não mudariam. Ele poderia fazê-la passar por uma interesseira se quisesse e continuaria sem assumir a responsabilidade por vocês. – A mais velha suspirou, alisando a caixinha de madeira enquanto pensava bem nas palavras. – Mesmo ele sempre tendo te tratado bem e ter ajudado sobre algumas questões financeiras, ele não estava disposto a assumir vocês. Ele não queria manchar a própria imagem com algum escândalo sobre ter filhos fora do casamento, ainda mais com uma empregada...
A cabeça de Ga Yeong parecia ter dado um nó com aquelas palavras. “Mesmo ele sempre tendo te tratado bem”, aquelas palavras ficavam voltando em sua mente. Naquele momento, sua tia estava falando sobre o seu pai, o homem que até então jurava que nunca havia conhecido, mas que, segundo sua madrinha, sempre esteve presente em sua vida, ao contrário do que pensava. Havia crescido sob a sombra de sua figura paterna e nunca nem desconfiou de nada.
– Madrinha, você sempre soube quem era o meu pai e nunca me disse? – Ga Yeong se levantou, cerrando os punhos. Sentia raiva que aquela verdade havia sido ocultada de si por todos aqueles anos. Por muito tempo sentiu remorso por sua mãe nunca ter dito quem era seu pai, por nunca ter contado algo que fazia parte de si, de sua história. Mesmo que sua mãe fosse uma pessoa preciosa e importante, ter mantido segredo sobre sua paternidade havia a machucado profundamente e agora saber que sua madrinha também sabia daquele segredo e nunca havia a contado havia a deixado decepcionada.
– Ga Yeong, entenda que eu nunca quis magoar você, mas eu prometi à sua mãe... – As palavras escaparam de So Ah, não havia justificativa sobre o que aquele segredo. Era um direito de Ga Yeong saber e ela havia renegado aquilo a ela.
– Quem é o meu pai? – Ga Yeong perguntou, firme.
Não havia como se arrepender de ter chegado àquele assunto, So Ah precisava revelar a verdade, por mais que isso a causasse tanta ansiedade.
– O seu pai é o Hwa Hae Myung, o pai do Hwa Kyung Soo...
Capítulo XXIV
Mun Seo encarou os próprios pés, sentia-se ansioso, havia preparado todo um discurso em sua mente antes de entrar no quarto, mas agora que estava cara a cara com Oh Joon, as palavras haviam se perdido ao vento. Ver o rapaz que tanto havia tentado ignorar durante as últimas semanas tão machucado e acamado o quebrava por dentro. Os dois rapazes haviam se conhecido durante o ensino fundamental, aos seus treze anos, e daí para frente criaram uma conexão única, uma amizade que foi florescendo e se transformando em algo além. Ambos tinham seus problemas familiares e se apoiavam um no outro. Enquanto Oh Joon sofria com a ausência e a rejeição de seus pais, Seo havia sido criado por seus avós e sequer havia os conhecido alguma vez na vida. Mesmo que seus avós nunca houvessem o distratado, para Seo a ausência de seus pais também o feria.
Conforme foram crescendo juntos, novos sentimentos acerca daquela relação que tinham foram surgindo com a descoberta de suas próprias identidades. Entretanto, para Oh Joon, essa mudança não era tão fácil. Diferente de Seo, que nunca havia conhecido os próprios pais, mas ainda tinha o amor e o companheirismo de seus avós, para Oh Joon não era fácil ter que suportar a rejeição de seus progenitores. De certa forma, o rapaz ainda queria ser o motivo de orgulho dos mesmos e por isso sabia bem que se assumisse sua atração por pessoas do mesmo gênero, seria mais um motivo para seus pais não aceita-lo. Era algo que, por mais que se esforçasse muito, Seo nunca entenderia como é esse sentimento, já que seus avós, ainda que não achassem certo, o aceitavam da maneira que era. A escolha de manter segredo sobre sua sexualidade foi apenas porque Oh Joon, o único garoto que havia gostado e se relacionado amorosamente, ainda não estava preparado para se assumir também. Apenas ele era quem sabia disso. E por conta daquela fixação em esconder sua orientação sexual, Oh Joon sempre saía com garotas, apenas para afirmar uma heterossexualidade que não o competia.
– Não precisa me olhar com essa cara... Eu estou vivo, pelo menos. – Oh Joon falou com a voz arrastada. Há poucos minutos, uma das enfermeiras havia aparecido para lhe aplicar uma medicação para dor. Por conta da conversa de mais cedo com a avó de Ga In, o rapaz ainda parecia bastante afetado, porém um pouco mais leve. Ainda se sentia imensamente culpado pela morte da garota, mas havia tido, pela primeira vez, uma conversa honesta com uma figura quase materna e o acolhimento que sentia falta por parte de sua própria família.
– Você tá todo remendado, não tenho como controlar minha expressão diante disso... – O jeito que o menor havia se referido aos ferimentos de Oh Joon quase o fizeram rir. Se não tivesse tomado a medicação, provavelmente sentiria suas costelas reclamarem pelo esforço. – Eu sinto muito... Eu deveria ter sido mais compreensivo com o seu lado, mas... Eu sentia tanta raiva quando você simplesmente saía com aquelas garotas...
– A culpa é minha, eu causei isso. – Oh Joon assumiu. – Eu quem deveria ter pensado nos seus sentimentos, nos seus e nos da Ga In. O problema é que eu tinha tanto medo de que alguém descobrisse sobre mim, sobre nós... Que eu só tentava esconder isso atrás dessa mentira que eu inventei. Como se ser hétero se resumisse a correr atrás de todas as garotas da escola... Eu sou bem idiota mesmo.
A mão de Seo envolveu a de Oh Joon que tinha alguns pequenos cortes envolvidos por um Band-aids.
– Me desculpe por ter te machucado... Eu acho que eu só entendi a gravidade das minhas ações quando você não quis mais ficar do meu lado. – Oh Joon foi sincero. – Eu amo você.
Mun Seo sentiu a ardência familiar tomar o nariz e se afastou apenas para virar para um ponto qualquer para que o maior não o visse chorar. Havia imaginado muitas vezes aquele momento, havia esperado que o rapaz reconhecesse o quanto suas ações haviam o ferido e que se redimisse, que voltasse a ser somente dele. Ouvir de Oh Joon aquelas desculpas tão sinceras e o quanto o mesmo o valorizava havia o despertado emoções tão fortes que quase não conseguia conter dentro de si mesmo. Apenas obrigou-se a segurar as lágrimas que se formavam em seus olhos quando a porta do quarto se abriu de repente. Uma mulher na casa dos quarenta anos adentrou o cômodo, os cabelos vermelhos e longos chamavam a atenção à distância. Logo atrás da mesma, um homem com feições rígidas e uma expressão severa a acompanhava.
Mun Seo nunca havia se sentido realmente confortável na presença dos pais de Oh Joon. Para ambos, a amizade de longa data entre Seo e o filho do casal nunca havia sido um problema. Na realidade, os dois até mesmo apreciavam o jeito mais reservado e centrado do rapaz. Provavelmente pensavam que Seo era uma boa influência para Oh Joon e que o manteria com as mãos longe de problemas e a cabeça nos estudos. Ainda assim, o garoto sempre sentiu que precisava pisar em ovos com os dois pelo jeito severo que tinham. Por serem bastante ocupados com suas profissões, sendo a mãe de Oh Joon uma comissária de bordo e seu pai ser piloto de avião, os dois costumavam viajar bastante e nem sempre tinham tempo para tomar conta de Oh Joon. Como o rapaz vivia sozinho, normalmente davam um jeitinho de acompanhar o progresso do mesmo através das notificações dos professores na escola e quando havia algum problema relacionado à notas ou por algum comportamento rebelde por parte de Oh Joon, os dois sempre arranjavam uma maneira de voltar para casa e tirar satisfações sobre isso.
Oh Joon suspirou, parecia pronto para receber uma bronca sobre seu estado quando sua mãe se aproximou e o abraçou com cautela, parecendo aliviada pelo rapaz estar acordado, apesar das ataduras e do gesso em sua perna e seu braço direito indicarem o quão grave havia sido o acidente. Assim como sua mãe, seu pai parecia estar bastante preocupado sobre a saúde do garoto. Apesar da surpresa pela reação incomum dos patriarcas, Oh Joon apenas retribuiu o abraço, sentindo um pouco de afeto vindo de seus pais.
– Céus, Oh Joon! Porque sempre que me ligam sobre você, nunca é sobre boas notícias! – A mãe do rapaz reclamou, mas seu tom parecia mais brando do que ríspido para uma bronca. – Como isso aconteceu?
– É uma longa história... – Oh Joon apenas se esquivou da pergunta. – Vocês vieram me ver?
– Que tipo de pergunta é essa, meu filho? É lógico que viemos, estávamos mortos de preocupação. Pegamos o primeiro voo para cá assim que soubemos do acidente.
– Sério? – Oh Joon perguntou como se quisesse confirmar aquela informação. – Estavam mesmo preocupados comigo?
– Filho, desse jeito até parece que duvida de nós. Você é o nosso bem mais precioso, é claro que nós nos preocupamos. – O homem afirmou, segurando a mão do rapaz com o cenho franzido.
Oh Joon sentiu um bolo se formar em sua garganta, sentindo-se acolhido por seus pais pela primeira vez em tanto tempo. O garoto soltou a mão de seu pai apenas para cobrir o rosto. Seus pais se entreolharam e então perceberam o quanto a ausência de ambos havia sido prejudicial para o emocional de seu filho.
– Oh Joon! – A mãe do rapaz o abraçou novamente, como se tentasse dizer com gestos sempre o amou verdadeiramente, mesmo sendo tão distante.
Mun Seo observou em silêncio por alguns instantes aquele momento tão íntimo e tão importante para Oh Joon. Permitiu-se um pequeno sorriso ao ver que, apesar do caos, a família da pessoa mais importante para si o amava e se importava com o mesmo, independente do quão distantes fossem. A confirmação daquele sentimento era tudo o que Oh Joon precisava. Enquanto os três ali pareciam alheios à sua presença, o garoto girou em seus calcanhares e rumou para a porta do quarto. Apenas voltou-se para trás para vislumbrar uma última vez aquela cena, encontrando o olhar de Oh Joon por um instante. Não precisava de palavras para que pudesse entender o que pensava. Aquele era um momento importante para o rapaz e respeitaria o seu tempo, respeitaria quando se sentisse pronto para revelar o que realmente era para os seus pais, aquelas pessoas pelas quais sempre quis receber amor e afeto.
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– Você sumiu por dois dias, onde você estava? – Han Na perguntou assim que viu Kyung Soo entrar pela porta. O homem usava roupas simples, diferente das roupas de marca que sempre esbanjava. Mal o rapaz havia chegado em casa, a mulher o bombardeou de perguntas. – Porque não atendeu minhas ligações? E que história é essa de que a Cha Se Young é a Park Ga Yeong?
– Eu precisava espairecer. Isso é novidade pra mim igual é pra você, tá legal? – Kyung Soo estalou a língua, tirando a jaqueta e os tênis.
– Quer dizer que você não sabia... – Han Na se deu conta disso e quase quis rir. Então Kyung Soo não havia se aproximado daquela garota sabendo quem ela era, mas havia sido ela quem havia o procurado. – Foi ela quem se aproximou de você. Ela sabe do testamento...
– Ela não sabe. Ninguém além de nós dois sabe disso... – Kyung Soo falou de maneira ríspida. – Ela não se aproximou por dinheiro, eu tenho certeza disso. Ela realmente tem sentimentos por mim, sempre teve. Eu que me aproveitei deles até descobrir a brecha no contrato. Aquele velho caduco era quem queria que eu me casasse com a Ga Yeong, mas essa não era a minha vontade.
Kyung Soo nunca havia caído de amores por seu pai. A relação entre os dois sempre fora conturbada e ele sempre teve um apego especial pela filha da empregada. Era como se a considerasse melhor do que seu próprio filho. No fundo, acreditava que esse desapego era por Kyung Soo ser adotado. Era comum ao dois homens da família Hwa trocarem farpas por conta das diferenças de pensamentos, e sendo uma pessoa de personalidade forte, Kyung Soo sempre se vingava tentando trazer prejuízos à imagem do pai. Um filho inconsequente, rebelde, mal criado. Era como se tentasse atacar ao pai com isso, mas a consequência foi ter manchado sua própria imagem no processo.
A única que realmente considerava o rapaz era sua mãe, An Na, que sempre o tratou com um apego especial. Constantemente, Kyung Soo era o motivo principal das discussões entre seus pais adotivos. Enquanto Hae Myung o considerava inadequado para assumir sua posição quando se aposentasse, An Na sempre o apoiara incondicionalmente. Para o rapaz, sua mãe foi a única com quem realmente pôde contar, inclusive tendo sido a única que o apoiou e acreditou que conseguiria administrar bem sua agência de publicidade, algo que havia construído para mostrar que era capaz de ser bem sucedido sem a ajuda de seu pai, ao contrário do que Hae Myung cismava em lhe dizer.
E como forma de reconhecimento pelo trabalho duro de Kyung Soo, seu pai havia feito uma grande chacota quanto ao seu testamento. Era incrível como até depois de morto aquele velhote conseguia ser irritante. Nunca imaginaria que o mesmo teria deixado um testamento exigindo que se casasse com a filha da empregada, a garota gorda e feia que sempre havia sido apaixonada por ele. Era como uma piada de mau gosto, um pegadinha mal feita, mas estava ali, passado no papel, timbrado. Por sorte, um livramento do destino, uma brecha nas cláusulas do testamento permitia que o rapaz tivesse mais liberdade em escolher com quem queria se casar, mas ainda assim parecia tão injusto aos olhos do rapaz a forma como o homem que mais deveria admirar o havia tratado.
Agora, talvez como um castigo por todos os seus pecados, se viu sendo enganado pela última pessoa que imaginaria que lhe passaria a perna. Ga Yeong havia surgido em sua frente com um novo rosto e uma nova identidade, decidida à tê-lo de qualquer maneira. Alheia sobre o testamento, sabia bem que o único motivo da garota só poderia ter sido porque nutria sentimentos pelo mesmo. Isso explicava tudo, explicava o porquê era tão confuso lê-la, tão confuso a maneira como a mesma simplesmente se derretia em sua presença, mas era cautelosa quando se aproximava.
– “Não era” no passado, não é? Mas agora você a quer... – Han Na cerrou os lábios com raiva. – Você está correndo atrás dela como um cachorrinho.
Kyung Soo a encarou, pronto para retrucar, mas as palavras se perderam em sua mente. Ela não estava errada, realmente existia uma atração por Ga Yeong. Não soube dizer se ela havia mudado além da aparência ou se nunca houvera reparado de fato na mulher com atenção. Ga Yeong havia sim se tornado uma mulher estonteante, muito diferente da garota desengonçada e desprovida de beleza que havia crescido debaixo de seu teto, mas também havia se mostrado uma mulher inteligente, competente, amável e com um charme inocente que só competia à ela, e isso o atraía de uma forma que nunca se imaginaria enfeitiçado pela mesma. Era como se apenas a presença da mulher fosse um castigo por nunca ter reparado no que jogou fora.
– Você está delirando. – Respondeu, esquivando-se da pergunta.
– Você gosta dela, não gosta? Está apaixonado por ela! – Han Na questionou, dessa vez sendo mais insistente.
Kyung Soo não sabia dizer, entretanto, se gostava da mulher dessa forma. Não podia negar que existia desejo, mas será que esse desejo poderia ser comparado ao amor. O rapaz nunca havia se apaixonado alguma vez por alguém, nunca se permitiu experimentar tais sentimentos, mas não podia negar como agia de maneira fora do habitual com Ga Yeong. Quando estava com a mesma, sentia a necessidade de protegê-la, de estar ao lado da mesma. Quer dizer, quando alguma vez na vida se sujeitaria a levar alguém à uma ilha no fim do mundo apenas para não deixar a pessoa desamparada? Isso não fazia o jeito do rapaz, principalmente se não ganhasse algo em troca. Será que poderia dizer que estava apaixonado pela garota que sempre desprezou?
– Aonde você vai? – Han Na perguntou, vendo o rapaz se livrar das roupas assim que entrou no quarto do casal. O mesmo separou algumas roupas sociais e as colocou sobre a cama, vestindo peça por peça. – Você vai se encontrar com ela? – A mulher pareceu angustiada, não soube dizer se por conta da falta de resposta sobre os seus sentimentos ou pela possibilidade do homem ir atrás de Ga Yeong. – Kyung Soo!
– Eu vou trabalhar! – O rapaz levantou a voz pela primeira vez. – Ao contrário de você, eu sou compromissado com o meu trabalho, independente de ser o chefe ou não. – Alfinetou. – Não vou manchar minha imagem por causa das suas paranoias.
Logo que terminou de trocar as roupas, o rapaz apenas caçou suas chaves do carro e saiu do apartamento de maneira tão intensa quanto havia aparecido, deixando Han Na para trás. A mulher apenas pôde deixar escapar um grito frustrado e enfurecido pela indiferença de seu noivo. Se fosse atrás do mesmo, apenas poderia deixar as coisas piores e expor os problemas pelos quais estavam passando para os seus vizinhos, mas pior do que isso, se sentia angustiada pelo rapaz ter sido esquivo quanto às suas perguntas. A desconfiança sobre os reais sentimentos de Kyung Soo sobre a maldita estagiária deixavam Han Na receosa, não apenas pelo risco de ser jogada para escanteio e não conseguir concluir seu plano de se enriquecer às custas do rapaz, mas também porque, para seu espanto, não queria que o mesmo ficasse com ela.
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Seung Ja se sentia culpada por deixar Joon Young em casa depois da conversa que tiveram e voltar para o trabalho. Não que houvesse acontecido algo que precisasse de sua presença imediata no local, mas precisava de um tempo para si para digerir toda aquela onda de informações que haviam surgido de repente e o trabalho sempre fora para si um lugar de refúgio, um lugar que pertencia somente à ela e que poderia rearranjar todos os seus pensamentos. Descobrir a forma que seu filho – ou melhor, sua filha – se sentia havia gerado um grande baque em si. Parte desse baque era pela surpresa em saber que Joon Young não se via como um homem, e sim como uma mulher; a outra parte era porque, mesmo estando debaixo de seu nariz, Seung Ja nunca havia percebido nada. Novamente se sentia uma péssima mãe por nunca ter percebido o sofrimento e o conflito que Joon Young estava passando.
E ainda havia seus próprios conflitos internos sobre como ela mesma via Joon Young. Não era fácil para Seung Ja aceitar que seu filho não se via como um homem. Por mais que tivesse muito conhecimento sobre diversos assuntos, era mais fácil se acostumar com a ideia de que o filho de outra pessoa fosse uma pessoa trans do que seu próprio filho – isso é, se Joon Young pudesse ser encaixado nessa coisa toda de transexual e afins. Ela não tinha como “diagnosticar” ou definir o que seu filho era, mas desejava profundamente que essa angústia que sentia sobre o rapaz se dissipasse com o tempo. Apesar do problema que havia em suas mãos, de certa forma agradecia aos céus por essa situação ter proporcionado-lhe a oportunidade de poder se conectar ao garoto. No final, independente do que Joon Young era, ela ainda desejava que ela e o rapaz – ou melhor, a garota – pudessem ter o relacionamento de mãe e filho que sempre desejara ter.
Suspirou um pouco mais aliviada ao ver a mensagem de Seung Ri no celular sobre estar cuidando do vídeo e da parte dos advogados, logo o vídeo de seu filho seria apagado das redes sociais e os advogados estariam entrando com um processo de reparação pelos danos causados por seus agressores. Iria fazer justiça por Joon Young, finalmente. Ouviu algumas batidas na porta e logo depois o ranger baixo da mesma se abrindo. Por entre as portas surgiu seu assistente, Ji Soo. Por conta de todos os eventos de mais cedo, havia se esquecido por um momento do rapaz à sua frente. Por mais que houvessem conversado sobre a relação dos dois e o aconselhado a se resolver com sua esposa, ainda se sentia um pouco estranha na presença do mesmo.
Lidar com o fato de que havia se relacionado com um homem casado havia a deixado bastante incomodada. Já havia estado no papel da mulher traída muitas vezes, até mais do que gostaria de contar, por isso quando esteve no papel da amante se sentiu imensuravelmente culpada, por mais que não houvesse percebido que Ji Soo carregasse uma aliança em seu dedo. Entretanto, percebeu que aquela culpa não cabia somente à ela. Talvez até mais amargurado do que Seung Ja, Ji Soo também se sentia tão culpado pela traição e carregava muitos conflitos sobre seu casamento e seu papel em sua família. Pelo rapaz sempre ter se colocado como um ouvinte para os seus lamentos, quis ser para Ji Soo o ombro que o mesmo precisava e aconselhá-lo da melhor maneira que podia. Apesar de terem colocado um ponto final no caso em que mantinham, ainda assim, não tinha como ignorar que ainda se encontrariam no trabalho, o que acabava os colocando em uma posição constrangedora.
Entretanto, o homem não parecia ter vindo cumprir qualquer tarefa de trabalho. Parecia até um tanto ansioso e não trazia o seu tablet, como fazia habitualmente. Ao invés disso, tinha um pequeno pedaço de papel em mãos. Ji Soo sequer precisou se aproximar e entregar a carta para que Seung Ja percebesse o que era aquilo em suas mãos. A mulher arregalou os olhos, surpresa pela atitude do rapaz.
– Você veio pedir demissão? – Seung Ja franziu o cenho.
– Sim... – Apesar da afirmação, sentiu um tom incerto na voz do rapaz.
– Você realmente quer se demitir? – Seung Ja o questionou – Se está fazendo isso por impulso...
– A minha esposa descobriu que eu estava tendo um caso... Eu não sei dizer como, mas... Ela apenas descobriu isso antes que eu pudesse conversar com ela. – Ji Soo revelou. – Eu, sinceramente, não queria me demitir. Não por causa de “nós”, mas porque eu não sei se eu vou conseguir um trabalho em outro lugar onde eu possa suprir todas as necessidades da minha família... E eu estou numa encruzilhada...
Seung Ja havia entendido o ponto do rapaz e o porquê queria se demitir. Provavelmente Ji Soo tinha uma preocupação de que se continuasse a trabalhar no mesmo lugar, isso poderia destruir seu casamento. De fato, o rapaz estava em uma encruzilhada.
– A minha esposa está convencida de que eu posso segurar as pontas trabalhando no restaurante do irmão dela, mas não é a mesma coisa... Não é algo estável. – O rapaz suspirou, fitando a carta em suas mãos. – Eu não quero trazer prejuízos pra minha família deixando esse emprego, mas ao mesmo tempo eu sei que se eu não sair daqui, a Mi Nah vai acabar me deixando.
– Você já tentou conversar com ela, falar que se ela desse algum tempo para você procurar outros trabalhos seria melhor. – Seung Ja se mordeu a unha de seu dedão, pensativa.
– Eu já tentei de tudo, ela está irredutível sobre isso. – Confessou, derrotado. – Ela quer que eu me afaste de você o mais rápido possível.
– Eu não culpo o pensamento dela... – Seung Ja se solidarizou pela mulher, mesmo sem a conhecer. Entendia o sentimento que a mesma tinha. Começou a caminhar de um lado para o outro pelo cômodo, pensando em como poderia ajudar Ji Soo com aquela questão. Como se uma luz tivesse surgido em sua cabeça, a mesma estendeu a mão em direção ao rapaz. – Me dê sua carta.
Ji Soo a fitou com os olhos arregalados. Não esperava que a mulher fosse aceitar de tão boa vontade sua carta de demissão, ainda mais depois de contar como se sentia inseguro sobre essa decisão. Ainda assim, entregou a carta com certo receio, vendo a mulher logo em seguida a rasgar em pedaços e jogá-la no lixo. Pegou um papel em branco e escreveu uma nova carta à mão, usando seu carimbo para confirmar que havia sido a mesma quem a escreveu e a dobrou sem muito cuidado, entregando-a ao rapaz. Ji Soo franziu o cenho, sem entender sua intenção.
– Talvez seja uma mudança abrupta demais, mas se estiver disposto à isso, você poderá ficar despreocupado sobre conseguir sustentar a sua família. – Seung Ja falou com um pequeno sorriso acolhedor. – Pense bem no assunto e se escolher aceitar a proposta, só entregue essa carta e o formulário para a administração. Com a minha recomendação, você não vai ter que se preocupar com outras coisas.
Ji Soo ficou pensativo sobre a proposta de Seung Ja durante todo o expediente. Assim que abriu a carta que sua chefe escrevera, ficou bastante surpreso sobre o que se tratava o assunto. Ji Soo nunca havia pensado naquela opção, na verdade nunca havia se sentido realmente apto para tal oportunidade e tinha suas inseguranças sobre o assunto. Enquanto lia e relia a carta por seguidas vezes, se questionava se deveria tentar seguir por aquele novo caminho que se abrira à sua frente ou deveria apenas desistir e se demitir da IT Tecnology.
Capítulo XXV
A terça-feira amanheceu com uma leve neblina e um clima mais frio para um começo de verão. Apesar de ter acompanhado a previsão do tempo e ouvido que as chances de chuva eram um pouco altas, Ga Yeong não se incomodou em colocar um guarda-chuva na grande mochila que raramente usava enquanto se arrumava para ir à agência. Talvez em seu inconsciente já esperasse por um desfecho dramático em sua visita à empresa de Kyung Soo. Seu expediente começava somente à tarde e apesar de ter aula na parte da manhã, decidiu se dar uma folga dos estudos naquele dia. Precisava concentrar toda a sua energia para o que poderia vir naquele momento. A realidade era que Ga Yeong se sentia ansiosa e assustada, não sabia qual poderia ser a reação de Kyung Soo. Havia mentido sobre quem era e mesmo quando havia decido contar a verdade, as circunstâncias a levaram a “empurrar com a barriga” aquele momento até que o mesmo acabou descobrindo tudo por si próprio.
Não julgaria Kyung Soo se o mesmo tivesse raiva, se a expulsasse de sua empresa ou pedisse uma medida restritiva contra si, alegando que era uma louca desvairada, afinal, nenhuma pessoa normal mudaria tanta coisa em si mesma apenas para se reaproximar de um ex-namorado – ou qualquer coisa que eles fossem um para o outro – seja para o bem ou para o mal. Ainda assim, esperava que o homem apenas desse uma chance para que dissesse tudo, para que pudesse explicar o quanto havia se sentido abandonada e magoada pelo o que havia acontecido entre os dois, o que a levou a tais ações e também para que pudesse esclarecer aquele estranho vínculo que conectava um ao outro que só teve conhecimento no fim da tarde do dia anterior, quando sua madrinha revelou a verdade sobre sua paternidade.
Na viagem de volta para Seul, Ga Yeong havia gastado todo o tempo do trajeto tentando entender como toda aquela história confusa havia se desenrolado. Segundo sua madrinha, ela era a filha de Hwa Hae Myung, o ex-patrão de sua mãe, pai adotivo de Kyung Soo, um homem casado, mas que sempre demonstrou um grande apreço por si. Todo aquele tempo ele sabia que ela era sua filha e nunca, em nenhum momento, havia assumido a responsabilidade por ela. Perguntou-se como poderia ter sido tão ingênua quando os sinais estavam tão claros à sua frente. A quantia exorbitante em sua conta poupança, aquele apreço incomum entre o chefe e a filha da empregada, tanta generosidade para pagar seus estudos, não lhe deixar faltar qualquer recurso por mais que não fosse obrigado a tal. Em todas aquelas ações havia uma motivação oculta e não havia sido por causa do “bom coração” que cismava que aquelas pessoas tinham.
Ga Yeong riria se não fosse tão trágico, só de se lembrar de tantas coisas pelas quais passara e ouvira por nunca ter tido o nome de seu pai em sua certidão de nascimento, todos os natais e os dias dos pais sem a presença de uma figura paterna em tais eventos a faziam ferver por dentro, uma raiva tão grande que não cabia em si e ao mesmo tempo uma grande tristeza a assolava enquanto pensava consigo mesma como aquele cenário poderia ser diferente se aquele homem houvesse, por um acaso, a reconhecido como filha, tal como deveria ser. Não queria pensar nas riquezas que viriam com isso, mas apenas naquele modelo de família perfeita que se via nos dramas e nas propagandas: um pai, uma mãe e seus filhos felizes e reunidos em torno de uma mesa abastecida para o jantar.
Grande piada. Em vez disso, a única que realmente estivera ao seu lado, sendo pai e mãe ao mesmo tempo, a educando e a ensinando a ser uma pessoa digna fora sua mãe, enquanto seu progenitor – cujo qual se recusava a reconhecer como pai, assim como o mesmo havia recusado em reconhecê-la como filha – apenas brincava de família feliz enganando sua esposa e seu filho, o único que havia reconhecido, e ironicamente os dois sequer compartilhavam o mesmo sangue. Como o mesmo havia se sentido quando sua mãe faleceu? Tantos anos vivendo sob o mesmo teto, será que em algum momento ele realmente haveria amado sua mãe o suficiente para querer o seu bem? Para sentir sua falta depois que se foi? Ou apenas quis tê-la como uma espécie de troféu? Uma aquisição esdrúxula num harém? Mesmo que sua madrinha houvesse confirmado que o mesmo havia sim amado sua mãe, não conseguia traduzir suas ações como um sentimento genuíno de afeto, afinal, se realmente a amasse, não a reduziria a uma amante, uma empregada de sua esposa.
Ga Yeong suspirou, tentando controlar aquele bombardeio de pensamentos acelerados enquanto terminava de afivelar o cinto. Usava uma calça jeans escura e simples e uma camisa de botões num tom azul acinzentado. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo baixo, discreto, não havia se empenhado muito para se arrumar naquele dia. Apenas se vestiu apropriadamente para o trabalho e de maneira confortável para voltar com suas coisas ainda naquele dia. Tinha um bom senso, apesar de suas ideias um tanto desmioladas. No momento em que colocasse os pés na empresa de Kyung Soo, apenas aceitaria seu julgamento, mesmo que isso significasse estar no olho da rua.
– Você já está saindo? – Uma voz sonolenta se sobressaiu sobre o bolo de lençóis. Os fios negros e emaranhados surgiram entre os travesseiros apenas para encarar Ga Yeong. So Ra coçou os olhos, despertando lentamente. Havia retornado de Jeju com Ga Yeong a fim de lhe prestar apoio. Era mais do que visível que a descoberta da noite passada e a morte de sua irmã estavam a destruindo por dentro, mas ainda assim, a garota ainda persistia como se nada a dobrasse. – Você realmente precisa ir hoje?
– Eu já faltei ontem, não posso faltar hoje. – Ga Yeong respondeu. Apesar do olhar pidonho da melhor amiga, a garota parecia firme com a ideia de resolver todos os problemas pendentes. So Ra conhecia sua amiga bem o suficiente para saber que sua ida à agência não se tratava de querer manter sua postura profissional, mas sim porque queria colocar todas as cartas na mesa com Kyung Soo. Fosse qual fosse a verdade que o rapaz conhecia, a garota iria dizer tudo o que sabia, sem ocultar nada. Estava esgotada de tanto que havia mantido as mentiras sobre sua verdadeira identidade e agora queria ser clara sobre tudo, desde seus sentimentos até sobre ser filha de seu pai adotivo – Eu não devo demorar, apenas... Quero finalizar essa questão.
– Ga Yeong, sabe bem que eu sempre te apoio até nas roubadas, mas estou preocupada que esse não seja o melhor momento... Você está passando por tanta coisa, ninguém vai te julgar se você der um tempo pra você... – So Ra sentou-se na cama, um pouco mais desperta. Olhou para a amiga que agora colocava um blazer sobre a camisa que usava. – Não quero te ver pior do que já está.
Em resposta a mulher, Ga Yeong sentou-se na beirada da cama, segurando as mãos da amiga entre as suas com um sorriso sem muita emoção. Era grata por ter a preocupação de So Ra e o afeto da mesma. Sabia que sempre poderia contar com a mulher nos bons e nos maus momentos, ela sempre se importaria e se preocuparia genuinamente consigo, até mesmo se sacrificaria se fosse necessário. Era por isso que queria mostrar que estava forte o suficiente para receber qualquer impacto.
– Eu vou ficar bem... Eu sempre fico... – Dito isso, apenas se afastou e colocou os sapatos, partindo para a empresa.
Ga Yeong desejou que o caminho fosse mais longo naquele dia, daria tempo o suficiente para se arrepender de sua escolha se pensasse bem. Queria que o ônibus quebrasse, que surgisse alguma obra repentina no meio do caminho, que o prédio houvesse sido interditado por conta de uma infestação de pragas, qualquer coisa que a impedisse de seguir seu caminho e que lhe desse uma desculpa plausível para desistir da ideia. Entretanto, como se o universo conspirasse contra seus desejos, o ônibus apareceu logo que chegou ao ponto, o trajeto havia tido poucas paradas e o prédio mais imponente de toda Seul continuava de portas abertas e funcionando como sempre, a todo vapor. Diversas pessoas entravam e saíam pelas portas giratórias, uma atrás da outra, seguindo a vida normalmente, mesmo com a leve garoa que caía naquele momento. Ga Yeong suspirou, apertando as alças da mochila que trazia consigo e entrando no prédio.
A primeira pessoa a lhe saudar havia sido Min Ji, mas por detrás do sorriso bem humorado estava escancarado o escárnio ao se deparar com a estagiária que havia faltado ao trabalho sem avisar. Por um momento, Ga Yeong havia se esquecido de sua supervisora e de como a mesma ficaria feliz em lhe dar broncas e descontar alguns dígitos de sua bolsa-salário, independente de seu bom desempenho no trabalho. Min Ji nunca havia escondido de ninguém que não era sua fã e frequentemente a sabotava, lhe delegando trabalhos inúteis ou então atribuindo tarefas de última hora para que pudesse apontar aos outros o quão irresponsável era. Não duvidaria que se aquele fosse ser seu último dia na empresa, a mesma ajudaria de prontidão a limpar sua mesa.
– Ora, ora... A princesa resolveu dar caras depois de faltar ao trabalho sem justificativa. – Min Ji estalou a língua, cruzando os braços sobre o peito. – Decidiu tirar férias? Ou então, melhor, resolveu encher a cara e ficou curtindo a ressaca em casa?
A mulher destilava seu veneno sobre a estagiária, falando em bom tom para que o restante da equipe ouvisse a conversa. Estava bem claro que a intenção de Min Ji era humilhar a garota com aquele sermão desproporcional ao seu erro. Desde que havia sido contratada até aquele momento, Ga Yeong sequer havia faltado um único dia de serviço e até mesmo havia trabalhado em seus dias de folga por conta de alguns projetos lançados de última hora. Uma única falta, ainda mais por um motivo tão compreensível, não a colocava como uma boa profissional.
– Eu tive meus motivos para faltar ontem... – Ga Yeong se pronunciou, mantendo-se firme apesar do bolo de emoções que tentava reprimir.
– Eu tenho certeza que teve. – Min Ji exibiu um sorriso cínico, diminuindo o tom ao se aproximar sorrateiramente da mesma. – Talvez tentando seduzir o chefe, um homem comprometido... Eu não me surpreenderia.
Ga Yeong a olhou com surpresa, se questionando se em algum momento havia deixado escapar algo sobre o seu plano de vingança ou se havia deixado transparecer sua relação com Kyung Soo. Se fosse por aquele motivo que Min Ji a tratava tão mal desde que havia ingressado na agência, poderia até compreender o porquê ela insistia tanto em prejudica-la, mesmo que não tivesse qualquer tipo de vínculo com Kyung Soo. Min Ji era, antes de tudo, melhor amiga da noiva do rapaz. Assim como ficaria com raiva se algum homem traísse So Ra, era bem capaz que Min Ji houvesse ficado com raiva da mesma por ser uma amante do noivo de Han Na. Como havia sido pega de surpresa, sequer teve tempo para pensar em explicações, afinal como falaria para sua supervisora, na frente de toda a equipe que apesar das suas intenções nunca havia seduzido o chefe?
Antes mesmo que pudesse elaborar algo, uma figura imponente se postou ao lado das duas, atraindo a atenção de todos. Os funcionários se colocaram de pé frente ao sujeito que era o tema daquela conversa. Kyung Soo tinha uma cara de poucos amigos, exatamente o tipo de expressão que predizia que aconteceria algo não muito agradável.
– E isso seria da sua conta por qual motivo? – Min Ji se reiterou frente ao questionamento do homem, o sorriso murchando tão rapidamente como se nunca houvesse estado em seu rosto.
– B-bom... Porque a estagiária faltou sem uma justificativa plausível. – A mulher tropeçou nas palavras, a confiança de minutos atrás se esvaindo ao vento. – A-ainda mais com entrega do projeto tão próximo e com a data tão apertada...
– Acredito que a presença dela não fosse tão importante, visto que as funções que você delega a ela não são realmente significantes. – Os lábios de Min Ji se entreabriram frente a surpresa, assim como a reação do restante da equipe frente às palavras de defesa sobre a estagiária. Tornando sua atenção para Ga Yeong, que se via no meio de uma situação inusitada, o rapaz indicou o caminho para a sua sala. – Creio que temos assuntos para colocar em dia... A sós...
O olhar de Kyung Soo queimava sobre si, mas diferente daquele desejo que via desde que haviam se reencontrado alguns meses depois do trágico rompimento, havia em seus olhos um misto de emoções conflituosas que ela mesma não conseguia identificar. O olhar tão intenso do outro a fez se arrepiar, como um animal que pressente o perigo logo a espreita. Desviou os olhos, não conseguia sustenta-lo, talvez por temor ou por vergonha, ela mesma não sabia dizer quais emoções a deixavam naquele estado. Apenas assentiu com a cabeça, seguindo a instrução silenciosa do mesmo. Antes que deixassem o departamento, Min Ji se aproximou dos dois visivelmente indignada pelo tratamento diferenciado do chefe quanto a sua pessoa e a estagiária.
– Senhor Hwa! – Antes que falasse algo mais, Kyung Soo virou-se para a mulher, interrompendo qualquer que fosse as suas intenções.
– Talvez eu tenha lhe dado um impressão errada por deixa-la sobreviver nessa agência por tanto tempo, então serei mais claro agora. – O tom cortante e baixo, apenas para que a mulher o ouvisse a causou calafrios. – EU sou o chefe e eu não preciso de uma babá. O que faço e com quem falo só é do MEU interesse, não é seu e nem de Han Na.
Min Ji piscou algumas vezes, aquela ameaça havia sido bastante clara sobre a sua intromissão nos assuntos particulares de Kyung Soo e não precisava de mais palavras para entender que seu pescoço estaria na reta caso continuasse daquele modo. Observou os dois se afastarem pelos corredores até sumirem de vista dentro da sala fechada do CEO. Assim que se virou para encarar seus colegas, encontrou olhares tão surpresos quanto os dela, talvez pelas atitudes do homem em defender a estagiária ou então pela forma como a supervisora tirânica foi reduzida a quase nada, como um inseto se beneficiando do esforço dos outros. Ouviu os teclar frenético dos teclados segundos depois, provavelmente de seus colegas falando sobre a cena de momentos atrás pelas suas costas em salas de bate-papo, como se fosse a fofoca mais quente do momento.
Sentia-se envergonhada pela humilhação que havia sofrido na frente de seus subordinados, sendo repreendida por conta de uma estagiariazinha qualquer. Apesar do aviso de Kyung Soo sobre não se intrometer mais em seus assuntos, queria mostrar que ainda estava por cima, que era superior, independente das ordens do CEO. Pegou seu celular, entrando em uma das conversas em suas redes sociais. Por um minuto cogitou se deveria fazê-lo, afinal, será que Kyung Soo realmente a demitiria se continuasse relatando seus movimentos na empresa como sempre fazia para Han Na? Se o fizesse, será que Han Na iria protege-la e ajuda-la a se manter na agência? Releu a última mensagem que havia sido enviada no dia anterior, pouco antes de Kyung Soo aparecer algumas horas atrasado. “Avise-me se aquela garota aparecer na agência”.
Apesar do temor, Min Ji umedeceu os lábios e escreveu algumas palavras: “Cha Se Young está aqui” e a enviou. Tão logo a mensagem foi enviada, logo foi visualizada. Segundos depois a resposta veio quase automaticamente, fazendo o coração da mulher falhar uma batida:
“Estou indo aí”.
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Ji Soo não conseguiu dormir na noite anterior e o motivo não era pelo sofá ser desconfortável. Havia pensado a noite inteira sobre a proposta de Seung Ja e em como isso implicaria em sua vida. Seria uma mudança radical e não sabia se sua esposa conseguiria se adaptar bem a isso, não sabia nem se ele mesmo conseguiria se adaptar. Precisaria abrir mão de muitas coisas, se afastar de pessoas importantes, seus pais, assim como Mi Nah não poderia manter o contato como sempre fazia com sua família. Além disso, teriam que aprender a viver sob uma cultura diferente, uma rotina diferente, novos trajetos, novos rostos, nova língua. Honestamente, por mais que tivesse anos de empresa e tivesse um segundo idioma avançado, não acreditava que tinha habilidade o suficiente para tentar aquela vaga.
Mas Seung Ja não o indicaria apenas porque tinha um apreço pelo mesmo, certo? Poderia ser que ela via nele um potencial que ele mesmo desconhecia? Ouviu o telefone tocar e tateou o chão a procura do aparelho. Visualizou a tela, havia uma mensagem de seu supervisor avisando que havia justificado sua falta. Provavelmente Seung Ja havia mexido alguns pauzinhos para que o mesmo não fosse cobrado pela sua ausência. Ainda não havia se decidido sobre aquela questão e não queria se apresentar na empresa sem resolver o que faria primeiro. Apesar de arriscado, era uma oportunidade que muitos aceitariam de olhos fechados, e sua filha sendo ainda tão pequena provavelmente não teria problemas para se adaptar à nova realidade. Haviam ali muitos prós e contras e mesmo assim, ainda titubeava em se decidir.
– Você pediu demissão? – Ji Soo olhou para cima, encontrando o rosto de Mi Nah sobre o seu. – Você parece pensativo... Está pensando nas nossas economias?
– Eu não pedi demissão. – Ji Soo foi honesto. – E estou pensando em mais coisas além das nossas economias.
– Eu pensei que a única coisa que o preocupava era acabarmos nos endividando.
– Isso também me preocupa. – O rapaz sentou-se no sofá, abrindo espaço para que a mulher sentasse ao seu lado. Apesar do sofá ter apenas dois lugares, Mi Nah sentou-se distante do homem, evitando contato. Mesmo que houvesse dito que o perdoaria se saísse da empresa, ainda se sentia profundamente magoada com a traição.
– Porque não pediu demissão? – Mi Nah o encarou, incisiva. O homem pegou o papel em cima da mesinha de centro, tirando de dentro do envelope o conteúdo. Era uma carta de recomendação, escrita à mão pela diretora executiva da empresa, para uma vaga de trabalho na nova filial nos Estados Unidos.
– Porque apareceu uma oportunidade melhor. – O rapaz revelou, deixando que a mulher lesse o conteúdo da carta. – Um salário maior com vários benefícios, um fundo escolar pra nossa filha, auxilio com moradia, saúde... Mas é no exterior...
– Mas a gente tem uma vida aqui... – Mi Nah o olhou, entendendo o ponto. Era uma brusca mudança de vida e ela mesma não sabia como viveria em um país tão diferente do seu. Não falava uma palavra de inglês e prezava demais sua família.
– Eu sei... É o que me deixa com o pé atrás... Mas é a melhor solução pra nós dois. – Ji Soo foi certeiro. A relação entre ambos estava abalada, era fato, mas o erro de Ji Soo e os pensamentos inconsequentes de Mi Nah não deveriam leva-los a uma situação ainda pior. Não queria prejudicar a família desistindo de uma renda estável para se aventurar num negócio que poderia não render bem regularmente, ao mesmo tempo em que se questionava se mudar para o exterior era a melhor opção. – Mi Nah, eu não posso decidir sobre isso sem você... A gente precisa decidir isso.
O rapaz estendeu a mão, tomando a mão da esposa entre as suas. Pela primeira vez em tanto tempo, a mulher não rejeitou o toque do mesmo. Sentia os sentimentos conflitantes que o marido tentava reprimir, o quanto tentava ajeitar as coisas e consertar os próprios erros.
– Eu devo aceitar esse emprego?
Capítulo XXVI
Ga Yeong se sentia encurralada, como um rato fugindo do gato e que não encontrava nenhuma rota de escape em seu trajeto. As palavras sumiam de sua mente, todo o discurso que ensaiara e reensaiara até ali parecia ter evaporado assim que se viu a sós com Kyung Soo. Chegava a ser irônico a forma como pensou que iria acontecer aquele momento, como se fosse ser a primeira a dizer tudo sem qualquer resistência do homem à sua frente e depois ouvir qualquer xingamento e suportar tudo. E na realidade, estava ali, esperando que o primeiro passo viesse dele, afinal, não sabia nem ao menos o que diria. Não conseguia sequer fitar o rosto do homem que sempre admirou e amou, talvez por vergonha ou arrependimento, um misto dos dois sentimentos, e ainda por cima, por conta do fato de ser a filha bastarda do pai adotivo do mesmo, sentia-se ainda mais acuada em sua presença.
– Eu sabia que apareceria em algum momento, mas não imaginei que seria mais cedo do que eu esperava. – Kyung Soo começou, visto que a garota não diria nada se ele mesmo não falasse. – Acredito que podemos pular todo a introdução e pularmos direto para o assunto principal, é menos incomodo.
– Eu achei que me insultaria ou que fosse colocar seguranças para barrar minha entrada. – Ga Yeong confessou. De certa maneira, era parte de seu desejo, assim teria uma desculpa perfeita para não precisar confrontar a fera. Ainda assim, precisava dizer tudo, não se sentiria em paz se não o fizesse. – Não o julgaria se me chamasse de louca.
– Eu certamente o faria, mas se veio aqui mesmo sabendo o que poderia enfrentar, é porque existe mais coisas que precisamos discutir. – O rapaz era bastante perspicaz, Ga Yeong não pode deixar de reconhecer. – Pois bem, eu estou ouvindo, apenas fale.
A garota piscou algumas vezes frente a postura do Kyung Soo. Não era como se o mesmo a acolhesse, mas esperava ao menos que gritasse ou a intimidasse. Ao contrário disso, ele apenas esperava pelas suas justificativas, provavelmente com o ego ferido por ter sido enganado, mas ainda assim com um leve brilho por trás das orbes negras que levou algum tempo para entender o que significava. Expectativa. Ele esperava algo dela, esperava a confirmação de seus pensamentos, algo que ela não sabia o que poderia ser. Sentiu as mãos tremerem com a ansiedade, mordendo o lábio inferior.
– Eu ia dizer a verdade no jantar, eu ia revelar quem eu era... As coisas apenas aconteceram e eu não consegui dizer...
– Você mentiu durante meses, se passando por alguém que você não era e simplesmente diz que iria me falar tudo coincidentemente no dia em que eu descobri por mim mesmo... – O rapaz deixou um sorriso incrédulo surgir nos lábios. – Espera mesmo que eu acredite?
– Eu apenas vim dizer tudo o que eu fiz, eu não vim implorar pelas suas desculpas porque sei que o que eu fiz é injustificável... Mas eu estava com tanta raiva e eu ainda era...
– Apaixonada por mim? – Kyung Soo completou seus pensamentos, atraindo o olhar da garota. – Por isso fingiu ser outra pessoa?
Novamente viu expectativa em seus olhos, aquele brilho de esperança, como se quisesse saber até onde iam seus sentimentos por ele.
– Sim... Foi por isso... – Admitiu. – No início, eu queria me reaproximar e conquista-lo, mesmo que eu precisasse me passar por outra pessoa. Eu queria mostrar que eu podia ser a pessoa certa pra você. Mas quando eu vi você seguir a sua vida... Com a Ahn Han Na... Eu senti tanta raiva que eu queria apenas vingança... Eu queria fazer você meu e abandoná-lo para que sentisse a dor que eu senti, mas eu não consegui.
A garota suspirou, fechando os olhos por um instante. Era difícil ser tão honesta sobre as coisas que havia feito, não se orgulhava disso e sentia que era uma pessoa horrível por ter se deixado levar por tanta maldade.
– Eu vivi isso aqui como se fosse... Real... Como se eu tivesse vindo aqui apenas porque eu queria ter a experiência de trabalhar com o que eu gosto, como se eu estivesse... Criando sentimentos por uma pessoa que eu “acabava de conhecer”... – Confessou. – Você foi bom comigo como nunca havia sido antes, foi gentil e amável como pensei que não fosse possível ser. E eu me senti em conflito porque eu entendi que esses sentimentos não eram pra mim, eram para uma farsa que eu criei... E eu já não sabia se eu sentia raiva ou tristeza. Na realidade, eu ainda nem sei o que eu sinto de verdade... E acabei deixando isso tomar proporções maiores do que planejei...
Kyung Soo se recostou em sua mesa, aquela avalanche de informações o atingindo como um soco no estômago. Ainda era difícil para o mesmo entender como pode simplesmente não perceber que Park Ga Yeong e Cha Se Young eram a mesma pessoa, era difícil aceitar que havia sido feito de idiota quando a verdade estava bem debaixo de seu nariz. Sequer havia desconfiado, mesmo quando se questionou o porquê de aquela garota à sua frente agia de maneira tão incomum em sua presença, quando via desejo em seus olhos e ao mesmo tempo uma estranha cautela em suas ações.
– Quando eu tentei colocar minha cabeça de volta nos planos e você disse como se sentia sobre mim, eu não pude seguir em frente com esse plano. Eu entendi que você não era culpado de nada... – A garota não pôde deixar de pensar nos últimos desejos de Hwa Hae Myung para Kyung Soo, que o rapaz se casasse com ela. – Na verdade, acho que você era a maior vítima nessa história maluca...
A percepção afiada do rapaz se fixou nas últimas palavras da mulher. Era como se ela falasse sobre algo além da pauta em questão.
– Como assim, a maior vítima? – Repetiu, franzindo o cenho.
Ga Yeong umedeceu os lábios secos pela ansiedade, não havia como voltar atrás naquele momento. Kyung Soo merecia saber tanto quanto ela.
– O Hwa Hae Myung... Era meu pai...
Os olhos de Kyung Soo se arregalaram diante da revelação. O homem que havia o adotado e o criado como filho havia tido uma filha bastarda com a empregada. Era como uma se o destino houvesse escrito uma péssima novela com reviravoltas toscas e o tivesse os colocado ali, como os personagens principais de uma trama decadente. Céus, fazia todo o sentido aquela condição absurda em seu testamento. Um casamento arranjado entre ele e a filha bastarda, a qual sempre prezou mais do que a ele. É claro, ela tinha o seu sangue, ele não, mas para poder entregar sua fortuna sem jogar seu nome na lama, não havia pensado duas vezes em usá-lo como uma peça em seu jogo, mesmo depois de morto. Era como uma piada sem graça e o alvo daquela chacota era Kyung Soo.
– Aquele velho maldito... – Sentia raiva, por se sentir tão usado e tão desprezado. Mesmo que não tivesse uma gota de seu sangue correndo por suas veias, como poderia um pai fazer algo tão nefasto com um filho? – Agora faz sentido aquele maldito testamento... – Pensou alto consigo mesmo, esquecendo-se por um momento que não estava sozinho.
– Que testamento? – Ga Yeong questionou. O rapaz desviou o olhar, praguejando internamente por ter deixado aquilo escapar. – Kyung Soo, que testamento é esse que você disse?
Tomado pelo olhar da mulher, não viu escapatória além de ser honesto. Era como se o jogo houvesse virado e ao invés de ser aquele que encurralava, agora havia sido encurralado.
– O testamento que dizia que eu tinha que casar com você. – Ga Yeong franziu o cenho diante da revelação, sentindo-se ferida. Não precisou de mais informações para juntar A e B.
– Então... Quando você se declarou pra mim quando eu ainda era... “Daquele jeito”... Era por causa da sua herança?
Diante do silêncio do homem à sua frente, não precisou duvidar daquela suposição. Deixou que uma lágrima lhe escapasse. Mesmo que soubesse que Kyung Soo nunca havia tido qualquer sentimentos por ela antes de ter se transformado na pessoa que era agora, não era isso que a machucava, mas sim o fato de que o rapaz apenas havia a notado por causa do dinheiro da família. Feria sua autoestima ser reduzida apenas a isso, um empecilho entre ele e a sua herança.
– Eu não te abandonei porque eu me apaixonei por outra pessoa, mas porque eu... Achei uma brecha nos termos do testamento... – Kyung Soo continuou, mas sentia o impulso de tentar explicar suas palavras. – Mas eu não menti sobre o resto...
– Isso é demais pra mim... – Deixou escapar como um sussurro.
A garota virou-se em seus calcanhares, sentindo as pernas e as mãos trêmulas diante de toda aquela avalanche de sentimentos. Não tinha mais estruturas para enfrentar tudo aquilo. Estendeu a mão para alcançar a maçaneta quando sentiu seu punho ser envolvido pela mão de Kyung Soo.
– Se Young... – Ouviu o nome daquela personagem que havia criado sair pelos lábios do rapaz. O mesmo balançou a cabeça, tentando dentro de si mesmo desfazer a confusão que sentia. – Não... Ga Yeong...
– Não se preocupe, eu não quero a sua herança. – Respondeu com repúdio, mesmo que o homem não houvesse tocado no assunto. Apenas queria sair daquela sala, daquela agência e fazer de conta que nunca haviam tido aquela discussão, que nunca havia tido aquela ideia estúpida sobre se aproximar de Kyung Soo. Tentou se desvencilhar do aperto firme do rapaz, mas o mesmo manteve seu pulso entre seus dedos.
– Eu não menti quando disse que sentia algo por você... Então me diga, por Deus, você ainda me ama? – A pergunta fez com que a garota parasse de resistir. Encarando orbes escuros que expressavam tamanha angústia, apenas pode dizer a verdade.
– Eu não sei. – Seus sentimentos pareciam turvos, em conflito pela imagem que tinha do Kyung Soo, rebelde e egoísta, pelo qual havia se apaixonado quando era uma adolescente e pelo homem à sua frente que havia mostrado uma gentileza que nunca julgara que o rapaz poderia ter.
– Então me deixe descobrir por conta própria...
Sentiu as mãos do rapaz envolverem seu rosto, os dedos se entrelaçando entre os fios que escapavam do rabo de cavalo. Em segundos, os lábios do homem estavam sobre os seus, movendo-se em um beijo sôfrego e desesperado, tentando confirmar seus sentimentos através daquele ato. Ga Yeong esperou sentir o coração acelerar, as borboletas no estômago, o arrepio subir-lhe pela espinha e explodir em sensações estranhamente prazerosas por seu corpo, mas ao contrário disso, não sentiu nada. Era como se o beijo fosse apenas uma junção de bocas em um movimento, sem qualquer despertar de uma forte emoção dentro de si. O homem que tanto desejou, que tanto amou, por tantos anos não a fazia mais se derreter em seus braços, não a fazia suspirar com seus beijos e nem a deixava ansiosa por mais uma dose.
Era aquela a confirmação de que não amava mais Kyung Soo.
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Min Ji mordia levemente a unha postiça quando viu o segundo elevador se abrir assim que as portas do primeiro elevador haviam acabado de se fechar. Han Na surgiu um tanto esbaforida, como se houvesse corrido uma maratona em poucos minutos, os cabelos um pouco molhados por ter sido pega de surpresa pela chuva que havia engrossado repentinamente. Assim que seus olhos pousaram na amiga, a primeira coisa que fez foi perguntar sobre a estagiária e o seu noivo. A garota era seus olhos e ouvidos dentro da agência e sempre a notificava sobre qualquer coisa relevante que acontecesse em sua ausência. Desde o dia anterior, por conta de sua discussão com Kyung Soo, havia ficado ainda mais em alerta sobre Cha Se Young – ou melhor, Park Ga Yeong, a mulher com quem Kyung Soo deveria ter se casado e que colocava em risco a sua relação com o rapaz. Havia pedido para sua amiga avisar-lhe imediatamente caso a mesma aparecesse, então assim que recebeu sua mensagem, apenas pegou o primeiro táxi que conseguiu e rumou direto para a agência.
– Onde eles estão? – Questionou, olhando discretamente para o corredor que levava à sala de Kyung Soo. De onde estava, os funcionários não tinham uma visão das duas mulheres, o que lhes permitia ter alguma privacidade.
– A Se Young foi embora. – Min Ji disse com um sorriso animado, atraindo o olhar confuso de Han Na. – Ela acabou de pegar o outro elevador. Se chegasse um segundo mais cedo, vocês teriam se esbarrado.
– Como? – Perguntou, parecia querer testar seus ouvidos para saber se havia escutado direito.
– Ela foi embora. Pegou todas as suas coisas, colocou na mochila e foi embora. – Min Ji explicou. – Eu não sei se foi demitida ou se ela mesma pediu demissão, mas o importante é que ela aparentemente não vai mais voltar.
– Não é possível... – Han Na estava incrédula e queria confirmar com seus próprios olhos.
Rumou sobre os saltou para o escritório, atraindo a atenção dos antigos colegas. Ignorou os burburinhos e as especulações do que poderia estar acontecendo para até mesmo a noiva do CEO estar presente naquele momento. Aproximou-se da mesa onde a estagiária trabalhava e a encontrou vazia, limpa, como se ninguém nunca houvesse a utilizado antes. Era como se Cha Se Young, ou qualquer que fosse o nome daquela mulher, fosse apenas um delírio coletivo, um fantasma que havia desaparecido sem deixar rastros.
Ouviu a porta do escritório do CEO se abrir e dali surgir Kyung Soo. Apesar da postura imponente, o conhecia bem o suficiente para ver o quanto se sentia derrotado. Seus olhos não a enganavam. O homem se aproximou, atraindo a atenção de todos como se assistissem à final de um campeonato.
– Ela realmente se foi? – A pergunta escapou pelos lábios da mulher como um fio de voz.
Sentiu a pernas fraquejarem diante da incerteza, o calor parecendo fugir à medida que suava frio. Sentiu uma pontada incômoda em seu baixo ventre e os dedos trêmulos procuraram um apoio de imediato. O homem apenas suspirou, o olhar distante e perdido em algum ponto do horizonte.
– Foi. – Confirmou com uma expressão impassível. – Do jeito que você queria...
Era a resposta que Han Na almejava para poder se sentir finalmente em paz, uma confirmação de que aquela pedra havia sido removida de seu caminho, mas ao invés de se sentir mais leve, apenas sentiu a pontada em seu baixo ventre vir mais forte, como se houvessem lhe esfaqueado no estômago. Apoiou-se nos braços de Kyung Soo que a segurou antes que suas pernas cedessem. Ouviu vozes ficarem cada vez mais distantes e sua visão rapidamente se escurecer à medida que perdia a consciência.
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Ga Yeong encarou o céu escuro. As nuvens despejavam uma chuva forte pelas ruas de Seul. Haviam pessoas transitando com pressa com seus guarda-chuvas em mãos e haviam alguns outros, um tanto azarados, que corriam para se abrigar em algum local. Suspirou, cansada, mas não lamentava por não ter trago seu guarda-chuva, aquele poderia ser um bom cenário para colocar para fora todas as lágrimas que esteve segurando até então. Mas porque não conseguia chorar?
De alguma forma, não lamentava pelo desfecho que teve com Kyung Soo. Na realidade, se sentia leve, livre, pelo menos em partes. Era como se houvesse posto um ponto final em uma história que nunca deveria ter começado, que se iniciou com uma paixonite adolescente de uma garota sofrida que havia se apegado à imagem de um homem perfeito. Era verdade que havia nutrido um sentimento de amor pelo mesmo, mas não era um sentimento por uma figura real. Só percebeu isso quando esteve diante do rapaz com um novo rosto, percebendo o quanto o homem de anos atrás havia a machucado tanto que quando o olhava novamente, agora sendo gentil e amável, a única coisa que conseguia se fazer era se sentir mais em dúvida sobre os seus próprios sentimentos em relação ao mesmo.
Aquele beijo havia sido apenas a confirmação disso, por mais que dentro de si mesma, tentasse lutar contra essa constatação. Havia precisado daquela confrontação para finalmente deixar aquele apego que tinha ao sentimento que havia construído por anos e anos e finalmente poder viver sua própria vida em função de si mesma. Entretanto, não podia dizer que estava totalmente bem com isso. Parte de si mesma ainda sentia a dor daquele rompimento e da dura realidade. Por mais que Kyung Soo a amasse agora, isso não significava que antigamente ele havia a amado alguma vez na vida. Na realidade, ela era para ele apenas o bilhete premiado para uma grande fortuna e duvidaria muito que seus sentimentos por ela mudariam se ela fossa a velha Ga Yeong que sempre foi. Era até ainda mais doloroso pensar que ela havia precisado mudar sua identidade pra finalmente ser amada por outra pessoa. Suspirou, percebendo que a chuva não daria uma trégua tão cedo.
– É hora de seguir em frente, Ga Yeong... – Disse para si mesma, talvez porque precisasse enfrentar a cascata que caía do céu ou por conta do desfecho daquela história.
Deu um passo para frente esperando que a água fria a atingisse, mas ao invés disso, apenas ouviu o som da chuva abafada acima de sua cabeça. Olhou para cima, encontrando um grande guarda-chuva preto. À sua frente, o dono do objeto exibia um sorriso gentil e acolhedor, característico do CEO da IT Tecnology. Apesar de toda a dor que carregava dentro de si mesma, apenas a presença de Lee Seung Ri ali, naquele momento em sentia que o mundo poderia desmoronar a qualquer momento, também a fez sorrir.
Capítulo XXVII
– Eu acho que eu acabei atrapalhando seus compromissos na agência... – Ga Yeong deslizou os dedos pela mochila em seu colo um pouco mais cheia que o normal.
Não havia levado muita coisa pessoal para o escritório, apenas alguns bubbleheads e porta objetos, por isso não viu necessidade de trazer uma caixa consigo. De certa forma havia sido até melhor, assim evitaria o constrangimento e o transtorno de levar suas coisas para casa debaixo da chuva. Por uma coincidência do destino, talvez, havia esbarrado com Seung Ri na entrada da agência e apesar de ter seus próprios compromissos, o rapaz havia se oferecido para lhe dar uma carona para casa. Mesmo se sentindo um pouco culpada por desviar o homem de seu caminho, acabou aceitando a oferta de bom grado, tanto por conta da chuva que castigava do lado de fora quanto por conta de sua companhia. Sem que houvesse percebido, em algum momento a presença de Seung Ri havia deixado de ser incômoda e agora era bastante agradável. Sentia-se confortável ao ponto de torná-lo um confidente para suas angústias.
– Bem... Eu não ia fazer nada de urgente, apenas estava passando por perto e resolvi ir lá... – Respondeu com um leve constrangimento.
Na realidade, sua intenção com a visita à agência era encontrar Se Young. Desde que havia retornado dos Estados Unidos, depois de sua conversa com Jack Hansen, havia decidido que iria revelar seus sentimentos à garota. Não queria se arrepender de guardar para si mesmo o que sentia, mesmo que Se Young ainda estivesse balançada por esse rapaz de sua juventude. Apenas precisou adiar os planos por conta da situação de sua irmã e o vídeo que estava circulando pelas redes sociais de seu sobrinho, mas já trabalhava arduamente para consertar aquele problema.
– Está dizendo isso apenas para eu não me sentir culpada. – A garota objetou fazendo o Seung Ri dar uma leve risada.
– Ora, eu não tenho culpa se todos os caminhos levam à Roma. – Brincou, fazendo uma analogia à Roma ser o prédio da agência de publicidade que ficava bem no centro de Seul.
Seung Ri parou o carro em um sinal vermelho e limpou o para-brisa que começava a embaçar por conta da diferença de temperatura dentro do carro. Abriu um pouco a janela traseira deixando que o ar frio e úmido entrasse. O homem não pôde deixar de notar a mochila que a garota trazia consigo e o semblante abatido. Apesar de tentar manter as aparências, como se estivesse tudo bem, o rapaz era bastante intuitivo e sentia que a mulher tentava segurar um grande peso em suas costas.
– Você foi demitida? – Perguntou um tanto cauteloso, não queria ser intrometido, mas talvez a garota precisasse de um ombro para desabafar.
Ga Yeong balançou a cabeça negativamente. Não estava surpresa pelo olhar perspicaz de Seung Ri, já havia constatado muitas vezes o quão observador e inteligente o mesmo era. Apesar de ter errado sobre ter sido demitida em sua suposição, ainda assim havia chegado bem perto do que realmente acontecera.
– Eu que pedi demissão. – Confessou. O rapaz a olhou surpreso por um segundo e então voltou seu olhar para a estrada. O semáforo sinalizou para seguir e o mesmo voltou a acelerar o veículo.
– Eu achei que você amasse aquele lugar. – Seung Ri falou, não escondendo sua surpresa pela decisão da mulher.
– Eu amava, apesar dos contratempos. – Admitiu, pensando por um momento em como sua supervisora dificultava seu trabalho. – Mas eu não aceitei o cargo com boas intenções, então eu não podia esperar que as coisas fossem dar certo.
Seung Ri franziu o cenho, virando em uma rua estreita. Já podia ver o portão de sua antiga casa no final da rua.
– Você fala como se houvesse cometido um crime inafiançável. – Comentou. Era como Ga Yeong se sentia, apesar de ter se sentido tão machucada quanto havia machucado outra pessoa também.
– É porque é como eu me sinto nesse momento. – Confessou.
O rapaz estacionou o carro em frente ao portão do enorme casarão. Tão logo desligou o automóvel, a garota se livrou do cinto e abriu a porta do carro, agradecendo a carona que o rapaz havia lhe oferecido de tão bom grado. Apesar da chuva ter diminuído, ainda caía bem intensa, fazendo com que a mulher acelerasse o passo para poder se abrigar em sua pequena quitinete. Abriu a porta com pressa, no entanto, antes que adentrasse o pequeno quartinho, ouviu o rapaz gritar seu nome – o outro nome – e se aproximar com pressa, até mesmo esquecendo seu guarda-chuva. Ga Yeong se virou para o mesmo, franzindo o cenho e protegendo os olhos contra a forte chuva que caía.
– Espera! – Pediu enquanto se aproximava. – Eu menti...
– O que? – Ga Yeong perguntou, confusa.
– Eu disse que eu menti. – Repetiu. – Quando eu falei que só estava de passagem pela agência, eu menti.
A garota se perguntou onde o rapaz queria chegar com aquele assunto, já que não entendia o porquê o mesmo queria revelar algo tão sem relevância.
– Eu fui te ver. – Confessou.
Ga Yeong deixou o braço pender, sentindo o coração falhar uma batida. Questionou-se o porquê aquelas palavras haviam a deixado tão nervosa a ponto de sentir como se seu peito fosse explodir. Porque ele queria vê-la? Quer dizer, porque estava ansiosa para saber o motivo? Porque em sua mente isso a deixava tão ansiosa?
– Me ver? – Repetiu, tentando processar aquela informação. Seung Ri assentiu com a cabeça, dando um passo à frente. A proximidade fazia com que o perfume amadeirado misturado com o cheiro da chuva invadisse as narinas de Ga Yeong.
– Sim... Eu queria te ver. – Falou, sentindo-se ofegante pela ansiedade. – Eu pensei muitas vezes em como falar isso e se eu deveria falar isso, mas... Por mais que eu pense que os seus sentimentos possam pertencer a outra pessoa, eu acho que eu deveria ser honesto com você sobre o que eu sinto. – Deixou que sua mão deslizasse pelo antebraço da garota até tomar sua mão entre seus dedos.
Ga Yeong fitou aquele contato tão delicado com nervosismo, partes porque seu coração parecia ansiar tanto por aquele momento, mesmo não entendo o motivo de se sentir assim, partes porque a possível resposta de Seung Ri a causava certo receio. Havia acabado de perder tanta coisa em tão pouco tempo – sua irmã, seu emprego e seu primeiro amor – que tinha medo de que as palavras do rapaz a fizessem embarcar em mais uma turbulência de emoções que poderia não ter estruturas para aguentar. “Por favor, não diga mais nada...”, pensou consigo mesma, suplicante, entretanto não conseguiu colocar seus pensamentos para fora. Apenas conseguia prestar atenção nas palavras do homem à sua frente.
– Eu estou apaixonado por você.
Ga Yeong sentiu o coração acelerar, as mãos suarem e a familiar sensação de ter borboletas em seu estômago. Seu cérebro não conseguia formular palavras, era como se houvessem apagado seus pensamentos, como uma lousa em branco. As únicas reações vindas de si eram seus pelos eriçados pelo contato, seus dedos pareciam em chamas onde as mãos de Seung Ri a segurava. Arrepios circulavam por suas costas quando sentiu o rapaz diminuir a distancia entre os corpos, numa menção bastante clara de suas intenções. Suas mãos a trouxeram mais para perto de si e a única coisa que pôde fazer foi se apoiar os braços fortes para não perder o equilíbrio. Suas pernas pareciam manteiga, mal conseguia se manter em pé diante de toda a intensidade que vinha do homem tão próximo a si. Sentiu os dedos envolverem sua nuca, o nariz encostar-se ao seu, uma demora que parecia tortuosa demais para si.
Tudo o que Seung Ri esperava era uma confirmação, um sinal claro de que podia avançar, de que a mulher o queria tanto quanto ele. Encarou os orbes escuros de Se Young, um pedido mudo para que pudesse seguir em frente. Em resposta à suplica do homem, a mulher apenas fechou os olhos esperando pelo o que estava por vir. Sentiu os lábios macios sob os seus, o gosto, a gotas de chuva se misturando ao beijo, o arrepio subindo pela espinha e explodindo em sensações quentes por todo seu corpo. As mãos pequenas se agarraram aos seus braços, puxando-o para mais perto, lutando conta a necessidade de buscar por um pouco de oxigênio. Apenas quando se separaram por conta falta de ar, pode ver com clareza o brilho nos olhos da mulher, viu medo, mas também viu desejo, uma confusão de tantas emoções embaralhadas.
Não soube o que esperar, não sabia se o empurraria ou se aceitaria seus sentimentos, mas qualquer que fosse o seu desejo, apenas o aceitaria. E num impulso, sentiu seus lábios serem tomados novamente, agora por iniciativa dela. O coração da garota batia tão forte que o rapaz podia senti-lo contra seu peito, como um tambor furioso e ritmado. Dessa vez, o beijo parecia mais desesperado, expressando toda a necessidade que tinham um do outro, o desejo que até então parecia ter sido reprimido por tanto tempo – um desejo que Ga Yeong sequer sabia que sentia por Seung Ri. Seus pés abandonaram o chão, entrelaçando suas pernas ao redor da cintura do homem quando o mesmo a pegou em seu colo. Seguindo apenas o instinto, deixou que o mesmo a levasse para dentro de seu apartamento,
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Han Na sentiu a cabeça latejar quando recobrou a consciência. A claridade a incomodava, mesmo com os olhos fechados. Quando decidiu abri-los, apenas os fechou rapidamente ainda mais incomodada com a claridade que vinha das luzes fluorescentes em seu quarto. Colocou uma mão sobre os olhos, preparando-se novamente para expor os orbes à luz. Primeiro mirou o teto de lã de vidro, bem diferente do teto de gesso desenhado de seu apartamento luxuoso. Logo depois olhou em volta, percebendo-se em um quarto particular de hospital até bastante cômodo. Havia um cateter intravenoso conectado a seu braço que injetava soro diretamente em sua corrente sanguínea. Apesar de encontrar-se sozinha no quarto no momento em que havia acordado, o blazer sobre a cadeira ao lado de sua cama indicava que alguém a acompanhava e pelo tecido de boa qualidade, sabia bem que era Kyung Soo o seu acompanhante.
Depois de repassar em sua cabeça o que havia acontecido para acabar naquele estado, lembrou-se do que acontecera momentos antes de desmaiar. A notícia sobre a bendita estagiária ter finalmente saído de seu caminho provavelmente havia a impactado mais do que esperava. Os últimos dois dias a havia deixado com os nervos à flor da pele, sentir que poderia ser abandonada e trocada por uma mulherzinha qualquer havia a deixado tão ansiosa que havia afetado até mesmo sua saúde. As tonturas e a fraqueza do tratamento não a ajudavam muito e passar por todo aquele estresse apenas havia feito com que se sentisse ainda pior. Não a admirava que houvesse desmaiado, nem mesmo seu corpo havia aguentado passar por toda aquela onda de emoções.
Entretanto, sentia que não deveria manter a guarda baixa. Não sabia exatamente o que acontecera entre os dois antes de chegar à empresa. Será realmente que Cha Se Young – ou melhor, Park Ga Yeong – não tinha interesse em Kyung Soo, em sua fortuna ou qualquer coisa que seja? Será que em algum momento ela poderia retornar e tentar tomar Kyung Soo de si? Ou pior, será que Kyung Soo realmente havia desenvolvido sentimentos por essa mulher como suspeitava que o mesmo tinha? Aquelas hipóteses a faziam suar frio e pior do que aquilo era sentir que aquilo a atingia num nível que a deixava machucada por dentro, como se o motivo de querer Kyung Soo fosse por um motivo além de sua fortuna. Por mais que não quisesse admitir, havia se apaixonado por aquele homem e a ideia de perdê-lo para outra mulher a assombrava noite após noite.
Ouviu a porta se abrir num deslizar quase silencioso. O rapaz que povoava seus pensamentos entrou no quarto e tinha um crachá colado à blusa de linho que usava. Provavelmente havia saído do quarto por alguns instantes comprar algo para beber enquanto esperava que recobrasse sua consciência. Tão logo o olhar do homem pousou sobre si, o mesmo se aproximou e se sentou na cadeira onde havia deixado o seu blazer.
– Pensei que não acordaria ainda hoje. – O tom distante parecia denotar um pouco de preocupação, apesar do mesmo não querer transparecer isso. Han Na havia aprendido a ler o rapaz com o tempo, nem sempre o mesmo era claro com suas intenções, mas havia aprendido a perceber algumas de suas manias.
– Provavelmente ficaria feliz se eu não acordasse. – Respondeu, sentindo-se um pouco cansada. Tentou se sentar, sendo impedida pelo rapaz.
– Fique deitada, você perdeu sangue vindo para cá. A médica disse que precisava fazer exames antes de dar uma resposta sobre a sua condição.
A mulher não pode deixar de ficar surpresa. Sangue? Por qual motivo? Havia batido em algum lugar ao perder a consciência ou algo do tipo? Não sentia dores por cortes, então por que havia sangrado? Kyung Soo percebeu a confusão no rosto da noiva, parecendo estar perdida sobre os acontecimentos daquele evento.
– Você desmaiou de repente, eu a segurei antes que caísse e então você começou a sangrar. – Falou. – Eu a trouxe ao hospital e os médicos disseram que você precisaria passar por alguns exames antes de dizerem o motivo pelo qual você desmaiou, mas a hipótese inicial é por estresse ou choque. Só saberemos mais depois do resultado do exame.
– Há quanto tempo eu estou apagada?
– Acho que meia-hora, não tem tanto tempo. – O rapaz olhou o relógio e então pegou o celular. Sob o olhar atento da mulher, colocou o blazer no encosto de sua cadeira.
– Você vai embora? – Han Na perguntou, mesmo que fosse bem explicito a intenção do rapaz.
– Você já acordou, acho que não preciso ficar mais tempo.
– Eu desmaiei... – Disse a mulher, estupefata.
– Eu sei e eu que a trouxe aqui. – O homem respondeu como se dissesse o óbvio.
– Será que é pedir demais que fique aqui enquanto eu estou acamada? – Esbravejou Han Na.
Queria jogar alguma coisa na cabeça daquele imbecil para que entendesse que não queria ficar sozinha naquele momento. Ele era o seu companheiro, por mais que os motivos para que estivessem juntos fossem os mais questionáveis possíveis, mas ainda assim queria ao menos que o homem mostrasse ao menos uma migalha de afeto, o suficiente para que ao menos permanecesse ao seu lado por algumas horas. Kyung Soo suspirou parecendo, por algum milagre, entender o porquê a mulher tanto batia o pé para que o mesmo ficasse. Ao mesmo tempo, sabia que se ficasse ali seria inevitável surgir uma nova discussão sobre o que havia acontecido em sua sala com Ga Yeong.
Han Na iria querer dissecá-lo atrás de respostas e o homem, querendo ou não, ainda não estava pronto para uma nova discussão. Sua mente parecia embaralhada frente aos recentes acontecimentos: a revelação sobre a paternidade de Ga Yeong, os sentimentos turvos que carregava consigo... Eram tantas informações que sua cabeça parecia que iria entrar em pane. E o beijo em seu escritório só havia tornado tudo ainda mais confuso. Por mais que seus sentimentos parecessem indicar que seu coração havia sido arrematado por sua estagiária, ex-empregada ou seja-lá-mais-o-quê mais a mesma fosse, quando a beijou simplesmente percebeu que não havia nada de especial entre os dois. Era como se houvesse tido a confirmação de que havia se enganado e todo o vislumbre que havia sentido pela mesma era uma mera ilusão. A rejeição da mulher também não havia sido tão dolorosa quanto esperava que fosse ser e a mesma deixar sua agência não o deixou amargurado como acreditava que o deixaria.
– Algumas horas fora do trabalho não irão fazer sua empresa ir à falência. – A mulher comentou com escárnio.
O homem voltou a se sentar na cadeira com um ar cansado e distante. Esperava que a mulher viesse lhe questionar, mas a mesma permaneceu em silêncio. O som de passos e das macas passando pelo corredor abafado pela porta fechada era o único barulho que preenchia o quarto.
– Não vai perguntar nada? – Kyung Soo quebrou o silêncio, sentindo-se incomodado por ser deixado com seus próprios pensamentos.
– Você me responderia se eu perguntasse? – Han Na rebateu com ironia. Ao ver o rapaz se remexer na cadeira, não pôde conter a curiosidade. – Foi ela quem decidiu sair da agência ou foi você quem a demitiu?
– Ela saiu porque quis... – Respondeu, mirando um ponto no horizonte.
– Você contou à ela sobre o testamento?
O rapaz afirmou.
– Eu deixei escapar, mas esse não foi o motivo dela ir embora. – Respondeu. – Ela se sentia culpada por ter me enganado.
– Eu deveria comemorar por ela ter uma consciência decorosa. – Foi irônica. Se os papéis fossem invertidos e a mulher estivesse no lugar da garota, não pensaria duas vezes em se agarrar ao homem e à sua fortuna.
– Até mais do que pensa. – O rapaz falou, deixando a mulher em alerta. Havia algo mais que o mesmo não havia dito. Han Na encontrou o olhar de Kyung Soo que parecia tão perdido em pensamentos. – Ela é filha do Hwa Hae Myung...
Os olhos da mulher se arregalaram diante daquela revelação, finalmente entendo o porquê o nome daquela mulher desconhecida estava no testamento do patriarca da família Hwa. Uma filha bastarda que mancharia o nome da tão perfeita família Hwa, donos de um império de lojas bem sucedidas internacionalmente. O quanto aquela garota devia ser tão estimada pelo pai adotivo de Kyung Soo para que ele a colocasse em seu testamento? Ou então será que ele havia sido ameaçado a tal pela mãe da garota? Ou talvez até pela mesma, afinal a garota havia até mesmo se passado por outra pessoa para se aproximar do homem ao seu lado.
– Ela vai reclamar a herança? – Han Na não pôde deixar de perguntar. Ela tinha o direito, afinal, sendo ou não uma bastarda, o sangue dos Hwa corria em suas veias.
– Ela não quer. – Kyung Soo respondeu. – Ela não quer nada que venha dessa maldita família. Eu disse a você, a intenção dela nunca foi se aproximar por dinheiro, ela tinha sentimentos por mim... Pelo menos, no início ela tinha. Ela queria se vingar e fazer com que eu me apaixonasse por ela, depois me abandonar como ela fez... Só que algo aconteceu nesse meio tempo e ela não conseguiu ir em frente com seus planos. – O rapaz passou uma mão pelos cabelos escuros, o olhar distante. – E no final, ela não sentia mais nada por mim e decidiu ir embora por si mesma.
– E você? – Han Na questionou, tocando no único ponto em que o rapaz queria evitar. – Você gosta dela, não é?
A pergunta soara como uma confirmação, apesar de seu tom denotar que havia alguma insegurança que Kyung Soo percebeu quase que imediatamente. O homem se levantou, sentindo-se desconfortável por tocar naquele assunto.
– Kyung Soo! – A mulher foi mais firme ao cobrar-lhe a resposta.
Antes que o rapaz tomasse qualquer decisão sobre o que responderia ou não, a porta do quarto se abriu com um arrastar quase surdo e duas pessoas com longos jalecos entraram na sala. A atenção do casal se prendeu aos dois que pareceram se esquecer do assunto que tratavam anteriormente. Um dos médicos se aproximou com uma prancheta em mãos, verificando a condição da mulher antes de continuar com o que estava falando.
– Acabamos de receber o resultado do teste, então temos uma ideia mais clara do que pode ter acontecido. – Revelou e destacou um papel da prancheta, entregando-o à Kyung Soo. – Fizemos o teste Beta hCG e o resultado foi positivo, então o sangramento pode estar relacionado a isso. O importante agora seria fazer alguns exames para saber se está tudo bem com o feto.
– Espera... Feto? – Han Na questionou sem reação. Kyung Soo franziu o cenho, seu olhar alternando-se entre os médicos e a mulher acamada que parecia tão surpresa quanto o mesmo.
– Sim... A senhora está grávida...
Capítulo XXVIII
Ga Yeong buscou um copo no armário tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar o homem que dormia em sua cama. Pegou uma garrafa na geladeira e encheu o copo com a água gelada até a metade, entornando o líquido em sua boca de uma só vez. Olhou para as gotículas que deslizavam pelo vidro perdida em seus pensamentos. Não podia parar de se culpar, afinal, como podia simplesmente ter ido para a cama com o seu cliente? Tudo bem, eles não tinham mais uma relação de trabalho, mas ainda assim os dois eram como estranhos um para o outro, certo? Por mais que houvessem tido alguma aproximação nos últimos meses em que estivera trabalhando na produção do comercial do mesmo, sentia que era errado ter se envolvido com Seung Ri.
Por Deus, havia beijado Kyung Soo há apenas algumas horas atrás, então por que... Seu corpo e sua mente, tão de repente, pareciam desejar voltar aos braços de Seung Ri imediatamente? Era carência? Ou então, era porque o homem havia sido tão gentil consigo? Porque simplesmente o desejara tão intensamente ao ponto de perder os sentidos? Porque se sentira tão eufórica quando o mesmo havia lhe dito que estava apaixonado? Voltou a encher o copo com água esperando que o líquido clareasse seus pensamentos. “Um copo de vodca provavelmente faria mais efeito”, não pôde deixar de ponderar, desgostosa. Não sabia o que pensar de si mesma, o quão desesperada devia estar para permitir que chegasse a tal ponto. E pior, o que o Seung Ri pensaria sobre a mesma ao se deixar levar daquela maneira?
Deveria estar acabada, destruída. Sua irmã havia partido há apenas cinco dias, havia descoberto que seu pai biológico é o pai adotivo do homem que suspostamente deveria amar, mas que até então havia descoberto que não possuía mais sentimentos, além de que o motivo de seu primeiro amor apenas ter a pedido em namoro fora por causa de um testamento que o permitiria ter acesso a uma extensa fortuna. Eram tantas coisas para se processar e que a desolavam, mas seu coração parecia querer se desviar de toda aquela dor da pior forma, usando Seung Ri para amenizar toda a angústia que sentia. O rapaz não merecia aquilo, havia sido tão gentil e bondoso desde a primeira vez que haviam se esbarrado e parecia possuir um bom coração, tendo sido tão atencioso e a permitido se abrir com o mesmo, escutando-a sem qualquer preconceito e julgamento. Como poderia brincar com os sentimentos tão genuínos que o mesmo possuía por ela?
Céus, onde estava com a cabeça quando deixou que as coisas chegassem àquele ponto? Como poderia ser honesta com o homem que dormia em sua cama? Seus pensamentos deixavam-na cada vez mais ansiosa e angustiada. Sentiu o peito apertado quando respirou fundo, precisava ser honesta o quanto antes. Deixou o copo sobre a bancada, aproximando-se da cama novamente, sentando-se sobre a mesma com cuidado. O rapaz se remexeu levemente, mas não acordou. Analisou o corpo bem trabalhado coberto até a cintura pelos lençóis, a marca da vacina no braço direito, uma pequena cicatriz entre o dedo anelar e o mindinho, cada pequeno detalhe sendo memorizado e registrado em sua memória. “Céus, o que está pensando, Ga Yeong!”, desviou o olhar, balançando a cabeça em seguida. A cama balançou com um pouco mais que antes, fazendo o homem se remexer novamente, dessa vez o acordando.
Seung Ri se espreguiçou, sentindo os músculos resistindo e logo relaxando. Abriu os olhos preguiçosamente, olhando ao redor, dando-se conta de onde estava. Assim que seu olhar se fixou na mulher sentada na ponta da cama, não pôde evitar que um sorriso surgisse em seu rosto. Esfregou os olhos como se o gesto fosse dispersar o sono que sentia.
– Eu acabei apagando, desculpe... – O rapaz falou logo enterrando o rosto no travesseiro. Havia estado tão ocupado desde o dia anterior que nem ao menos havia tido tempo de descansar depois da viagem. Depois dos momentos que havia passado com Se Young, acabou por pegar no sono rapidamente. – Eu estava um pouco cansado por conta de alguns outros assuntos, mas... – o rapaz se sentou na cama, aproximando-se da mulher – Eu acho que foi uma boa ideia ter vindo te ver, no fim das contas.
Ga Yeong se encolheu ao sentir o toque dos dedos quentes em sua face, preocupando-se em tirar alguns fios que atrapalhava a visão do rapaz de seu rosto. Seus olhos fitavam um ponto no chão, o que fez Seung Ri ponderar se havia algo de errado, afinal a mulher parecia retribuir seus sentimentos, mesmo que não houvesse dito com palavras o sentia, então porque a garota parecia reagir como se apenas a sua presença a incomodasse? Será que havia feito algo errado? Será que havia se arrependido? Não pôde deixar de se sentir incomodado pela mulher não o fitar nos olhos e rejeitar o seu toque.
– Se Young... – O rapaz a chamou, com um tom brando, porém sério.
Ga Yeong mordeu o lábio ouvindo o nome falso que havia adotado. Abraçou as próprias pernas, encolhendo-se tamanha a culpa que sentia. Como poderia encará-lo depois do que havia feito? Como poderia lhe dirigir a palavra? Como poderia ser honesta com alguém que fora tão bom consigo? A culpa a atormentava e fazia com que o arrependimento se transformasse em um peso tão grande que formava um bolo em sua garganta, parecia que a queimava por dentro e deixava tão desolada que a única coisa que podia fazer era chorar. As lágrimas lhe escorreram pela face sem que sequer se permitisse cair em prantos.
– Me desculpe... – Foi a única coisa que conseguiu pronunciar, como um balbucio aéreo.
– Porque está pedindo desculpas? – O rapaz se aproximou um pouco mais, pousando uma de suas mãos em seus ombros cobertos. – Se... Se não se sentia preparada ou se... Você ainda pensa em outra pessoa, eu quem deveria ter esperado o seu tempo. – Tentou tranquiliza-la. – Além disso, você saiu do seu emprego, eu não podia achar que você estaria bem e...
– Não, a culpa não é sua... É minha... – A garota o interrompeu, sentindo o coração se apertando. O seu maior medo era decepcionar o homem que tentava a acolher naquele momento, que estava tão alheio aos conflitos que a afligiam. – Eu sou culpada... Se eu não fosse tão... Egoísta, se eu não tivesse feito essas escolhas, eu não estaria machucando tantas pessoas agora... Eu não me machucaria como estou machucada...
– Se Young, eu não... – Antes que o rapaz pudesse continuar, a garota o interrompeu novamente, levantando-se da cama, falhando em se recompor limpando as lagrimas que teimavam em cair de seus olhos.
– Meu nome não é Cha Se Young! – Revelou, atraindo o olhar surpreso do homem diante de si. – Eu me chamo Park Ga Yeong... E eu sou uma farsa completa...
O semblante confuso do homem a aterrorizava. Não sabia o que se passava em sua mente, mas podia imaginar. Não havia como voltar atrás naquele momento, precisava dizer a verdade. Assim como havia sido honesta com Kyung Soo, Seung Ri também precisava saber o tipo de pessoa que havia arrebatado seu coração.
– Eu fingi ser alguém que eu não era pra me aproximar do Kyung Soo. Eu queria me vingar dele por ter me abandonado... Queria vê-lo destruído e amargurado, mesmo sabendo que eu poderia machucar a noiva dele no caminho, mesmo que ela não tivesse culpa pelas minhas mágoas... – Confessou entre soluços. – Eu fui uma idiota porque eu ainda tinha sentimentos... Eu ainda gostava dele e ao mesmo tempo sentia tanta raiva... Eu sei que eram desculpas no fim de tudo e eu sei bem que o que fiz foi errado... Mas eu não posso viver sabendo que as minhas mentiras podem machucar mais alguém...
Um silêncio desconfortante se instalou no cômodo, apenas os soluços de Ga Yeong podiam ser ouvidos. Ambos pareciam perdidos em seus próprios pensamentos. Enquanto a Ga Yeong temia a reação de Seung Ri, o homem, por sua vez, tentava digerir o que a mulher havia acabado de lhe revelar. Uma vingança amorosa, um nome falso, era difícil entender as peças daquela história. Saber que a garota à sua frente havia se aproximado com intenções tão profanas do presidente da CS Publicity era algo que parecia irreal para si. A imagem que havia pintado sobre Se Young – ou melhor, Ga Yeong – era de alguém que não seria capaz de fazer algo tão maldoso.
– Então... Quando você falou sobre o seu primeiro amor e sobre ter se reencontrado com essa pessoa, naquele dia na quadra... Você estava falando sobre o Hwa Kyung Soo? – Apesar da pergunta, aquilo soara como uma confirmação. O tom de voz do homem denotava o quanto se sentia magoado.
– Era, mas... – Antes que pudesse continuar, o rapaz a interrompeu.
– E você disse que ele não a reconheceu, mas na verdade você o enganou, não foi?
– Seung Ri, eu... Eu... – O rapaz deu uma risada desgostosa, um misto de indignação e incredulidade.
– Céus, e eu achei... Que você ao menos fosse diferente... – O homem se levantou, procurando as roupas molhadas pelo chão do quarto.
– Seung Ri, ao menos deixe-me explicar os meus motivos... – A mulher o seguiu, assim que tentou tocar-lhe o ombro desnudo, o rapaz se afastou como se sentisse nojo.
– Explicar? Explicar o que? Que você queria destruir a felicidade de outra pessoa só porque não aceitava uma rejeição ou seja lá o que vocês tiveram tinha acabado? – As palavras de Seung Ri a atingiram como um soco direto no estômago. – Acredita mesmo que os seus motivos justificam isso?
A pergunta a deixou paralisada por um segundo. Havia refletido muitas e muitas vezes sobre isso, muitas e muitas vezes quis voltar atrás em seus planos por isso também e era exatamente por esse motivo que se sentia extremamente culpada e envergonhada por suas atitudes.
– Não, eu não acho... – Admitiu. – Por isso eu quis dizer a toda verdade, por isso eu queria dizer ao Kyung Soo quem eu era e por isso eu queria te contar tudo!
– Não tem necessidade, eu já entendi tudo. – O rapaz a cortou, colocando os jeans escuros apressadamente. – Eu entendi que você é uma louca e que mentiu pra mim, é o suficiente!
– Eu não quis mentir pra você! – Falou em um fiapo de voz.
– Caramba, eu nem sabia o seu nome verdadeiro! – O quarto pareceu estremecer quando o rapaz ergueu a voz. – COMO você não quis mentir pra mim? Eu me abri com você! Eu falei sobre a minha vida contigo, os meus sonhos!
– E eu não menti sobre os meus! Eu fui sincera sobre isso, eu juro!
O rapaz pousou uma mão sobre a testa, o olhar distante e deixou escapar um suspiro pesado antes de voltar a encarar a mulher que ainda chorava ao seu lado. Parte de si queria apenas ignorar tudo o que ouvira há minutos atrás e toma-la em seus braços, fingindo que não havia qualquer problema naquilo. No entanto, não podia simplesmente passar panos quentes sobre o assunto.
– Eu não acredito em você... – Foi a última coisa que Ga Yeong ouviu antes que o rapaz abandonasse seu pequeno apartamento.
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Han Na sentiu os pêlos de seu braço se arrepiarem quando ouviu o tambor forte e rápido vindo do aparelho de ultrassom. Na tela havia um amontado de borrões preto e cinza, praticamente indistinguível, onde muito mal dava para se reparar em uma pequena manchinha numa das laterais da imagem. Era estranho pensar que aquela bolinha iria crescer, ganhar braços e pernas e em alguns meses estaria em seus braços. Quando iniciou seu tratamento para tentar engravidar, seu único pensamento era em como poderia usar aquela criança como uma garantia a uma pensão pelos próximos dezoito anos, mas agora estava em dúvida como se sentia sobre o bebê.
Han Na não havia sonhado em se tornar mãe, mas agora que uma nova vida crescia em seu útero se questionava sobre sua vontade de ter um filho. Sua doença dificultava suas chances de engravidar, então se desistisse da gravidez, poderia não ter outra chance de gerar um bebê novamente. Isso a incomodava mais do que o esperado, ainda mais por conta de sua relação estremecida com Kyung Soo. Pela primeira vez na vida, Han Na desejava construir uma família, e não por conta do lucro que poderia ter com isso, mas porque havia surgido em si um sentimento de incompletude. A ideia de não ter esse filho e de não ter Kyung Soo ao seu lado a apavorava mais do que imaginava.
– Vocês conseguem ver? Esse é o bebê. – A médica apontou para a tela no local onde a manchinha estava. – Ele deveria estar totalmente posicionado na parede do útero, mas ele está um pouco deslocado aqui.
– O que isso significa? – Kyung Soo perguntou com o cenho franzido. Han Na podia ver o quanto o rapaz parecia ansioso, mesmo que tentasse disfarçar por trás de seu jeito despreocupado.
– Bom, que houve um descolamento do saco gestacional. – A médica explicou. – Não foi um descolamento total, pelo que dá para ver, mas é uma situação um pouco delicada. A senhora vai precisar ficar em repouso absoluto por algumas semanas, além de precisar tomar medicamentos. Fora isso, acho que pode ter alta ainda hoje. Se seguir todas as recomendações médicas, se recuperará bem.
Han Na sentiu-se aliviada, apesar da gravidez ainda ter riscos. Assim que a médica terminou de usar a máquina de ultrassom, logo solicitou que uma das enfermeiras imprimisse os exames e as fotos da ultrassonografia. Não demorou muito para que Han Na estivesse novamente em seu quarto de hospital, apenas esperando para os últimos atendimentos e o aval da médica para poder voltar para casa. Isso é, se Kyung Soo não demonstrasse ter qualquer problema com isso. Durante toda a consulta com médica, o rapaz havia ficado bastante calado e distante, salvo algumas vezes que havia feito uma pergunta ou outra à doutora, o que deixava Han Na um tanto angustiada por não poder prever qual seria o rumo que a relação dos dois tomaria, ainda mais com uma criança à caminho.
Kyung Soo, por sua vez, se via tão em conflito quanto sua noiva. A última coisa que queria era ter que se preocupar com mais um problema enquanto precisava lidar com tantas coisas de uma única vez. Os seus pensamentos pareciam estar em um redemoinho de emoções, não sabia bem o que estava sentindo e agora com a notícia de que Han Na carregava seu herdeiro em seu útero o deixava ainda mais angustiado. Kyung Soo já havia pensado algumas vezes sobre ser pai, mas não era seu desejo. Desconfiava que poderia ser o pior tipo de pai que existia, afinal, seu próprio pai foi para ele o tipo de pai que não desejaria para nenhum filho. Como poderia ser alguém diferente de seu pai se nunca aprendeu de fato como era receber o mínimo de amor paternal?
No entanto, não podia negar que assim que ouviu os batimentos na máquina de ultrassom, seu único desejo foi de saber se aquele pequeno ser corria algum risco de desaparecer. Um sentimento de querer proteger a criança que crescia no útero de sua noiva havia surgido em si e estar de mãos atadas, sabendo que o máximo que poderia fazer era esperar que Han Na tivesse uma recuperação sem muitos problemas o deixava frustrado.
– Eu não vou me desfazer do bebê. – Han Na pronunciou depois do longo tempo em silencio.
– O que? – Kyung Soo franziu o cenho, confuso.
– Eu não vou me desfazer do bebê. – A mulher repetiu sendo firme em sua decisão.
– O que a faz pensar que eu a pediria para fazer um aborto? – O rapaz a olhou com os braços cruzados. A pergunta do rapaz a surpreendeu.
– Eu achei que... – Han Na não concluiu os pensamentos. Não queria admitir que estava receosa sobre o rapaz não querer continuar seu relacionamento com ela. – Você nunca quis ter filhos, por isso.
– Eu não me imagino sendo pai, apenas isso. – O homem admitiu. – Eu não tive a melhor criação paterna, não teria jeito com crianças.
E então Han Na entendeu o temor do rapaz. Ele tinha medo de ser como o seu pai que sempre lhe faltou com amor, carinho e compreensão. Talvez, no fundo, ele quisesse ter uma família assim como ela, ele queria um filho para completá-lo.
– Mas você não é o seu pai. – Han Na respondeu, atraindo a atenção do homem. – Você vive na sombra desse homem, tentando alcançar o modelo perfeito de filho que ele queria. Quando você vai viver por você mesmo?
O questionamento de Han Na fez com que Kyung Soo refletisse sobre suas palavras. Por muitos anos havia tentado de todas as formas ser o filho que Hwa Hae Myung desejava. Até mesmo quando se rebelava, esperava ao menos uma forma de se conectar com seu pai desesperadamente, mas nunca houve qualquer reciprocidade de seus sentimentos. E agora, meses depois do falecimento de seus pais, ainda duvidava de si mesmo e se julgava pelos padrões que seu pai havia estabelecido como um filho perfeito.
– Você vai ser um bom pai, eu não duvido disso. – Han Na confirmou, ajeitando-se mais confortavelmente na cama. – Mas... Como nós ficamos?
Aquela era a maior dúvida entre os dois. Depois de tantas descobertas e de tantos golpes naquela relação, era provável que não seguissem juntos depois daquilo. Kyung Soo se recostou na cadeira, pensativo.
– Eu não sei. – Foi sincero.
– Provavelmente você deve ir atrás da estagiária de novo... – A mulher constatou com desdém. – Você gosta dela.
– Eu não gosto dela... – Kyung Soo falou, fitando as próprias mãos. – Eu não sei bem o porquê... Eu achei que tinha sentimentos, mas na realidade eu não sentia nada... Eu não fiquei mal quando ela me rejeitou e nem fiquei triste quando ela foi embora... Talvez fosse só... Um sentimento de querer conquistá-la ou algo do tipo, um entretenimento, sei lá. No final, eu quem fui feito de palhaço... Mas eu mereci.
– É estranho ver você arrependido de alguma coisa... – Han Na confessou, virando-se de costa para o rapaz e cobrindo-se até a altura dos ombros. – Se você não vai atrás dela, então... Ainda vamos prosseguir com o casamento?
– Era esse o plano, afinal de contas. – Kyung Soo assentiu, levantando-se da cadeira e rumando para a pequena geladeira no quarto para pegar uma garrafa de água. – Eu não estou disposto a desistir da minha herança, mesmo que eu precise ceder alguma coisa dessa vez. – Falou, prevendo que Han Na poderia pedir alguma alteração no contrato nupcial, agora que a mesma sabia sobre o prazo e o quanto estava em jogo naquele casamento.
A mulher, entretanto, não pôde se sentir mais ferida pela insinuação do rapaz. Por mais que ele até mesmo tivesse motivos para desconfiar que o motivo de estar falando sobre o casamento seja por conta de sua fortuna, daquela vez Han Na estava mais preocupada sobre como poderiam prosseguir de fato como um casal. Sentou-se novamente na cama, bufando com indignação.
– O único motivo pelo qual você quer se casar comigo é por conta da sua herança?
Kyung Soo poderia ter confirmado, mas não estava realmente certo sobre isso. Talvez o tempo de convivência e a maneira como os dois lidavam um com o outro havia feito com que o rapaz desenvolvesse algum afeto pela mesma, o suficiente para dizer que o gostava de tê-la por perto. Era conveniente para ele, apenas isso... Pelo menos era o que gostava de pensar. Voltou a sentar-se na cadeira ao lado da cama, abrindo a garrafa e bebendo um pouco do líquido.
– Desse jeito, faz até mesmo parecer que está apaixonada por mim. – O rapaz respondeu com escárnio, fazendo a mulher bufar novamente e voltar a lhe dar as costas.
– Eu queria te odiar nesse momento... – Han Na praguejou, sentindo-se mais mexida do que o esperado com as palavras sarcásticas do rapaz.
Sentiu a mão do rapaz sobre seus cabelos, fazendo uma leve carícia no topo de sua cabeça.
– Talvez... – O rapaz respondeu sem maiores explicações, deixando o coração de Han Na acelerado sobre a expectativa do homem querer estar com ela por algo além do dinheiro de sua família.
Capítulo XXIX
– Ga Yeong? – So Ra chamou pela amiga, adentrando sua pequena quitinete. A porta estava entreaberta e o quarto estava mergulhado na penumbra.
Tateou a parede até achar um interruptor, ligando-o. Assim que o cômodo se iluminou, logo viu um grande caroço se remexer sob as cobertas. Os cabelos escuros de Ga Yeong eram a única coisa fora daquele amontoado de roupas de cama que parecia querer se esconder de qualquer fonte de luz. So Ra apenas suspirou aliviada, vendo que sua amiga provavelmente estava apenas dormindo. Largou as compras sobre a pia, que ainda tinha algumas louças que havia deixado antes de sair. Tendo em vista que a quantidade de pratos não havia aumentado, diminuído ou sequer parecia ter sido mexido, logo percebeu que a amiga não havia comido o dia inteiro. Muito provavelmente apenas teria tomado o café da manhã que havia tido que insistir para que a garota tomasse antes de se arrumar para sair.
Voltou sua atenção para a cama, sentando-se na beirada. Não sabia bem como abordar Ga Yeong. Parte de si queria deixá-la daquela maneira por pena de acordá-la de seu sono. Provavelmente estava tão cansada que precisava daquele descanso, sem contar que não fazia ideia de como havia sido sua conversa com Kyung Soo. Tinha receio que o mesmo a houvesse tratado mal, ainda mais com a perda tão recente de Ga In. Ainda assim, a outra parte de si queria tirá-la de seu sono para que pudesse saber como estava e se precisava de assistência, afinal, havia passado um dia inteiro sem comer, o que se tratando de sua amiga já era algo bem fora do comum. Antes que resolvesse seu embate interno, ouviu um fungar baixo sob as cobertas, chamando sua atenção.
– Ga Yeong? – A garota se encolheu ainda mais sob os cobertores, fungando mais uma vez. – Ga Yeong, está chorando?
So Ra afastou os cobertores de Ga Yeong, fazendo a mulher revelar a face avermelhada, inchada e molhada pelas lágrimas. Não se conteve ao envolver a garota num abraço acolhedor fazendo com que a outra voltasse a chorar com a mesma intensidade de antes.
– A conversa com o Kyung Soo foi tão ruim assim? Ele a tratou mal? – So Ra perguntou. – Ah, amiga, eu sabia que não era o melhor momento para você ir falar com ele...
– Não... Não é isso... Eu... – Ga Yeong tentou se explicar entre soluços, perdendo-se nas palavras. – Céus, eu sou uma imbecil!
Levou algum tempo para que a mulher conseguisse se acalmar o suficiente para conseguir processar os próprios pensamentos. Todos os recentes acontecimentos a deixaram desnorteada e desconexa do mundo. Por mais que tentasse dizer como se sentia, era difícil definir. Uma mistura de diversas emoções a acometia ao mesmo tempo, deixando-a à beira das lágrimas toda vez que voltava a pensar sobre o que havia acontecido, principalmente pelas últimas palavras de Seung Ri que estavam carregadas de repulsa e decepção.
Um copo de sorvete pousou em suas mãos assim que So Ra tomou o seu lado na cama debaixo das cobertas. O tom rosado da calda de morango fazia uma combinação que parecia saborosa em conjunto com o tom escuro do sorvete de chocolate, seu sabor favorito. Entretanto, mesmo que em qualquer dia comum sua sobremesa predileta lhe prendesse o apetite, naquele dia o sorvete lhe parecia menos apetitoso que o normal.
– Por Deus, coma pelo menos uma colher. – So Ra insistiu com um bico nos lábios. A garota suspirou, um tanto contrariada, mas deu uma colherada no sorvete e o comeu, sentindo a sobremesa derreter em contato com o interior quente de sua boca. – Quer conversar sobre o que houve com o Kyung Soo?
Ga Yeong enfiou a colher dentro do sorvete com o olhar distante. Por mais estranho que fosse, era algo inédito para a mulher que Kyung Soo não fosse a pessoa que povoava os seus pensamentos naquele momento. Havia nutrido mais de dez anos de sentimentos platônicos pelo homem, desde a sua adolescência até o momento atual. Dar-se conta de que tal sentimento havia evaporado como fumaça em poucos meses (ou sabe-se lá quando realmente deixou de gostar do rapaz) a fazia se sentir estranha.
– Não foi exatamente o que eu esperava... Ou pelo menos, eu não me senti da maneira que eu esperava... – Ga Yeong confessou. – Eu falei a verdade sobre tudo... Sobre minhas motivações, minha mágoa, a raiva, a vingança... Contei sobre minha paternidade...
– E como ele reagiu? – So Ra perguntou, curiosa.
– Ele ficou surpreso, é claro... Mas... – A mulher suspirou. – Ficou explicado o motivo pelo qual ele me pediu em namoro quando eu ainda era gorda. – So Ra a fitou com expectativa. – O pai dele fez um testamento que o obrigava a se casar comigo para obter a herança dele... Ele só se aproximou por causa do dinheiro...
– Oh, céus! – A garota exclamou, chocada, mas não surpresa. Sempre havia desconfiado das intenções de Kyung Soo, mesmo que sua amiga apenas o visse como um perfeito cavaleiro. – Eu sabia que tinha coisa errada!
– É... Eu fui idiota por ter sido cega... – Ga Yeong fitou o pote em suas mãos, sentindo-se machucada. – Mas eu mereci, também fui uma cretina.
– Amiga, você não merecia isso... Quem merecia estar na merda agora era aquele crápula do Kyung Soo! – So Ra tentou reconfortá-la.
– Não, eu mereci isso... – Ga Yeong sentiu um bolo característico se formar em sua garganta, o nariz ardendo pela iminência do choro. – Eu fiz tantas coisas ruins... Eu machuquei as pessoas por causa de um sentimento tão podre...
– Ga Yeong... Se você está se sentindo mal por causa do Kyung Soo... – So Ra foi interrompida por Ga Yeong.
– Eu estou falando do Seung Ri... – So Ra a olhou confusa, o cenho franzido apesar da surpresa.
– O senhorio? Como assim? Não entendi onde ele entra nessa história. – A mulher falou, sentindo-se perdida.
Então Ga Yeong contou tudo desde o início, desde as falas de Kyung Soo, sobre o rapaz declarar seus sentimentos, o beijo, a constatação de seus sentimentos até o reencontro com Seung Ri, sua confissão e o momento íntimo que haviam passado juntos. Quando contou sobre seus sentimentos e sobre quando contou toda a verdade para o rapaz, sobre o porquê havia mentido por tanto tempo e sua reação cheia de raiva e decepção, Ga Yeong mal conseguia segurar as lágrimas. A voz embargada pelo choro denunciava o quão quebrada estava e o quanto se sentia culpada por usar Seung Ri daquela maneira.
– Céus, Ga Yeong! – So Ra exclamou. – Quanta coisa!
– Ele deve me odiar agora... E com razão... – Falou, pesarosa. – Eu fui tão estúpida... E eu ainda brinquei com os sentimentos dele. Ele foi sincero comigo, bondoso e gentil. Confiou em mim e eu apunhalei...
– Olhe, eu sei que você errou em muitas coisas, mas brincar com os sentimentos dele? – So Ra questionou. – Amiga, você acredita realmente que não tem sentimentos pelo Seung Ri? Que não está apaixonada por ele também?
Ga Yeong olhou para So Ra como se um terceiro olho tivesse surgido em sua testa. Para a mulher, era inconcebível que tivesse qualquer tipo de sentimento amoroso por Seung Ri. Não que o rapaz não fosse alguém de seu agrado, muito pelo contrário, mas havia sido tanto tempo apaixonada por Kyung Soo que não acreditava que pudesse amar outra pessoa, ainda mais com tão pouco tempo de convivência.
– Acho que você estava tão focada em querer continuar apaixonada pelo Kyung Soo que não percebeu que o seu coração foi arrebatado por outro homem. – So Ra constatou, sentando-se de frente para a mulher.
– Não, nada haver... O Seung Ri era só um cliente na minha agência, nós só conversávamos... – Ga Yeong argumentou, apesar de se sentir insegura em suas afirmações.
– Todas as vezes que conversávamos sobre o Kyung Soo, você só falava de como ele a tratava diferente, você só se sentia amargurada porque sentia que esse afeto não era pra você... Mas quando conversávamos sobre o Seung Ri, você ficava radiante. – So Ra insistiu. – Você sempre falava sobre como ele a tratava bem, como era gentil, bondoso, que vocês tinham tantas coisas em comum e que você conseguia ser você mesma com ele... Amiga, você mesma disse agora que o seu coração palpitou com ele e não com o Kyung Soo... Você quer prova maior que isso?
Ga Yeong não precisava de mais provas, ela sentia isso. Os argumentos de So Ra eram tão coerentes que a haviam feito perceber o quanto havia veracidade em suas palavras. Todos os momentos em que se abrira tão facilmente sobre seu passado, sobre seus temores, seus sentimentos. Todas as vezes que seu coração disparara quando o via à sua porta, quando mostrava um sorriso gentil para ela, assim como as desculpas que havia arranjado para si mesma apenas para que pudesse vê-lo novamente, como quando havia se agarrado tão desesperadamente às roupas do rapaz com o pretexto de que iria lavá-las como forma de gratidão por tê-la ajudado com a bagunça de seu apartamento. Estava bem evidente, bem óbvio e parecia até piada como não havia notado isso por todo esse tempo.
Ela estava apaixonada por Seung Ri.
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– Toque, toque? – Se Ong colocou a cabeça para dentro da sala de Seung Ri, fazendo o presidente da empresa se perguntar como seu melhor amigo sempre conseguia passar pela segurança com tanta facilidade. – Ora, que milagre vê-lo em sua sala...
– Você vive dizendo que sou um workaholic, então onde mais um viciado em trabalho deveria estar? – Respondeu o rapaz, parecendo mais mal humorado que o normal.
– Nossa, que recepção calorosa... – O outro brincou, adentrando a sala e fechando a porta atrás de si. – Só perguntei por que ultimamente você parece estar tão ocupado com outros assuntos que quase nunca o encontro no seu escritório.
Seung Ri suspirou, sabia que estava sendo rabugento, mas desde que havia tido aquela briga com Se Young – ou Ga Yeong, seja lá qual for a verdadeira identidade daquela mulher –, estava tendo dificuldades em controlar o mau temperamento com outras pessoas que não tinham nada haver com seus problemas pessoais. Nos últimos meses que havia compartilhado uma parte de seus dias com a mulher, havia tido algumas das melhores experiências que vivenciara em sua vida. Uma conversa simples enquanto oferecia uma carona para o trabalho, uma brincadeira divertida enquanto arrumavam o quarto, um momento de nostalgia vendo as fotos de infância, um momento à dois onde apenas o toque um do outro importava... Era uma troca que sempre desejara ter com a mulher que um dia o arrebatasse. Saber que havia divido tais momentos com uma pessoa que o enganara sobre seu próprio nome e sabe-se lá mais o quê havia o deixado mais que decepcionado, havia o ferido profundamente.
– Desculpe, só não estou com a cabeça boa hoje. – O rapaz reconheceu, o que fez o amigo o olhar curiosamente.
– Isso, meu amigo, é o que nós chamamos de tensão sexual. – Debochou. – Falando em relacionamentos, como ficou a questão com a misteriosa mulher que cativou o exigente Lee Seung Ri? – A menção à Se Young fez com que o presidente da IT Tecnology se sentisse tenso.
A verdade era que não queria tocar no assunto tão cedo, nem mesmo com seu melhor amigo. Estava chateado, mas também em conflito. Parte de si achava que seria uma ideia falar sobre seus pensamentos confusos e as revelações que tentava digerir até aquele momento, mas a outra parte pensava que era melhor fingir que Cha Se Young era um arquivo morto e qualquer coisa que envolvesse aquela mulher deveria ser enterrado a sete palmos do chão.
– Não existe questão alguma. – O homem foi inciso – Apenas faça de conta que essa mulher foi um surto coletivo.
O jeito um tanto agressivo de falar do amigo fez com que Se Ong se questionasse o que havia acontecido entre Seung Ri e essa tal mulher que até alguns dias atrás o presidente tanto estimava. Quão grave poderia ter sido o que quer que tenha acontecido para deixar seu amigo tão amargurado?
– Nossa... O que rolou pra você estar desse jeito? – Se Ong abandonou o tom travesso parecendo genuinamente preocupado.
Seung Ri suspirou e acabou falando sobre o que acontecera no dia anterior, quando havia de declarado para Se Young, e que apesar do momento de intimidade entre os dois, havia descoberto toda a teia de mentiras que a mulher havia criado por conta de uma estupida vingança. Se Ong ouviu tudo como se fosse a maior fofoca do momento, parecendo se empolgar com algumas partes do relato. Assim que o rapaz terminou de falar, o amigo coçou o queixo, surpreso com tantos acontecimentos.
– Cara, acho que você deu sorte de meter o pé antes que ela endoidasse para cima de você também. – Se Ong comentou. – Uma pessoa que muda até mesmo o nome para se vingar de alguém é o tipo de gente que devemos manter distância.
Seung Ri afirmou com a cabeça, mas não se sentia totalmente convicto em concordar com o pensamento do amigo. Apesar de aquela questão ser motivo mais do que o suficiente para esquecer de vez Se Young, parte de si ainda tinha sentimentos profundos que o faziam querer voltar correndo para ela.
– Eu sei... Por isso eu estou a evitando... – Seung Ri admitiu.
– Sinto muito por você, sei o quanto estava amarradão nessa garota. – Se Ong foi sincero.
O assunto foi interrompido quando a CEO da IT Tecnology adentrou a sala usando um vestido azul marinho que tornava evidente as curvas sinuosas e a deixava elegante, bem diferente das roupas sóbrias e sem graça que costumava usar antigamente. A mulher parou por um segundo ao perceber que o irmão estava na companhia de um convidado.
– Ah, desculpe... Achei que estava sozinho. – Seung Ja olhou para o irmão e depois para Se Ong, logo deixando surgir um sorriso de escárnio. – Ah, é você...
– Como assim, "é você"? O jeito que você me saúda me deixa triste. – Se Ong fingiu estar ofendido, o que apenas fez Seung Ja revirar os olhos.
– Você vai superar. – Respondeu com sarcasmo. Voltou-se para o irmão e aproximando-se com uma pasta em mãos. – Enfim, eu só vim mesmo porque queria agradecer por ter achado a pessoa que postou o vídeo do Joon. O advogado da empresa disse que já entrou com o processo do caso. A justiça vai ser feita.
– Não precisa me agradecer, a família serve pra isso... Pra acolher e ajudar quando preciso. – Seung Ri respondeu, tocando o ombro da irmã com carinho. – E como está o Joon?
– Ele... Ela ainda está abalada, mas vai ficar bem. – Seung Ja certificou. – Estamos mais próximos agora, então vou dar o meu melhor pra mostrar que ela não está sozinha. – A mulher sorriu, segurando a mão do irmão. – Mas sobre o que estavam conversando? Vocês embarcaram num silêncio quando entrei, parece até que estavam falando mal de mim.
– Estávamos falando sobre a dor de cotovelo do Seung Ri. – Se Ong confessou, sem muita cerimônia. O amigo, no entanto, não parecia nada contente sobre expor os problemas românticos para a irmã mais velha.
– Você estava saindo com alguém e não me contou? – Seung Ja o olhou com um misto de surpresa e indignação.
– O que? Não! Eu não estava saindo com ninguém! – O presidente tentou desviar do assunto, no entanto, Se Ong não parecia muito disposto a manter aquele assunto em segredo.
– Mas você até dormiu com a garota, como não estavam saindo junto? – Seung Ri praguejou mentalmente e amaldiçoou a boca grande do amigo.
– Seung Ri!
– Olha, isso não importa, tudo bem? As coisas acabaram entre nós, então não faz diferença eu ter te contado ou não. – Seung Ri respondeu, desviando-se do assunto. Seung Ja, entretanto, conhecia o irmão caçula bem demais para saber que não havia ponto final na história que ele não queria contar. O que quer que tenha acontecido, o rapaz estava indeciso sobre seus próprios sentimentos.
– Tem certeza? Por que pra mim, parece que você não resolveu esse assunto de verdade. – A mulher foi direta, sentando-se no sofá ao de Se Ong.
As palavras da CEO ficaram em sua mente por alguns minutos. Era evidente que não conseguia se decidir sobre Se Young. Por mais que sua mente dissesse que o ideal era cortar os laços que haviam criado, seu coração insistia em querer se apegar àquelas cordas que os ligavam. Seus sentimentos pela garota eram mais fortes do que queria que fossem e agora se via resistindo à ideia de deixá-la para trás, como uma dolorosa lembrança.
– É só que... Eu estou apaixonado por ela... Mas ela não era quem dizia ser. – Seung Ri confessou, o olhar distante e entristecido. – Ela esteve esse tempo inteiro mentindo para mim, mentindo sobre quem ela era, sobre seu próprio nome...
– Ela assumiu uma identidade diferente pra se vingar do ex-namorado. – Se Ong comentou em um tom mais baixo com Seung Ja que pareceu surpresa com a informação.
– E como você descobriu isso tudo? – Seung Ja perguntou, curiosa. Seung Ri suspirou pesadamente.
– Ela confessou tudo. – O rapaz relembrou a cena no pequeno quartinho, a discussão que se seguiu depois disso, o choro da mulher ecoando em seus ouvidos. – Disse que precisava ser honesta comigo, sobre como planejou se aproximar do ex dela e sobre como mentiu pra mim também...
Seung Ja esfregou as mãos, pensativa sobre a história. Apesar do irmão não ter entrado em muitos detalhes, podia entender o porquê estava tão titubeante quanto a essa mulher. Ela havia confessado tudo, talvez por culpa, não saberia dizer. Isso acendia uma chama de esperança de que ela não fosse uma pessoa mal-intencionada, mas que apenas suas ações foram fruto de algum sentimento ruim pelo qual havia se deixado levar e que no final havia se arrependido amargamente por isso. Provavelmente era o que Seung Ri mais queria que fosse verdade, mas ao mesmo tempo, ele não podia ignorar o quanto as escolhas dessa mulher haviam lhe machucado e se arriscar a perdoá-la poderia abrir portas para que se magoasse novamente no futuro.
Ainda assim, Seung Ja achava que valia a pena pensar mais a fundo sobre isso. Não era a pessoa mais sábia em questão de relacionamentos, mas entendia bem os sentimentos conflitantes de uma mulher, principalmente por já ter sofrido por amor por tanto tempo.
– Eu só estou com raiva... E decepcionado... – Seung Ri revelou. – Por ela ter feito isso...
– Mas ela te confessou tudo... – Seung Ja colocou em questão aquele fato. – E é isso o que está te incomodando, certo? Ela poderia ter seguido com a mentira, mas escolheu ser honesta com você. Isso não deve ser levado em consideração?
– Você está realmente cogitando a ideia de que essa garota não é perigosa? – Se Ong olhou a mulher com os olhos arregalados. – Olha, normalmente o inconsequente sou eu! No mínimo, eu esperava que você fosse aconselhar ele a manter distância dessa mulher.
– Eu só estou falando que ele deve pensar melhor sobre isso. – Seung Ja foi firme em sua colocação. – Também não me agrada saber que essa mulher, seja lá quem ela for, planejou algo do tipo pra se vingar de seu ex-companheiro, mas... Eu consigo me colocar no lugar dela e entender que provavelmente ela estava sofrendo, e provavelmente isso devia a deixar tão angustiada que só quis dizer a verdade, mesmo sabendo quais poderiam ser as consequências. – A CEO se levantou, ajeitando a barra do vestido. – De qualquer forma, a decisão é do Seung Ri sobre qual rumo ele deve tomar, então não tente fazer a cabeça dele.
– Como se eu fosse conseguir convencer alguém da família Lee a fazer alguma coisa. Vocês todos são muito teimosos. – Se Ong brincou, observando a mulher se despedir dos dois, deixando um Seung Ri pensativo para trás.
Assim que fechou a porta do escritório do irmão, Seung Ja caminhou pelos corredores até alcançar o elevador. Quando as portas se abriram, percebeu que havia alguns funcionários que iriam descer para os andares inferiores. Todos a cumprimentaram de maneira formal antes que entrasse. Apesar da curta viagem, Seung Ja pode conversar um pouco com o grupo, surpreendendo-os pelo jeito descontraído de se comunicar. Por muito tempo, a mulher havia carregado a fama de ser temperamental e introvertida, mas com o tempo havia aprendido a se abrir mais com as pessoas e ser mais sociável. Até mesmo sua aparência havia mudado. Ao invés das roupas sóbrias e sem graça, a CEO abusava e esbanjava de roupas elegantes e que valorizavam o corpo com curvas sinuosas.
Seung Ja não podia se sentir menos grata a seu assistente por isso. Apesar das loucuras que havia acontecido entre ambos com aquela estranha atração carnal que sentiam um pelo outro, os poucos momentos em que puderam se abrir e conversar sobre suas mágoas e seus traumas haviam lhe ajudado a tomar coragem para enfrentar seus próprios demônios. Pela primeira vez, em muito tempo, sentia que tinha novamente as rédeas da própria vida em suas mãos, que podia ser a mãe que sempre quis ser e que podia finalmente se livrar daquela culpa em não ter sido a esposa perfeita que todos queriam que ela fosse. Agora estava sendo ela mesma e isso era a única coisa que importava.
Assim que colocou os pés no departamento, os funcionários logo a cumprimentaram enquanto caminhava em direção ao seu escritório. Entretanto, não pôde deixar de reparar em uma das mesas próxima à sua sala que estava vazia. A mesa que costumava sempre estar abarrotada com papéis e post-its colados por todos os lados parecia intocada, como se ninguém nunca houvesse a usado antes. Não pôde deixar de pensar em Ji Soo e em como deveria estar seu casamento. O rapaz havia lhe confessado há alguns dias que sua esposa havia descoberto o caso dos dois antes que tivesse a oportunidade de contá-la por si mesmo e que isso havia abalado a relação do casal que já não andava bem das pernas. Para piorar, a esposa do rapaz havia pedido para que o mesmo abandonasse o trabalho para que não voltassem a se encontrar.
Seung Ja apenas fez o que estava em seu alcance para ajudar Ji Soo: oferecer-lhe uma recomendação para trabalhar nos Estados Unidos. Seria uma mudança de vida brusca, mas não seria impossível sobreviver no exterior. Por ter estado tão ocupada cuidando de Joon Young, Seung Ja não havia tido tempo para estar mais presente no trabalho. Sequer havia tido a oportunidade de se despedir de Ji Soo e vê-lo recolher suas coisas, mas esperava que o rapaz houvesse optado pela melhor escolha para o seu futuro e o de sua família.
Sentiu seu celular vibrar no bolso de seu blazer, tirando-a de seus pensamentos. Caçou o objeto, logo o tomando em mãos. Uma mensagem surgiu na tela assim que a desbloqueou, fazendo o coração da mulher acelerar de ansiedade.
"Audiência para o processo de guarda e custódia marcada para o dia 11 de setembro".
Capítulo XXX
– Oh... Oh Joon... – So Ah piscou algumas vezes, surpresa por encontrar o jovem rapaz à sua porta. O garoto usava muletas e tinha o braço e a perna direita imobilizados pelo gesso. Havia cerca de um mês que não o via desde que havia recebido alta do hospital. – Você veio sozinho para cá? Nesse estado?
– Eu pedi um carro por aplicativo, não tive que me esforçar. – O rapaz logo se adiantou, procurando evitar que a mulher se preocupasse.
So Ah o olhou por longos segundos até se dar conta de que ainda estavam parados na soleira da porta. Reencontrar Oh Joon depois de tanto tempo ainda trazia alguns sentimentos conflitantes para si. Por mais que não culpasse o rapaz pela morte de sua sobrinha, ainda era difícil não se lembrar da garota quando olhava para Oh Joon, ainda mais com as marcas do acidente ainda tão visíveis, apesar dos ferimentos mais superficiais já terem melhorado.
– Ah, por favor, entre... – A mulher deu espaço para que o rapaz adentrasse, fechando a porta logo em seguida.
Oh Joon conhecia a fachada da casa de So Ah. Havia buscado e levado Ga In em sua casa algumas poucas vezes, mas nunca houvera conhecido o lugar por dentro. A primeira coisa que reparou foi na quantidade de quadros com quebra-cabeças montados nas paredes, cada qual com datas, número de peças e o tempo em que cada um demorou a ser montado. Todos os quebra-cabeças eram de alguma flor e pareciam dar um charme à decoração simples da sala de estar.
– A Ga In amava ficar montando isso. Era como um hobby especial só dela. – So Ah desconversou, reparando o que tomava a atenção do rapaz. – Ela também gostava muito de flores, principalmente as mais exóticas. De alguma forma, ela se identificava com elas. – Sorriu com nostalgia. – Você sabia que cada flor tem um significado? A favorita dela era a Cattleya e simbolizava a pureza e a perfeição.
– Isso combina com ela. – Oh Joon respondeu, sincero. Em sua opinião, não havia outras palavras que se encaixassem tão bem na descrição de Ga In. A garota era rígida com seus horários e com sua rotina, ao mesmo tempo era tão inocente que parecia um crime que um rapaz como ele pudesse corrompê-la de alguma forma.
– Sente-se. Eu posso buscar algo para beber, se estiver com sede. – O rapaz logo assentiu e viu-se sozinho por alguns instantes até que a mulher retornou com dois copos de suco. Ajeitou-se no sofá, um pouco desconfortável. – Enfim, acredito que não tenha vindo aqui apenas para me avisar que recebeu alta. – A mulher foi direta. – Apesar de estar um pouco curiosa sobre você e o seu "amigo".
Oh Joon corou, pigarreando. A visão das bochechas avermelhadas como as madeixas ruivas do rapaz eram uma cena rara. Não pôde deixar de pensar o quanto Mun Seo adoraria ver seu rosto naquele momento.
– Estamos bem... – Explicou. – O Seo me disse que o seu conselho o ajudou a entender como eu me sinto. Ele disse que vai esperar o meu tempo e, bem... Eu acho que estou me sentindo um pouco mais confiante de falar sobre isso com os meus pais. Estou só esperando o momento certo.
– Isso é ótimo. – So Ah sorriu, dedilhando o copo em suas mãos. – Espero que eles entendam você. Pode ser difícil e assustador, mas tenho a sensação de que seus pais o entenderão.
Os dois se encararam por um instante, longos segundos que pareciam uma eternidade.
– Você quer vê-la, não é? – So Ah perguntou, mesmo que já soubesse a resposta. – Me deixe pegar uma caneta. Vou anotar o endereço pra você.
Oh Joon observou os raios de sol brilhando sobre a água tremeluzente do oceano à sua frente. Estava em um cais que há muito tempo não era utilizado em uma praia calma. No ponto mais distante, logo acima da água, havia algumas velas apagadas, algumas pelúcias e flores próximo à foto de uma jovem garota de longos cabelos escuros. Oh Joon sorriu com a foto de Ga In. Não havia um sorriso em seus lábios, mas de alguma forma a menina expressava bastante ternura. Sentou-se na ponta do cais, admirando a imensidão do mar e as ondas que quebravam na orla da praia.
– Eu devo parecer um maluco falando com o vazio agora. – Oh Joon comentou, balançando o pé saudável sobre a água. – Queria ter vindo antes, mas... Não havia como. Na verdade, eu queria que eu pudesse ter mais tempo ou então que pudesse voltar no tempo.
O rapaz ficou pensativo por alguns segundos e depois soltou uma leve risada.
– Acho que eu consigo ouvir você dizer que voltar no tempo é algo impossível. – Comentou com o humor um pouco sombrio. – Você faria qualquer filme de ficção se tornar algo deprimente... Mas ainda assim, seria uma experiência incrível assistir algo com você.
O rapaz tirou um pequeno ursinho que havia ganhado na máquina de brinquedos em seu primeiro encontro com Ga In do bolso de sua jaqueta, fitando-o por um tempo.
– Eu sou culpado pelo o que aconteceu. Sua tia disse que eu não deveria me sentir assim, mas quanto mais eu penso sobre isso, mais eu entendo que tudo foi consequência das minhas ações. Se eu não tivesse sido tão... Superficial... Você não teria morrido. – Suspirou, sentindo um peso em seu peito a cada palavra que proferia. – Eu sinto muito... E estou sendo sincero sobre isso.
Deixou a pelúcia junto ao pequeno memorial que estava ao seu lado.
– Mas não me arrependo de tê-la conhecido. Eu pude me tornar uma melhor versão de mim mesmo graças a você e, apesar de não poder retribuir os seus sentimentos da mesma maneira, eu me afeiçoei a você. Você foi, pra mim, a melhor amiga que eu poderia ter tido... E eu sinto a sua falta. – Sentiu algumas lágrimas lhe escaparem, caindo silenciosamente por seu rosto. – Me desculpe por tudo o que eu fiz... E obrigado por ter permitido que eu pudesse ser seu amigo.
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Seung Ja entrelaçou os dedos sob a longa mesa de madeira escura onde estava sentada, rezando silenciosamente enquanto mantinha a expressão imponente em seu rosto. Queria que o juiz tivesse bom senso, queria que ele dissesse as palavras que tanto esperava ouvir. À sua frente, ao lado do advogado e com um ar soberbo estava Kyung Joon, seu antigo companheiro. O olhar superior do homem a irritava profundamente, como se estivesse tranquilo sobre o veredito do juiz. Por outro lado, isso a amedrontava. Só a possibilidade do mesmo vencer aquele processo a deixava nauseada.
– A senhora não precisa ficar preocupada, as chances estão ao nosso favor. – Sua advogada afirmou com confiança, fazendo Seung Ja ficar mais tranquila.
– Obrigada... Mas ainda assim fico um pouco ansiosa... Talvez o juiz possa não ser tão compreensível sobre a atual situação do Joon. – Confessou para a advogada.
Assim que o juiz retornou à sala, os dois lados se calaram instantaneamente e deixaram que o juiz fizesse a leitura do caso. Seung Ja sentia o coração acelerado e as mãos suarem tamanha a ansiedade que a acometia. Tão logo o juiz fez as suas considerações, sentiu-se aliviada e até mesmo quis chorar. Finalmente a guarda de Joon Young era sua, finalmente poderia cuidar de sua filha como sempre quis. Mas claro, nem todos na mesa compartilhavam de sua felicidade. Logo que saiu do fórum, foi abordada por Kyung Joon, mas não permitiu que os comentários venenosos do homem deixassem seu dia mais sombrio.
– Deve estar feliz por finalmente conseguir o que queria, não é? – Cuspiu, tentando disfarçar a irritação.
– Eu? Não... – Foi irônica. – Na verdade, estou radiante.
– Deixar o Joon nas suas mãos foi a pior decisão que aquele juiz imbecil poderia ter escolhido. – Falou. – Você não vai torná-lo um homem de verdade.
– É porque a Joon não é um homem, pra começo de conversa. Ela se vê como uma mulher, então é assim que eu vou tratá-la. – Seung Ja retrucou, firme em suas convicções. – E não se coloque como um pai que se importa, porque você sempre escolheu suas amantes e deixou a sua família como segunda opção. Você sempre foi assim e não irá mudar.
O homem estalou a língua, rendido em suas argumentações.
– Eu irei recorrer contra a decisão. – Avisou em tom de ameaça.
– Que assim seja, então. Fique à vontade. – Respondeu com confiança.
A mulher apenas sorriu triunfante antes de lhe tocar o ombro como se dissesse adeus silenciosamente.
– Preciso ir cuidar da minha filha. – Seung Ja virou-se, caminhando elegantemente até seu carro onde o seu chofer já esperava com a porta aberta. – Até, Kyung Joon.
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Os pensamentos de Ga Yeong estavam abarrotados e a maioria deles envolvia Seung Ri. Desde a última vez que havia estado frente a frente com o homem, quando acabou ocorrendo uma grande discussão quando disse a verdade sobre si e seus motivos para ter mentido por tanto tempo, Ga Yeong havia esperado que o rapaz cancelasse o contrato de locação e a expulsasse de seu apartamento. Não que isso fosse do feitio do mesmo, mas seria algo compreensível se ele o fizesse. No entanto, não havia recebido qualquer notícias sobre o rapaz nas últimas semanas além do que lia nos jornais. Sequer visitar a oficina de seu pai, Seung Ri visitava. A única coisa que sabia era que a nova filial da IT Technology parecia se desenvolver bem e que, apesar da sede ter passado por algumas instabilidades no mercado de ações, continuava firme e forte.
Apesar de não ter visto sequer uma sombra do rapaz nos últimos dias, ainda assim tinha esperança de voltar a vê-lo. Depois de ter se demitido da agência de publicidade de Kyung Soo, Ga Yeong lamentava ter mais tempo livre. Por mais irônico que parecesse, ter mais horas livres de descanso em seu dia a fazia refletir mais sobre os recentes acontecimentos em sua vida. A morte de Ga In ainda a fazia se sentir quebrada por dentro, a descoberta sobre a sua paternidade apenas piorava a situação e a consciência sobre seus sentimentos sobre Seung Ri a atormentavam ainda mais. Queria reencontrá-lo, mesmo que ele não a perdoasse. Constantemente se via passeando pela quadra de basquete escondida entre os prédios da vizinhança, o refúgio que Seung Ri havia lhe mostrado uma vez, com a esperança de vê-lo por lá, como naquele momento.
– Você deveria se concentrar em arranjar um novo trabalho ou um novo apartamento ao invés de me ajudar a fazer velas. – So Ra resmungou do outro lado da linha.
– Assim até parece que você não gosta quando te ajudo. – Ga Yeong respondeu.
– Olha, eu até entendo sua boa intenção em querer me ajudar, mas... Amiga, você é péssima fazendo velas. – Confessou – E nem é algo tão complicado, mas você consegue queimar todas as ceras que tenta derreter.
Ga Yeong fez um bico, sentindo-se levemente ofendida.
– É porque eu não tenho prática ainda. – Rebateu.
– Na verdade, é porque você não tem talento mesmo. Sua habilidade é com divulgação. Você é um cérebro pensante, deixe o trabalho manual comigo. – Brincou, mas logo depois tomou uma postura mais séria. – Mas falando sério, Ga Yeong... Você deveria realmente procurar um lugar novo ou um emprego novo. Têm ótimas referências e logo estará formada, então deveria tentar.
– Eu... Ainda não posso... – Ga Yeong suspirou – Eu quero ajeitar as coisas antes de dar o próximo passo. Quero dizer ao Seung Ri como eu me sinto e... Como me arrependo.
– Ele não aparece aí há dias, acha mesmo que ele virá?
– Eu não sei... Eu só posso esperar que ele venha, já que eu, com certeza, seria barrada na empresa dele. – Confessou.
Ga Yeong ouviu um som metálico do outro lado da linha. Por um momento, apenas ouviu alguns resmungos e depois silêncio.
– Amiga, eu vou precisar desligar o telefone agora, acabei de fazer uma enorme bagunça aqui.
– Tudo bem, nos falamos mais tarde. – Foi compreensiva.
Desligou o celular, assistindo o sol se pôr por detrás da tabela de basquete. O céu tinha uma mistura de cores em tons de laranja, vermelho e roxo, que faziam uma bela composição. Se afundou em seus pensamentos até ver os últimos raios de sol desaparecerem e darem lugar a um céu noturno. Seul era poluída demais para que as estrelas pudessem ser contempladas, mas de Jeju a vista era realmente bonita. Ga In logo surgiu em seus pensamentos quando lembrou-se do céu de sua cidade natal. Sentia-se arrependida de não tê-la visto no feriado de ano novo ou em algum final de semana por conta de sua mudança de aparência. Se houvesse estado com sua família na semana do fatídico dia, será que as coisas poderiam ter acontecido de uma maneira diferente? Mesmo que sua madrinha houvesse lhe dito que isso estava fora de seu alcance, ainda queria poder mudar tudo o que aconteceu.
O último mês havia sido desafiador em muitos sentidos. Ainda tentava processar as perdas que havia sofrido, as verdades que havia descoberto e os sentimentos que tentava lidar. Volta e meia se pegava pensando em Kyung Soo e em sua relação com o mesmo. Ainda que tivessem cortado contato, de certa maneira, ela era sua irmã, certo? Era uma ideia estranha, ainda mais considerando que havia o visto como um interesse romântico por tanto tempo. Na realidade, se entender como a filha de Hwa Hae Myung era estranho, então, por mais que tivesse desejado por tanto tempo saber quem era o seu pai, a mágoa profunda que sentia a fazia pensar, e muito, sobre a relação que tinha com ele. Sua mãe havia sofrido muito para criá-la, até mesmo abrindo mão de ter sua filha mais nova por perto por causa disso.
Mesmo entendendo que a escolha de sua mãe que havia a colocado naquela situação, não conseguia vê-la apenas como uma pessoa conivente com os erros do amante, mas também como uma pessoa que tinha uma grande dependência emocional por um homem que não valia a pena. Um homem que havia colocado, por muitas vezes, a sua imagem e a sua reputação acima da sua família, não apenas com ela, com sua irmã, Ga In, e com sua mãe, mas também com Kyung Soo e com sua esposa, Hwa An Na Por mais que ele houvesse sempre a tratado como muito afeto, sentia que parte disso era por que ela era uma pessoa que se encaixava muito mais no modelo de filho perfeito que ele sempre havia desejado ter do que Kyung Soo. A outra parte, quando pensava com mais cuidado, talvez fosse porque ela tinha seu sangue e fosse fruto do amor que ele sentia pela mãe dela, ainda que esse amor fosse menos importante que seus próprios interesses. E era até mesmo por esse motivo que havia decidido não utilizar mais nenhum centavo da poupança que ele havia lhe deixado. Nenhum dinheiro seria o suficiente para compensar o sofrimento que sua mãe havia passado e a ausência que havia deixado em sua vida e na de Ga In.
Quando se deu conta do avanço do tempo, decidiu que talvez fosse o momento de ir para casa. Assim que se levantou, sentiu algo encostar em seus pés. Era uma bola de basquete que havia rolado em sua direção. Sentiu um aperto em seu peito, seus olhos se encontraram com os do dono do objeto. Ali estava a pessoa que havia desejado tanto reencontrar depois de um longo mês tortuoso. Seung Ri suspirou, frustrado. Era mais do que evidente o quanto queria evitar revê-la. Durante longas semanas, havia fugido de Se Young... de Ga Yeong... como o diabo fugia da cruz. Sabia que, se a visse novamente, poderia ficar ainda mais confuso sobre seus sentimentos. O conselho de Seung Ja havia lhe deixado pensativo durante muito tempo, mas não podia deixar de admitir que ainda estava profundamente ressentido e magoado, e de certa forma, evitá-la também era uma forma de tentar se proteger de uma nova decepção. Assim que se virou para sair da quadra, ouviu o seu nome ser chamado pela voz feminina.
– Seung Ri...
Seus pés pararam, mesmo que seu cérebro os ordenasse a continuar andando. Praguejou internamente. Era só ir embora, era tudo o que precisava fazer e poderia evitar que seus sentimentos fossem feridos novamente, mas... Porque não conseguia?
– Eu te decepcionei... – Ga Yeong olhou para suas mãos trêmulas, segurando-as enquanto tentava suprimir o bolo que se formava em sua garganta. – Eu menti sobre mim, sobre a minha identidade. E você está certo, eu agi de má fé com outra pessoa...
– Isso é algum tipo de pedido de desculpas? – Seung Ri a fitou, virando-se para a mesma.
– Eu acho que um pedido de desculpas seria algo muito raso perto do que eu fiz com você. – Foi sincera. – Mas... Eu estava tão... Ferida... Tão magoada. E eu estava com tanta raiva... Raiva por ter sido usada e descartada com tanta facilidade e magoada porque eu sabia que o Kyung Soo nunca me veria como uma mulher...
Encarar seus próprios demônios não era algo fácil, ainda mais os próprios demônios que provinham de feridas tão profundas e que sequer haviam cicatrizado.
– E todo esse ressentimento... Eu não pensei em como eu iria ferir outras pessoas no processo. Eu não pensei em como a noiva do Kyung Soo se sentiria... E eu não pensei em como a minha mentira iria machucar você. – Confessou.
– Eu tive centenas de encontros às cegas, encontros que eu nunca nem quis ir. – Seung Ri começou, havia uma pontada de mágoa em sua voz. – E não houve uma única pessoa que estivesse disposta a conhecer a mim, Lee Seung Ri, o cara que gosta de anime e basquete. Todas elas queriam conhecer Lee Seung Ri, o presidente da IT Technology. Todas usavam máscaras... E então eu conheci Cha Se Young – O nome de seu alter ego havia sido pronunciado com certo desprezo – e eu pensei: "É ela. Ela é diferente. Ela não usa máscaras"... – Sorriu com escárnio – E que grande piada... Você acabou sendo pior do que todas as outras.
– Eu não usei uma máscara com você... – Ga Yeong rebateu, um filete de voz.
– Você MENTIU pra mim!
– APENAS SOBRE O MEU NOME! – Sentiu o líquido quente escorrer por suas bochechas. Antes mesmo que pudesse se dar conta, estava chorando. – Em TODOS os momentos, TODAS as risadas, as conversas, as brincadeiras... Em TODOS esses momentos, eu fui a Ga Yeong... Eu fui EU! Todos os sonhos, todas as memórias, tudo isso era meu. Tudo isso foi real, tudo isso foi de verdade!
Deixou que seus pés a levassem até o homem que a encarava com uma expressão impassível.
– E em todos esses momentos eu estava me apaixonando por você sem perceber. – Seu coração acelerou quando proferiu aquelas palavras. – E foi por isso que eu não pude mais esconder nada de você.
Um lampejo de luz riscou o céu, um prenúncio de que um temporal logo viria. Nenhum dos dois pôde deixar de se lembrar do que havia acontecido na última noite chuvosa em que estiveram juntos. Ga Yeong viu dúvida nos olhos do rapaz. Ele estava balançado diante de sua confissão, mas ao mesmo tempo estava inseguro sobre a decisão que deveria tomar.
– Seung Ri...
– Não... – Balançou a cabeça – Não fala mais nada...
Ga Yeong mirou as costas largas de Seung Ri. O tempo parecia avançar em câmera lenta enquanto o rapaz se afastava. Sentiu a angústia esmagar seu peito.
– Uma cesta! – Proferiu. Seung Ri parou mais uma vez e a encarou. – Eu só preciso fazer uma cesta...
A garota apressou o passo e se abaixou para tomar a bola de basquete esquecida na quadra. Seung Ri suspirou, era uma ideia descabida pensar que aquele impasse seria resolvido em um jogo de basquete, ainda mais pensando na falta de habilidade que a mulher possuía. Ainda assim, ela parecia se agarrar a qualquer filete de esperança para que as coisas se acertassem. E, secretamente, ele também desejava que ela acertasse a bola no aro.
Ga Yeong segurou a bola com firmeza, respirando fundo. Suas mãos tremiam, mas depositava suas últimas esperanças naquela jogada. Era tudo ou nada e não haveria outra chance. Na realidade, até mesmo aquela jogada não garantiria nada, mas até mesmo aquela ideia boba parecia sua única alternativa. Posicionou-se, como via os jogadores de basquete na TV fazer. Era o mais próximo de referência que possuía. Sempre havia sido uma péssima jogadora em qualquer esporte que envolvesse algum esforço físico. Por um momento, havia se condenado por ter escolhido algo em que era tão ruim jogando, diminuindo ainda mais as suas chances.
– Por favor... – Sussurrou em uma súplica para qualquer deus que estivesse ouvindo. – Por favor, não erra...
Entretanto, antes mesmo que a bola abandonasse suas mãos, sentiu o peito quente contra suas costas, os dedos longos e ásperos sobre suas mãos. Seu coração parecia um intenso tambor, tocando uma batida ritmada e rápida. Sincronizou os seus movimentos aos dele, lançando a bola em direção ao alvo. O objeto circulou pelo aro e caiu para fora.
– Não entrou... – Constatou, desolada, seus olhos encontrando-se com os do homem. O rosto tão próximo ao seu que era possível sentir o hálito de chiclete de menta.
– Que se dane se não entrou... – Respondeu antes de tomá-la em um beijo ávido.
Sentiu os lábios sobre os seus, o gosto do chiclete, o calafrio na espinha, os pêlos de seus braços se arrepiando. O abraçou. Por mais próximos que estivessem, sentia a necessidade de tê-lo ainda mais perto de si. Temia que aquele momento fosse apenas um sonho, que logo ao abrir os olhos, não o encontraria mais ali. Mas os braços fortes ao seu redor, a mão áspera em seu rosto era uma prova de que aquilo era real. E não pôde deixar de ficar mais exultante por isso. À medida que o temporal começava a se formar, toda a nostalgia do primeiro beijo surgia ao sentir as gotas de chuva em meio ao selar dos lábios. Os sentimentos se tornando ainda mais fortes, os reveses deixados em segundo plano, as dúvidas sendo substituídas pelas certezas e pelo desejo de que continuassem juntos como dois amantes.
Juntos como um só.
Epílogo
O tilintar das taças e a conversa baixa dominavam o vasto salão onde ocorria a festa beneficente organizada pela IT Technology. Os convidados apreciavam a música ambiente, os empresários trocavam informações sobre as tendências no mercado de ações e os acompanhantes, alguns ignorantes sobre o mundo corporativo, conversavam sobre trivialidades. Seung Ri parecia atrair a atenção de todos, como um grande holofote. A maioria conversava com o mesmo como se fossem bons amigos de longa data. Para Ga Yeong, era incrível como o carisma do rapaz aproximava as pessoas. Não era atoa que ele era quem melhor representava a empresa.
– Você deveria estar ao lado do Seung Ri. – Ga Yeong olhou para a senhora que a acompanhava na mesa. Lee Doo Na tinha um olhar intimidador. Era uma sogra bastante exigente e se mantinha bastante crítica sobre como uma nora digna da família Lee deveria se portar. – Como sua acompanhante, deveria se apresentar aos convidados e recepcioná-los também.
Ga Yeong preparou um sorriso amarelo, prestes a responder cuidadosamente à idosa, mas Seung Ja logo a salvou de uma conversa constrangedora.
– Mãe, ela iria se sentir desconfortável. Seung Ri está conversando sobre a empresa com os convidados. – Ga Yeong sorriu timidamente em agradecimento.
Não era da natureza de Seung Ja lhe ajudar, já que desde a primeira vez que haviam se encontrado, nunca haviam se dado bem de fato. Para a mais velha, ainda se mantinha um pouco cética sobre a namorada de seu irmão. Não podia negar que havia um sentimento genuíno que nutriam um pelo o outro, mas ainda assim, ficava um pouco cuidadosa em relação à Ga Yeong, ainda mais depois de saber sobre como a mulher havia tentado se vingar de seu ex-namorado. Mesmo tendo sido a pessoa quem aconselhou seu irmão a se abrir para ouvir a garota à sua frente, também o aconselhava constantemente a ser tão cauteloso quanto ela sobre levar o relacionamento a outro nível. Entretanto, não a destratava ou a ignorava, apenas não se sentia confortável em ser mais do que a irmã do namorado dela.
– Ainda assim, ela deveria ficar ao lado dele. – A matriarca insistiu. – A sua companhia melhoraria a imagem dele.
– Acho que a senhora Lee está certa, eu deveria ajudar o Seung Ri. – Ga Yeong se levantou, ajeitando o longo vestido rosê que usava. – Então… Eu vou ajudar a recepcionar os convidados.
A mulher pareceu satisfeita ao ver a nora se afastando e procurando pelo parceiro até perceber o olhar repreendedor de sua filha.
– O que foi?
– A senhora não tem jeito mesmo… – Seung Ja suspirou, levantando-se da mesa.
Entretanto, para Ga Yeong, não havia sido tão constrangedor recepcionar os convidados. Na realidade, havia até mesmo encontrado acidentalmente alguns rostos conhecidos enquanto conversava com um convidado ou outro. Sua madrinha se destacava com o vestido simples e florido, que contrastava com os modelitos cheios de brilho e cores sóbrias das outras mulheres no salão. Não que houvesse lhe caído mal, pelo contrário, apenas valorizava a beleza madura da mais velha, mas ainda assim chamava a atenção por ser tão singular. Um rapaz jovem em torno dos dezoito anos a acompanhava. Ga Yeong se aproximou, abraçando apertado a madrinha.
– Madrinha! Que bom que está aqui! – Sorriu, segurando suas mãos.
– Eu não poderia faltar a um evento tão importante. – Ela respondeu com sinceridade. – A Ga In ficaria feliz se estivesse aqui agora…
As duas mulheres deram um sorriso melancólico ao lembrar da menina cheia de vida e o motivo de alegria de sua família. O rapaz ao seu lado se reiterou, um pouco desconfortável à menção de Ga In. So Ah pigarreou, mudando de assunto.
– Você se lembra do Oh Joon? – O rapaz pareceu um pouco deslocado frente à mulher. Alisou as madeixas com os dedos, aproximando-se.
Era impossível que Ga Yeong se esquecesse de Oh Joon, o rapaz que havia se acidentado junto com sua irmã. Havia o encontrado pouquíssimas vezes, apenas tendo sido apresentado como um colega de escola e amigo de Ga In por sua madrinha. Sentia-se agradecida ao rapaz por tentar salvar sua irmã, mas também lhe doía – ainda que a dor parecesse um pouco anestesiada – por se lembrar do quão jovem a menina havia partido sempre que o olhava.
Por sua vez, Oh Joon ainda se sentia culpado, mas tentava lidar com a culpa se tornando alguém mais digno da amizade de sua querida amiga, sendo uma pessoa mais honesta e autêntica a si mesmo. Tornou-se mais seleto com suas amizades e, apesar de nunca ter sido seu plano inicial, afastou-se do baseball para se recuperar totalmente do acidente que havia sofrido. Ainda assim, não tinha deixado de aproveitar o tempo livre. Com a melhora no relacionamento entre o rapaz e seus pais, havia os convencido a deixar que praticasse aulas de músicas, algo que sempre quis.
Entretanto, apesar de se sentir mais próximo de sua família, ainda não se sentia pronto para falar a verdade sobre a sua sexualidade com seus pais. Suas inseguranças ainda se mostravam muito presentes e, apesar do desejo de querer ser honesto com os mesmos, não tinha confiança o suficiente de que o aceitariam como realmente era. A única pessoa de confiança que tinha ao seu lado era Lysandre, seu melhor amigo e namorado, e inesperadamente, So Ah, a tia de Ga In, que havia, inclusive, ocultado de sua sobrinha os reais motivos que levaram a jovem estudante a perder a vida. Para So Ah, ainda não era tempo de dizer toda a verdade, já que tanto Ga Yeong quanto Oh Joon ainda sentiam muito a perda da menina, mesmo que já houvesse se passado um ano e sete meses desde o acidente.
– É claro, eu me lembro sim. – Respondeu. – Se não me engano, você deve estar no seu último ano na escola, certo?
O rapaz assentiu, um pouco sem jeito.
– Eu fiquei afastado alguns bimestres no último ano, então… Estou tendo que recuperar o tempo perdido. – Confessou.
– O Oh Joon conseguiu uma bolsa de estudos para uma universidade de música. – So Ah comentou, dando leves tapinhas nas costas do rapaz. – Ele é muito talentoso com aquele instrumento… Como se chama mesmo?
– Guitarra. – Oh Joon respondeu.
– Eu imagino. Gostaria muito de ouvi-lo tocar algum dia. – Ga Yeong sorriu com simpatia.
– Eu… Ficaria feliz em tocar para você. – O rapaz sorriu com timidez, algo bem inusitado para o garoto que costumava ser maroto e agitado perto dos amigos.
– De toda forma, fiquem à vontade. Preciso recepcionar os outros convidados.
Tão logo Ga Yeong se afastou, uma figura esbelta, trajada em um vestido preto e sensual, mas sem ser revelador, logo se aproximou. A beleza jovial de So Ra atraía os olhares de muitos homens e fazia incendiar a inveja de muitas mulheres.
– Ga Yeong! – A morena logo a abraçou assim que a viu.
– So Ra! Eu senti tanto a sua falta! – Havia alguns meses que não via a melhor amiga desde que havia conseguido uma bolsa de intercâmbio de seis meses na Grécia. – A vida não é a mesma sem você por perto pra me perturbar. Como foi a viagem?
– Incrível! As praias são maravilhosas por lá, mas senti tanta falta da comida coreana… E de você também, é claro. – Ressaltou depois de ver a amiga arquear a sobrancelha. – Posso dizer que nada se compara ao nosso lar.
– Você falou tão bem de lá nas nossas ligações que parecia que queria morar lá eternamente. – Comentou. – Fiquei com curiosidade de conhecer a Grécia.
– Porque não viaja para lá? – Sugeriu. – Leva o seu homem com você. – Se aproximou da amiga, brincando com malícia – Umas férias a dois em águas mediterrâneas talvez acendam ainda mais o fogo entre vocês.
– So Ra! – Ficou envergonhada com a insinuação, mas logo sorriu com cumplicidade. – Vou levar em consideração essa ideia.
– Que ideia? – Ga Yeong se encolheu pelo susto ao sentir as mãos quentes de Seung Ri envolver seus ombros. O rapaz lhe agraciou com um sorriso, fazendo com que a garota corasse.
– Ah… Bem… Nenhuma… – Desconversou. – Estávamos falando de bobagens.
Seung Ri arqueou uma sobrancelha, desconfiado, mas não insistiu em perguntar sobre o que estavam conversando anteriormente. Ele logo introduziu um homem que o acompanhava anteriormente.
– Ga Yeong, queria que você conhecesse meu grande amigo, Ji Se Ong. – O rapaz sorriu de forma marota, apertando a mão da garota. – Ele estava morando na Grécia, então não tive chance de apresentá-los formalmente.
– É um prazer conhecê-lo. – Ga Yeong sorriu com simpatia. – Já que estamos nos apresentando… Essa é a minha amiga, Lee So Ra. Ela também estava na Grécia e acabou de retornar de viagem.
Ga Yeong aguardou que os dois se cumprimentassem, mas ao contrário do que esperava, ambos apontaram um para o outro com uma expressão de pura surpresa.
– O playboy mimado! – So Ra o chamou pelo apelido que havia escolhido “carinhosamente” para o rapaz.
– A fugitiva do 501! – Se Ong falou quase ao mesmo tempo que a mulher. – Espera, mimado? Eu?
– Vocês se conhecem? – Seung Ri perguntou, curioso. Ga Yeong parecia tão intrigada quanto o namorado.
– É uma longa história. – Os dois falaram em uníssono, logo se encarando.
– Oh, céus! E eu achando que nada poderia estragar a minha noite. – So Ra suspirou, frustrada.
– Isso era algo que eu deveria estar falando já que foi você que fugiu nadando do meu iate com as minhas roupas! – Se Ong retrucou, se esquecendo por um instante de que não estava à sós com a mulher.
– A-a-acho melhor a gente deixá-los sozinhos. – Ga Yeong corou, sua imaginando trabalhando a mil enquanto pensava sobre o que havia ouvido.
– O que? Porque? – Seung Ri parecia entretido, como uma das senhorinhas que vivem fofocando na rua. Ga Yeong, no entanto, o empurrava com delicadeza para longe dos amigos. – Eu quero ouvir o que aconteceu.
– Não é da nossa conta! – Apesar de repreender o namorado, a garota esboçava um sorriso com humor e parecia tão curiosa quanto.
– Mas… – O rapaz interrompeu os passos ao sentir algo bater contra suas pernas.
O choro da pequena criança que aparentava não mais do que um ano de idade tomou a atenção dos convidados mais próximos. A menina havia se chocado contra o rapaz e caído no chão, sentada. Não parecia machucada, mas o incidente parecia tê-la assustado. Ga Yeong e Seung Ri não demoraram a se abaixar para acudir a criança.
– Coitadinha… Está tudo bem, viu? Não tem dodói. – A mulher usou uma voz suave com a menina, tentando acalmá-la. – Onde está sua mamãe? Vamos procurá-la?
– Ji Hyo! – Uma mulher com longas madeixas se aproximou, agachando-se na altura da criança. – Eu fiquei tão preocupada…
– Ela está bem, só se assustou um pou… – Assim que os olhos da mulher e de Ga Yeong se encontraram, as duas se entreolharam com espanto.
– Cha Se Young…
Os três se colocaram de pé assim que a mulher tomou a criança no colo.
– Na realidade, é Park Ga Yeong, senhora Miller… – Corrigiu-a, um misto de constrangimento e nervosismo.
– Hwa… – A corrigiu, sendo enfática em cada palavra – É Hwa Han Na.
A tensão que se formara era tão densa que quase podia ser palpável. Amber queria ter evitado por mais tempo esbarrar com o antigo affair de seu marido, mas sabia que era impossível, ainda por aquele evento ter sido organizado pela empresa do atual companheiro da mulher. Quando há alguns meses atrás viu o artigo sobre o romance do presidente da IT Technology com uma mulher de origem simples nos tablóides de fofoca, não ficou exatamente surpresa. Era bastante esperta para saber que o rapaz já tinha interesse há tempos em sua atual namorada e a antiga estagiária sempre pareceu próxima do mesmo, apesar de, na época, estar convencida de que a mulher queria se aproximar de seu marido, Kyung Soo. Ainda assim, se sentia desconfortável por todas as situações conflituosas e pela maneira em que se encontravam atualmente.
– É claro… – Ga Yeong deu um sorriso amarelo.
Sabia bem que Amber havia se casado com Kyung Soo. O casamento e a vinda da primeira filha do casal havia sido estampado na capa de várias revistas de fofoca nacionais e internacionais. Não havia se sentido chateada por isso, na realidade, sentia-se até aliviada, de certa maneira. Algo que sempre pesou em sua consciência foi a possibilidade de arruinar o relacionamento de outra pessoa com suas ações. Um silêncio constrangedor se instalou entre os três.
– Espero que esteja aproveitando a festa. – Seung Ri falou, tentando tornar o clima um pouco mais ameno.
– Bom, nós estamos. – Uma voz masculina respondeu, tomando o lado da mulher.
Hwa Kyung Soo não havia mudado desde a última vez em que havia o visto. Os cabelos continuavam no mesmo corte levemente despenteado e o charme de homem sacana o acompanhava, sendo ainda mais reforçado pelo meio sorriso que o rapaz carregava em seu rosto.
– Tenho que admitir, os Lee sabem como realizar um bom evento. – Comentou, um ar levemente presunçoso.
– É um dos talentos da família. – O outro rebateu com um falso sorriso amigável.
Quem quer que os observassem, não imaginariam que os dois homens estavam em um conflito silencioso, como se medissem forças. Seung Ri já não tinha tido uma das melhores primeiras impressões quando conheceu Kyung Soo há alguns anos atrás, mas sabia que o rapaz era bom no seu trabalho. Havia pesquisado com muito afinco sobre muitas agências de propagandas na época em que quis fazer o comercial do produto criado por seu pai e a CS Publicity era a melhor em comparação a muitas outras. Entretanto, a opinião que tinha sobre o homem apenas se reforçou quando ouviu sobre o passado conflituoso entre ele e sua companheira.
Para Ga Yeong, apenas pôde se sentir desconfortável entre a pequena tensão que se desenvolvia entre seu namorado e seu… Bom, não sabia nomear o que Kyung Soo era para si. Sabia bem que Seung Ri deveria estar irritado por ver a sua antiga paixonite em sua festa, mas por outro lado, não estava infeliz por revê-lo. Parte de si, depois de um longo tempo em que pode refletir sobre o que de fato havia ocorrido em sua vida, ainda queria conversar sobre sua relação enquanto possíveis irmãos. Ao invés de nutrir qualquer tipo de ódio pelo rapaz, apenas sentia que ele havia sido tão prejudicada quanto ela, senão até mais, pelo homem que havia lhe renegado como filha.
– Olha a hora! Acho que deveríamos começar com a apresentação. – Ga Yeong mudou de assunto tentando arranjar uma desculpa para encerrar a conversa. – Onde será que está a Seung Ja?
Ga Yeong não demorou a achar o assistente da mulher conversando com alguns convidados. Chamou-o discretamente e pediu para que a avisasse, usando a deixa para se despedir do casal e arrastar Seung Ri consigo.
Seung Ja, por outro lado, estava no hall de entrada do hotel onde ocorria o evento. O local estava mais quieto e com pouco movimento, o que lhe oferecia uma boa privacidade. A mulher sorria com animação ao conversar por vídeo-chamada com um rapaz do outro lado do telefone.
– Parece que se adaptou bem à vida na América, até chegou aos meus ouvidos que gostaram do seu trabalho por aí. – Seung Ja comentou.
– Bom, não foi o fim do mundo como achei que seria. – O rapaz respondeu. – Nossa adaptação foi bem mais suave do que o esperado e a Mi Nah já aprendeu bastante o idioma daqui.
– E como vai a relação de vocês? – Perguntou, curiosa.
Era a primeira vez em muito tempo em que se falavam e a última vez em que se viram, o casamento de seu antigo assistente, Ji Soo, passava por um momento conturbado, tendo sido até mesmo um dos motivos pelo qual o rapaz havia aceitado a oferta de trabalhar no exterior.
– Estamos… Melhor do que ontem, mas não estamos igual à antigamente. – Confessou. – E você?
– Bom… Eu e Joon estamos bem, estamos muito mais unidas. – Seung Ja não pôde deixar de sorrir – Ela escolheu o nome Jin Joo, mas continua usando o apelido Joon. Conversamos muito sobre ela fazer tratamento hormonal para ficar um pouco mais feminina, mas ela não quer fazer cirurgia de redesignação sexual, disse que está bem do jeito que está.
– Isso é meio confuso. – Ji Soo falou. – Achei que Joon se via como uma mulher.
– Bom, ela não precisa fazer a cirurgia para ser uma mulher. – Ressaltou. – Mas confesso, é um pouco confuso não relacionar genital com gênero.
– Entendi… – O rapaz assentiu com a cabeça. – Mas… Quando eu perguntei sobre você, não era bem sobre Joon que estava falando.
Seung Ja logo entendeu qual era a curiosidade de seu amigo.
– Eu estou aproveitando minha própria companhia, mas não exatamente sozinha, se é o que quer saber. – A resposta sugestiva fez com que o rapaz desse uma risada. Não podia deixar de confessar que havia ficado curioso sobre quem poderia ser o novo affair de sua ex-amante.
Seung Ja se despediu apressadamente quando seu assistente a encontrou, guardando seu telefone em sua clutch.
– Estão a chamando para a apresentação. – O rapaz avisou.
– Já? A hora passou correndo… – Comentou, se aproximando do rapaz que, discretamente, envolvia sua cintura com intimidade.
– Quanto mais rápido a hora passar, mais cedo eu posso aproveitar a sua companhia com exclusividade. – Evidenciou. – Só vejo vantagens, Seunggye.
– É Seung Ja. – Ressaltou, tirando as mãos do rapaz de sua cintura. – Somos amantes, Nam Hae Kook, não namorados. Não temos esse tipo de intimidade.
– Por enquanto… – Rebateu em um murmúrio enquanto observava a mulher caminhando com elegância pelo corredor que levava de volta ao salão, o rebolado suave levando sua imaginação a funcionar em velocidade máxima.
O salão ficou silencioso quando a Seung Ja subiu ao palco, discursando sobre a pauta principal da noite. Nos últimos meses, os irmãos Lee haviam dividido os holofotes igualmente nos eventos, mostrando que a CEO da IT Technology possuía tanto carisma e sociabilidade quanto o presidente da empresa. Havia perdido a conta de quantas vezes havia sido elogiada por ser uma boa anfitriã, o que era engraçado, pensando em como era considerada uma pessoa fechada e temperamental há um ano atrás. Entretanto, podia dizer que a mudança em sua maneira de se relacionar com as pessoas havia sido por ter se aberto com seu antigo assistente. Tê-lo como um confidente a possibilitou a encarar seus próprios traumas, suas angústias e se tornar mais confiante, além de amar mais a si mesma.
– Entendemos que nós, enquanto uma empresa de tecnologia, também temos nossa responsabilidade no progresso para um país com mais igualdade. Sempre foi uma parte fundamental dos nossos valores a generosidade e o altruísmo, ajudando aqueles que são invisibilizados, trazendo mudanças positivas para a nossa sociedade e mostrando que aqui existe lugar para todos. – Os ouvidos atentos sobre a mulher estavam entretidos com suas palavras. – Por isso, estamos profundamente felizes em apoiar uma causa tão nobre que proporcionará a oportunidade de inclusão às pessoas que precisam e que são capazes de viver uma vida digna e produtiva. Com isso, gostaria de chamar a senhorita Park Ga Yeong para o palco.
Seung Ja abriu espaço para que a mulher se aproximasse, as palmas ecoando por todo o salão. Assim que Ga Yeong se viu em frente de tantas pessoas, apenas pôde procurar o rosto de Seung Ri entre os convidados. O rapaz sorria para ela, incentivando-a silenciosamente.
– Gostaria de agradecer a todos pela presença e dizer o quanto essa noite está sendo importante para mim. – Confessou. – Há um ano e meio eu perdi uma pessoa muito querida na minha vida, a minha irmã, Park Ga In. Devido à sua condição, nós vivemos separadas por muitos anos. Minha irmã era autista, mas posso dizer que isso não a definia. Ela era, antes de tudo, uma menina doce, inteligente e muito amorosa. Ela tinha algumas manias, mas quem não tem? Eu mesma não entro com comida dentro do banheiro.
Os convidados riram com a piada, deixando Ga Yeong mais à vontade para falar sobre a história de vida de sua irmã.
– Mas, devido à sua condição, ela vivia isolada de muitas maneiras. As pessoas não compreendiam as suas peculiaridades, os professores preferiam não integrá-la com seus colegas e a excluíam de atividades grupais. Era mais fácil para eles, mas não era o melhor para ela. É muito comum que aconteçam situações como essa na vida de pessoas autistas, sejam nas ruas, nas escolas, nas empresas onde trabalham, em seus núcleos familiares ou com suas amizades. Essa exclusão prejudica milhares de autistas todos os dias, não só na esfera social, mas também no seu desenvolvimento psicológico.
Suspirou, lembrando-se de alguns momentos difíceis que havia passado com Ga In.
– A necessidade de criar essa causa surgiu ao pensar no futuro que minha irmã poderia enfrentar se ainda estivesse aqui, nas situações que essas pessoas enfrentam em seu dia a dia. Eu queria que outras pessoas que são autistas, assim como a minha irmã, pudessem ter o apoio que elas precisam para se tornarem adultos independentes e que possam ter uma boa qualidade de vida. Por isso, eu fico feliz em anunciar a inauguração da ONG Park Ga In para pessoas no espectro autista.
O telão atrás de si exibia o logotipo da organização ao lado de uma menina com um pequeno sorriso tímido carregando um vaso cheio de flores rosas. Ga Yeong não pôde deixar de se emocionar com a imagem de Ga In.
– E também gostaria de anunciar a primeira doação para a ONG no valor de um milhão e quinhentos mil euros feita por mim. – Um rapaz a entregou um cheque simbólico, do tamanho de um cartaz. – Essa quantia foi dada à minha irmã e à mim para que pudéssemos ter acesso a uma boa educação e uma boa qualidade de vida, mas eu nunca me senti realmente dona desse dinheiro. Poder usá-lo para uma causa nobre faz muito mais sentido do que usá-lo para outros fins. – Ga Yeong foi sincera.
Nunca se sentiu à vontade com o dinheiro deixado por seu progenitor, recusando-se a usá-lo mais do que já havia usado quando não sabia a sua origem. Poder investir aquele valor em algo que realmente valia a pena a deixava aliviada.
– Esse é o primeiro passo para que a ONG possa reunir profissionais competentes para ajudar os mais necessitados e eu conto com a generosidade de vocês para que a nossa causa possa alcançar ainda mais pessoas. Obrigada…
O público rompeu em aplausos diante do discurso da mulher. Tão logo abandonou o palco, as pessoas se adiantaram para falar com a mesma, maravilhados pela sua presença e pelo seu empenho com as causas sociais que apoiava. Demorou algum tempo até que conseguisse escapar dos convidados e reencontrar-se com Seung Ri. O casal rumou para o jardim do hotel que se encontrava muito mais silencioso e confortável.
– Você foi impressionante no palco. – Seung Ri elogiou. – Acho que conseguiu deixar todo mundo emocionado. É um dom seu.
– Eu só falei o que realmente sentia. – Ga Yeong confessou. – Eu sempre senti que falhei como irmã mais velha, que eu deveria estar mais presente depois que a minha mãe se foi e que eu deveria ter ido para Jeju ao invés de continuar em Seul… Sinto que compensei alguns dos meus erros com essa ONG…
– Você fez o que estava ao seu alcance. – Seung Ri a tranquilizou. – Você precisou amadurecer mais cedo que as outras pessoas. E mesmo que tenha tropeçado em alguns cascalhos, você fez um bom trabalho. Fez as melhores escolhas, mesmo que elas viessem com alguns sacrifícios, então não se martirize por isso, tenho certeza que sua irmã entenderia.
Ga Yeong esboçou um sorriso sutil fazendo com que o rapaz sorrisse também. Os dois continuaram caminhando pelo jardim que tinha leve iluminação colorida. As flores ordenavam o caminho de pedra que levava à ponte sobre um pequeno lago e a música suave que tocava no salão chegava até o local em que estavam em um volume baixo.
– Eu tenho que te agradecer por ter tornado esse projeto possível. – Salientou. – Se não fosse por você e pela sua família, eu nunca conseguiria fazer tudo isso. Você está sempre do meu lado me dando apoio… E eu não fui exatamente uma boa pessoa quando nos conhecemos.
– Eu diria que oferecer um café de graça é um ato de extrema bondade. – O rapaz brincou.
– Eu te ofereci depois de te acertar com a porta giratória.
– Detalhes… – Deu de ombros, arrancando uma risada da garota. – Mas foi por conta daquele café que eu me interessei por você.
Ga Yeong o encarou, o rapaz caminhava de costas, o olhar fixo nos seus.
– Na verdade, foi por um conjunto de muitas coisas… Pela sua inteligência, pela sua sensibilidade e pela sua gentileza.
Recostaram-se na mureta de proteção que rodeava a ponte. Os patos nadavam tranquilamente pelo lago.
– Quando eu a conheci, eu pensei em como eu tinha encontrado a mulher ideal que eu sempre sonhei em conhecer. Alguém que não fosse superficial, alguém que quisesse conhecer o Seung Ri real. – Confessou. – E, por mais que nós tenhamos tido alguns conflitos, você acabou sendo uma pessoa ainda melhor do que eu esperava que fosse. Você não é a minha mulher ideal, você é a única pessoa que eu preciso. A única que eu amo.
O rapaz retirou uma caixinha de seu blazer, abrindo-a. A mulher fitou a aliança dourada e delicada, um diamante rosa enfeitava a parte sobressalente do anel.
– Seung Ri… Isso… – Não conseguiu falar mais do que apenas algumas palavras.
– Esses quinhentos e cinquenta dias ao seu lado foram os melhores dias da minha vida e eu queria que pudéssemos ter muito outros mais quinhentos dias juntos… – O rapaz tomou a mão da garota entre as suas, olhando em seus olhos. – Então, Park Ga Yeong… Você quer se casar comigo?
A resposta veio em um beijo repleto de sentimentos profundos.
– É claro que eu quero… – Ga Yeong sorriu, transbordando de felicidade. – Eu te amo, Lee Seung Ri… Eu te amo hoje, te amarei amanhã e para sempre…
Última modificação feita por SaaChan (08-01-2022, às 00h45)
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#5 17-01-2021, às 03h12
★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★★
Última modificação feita por SaaChan (30-04-2021, às 14h21)
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#6 17-01-2021, às 03h14
Última modificação feita por SaaChan (17-01-2021, às 03h15)
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#7 27-01-2021, às 23h58
Olá linda princesa, parabéns pelas histórias e a enorme criatividade!
Muita sorte com as suas fanfics e nunca pare de fazer o que você gosta.
Beijinhos! ♡
Última modificação feita por katycqa (27-01-2021, às 23h58)
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#8 29-01-2021, às 14h47
História maravilhosa, parabéns ♥♥♥
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#9 29-01-2021, às 16h47
Que mente maravilhosa você tem menina!!
Estou adorando cada pedacinho que vou lendo. Uau!
Meu conselho é que você se dedique a escrever livros físicos mesmo. Dou meu total apoio para sua possível carreira
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#10 01-02-2021, às 01h21
Gente, primeiramente desculpe pela demora em responder,
eu não sabia que vocês tinham comentado na minha fanfic e fico muito
feliz de ver que vocês gostaram do que eu escrevi aqui.
O comentário de vocês me impulsiona a continuar escrevendo,
de verdade verdadeira.
Muito obrigada pelo elogio, garanto que eu não vou parar não.
A gente fica um pouco balançada as vezes, desanimado, mas
sempre vão haver dias bons e dias ruins. Vou continuar
escrevendo sim, trazendo algo de qualidade pra vocês sempre.
Muito obrigada por acompanhar até aqui.
Oh, meu anjo. Muito obrigada, viu.
Eu to escrevendo ainda os novos capítulos, mas
já adianto que não vai demorar pra sair tudo.
Um beijinho no core <3
Que isso, mana :3~
Olha, eu ainda acho que não estou no nível pra publicar livros.
Talvez a ideia em si seja boa, mas o meu nível de escrita ainda
tem que evoluir muito. Preciso aprender a descrever mais os
sentimentos dos personagens pra poder me conectar de fato
com eles. Ainda assim, obrigada pelo elogio. Me deixa feliz que
você ache que eu tenho todo esse potencial. Prometo que vou
continuar entregando mais coisas de qualidade nessa história.
Apaixonada pelo seu comentário, juro <3
✤ ✣ ✤
Última modificação feita por SaaChan (01-02-2021, às 01h23)
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#11 19-02-2021, às 16h38
Li até o capítulo 3 e posso dizer que tô amando. Você é muito criativa e gosto da maneira como você desenrola a história. Vou seguir lendo, continue postando ^^
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#12 20-02-2021, às 13h38
Também li até o capítulo 3 até agora e eu achei o universo da sua história bem construído e as descrições nos ajudam muito a entendê-la e são muito boas de ler. O tema da história é bem interessante também.
Eu vou continuar acompanhando quando der. Não desista da história porque ela tem muito potencial.
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#13 20-02-2021, às 20h31
Oii, li mais 3 capítulos hoje, menina, essa fanfic tá postada em algum outro lugar? Pra mim dar like, porque é muito boa. Tento não dar spoiler pra ninguém, mas garanto que sua escrita é ótima e a fanfic sai do clichê. LEIAM, PESSOAL!!
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#14 22-02-2021, às 16h29
N E G R I T U D E
⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘
Opa gente, to feliz de ver vocês aqui de novo.
Então, eu to postando no Spirit, Nyah e Wattpad, mas não tenho conseguido engajamento nesses sites, então nem tenho postado. Aqui é o lugar que está mais adiantado, eu to postando todos os capítulos aqui. No amor doce, eu estou postando também e é o lugar que mais tem engajamento, mas só tenho uma leitora só lá, que é fiel à minha história.
Enfim, não vou desistir de postar, mas posso demorar a atualizar porque já voltei às aulas na faculdade e eu vou ter que equilibrar meus estudos, trabalhos, estágio, tcc, curso, tudo de uma vez só. Por isso eu não vou poder escrever tão regularmente
Mas obrigada pelo feedback de vocês e eu fico realmente feliz de ver que vocês tão apreciando a história. Beijinhos <3
Ps.: Ah! Nesses sites, a fanfic se chama Between Lovers. Eu acabei mudando o nome nos outros lugares depois de postar aqui.
⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘⫘
SUBSTANTIVO FEMININO
❝ 1. Qualidade ou condição de negro.
2. Sentimento de orgulho racial e conscientização
do valor e da riqueza cultural dos negros.❞
Última modificação feita por SaaChan (22-02-2021, às 16h32)
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#15 23-02-2021, às 09h30
Acabei de ler tudo, adorando sua Fic. Continua escrevendo, mal posso esperar pro próximo capítulo (Amei o penúltimo capítulo).
Vou ver se acho sua fanfic noutro site!!
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#16 04-03-2021, às 18h03
Oie, desculpe não ter vindo comentar aqui.
Eu atualizei já a fanfic e adicionei mais um capítulo, já tem uns dias já. Entretanto, estou bem atarefada com a faculdade e por isso não estou entrando aqui com tanta frequencia. Eu sou mais ativa lá no amor doce. Pode ser que eu fique um pouco empacada com a fanfic por uns tempos, mas... Não vou abandoná-la, apenas vou estar ocupada demais para escrever. Enfim, espero que tenha uma boa leitura com o novo capítulo. Beijinhos <3
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#17 02-04-2021, às 21h09
Hoje li toda a fanfic. Tô ansiosa e no aguardo aqui pra mais capítulos.
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- » [Fanfic] Where To Stay In Seoul (por SaaChan)
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